LUZ AO FUNDO DO TÚNEL?
Desde a nossa última abordagem, as coisas pioraram, principalmente em Nova Iorque. Infelizmente, como há muito que fazer em Las Vegas, não pude ir a Nova Iorque para ajudar os meus colegas intensivistas na frente da batalha.
O número de mortos em Nova Iorque tem muitas explicações, mas há duas explicações que importa salientar:
1 – A ideia descabida dos Afro-americanos de que o Covid-19 não afecta os Afro-americanos.
Infelizmente, a cruel realidade é que está a afectar esta comunidade, e de que maneira!
2 – Devido às condições socioeconómicas, as minorias são afectadas por doenças crónicas, como a diabetes e a obesidade!
Isto explica a alta mortalidade causada pelo coronavírus no seio dos Afro-americanos e dos Índios (nativos americanos).
Em Las Vegas, ainda não saímos do túnel, mas já vemos luz no fundo…
No primeiro relatório que fiz, falei do primeiro caso com COVID-19, doente que foi entubado no hospital (tinha que ser por um originário da Guiné – como diz a lenda, até que desenterrem o navio que foi enterrado na praça do império, a má sorte vai nos acompanhar até ao fim do mundo – Só a brincar! Nunca acreditei nesta lenda. O homem é o arquitecto do seu próprio destino!).
Este paciente, volvidos 30 dias, foi finalmente extubado por mim (acreditam no destino?).
Depois da extubação, telefonei à filha dele (sobrevivente do coronavírus), que definitivamente pediu um favor: para não lhe dizer que a mãe (a esposa do paciente) falecera há 2 semanas no nosso hospital, no quarto adjacente, vítima do coronavírus.
Há 2 dias, também extubei uma nossa enfermeira, vítima do Covid-19. Ela está bem e já está caminhando com o fisioterapeuta.
Tem sido uma aventura, não sei se a posso denominar de científica, tratar pacientes com Covid-19. Entre experimentar com cloroquina, azitromicina, corticosteroides (uma semana sim, outra semana não), mudança no modo de usar o ventilador, usar ou não usar o BiPAP etc., finalmente parece que estamos a ter resultados positivos.
Todos os dias, temos discussões internas entre os intensivistas no nosso hospital e webinars e discussões via telefone com colegas do Columbia Presbyterian em NY, New Orleães, New Jersey, Harvard, Wuhan (China), Japan, the The Alfred hospital (Melbourne),etc.
Tudo para aprender e ensinar com experiências Individuais e colectivas.
É nestes momentos de crise que o melhor da humanidade vem acima: a solidariedade entre os profissionais de saúde; solidariedade e agradecimento aos profissionais de saúde; enfermeiras, médicos, arriscando a vida todos os dias …
A minha rotina, para não pôr a minha família em perigo: quando chego a casa, telefono ao meu filho ou à minha esposa, a partir da garagem, tiro o meu uniforme, ponho tudo num saco de plástico para lavar e vou imediatamente ao duche, sem falar com ninguém e sem tocar nada ou ninguém.
Todo o cuidado é pouco!
Alguns amigos têm telefonado e enviado fotografias horríveis da situação em Las Vegas!
Não, não estamos tão mal assim!
Fiquem descansados! A maioria das pessoas está bem e vamos derrotar este vírus!
Até breve.
Joaquim Silva Tavares – Djoca
Las Vegas 13.04.2020
Zona em frente ao hospital com entrada proibida a visitantes
Saiba mais sobre o Professor Doutor Joaquim Silva Tavares