2 CASOS CLÍNICOS DE MAIO
J.TAVARES, MD, FCCP, FAASM
10.05.2009
Caso da Gripe Porcina (Swine Flu-H1N1) - um final feliz
Continuando o caso da semana passada: a paciente de que falamos tornou-se numa “superstar”, sendo motivo de notícias aqui nos canais de TV.
Como se lembram, tive que a entubar na quinta-feira da semana passada, devido à alteração do nível de consciência (“chamando nomes a todos”, “boxeando, dando pontapés” etc.), sinais de hipoxemia e/ou meningite. A radiografia na altura, se bem se lembram, demonstrou infiltrados pulmonares de ARDS (Pneumonia e Síndrome da Angústia Respiratória Aguda). O tratamento foi continuado com Tamiflu e tive que adicionar metilprednisolona como parte do protocolo Meduri (ainda há muita controvérsia sobre este protocolo, mas, quando se está desesperado e se quer que o/a paciente melhore, temos que tentar tudo…)
Depois de alguns dias de ansiedade, recebemos a notícia do CDC (Center for Diseases Control) com a confirmação de que a paciente realmente tinha a Gripe Porcina (H1N1 positivo); Na altura, conseguimos extubar a paciente (aconteceu há 4 dias), ela está muito bem e deve ter alta amanhã. Estive a falar um pouco mais com ela ontem: agora chama-me “my brother”, “my savior”; ela é originária das ilhas Fidji, casada com um americano e mãe de dois filhos.
1- Não há motivo para pânico: Desde que tomemos medidas preventivas de que falamos no artigo anterior. Mas, a melhor medida, dada a severidade deste vírus, vai ser avaliada agora em que o Inverno se aproxima no Hemisfério Sul (atenção Angola/Moçambique); A conjugação do vírus e a falta de higiene podem ser catastróficas e as populações necessitam de ser sensibilizadas nesse sentido.
2- Nenhum dos provedores de saúde que tomaram conta desta paciente apanhou a gripe; mais um motivo de confiança de que com medidas preventivas, podemos apaziguar qualquer calamidade infecto-contagiosa.
Partilho a radiografia da paciente tirada há 2 dias (podem comparar com a outra tirada há 1 semana para verem a diferença).
Caso Infeliz
Ao contrário do caso anterior, este caso não é motivo de orgulho de qualquer médico; É dos casos em que se pode dizer que os médicos/enfermeiros “screwed up”- borraram a pintura.
Uma senhora de 38 anos de idade, casada, mas com o esposo ausente no Iraque (Major da Força Aérea) por dois anos; começou a ter sintomas de depressão e a beber muito álcool (cerveja, whisky, etc.). Apresentou-se nos serviços de urgência com queixas de dores abdominais, náusea, vómitos.
Na altura, o Sódio (sodium) era 108 meq/litro (7:35 da tarde); começou-se o tratamento com soro fisiológico e 8 horas depois (6:28 da manhã) o Sódio era 122; No espaço de 12 a 24 horas, ela começou a ficar muito confusa, não reconhecendo as pessoas; fui chamado para consultá-la porque teve um colapso do pulmão esquerdo e teve que ser entubada.
1- Sempre lemos nos livros de medicina que existe uma condição que é a Central Pontine Myelinolysis (tradução livre - necrose central pontina) em que tentamos corrigir o Sódio muito rápido e as consequências podem ser nefastas; Segundo o neurologista, ela muito provavelmente vai ficar num estado vegetativo (persistent vegetative state).
2- Em casos destes (hiponatremia grave), temos que tentar repetir o exame laboratorial do Sódio pelo menos a cada 4 horas e não deixar o sódio subir por mais de 0.5 mEq/Litro/hora; Nesta paciente, por lapso de comunicação, depois de se iniciar o tratamento, o exame do Sódio foi repetido só 10 horas depois e subiu 14mEq, quando devia ter subido somente 5 mEq. Um desastre! E agora “muitas cabeças vão rolar”; Porque para o Médico ”Primum Non Nocere”- e muitas vezes nos esquecemos disso.
Junto vão os exames laboratoriais, o MRI do Cérebro e a interpretação do radiologista.
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