Nós queremos que tudo quanto conquistarmos nesta luta pertença ao nosso povo e temos que fazer o máximo para criar uma tal organização que mesmo que alguns de nós queiram desviar as conquistas da luta para os seus interesses, o nosso povo não deixe. Isso é muito importante. Amilcar Cabral |
A CIDADANIA É, ACIMA DE TUDO, UM ACTO DE CONSCIÊNCIA!
Não tenhamos medo de fazer uma nova revolução na Guiné-Bissau. Não uma
revolução com armas de fogo, mas a revolução da consciência cívica, a
revolução de mentalidades, que dará ao nosso povo o direito à liberdade do
saber, do conhecimento e quiçá, do pensamento e da acção! É urgente
libertar o povo guineense do obscurantismo! É urgente fazer ver aos
guineenses que o medo de mudar ontem é a razão dos males de hoje e o medo
de mudar hoje será a razão dos males de amanhã...
Fernando Casimiro (Didinho) |
Há precisamente 2 semanas decidi lançar um Abaixo-Assinado na Internet sendo que, no final do texto de lançamento do referido Abaixo-Assinado escrevi o seguinte:
"Este Abaixo-Assinado é
uma forma de todos contribuirmos na divulgação, sensibilização e condenação do
regime e actos ditatoriais de Nino Vieira.
É uma forma de, cada um de nós e todos juntos, manifestarmos a nossa
solidariedade para com a Guiné-Bissau, no sentido de se evitar uma nova guerra,
exigindo o fim da ditadura e o respeito pelos Direitos Humanos nas suas várias
formas.
Se é contra a ditadura e a favor da Paz, da democracia, da legalidade e
estabilidade, então assine e divulgue este Abaixo-Assinado, que será
posteriormente enviado ao Secretário-Geral da ONU"
Hoje, resolvi fazer um balanço sobre esta iniciativa que, para mim, simboliza um gesto de cidadania e, por conseguinte, espelha uma acção de consciência.
Como se costuma dizer, os números valem o que valem e, em relação ao Abaixo-Assinado em questão, encontrei suporte para várias interpretações que fui analisando ao longo destas 2 semanas e que resolvi partilhar com todos os que têm acompanhado o meu trabalho, quer elogiando, criticando, concordando ou discordando, consoante o assunto.
Antes de entrar na análise de fundo deste tema, quero agradecer a todos os compatriotas e amigos da Guiné-Bissau que conscientemente subscreveram o Abaixo-Assinado dando mostras de serem pessoas livres nas suas tomadas de decisão, o que é sinónimo de coragem!
O Abaixo-Assinado não é nenhum pedido de apoio para qualquer tipo de candidatura pessoal para um cargo no dirigismo nacional
O Abaixo-Assinado não é nenhum pedido de angariação de militantes para a formação de um novo Partido
O Abaixo-Assinado é tão somente uma forma de todos contribuirmos na divulgação, sensibilização e condenação do regime e actos ditatoriais de Nino Vieira.
Como escrevi, é uma forma de, cada um de nós e todos juntos, manifestarmos a nossa solidariedade para com a Guiné-Bissau, no sentido de se evitar uma nova guerra, exigindo o fim da ditadura e o respeito pelos Direitos Humanos.
Creio que havendo lucidez, não será difícil interpretar a iniciativa e os fundamentos do Abaixo-Assinado.
Creio, igualmente, que havendo somente lucidez a interpretação pode ser correcta, mas, faltando a liberdade, a coragem e o espírito de cidadania, a consciência acaba por trair a acção de exteriorização pessoal, saldando essa acção, essa manifestação pessoal, num acto de indiferença que, no entanto, não deixa de ser um indicador tipo-moeda, com 2 faces distintas.
Ao longo deste meu percurso que chamei desde sempre Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO, tenho lidado com várias situações de relacionamento pessoal e institucional tendo como base, sustento, a Guiné-Bissau.
Tenho seguido o trabalho, as iniciativas pessoais e institucionais de guineenses e amigos da Guiné-Bissau, sendo que com apreço, com reconhecimento, pois para mim, não importa quem quer ou faz o bem para a Guiné-Bissau. Para mim, importa a acção e a concretização do bem para o país.
