A COBARDIA DOS POLÍTICOS GUINEENSES

 

Por: Fernando Casimiro (Didinho)

didinho@sapo.pt

16.12.2007

Finalmente, felizmente para uns, infelizmente para outros como eu, foi aprovada a lei da Amnistia Geral na Guiné-Bissau.

Digamos que foi mais um rude golpe na Democracia, um passar de esponja a um registo de crueldades que por ficarem impunes serão sempre exemplos de má conduta para os actores morais e materiais de crimes contra a pátria num todo e contra a vida humana em particular.

Há quem diga que guardo ressentimentos, que inculco mágoas nos meus textos.

Sinceramente, não me preocupo com esta caracterização em relação ao meu estilo e forma de trabalhar!

O que sei é que vou continuar a teimar em não deixar que os registos e as realidades marcantes da nossa História sejam apagados, seja por que motivo for!

O ressentimento e a mágoa não são, necessariamente, aliados de uma outra caracterização: o ódio, pelo que estou à vontade, demasiado à vontade para mostrar que não pretendo fomentar o ódio nem o espírito de vingança entre os guineenses, mas simplesmente, reivindicar e avivar o sentimento de justiça para os que sofreram e sofrem directa ou indirectamente com  acções criminosas perpetradas por cidadãos que julgam estar acima da lei e que a esta hora estão satisfeitos por verem todos os seus actos bárbaros serem ilibados por decreto-lei dos nossos políticos!

Francisco Benante, Presidente da Assembleia Nacional Popular disse na ocasião que a amnistia: " visa apaziguar os espíritos e promover uma verdadeira reconciliação entre os guineenses".

Se Francisco Benante hoje pensa assim, lamento por ele e pelo órgão de soberania que dirige,  a Assembleia Nacional Popular. Realmente, o contágio do vírus "salve-se quem puder" é algo muito sério que tem que ser combatido rapidamente, ou qualquer dia o país fica todo ele contaminado!

Ao Presidente da Assembleia Nacional Popular quero dizer que nenhuma reconciliação se faz por decreto-lei!

A reconciliação nacional não se incentiva nem se faz, ilibando e moralizando criminosos, desacreditando a Justiça e fomentando sentimento de revolta nas pessoas que de uma forma ou de outra foram afectadas pelos crimes cometidos por indivíduos que acabam de ser ilibados como se nada tivesse acontecido.

A reconciliação nacional, meu caro Francisco Benante, é acima de tudo a convergência do sentimento pessoal para o plano colectivo. É a soma das confissões e do reconhecimento de crimes perpetrados; a soma das reacções às confissões desses crimes. É também, a vontade, a capacidade de sermos tolerantes, de sabermos perdoar, de sabermos aprender e tirar ilações positivas com os erros cometidos; de sabermos aceitar a acção da Justiça em função da estruturação do nosso país como Estado de Direito.

Meus compatriotas políticos e deputados, a reconciliação nacional não pode continuar a ser vista como uma iniciativa de desresponsabilização de criminosos. Não é por aí que se faz a reconciliação nacional!

Não se pode estipular um tempo para reconciliar as pessoas. Foram muitos crimes, muita divisão, muito ódio instigado, nenhuma audição dos presumíveis culpados, nenhuma audição e acompanhamento das vítimas ou seus familiares, nenhuma acção de sensibilização e de  informação no seio do nosso povo sobre questões óbvias em relação ao que é ou deve ser uma reconciliação nacional, ou a nossa reconciliação, num contexto próprio da nossa realidade e experiência.

Os senhores deputados decidiram, está decidido!

Quantos dos senhores deputados viram familiares seus serem assassinados, torturados, perseguidos etc.?

Se algum deputado  estiver nessa situação, então seria bom que relatasse a sua experiência de como foi capaz de ultrapassar a fase de ressentimento até chegar ao perdão, sabendo que ninguém assumiu culpa por nenhum acto criminoso ocorrido na Guiné-Bissau!

 Seria interessante a partilha desse relato no sentido de sensibilizar mais pessoas sobre o perdão...

Desculpem-me já agora, senhores deputados e compatriotas, uma outra questão:

Aos que foram assassinados e que tinham a responsabilidade familiar de sustentar filhos e demais pessoas, alguém se encarregou de providenciar apoios/acompanhamento aos filhos e demais pessoas sob suas responsabilidades?

Os senhores deputados até hoje não reivindicaram incumprimento em relação aos seus salários, porque têm-no recebido, os seus familiares têm beneficiado do trabalho/remuneração dos senhores deputados, tudo correcto!

Será por isso que acham que todos vivem despreocupadamente no país e que a perda de familiares não afecta a vida das pessoas?

Esta amnistia é um erro, mais um grande erro de pessoas que se intitulam de políticos, mas que não passam de politiqueiros, passe a expressão!

Esta amnistia é um acto de cobardia dos que têm o poder de decisão, mas não decidem em benefício do povo que lhes atribuiu esse mesmo poder, infelizmente!

Vamos continuar a trabalhar!

PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO

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