A EDUCAÇÃO: BASE DO DESENVOLVIMENTO

 

 

Por : Fernando Casimiro (Didinho)

didinho@sapo.pt

25.09.2006

Recebi há dias uma mensagem intitulada "Partilha de Ideias", proveniente de Bissau e da autoria de Alfredo Handem figura muito ligada à Educação, sociólogo e filósofo de formação.

Para quem assiste aos problemas que têm comprometido o desenvolvimento do país e conhecedor da realidade presencial, de facto, há que fazer algo para inverter a tendência de certa forma comodista e conformista que tem contribuído para falhanços sucessivos nas várias políticas globais ou sectoriais de desenvolvimento definidas pelos diferentes governos ou apoiados por organismos internacionais em função dos acordos de cooperação com o nosso país.

Partindo do princípio que a cidadania deve ser a referência motivadora da participação dos guineenses no debate sobre a situação do país, a "Partilha de Ideias" que me foi apresentada deve ser uma causa pela qual é preciso um envolvimento amplo da sociedade civil (aberta a experiências e participações de amigos da Guiné-Bissau) na busca de respostas e soluções para os problemas que continuam a afectar o nosso desenvolvimento.

A minha posição manifestamente positiva em relação ao diálogo e ao debate de ideias entre os guineenses é por si só um aliado à tese da "Partilha de Ideias".

No entanto, há que reconhecer que: quer o diálogo, quer o debate de ideias são valores que ainda não estão bem enraizados na cultura cívica dos guineenses.

É preciso trabalharmos este aspecto de forma a tornar mais saudável e frutuoso o relacionamento entre guineenses.

É preciso que cada um compreenda e aceite os compromissos para com o país.

É preciso que cada um se sinta livre para exprimir, mas igualmente, aceite que outros possam exprimir.

É preciso que todos se aceitem como interlocutores válidos num processo que gostaria de intitular " Redescobrir as nossas necessidades".

Porquê "Redescobrir as nossas necessidades"?

Principalmente porque a geração do pós-independência que poderia contribuir na monitorização do processo de desenvolvimento não conseguiu desempenhar cabalmente esse papel visto não lhe ter sido, em parte, facilitada essa tarefa por questões de autoritarismo de um poder restrito à militância partidária e não aberto à participação de todos os guineenses.

Se numa primeira fase, nos cinco anos do pós-independência, havia poucos quadros formados, depois dessa altura a situação inverteu-se positiva e gradualmente, de ano para ano, quer a nível de quantidade, quer a nível de qualidade e diversidade das áreas de formação dos quadros guineenses.

A governação não soube tirar o devido proveito de todo esse potencial humano existente e ao invés disso, teve um papel prejudicial na sustentação de vícios do poder, que se enraizaram na mente dos nossos quadros e que, infelizmente ainda demoram a ser removidos.

Deveriam ser esses quadros a fazer levantamentos do que as nossas populações precisam.

Deveriam ser esses quadros a debaterem e a traçarem orientações com base nos estudos no terreno, quer a médio quer a longo prazo, o que seria sempre actualizado em função de novos estudos.

Não se fez isso na altura, ainda que posteriormente a iniciativa da criação do INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas, tenha proporcionado uma melhor percepção sobre a necessidade de se pesquisar e estudar o país e as suas populações.

Ganhou a Guiné-Bissau, de várias formas, só que, o poder nunca assumiu inteiramente as suas responsabilidades, aquelas que a Constituição lhe delega, principalmente aos Órgãos de Soberania, o que sempre entravou a iniciativa do cumprimento das responsabilidades, dos deveres e dos direitos dos cidadãos em geral, e dos investigadores guineenses em particular.

A "Partilha de Ideias" que me foi apresentada no sentido de fazer uma apreciação, dar a minha opinião ou apresentar ideias sobre o assunto, toca-me no fundo principalmente porque é um alerta de um estado avançado de deterioração de um sistema sectorial da espinha dorsal de qualquer política governativa que tem como objectivo o desenvolvimento do país e o bem-estar das populações.

Hoje em dia, os indicadores sociais da Guiné-Bissau, em especial da Educação,  são dos mais baixos da sub-região.

Em cada 100 mulheres, 85 são analfabetas, enquanto que 53 homens em cada 100 são analfabetos (Fonte: Geraldo Martins, 2001).

Embora tenha havido um progresso enorme entre o período de meados de sessenta (11.514 alunos) para meados de dois mil (123.307 alunos. Fonte: Huco Monteiro, 2005) em termos de efectivos no ensino básico, o grande problema continua a ser a permanência das crianças nas escolas e a qualidade da docência. A diferença entre os ingressos e aqueles que completam o ciclo completo do ensino básico é ainda abismal, muitas crianças abandonam a escola (em particular as raparigas) antes de completarem todo o ciclo (6ª classe, em virtude da unificação do ensino). Um outro problema é a qualidade dos professores. Mais de 50% professores que leccionam nas escolas primárias não têm formação para o cargo da docência.

