A DOR QUE AFLIGE A GUINÉ-BISSAU E, O SEU POVO, É MAIOR E, MAIS IMPORTANTE, DO QUE A MINHA!!!
Por: João Carlos Gomes *
28 de Janeiro de 2009
Oi
Didinho,
1. Acabo de ver a tua exposição em relação ao incidente no 'hi.5'. Que fique
bem claro: não quis de maneira alguma duvidar da experiência que viveste no
domingo passado, mas apenas, indagar se o Presidente pode ter chegado a este
ponto.
2. Como deves saber e, conforme foi noticiado pelo mundo fora, inclusive aí em
Portugal, durante a 'Guerra Civil de 1998-1999', na Guiné, para além de ter sido
preso várias vezes, sem justificação, fui alvo de duas tentativas de
assassinato, todas testemunhadas, publicamente, por várias pessoas que conheces
pessoalmente.
3. No primeiro caso, fui brutalmente espancado, apunhalado e colocado sob
vigia, por soldados senegaleses, com uma metralhadora apontada à minha cabeça, à
espera de ordens superiores para me fuzilarem. Isto porque, intervim para
tentar prevenir o espancamento de um jovem, que nem sequer conhecia, Basílio
Gomes, e a violação sexual de um grupo de mulheres, por soldados senegaleses,
nas matas, atrás da Ponta Neto. No mesmo dia, o Presidente Nino Vieira foi
informado do ocorrido e, apesar do meu estatuo de Funcionário Internacional,
não levantou um dedo.
4. Olha bem para as fotos que se seguem, tiradas na terceira semana de Novembro
de 1998, a ver se reconheces o indivíduo:
E
agora?
E agora?
(Espero que
reconheças a pessoa nestas fotos, tiradas a partir do segundo dia, à medida que
a cara foi melhorando. Não me considero uma vítima. Não concedo esse privilégio
a ninguém).
5. No segundo caso, fui atacado, de novo, em público, em Outubro do mesmo ano, no 'Restaurante Bar Pelicano', ao tentar proteger a Miriam da Silva, esposa do Dr. Gabriel, dono desse estabelecimento (que se tinha tornado num dos locais de refúgio para muitos populares), após esta ter sido acostada por militares da Guiné-Conakry. Neste caso, um militar disparou vários tiros contra mim, na presença de muitas pessoas, sendo que escapei, sem saber como, até hoje.
6.
Quanto ao incidente de que foste vítima, talvez não me tenha explicado o
suficiente. É que, ao receber a tua denúncia sobre o acontecido, fiz um
'click' no 'link' que me enviaste e, graças a precauções que já tinha tomado na
minha própria página de ‘hi.5’, surpresa:
levou-me directamente
à pagina do, 'Shakman1976 mocadur', que por sinal, é também a página
actual que denunciaste como sendo do Presidente Nino Vieira, e, com todos os
elementos que avançaste. Foi assim que descobri a ligação.
7. Hoje, recebi igualmente uma mensagem de um conhecido meu, uma pessoa amiga a
identificar-se como sendo, 'Shakaman1976', explicando a sua inocência no caso.
Acredito na pessoa, pois é da minha confiança. Por isso, o que isto quer dizer,
é que existe um, 'Shakaman1976' e, existe alguém que usurpou a identidade deste,
para sua utilização própria, e pelos vistos, indevida, adicionando para isso a
palavra, 'mocador' para formar, 'Shakaman1976 mocador', na sua página
de 'hi.5'.
8. O Jornalismo de Investigação é uma das minhas áreas favoritas. Mas, como já
deves ter notado, eu não me presto a esbanjar o meu tempo com mesquinhices,
pois com a situação que actualmente se vive na Guiné-Bissau, temos tarefas muito
mais importantes pela frente.
9. Deves ter reparado também que, durante todo o período de seis anos que o
Presidente João Bernardo 'Nino' Vieira esteve fora do poder, no exílio, nunca o
critiquei. Quando voltou ao poder, e apesar dos seus problemas com o meu primo
irmão, Carlos Gomes Júnior, o actual Primeiro-ministro, ainda lhe dei dois anos
e meio de 'benefício da dúvida’. Só intervim, com a minha participação no,
'Contributo', apenas quando me dei conta que Nino regressou, não só, sem ter
aprendido nada com o passado, mas também, por não ter nada para oferecer à
Guiné-Bissau.
10. Serve esta apenas para te dizer que, cada um com a sua dor. Estou neste
momento com lágrimas nos olhos, pois esta é a primeira vez que publico estas
fotos, da minha própria experiência, com a brutalidade política, volvidos mais
de dez anos. No entanto, não odeio ninguém. A dor da Guiné-Bissau e, de todo
o nosso povo, é muito maior do que a minha dor pessoal. Por isso estou neste
espaço. Não por razões pessoais.
* Escritor/Jornalista
Nova Iorque
VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!
Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO