Partidarização da agenda pública: caso coronavírus
Os impactos da pandemia Covid-19 poderão causar cerca de 25 milhões de desempregados a nível mundial e quebras até 3,4 triliões de dólares em perdas de rendimento dos trabalhadores até ao final do ano. A estimativa foi este mês avançada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), com base num relatório onde são traçados vários cenários sobre o impacto do Covid-19 na economia.
A agência estima um aumento no desemprego mundial que poderá atingir entre 5,3 milhões e 24,7 milhões de pessoas.
Números que acrescem aos 188 milhões que a agência tinha já antecipado no final do ano, quando tornou pública a sua previsão anual.
Segundo a OIT, mitigar estes impactos passará por “uma resposta política coordenada internacionalmente” que assegure a proteção dos trabalhadores, estímulos fiscais e apoio a empregos e salários. Medidas que têm vindo a ser adotadas pelos países.
A OIT recorda que durante a última crise financeira global, o mundo ganhou mais 22 milhões de desempregados e muitos dos trabalhadores sofreram perdas significativas no seu rendimento. Um cenário que poderá repetir-se, sem uma intervenção rápida por parte dos Governos.
A previsão da agência aponta para um crescimento em larga escala do sub-emprego (profissionais a tempo parcial disponíveis para trabalhar mais horas), à medida que a evolução da pandemia obrigue as empresas a avançar para redução de horários de trabalho e salários. E até o autoemprego, que nos países mais desenvolvidos ajuda a minimizar os impactos mais violentos da crise, “poderá não ser alternativa devido às restrições imposta à circulação de pessoas e bens”, antecipa a OIT.
Na Guiné-Bissau, hoje, (29/3/2020), foram anunciados 8 casos de pessoas portadoras do vírus. Antes, porém, havia sido anunciado uma série medidas conducentes à diminuição dos efeitos da pandemia. Na medida em que não é desejável que se transforme num pandemônio. Um líder da oposição (Idriça Djaló), apresentou uma iniciativa que pretende mobilizar todas as forças vivas da nação (sobretudo médicos) em torno dessa causa comum.
Como se não bastasse, há quem ainda insista na “partidarização” da agenda pública do caso coronavírus, na Guiné-Bissau, confundindo a opinião pública nacional. Independentemente da nossa agenda político-partidária, felizmente ou infelizmente o Covid 19 não conhece as cores partidárias, não conhece as confissões religiosas ou ideológicas.
Como disse e bem o líder da oposição, em Portugal, Rui Rio, “devemos fazer a oposição severa a Covid 19, e o Estado deve endividar-se de forma racional se for necessário para fazer face à esta pandemia, evitando entrar em loucuras”…
Por cá, a nível da nossa subregião, o BCEAO anunciou pacote de medidas na ordem de 340 mil milhões FCFA que poderão impactar na atividade bancária, nas famílias e, em consequência, no dinamismo económico como um todo.
A China, através do seu parceiro União Africana, sob patrocínio da fundação Alibaba, decidiu doar equipamentos sanitários para o combate a coronavírus.
O FMI analisa perdão e alívio da dívida de países menos desenvolvidos.
O G20 anunciou apoios de milhares de dólares que visam minimizar os efeitos mundiais da pandemia.
Por toda a parte (do hemisfério sul a hemisfério norte) tem havido uma onda de ações solidárias visando o inimigo invisível comum.
Cuba tem ajudado, com os seus médicos, países que outrora se revelaram potências industrializadas (exemplo de humanismo).
O mundo, muito provavelmente, não será igual como dantes.
Em suma, não há motivos, humanamente falando, para a partidarização desse inimigo invisível.
Até porque é uma pandemia, deixou de ter “dono ou alvo”.
Bissau, 30 de Março de 2020.
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Santos Fernandes