Quanto ao ensino secundário, este pode-se dizer, é o nível esquecido pela politica educativa, pois nunca ganhou o conceito institucional adquirido pelo ensino básico (Fonte: Huco Monteiro, 2005). Nesse nível, no nosso entender, reside grande parte da fraca preparação dos nossos quadros intermédios ou superiores.  

O ensino profissional é uma outra faceta pobre do nosso sistema educativo. As bases para a revitalização da formação profissional ainda foram lançadas com a criação do Instituto Técnico de Formação Profissional, embora os resultados produzidos não tenham tido os efeitos desejáveis, e a guerra acabou por ser fatal às suas pretensões. Porém é conveniente recordar, que a forma como a Educação está orientada na Guiné, ela estimula, à priori, o interesse pela ensino superior ou universitário como se esse fosse per si, a solução para o bem-estar futuro das pessoas. A formação profissional e técnica que em outros lugares, constitui a espinha dorsal do sector privado e produtivo, na Guiné ela é preenchida por profissionais da Guiné Conakry ou do Senegal, facto que não deixa de ser preocupante, uma vez que as manifestações de tendências nacionalistas podem crescer e desenvolver-se a partir de sentimentos de exclusão das oportunidades.

O ensino superior veio trazer uma substancial alteração na paisagem educativa da Guiné (Huco Monteiro, 2005). O nascimento de duas Universidades, uma Privada (Colinas de Boé) e uma Pública (Amílcar Cabral) veio a ser um marco importante na busca de soluções locais/nacionais para a capacitação e formação dos quadros do país. Nas duas Universidades estudam mais de 2000 alunos, jovens que têm o seu tempo ocupado, empenhados a adquirir um diploma universitário que os venha a permitir enfrentar com maior preparação o futuro e os novos desafios da modernidade. Entretanto, colocam-se também a esse nível alguns dos crónicos problemas; insuficiência de professores com qualificação exigida para o efeito, falta de literatura e bibliotecas equipadas minimamente para a educação universitária, dificuldades de ordem financeira para financiar a educação, etc. etc.

Portanto, por tudo isso e por considerar que a Educação, é de facto, a base de todo o processo de desenvolvimento, pois todas as áreas e apontando as mais importantes tais como a Saúde e a Economia, precisam de quadros formados e capazes para a implementação dos seus programas específicos, devemos unir esforços na busca de respostas e soluções que possam viabilizar a Educação na Guiné-Bissau.

É pela vantagem da multiplicação e da aplicação dos conhecimentos dos seus recursos humanos que os países, as instituições, as empresas etc., conseguem ser mais competitivos, mais inovadores e garantes da solução face aos problemas que existem e vão aparecendo.

Assumindo o meu compromisso para com o país e sendo apologista do diálogo e do debate de ideias, achei interessante e oportuno passar a mensagem "Partilha de Ideias" a todos os guineenses e amigos da Guiné-Bissau, no sentido de obter outras ideias e opiniões sobre como ajudar a melhorar o sistema da Educação na Guiné-Bissau.

Se conseguirmos formar e educar as nossas populações, estaremos em condições de garantir a paz, a estabilidade e o desenvolvimento!


Participe no debate "Partilha de Ideias". Dê a sua opinião, apresente ideias.

Todos juntos na procura de respostas e soluções para os problemas da Educação em particular e da Guiné-Bissau em geral.

Esta é a mensagem, a ideia que me foi apresentada e que aproveito para partilhar com vocês sendo que, na forma de debate aberto a todos, ou seja, sem restrições.

PARTILHA DE IDEIAS

Penso que uma das causas principais da nossa difícil situação é o baixo nível de educação das populações. O sistema é ineficaz, os métodos caducados, a qualidade dos professores deixa muito a desejar, as infra-estruturas degradadas, não existem materiais de apoio e pedagógicos que cubram os reais interesses, ninguém quer ir leccionar para as ilhas, muitos quadros qualificados encontram-se longe do país, etc. etc. isto para ilustrar apenas alguns exemplos.  

A minha ideia é criar um largo movimento de apoio à Educação e ao Ensino na Guiné, um  movimento que pudesse incluir no seu seio todos os guineenses sem distinção de raça, cor, religião, classe social e género, e porque não, igualmente os não-guineenses, mas amigos da Guiné e/ou os mais filantrópicos para mobilizar meios e recursos diversos para ajudar a elevar o nível da Educação na nossa terra. Isso poderia ser feito através da mobilização e envio de materiais pedagógicos, cadernos, tabuadas, canetas, livros, etc. mas também professores que possam vir trabalhar um mês/duas semanas e voltar, recursos financeiros para reabilitar escolas, construir bibliotecas, organizar palestras, etc.

 Alfredo Handem

PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

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Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO

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