Tenho vindo a sensibilizar a opinião pública nacional e internacional para a questão da indiferença para com os problemas da Guiné-Bissau.
Creio que estamos no bom caminho, apesar de, na hora da verdade, a indiferença dar a cara e alertar-nos para uma nova reflexão sobre o trabalho até aqui desenvolvido.
Para o Abaixo-Assinado a questão do número de subscritores ao dia de hoje demonstra claramente o efeito da indiferença que tem no medo, sim, medo das pessoas, a principal justificação para a indiferença.
Medo de assinar, pensando logo nas represálias a que ficarão sujeitas caso Nino Vieira e a sua rede encontrarem os seus nomes na lista do Abaixo-Assinado.
Os que vivem, estudam e trabalham na diáspora, ainda que dando mostras de serem contra o regime, a ditadura e todos os males que têm desgraçado a Guiné-Bissau, têm medo de assinar porque continuando Nino Vieira no poder estarão condenados ao "exílio forçado" e, como todos querem regressar, passar férias à terra natal, nada melhor que ficar-se pela indiferença, mesmo que isso signifique trair a consciência.
Meus irmãos e amigos,
Estou ausente da Guiné-Bissau desde Novembro de 1981, sendo que regressei, por períodos curtos, em 1983, 1984 e 1988.
Também quero e desejo voltar (fisicamente) à nossa terra!
Também quero e desejo estar (fisicamente) junto do nosso povo
Quero, mas não posso!
Se tiver que morrer sem voltar a pisar o solo pátrio, não será, com certeza motivo de arrependimento (na hora da morte) pela opção que tomei conscientemente, de trabalhar, de servir a Guiné-Bissau e os guineenses, onde quer que me encontre!
Este meu trabalho, esta minha missão, faz-me estar mais perto da Guiné-Bissau e dos meus irmãos guineenses do que muitos que encontrando-se fisicamente na nossa terra estão "longe da terra" e dos seus irmãos!
Como se pode aspirar ao que quer que seja se a primeira das disposições do ser humano: a sua consciência é traída pela sua sombra, ou seja pelo medo?
O Abaixo-Assinado foi enviado a mais de 5 centenas de pessoas e instituições da minha lista de contactos, para além de estar disponibilizado ou ter sido referenciado nalguns sites e blogs.
Da minha lista de contactos, das pessoas que esperava uma acção de consciência, muitas delas ficaram indiferentes!
Quem ficou indiferente por ter medo, já pensou que em função do pedido colocado em relação à subscrição do Abaixo-Assinado, pode ser conotado como a favor da ditadura, contra a Paz, democracia, legalidade e estabilidade na Guiné-Bissau?
"Se é contra a ditadura e a favor da Paz, da democracia, da legalidade e estabilidade, então assine e divulgue este Abaixo-Assinado, que será posteriormente enviado ao Secretário-Geral da ONU"
Não há da minha parte interesse em polemizar os números do Abaixo-Assinado. Como disse, é para mim um gesto de cidadania e, portanto, de consciência!
Também não é minha intenção designar ou definir os meus irmãos como símbolos do medo. O que quero na verdade, é que cada um faça o juízo da sua acção tendo em conta a indiferença em relação aos propósitos do Abaixo-Assinado.
Com mais ou menos assinaturas o Abaixo-Assinado acompanhará uma carta aberta a ser enviada brevemente ao Secretário-Geral das Nações Unidas e que naturalmente, será dada a conhecer.
O momento presente na Guiné-Bissau reforça o contexto deste Abaixo-Assinado, pelo que, quem reconsiderar e quiser manifestar a sua acção de consciência para com a Guiné-Bissau, deve fazê-lo livre e conscientemente, deixando de lado a ambiguidade da indiferença.
Os meus agradecimentos aos subscritores do Abaixo-Assinado bem como a todos os que têm ajudado na divulgação do mesmo.
Pela Guiné-Bissau vale a pena qualquer sacrifício!
Vamos continuar a trabalhar!