A DURA EQUAÇÃO DOS TOMATES
Por: Flaviano Mindela dos Santos
27.11.2008
Mais uma sublevação armada… mais uma vítima mortal e… mais umas dissimuladas manifestações de cobardia.
Esta é o que tem sido a rotina de um país, que pelo seu feito histórico singular, ficou mundialmente conhecido, como de gente determinada e destemida, nos momentos de fazer valer os desígnios da liberdade.
Mais uma vez, negando qualquer tipo de análise prévio, as culpas todas foram parar aos suspeitos do costume, tentando com isso isolar por completo esse caso, de todos os outros casos anteriores.
Se logo depois do inequívoco exemplo para as democracias de todo o mundo, reconhecido assim por meio mundo, que o povo guineense demonstrou nas últimas legislativas ainda em fase de conclusão, cumprindo a parte fundamental que lhe cabia, alguém com um profundo conhecimento da pura realidade guineense, e da sociedade castrense em particular, como o Presidente da República João Bernardo Vieira, julgar que fosse momento oportuno para aproveitar fazer queixa, e conseguir com que o visado, que não é um cidadão comum qualquer, mas sim, o Ex-Presidente da República Kumba Yalá, e actual Presidente do PRS, que pelo sabido até então, antes mesmo de ter manifestado alguma intenção nesse sentido, fosse imediatamente impedido de abandonar o país, algo tinha que correr mal.
Por tudo que o povo guineense já suportou, no lugar daquela demonstração de força, o cidadão João Bernardo Vieira devia deixar cair em saco roto mais estas afirmações, vindas da boca do cidadão Kumba Yalá, exactamente como fez, e bem, noutras ocasiões, em que deixou passar muitas afirmações gravíssimas, apontando-lhe, inclusive, como o principal responsável por alguns assassinatos, assim como chegando mesmo a atingir a sua esfera pessoal, difamando-o, quando vezes sem conta, referiu publicamente que a sua paternidade é dúbia.
Todos nós sabemos que na memória da comunidade balanta, ainda estão bem frescas as consequências do conhecido caso 17 de Outubro, em que João Bernardo Vieira, na altura também primeiro magistrado, acabou por ficar com toda a responsabilidade moral. Portanto, hoje, sabendo que a base de apoio do PRS assenta nessa etnia particularmente numerosa nas nossas forças armadas, por razões estratégicas, que também contribuíram para a nossa triunfal independência, devia lidar de forma especial, com os assuntos envolvendo um dos seus elementos-mobilizador, como Kumba Yalá.
Não quero com essa opinião fazer apologia à impunidade!
O tempo, como desde sempre tem feito, encarregou-se há muito de debilitar significativamente a credibilidade das palavras, e do próprio homem Kumba Yalá, até mesmo junto de alguma parte da comunidade balanta, conforme espelharam as tendências dos votos nestas últimas legislativas. E assim haverá de ajudar a esclarecer todos os verdadeiros motivos dos nossos sucessivos adiamentos. Mas com mais esta escaramuça, por um sentimento de pertença, e demonstração de virilidade, não tenho dúvidas de que ele vai recuperar algum do apoio perdido, o que irá galvanizar a sua já manifestada candidatura às próximas presidenciais.
Como tantos outros casos, e pela experiência que esses deixaram, também este obriga a um perspicaz apelo ao sexto sentido. Entre muitas perplexidades, surgiram duas certezas:
A primeira delas é de que, os atacantes não foram com o objectivo completamente definido, de assassinar o Presidente da República. Caso assim fosse, não iriam àquela hora, numa casa onde sabiam que estava um corpo de guarda pronto a reagir; e uma vez que, apesar disso decidiram fazê-lo, o primeiro acto da operação não seria o de lançar uma granada para o telhado, o que obviamente provocou o alerta total dos guardas, e do próprio visado.
A segunda delas é de que, mesmo ainda na fase preliminar de investigação, por mais um dentre vários casos, já estão a ser punidos mais uma vez, o povo guineense, e a própria democracia.
Resta desejar rápidos progressos a essa comissão criada para o esclarecimento deste caso, de maneira a poderem descobrir pelo menos, os verdadeiros culpados.
Aconteceu o que não devia acontecer, mas agora o momento é de enfrentarmos todas as consequências de maneira clara, repudiando todas as suas causas, sem excepção, para podermos desencorajar energicamente os próximos episódios. Mas infelizmente, para já, não é o que se está a verificar. Porque isso implicaria também, com todo o devido respeito, e com todas as formalidades necessárias, chamar à razão o próprio Presidente da República, pela falta de ponderação dos efeitos imediatos da referida queixa, e pelo erro na escolha da circunstância.
Afinal de contas, ele mesmo afirmou numa primeira declaração pós asilo, que regressou ao país disposto a perdoar, e ser também perdoado.
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