A esperança na desesperança!

 

 

Por: Filipe Sanhá[1]

 

Filipe Sanhá

 

filipesanha@iol.pt

 

06.06.2009

 

Com o reconhecimento de jure, em 1974, a esperança assente em grandes expectativas positivas do POVO da GUINÉ-BISSAU era grande! Com o andar do tempo essa esperança foi-se desvanecendo! Muitos entroncavam o nosso atraso na falta de quadros nacionais, para conceber, projectar, edificar e gerir, estruturas de um Estado que se pretenda moderno! De há sensivelmente, 25 anos, que o País se sente recheado de grandes valores técnicos e científicos para que pudesse sair da cauda de desenvolvimento económico, social e cultural. Nada disso tem acontecido. Perguntemo-nos: porquê? Obviamente, as respostas poderiam ser múltiplas. É muito importante que para a construção e defesa de uma identidade se tenha um território delimitado, por fronteiras, reconhecidas internacionalmente, e uma população habitante. Mas isso não basta, porque neste espaço que habitamos a que se convencionou chamar PLANETA TERRA, é fundamental que estabeleçamos relações amistosas, internacionais, trocas a nível cultural, comercial e outras, para que nos sintamos parte dessa magnífica ALDEIA GLOBAL. Para que isso aconteça, que sejamos respeitados, temos que trabalhar, construindo e edificando uma imagem positiva do País. Na GUINÉ, tratamo-nos por primos, irmãos: porque os nossos laços de parentesco não se confinam, somente à consanguinidade, mas também pelos nossos valores e comunhão de pertença, apesar da nossa pluralidade identitária cultural e étnica. Todas as mortes, incluindo a natural, são perdas irreparáveis que nos consternam a todos, independentemente, das nossas eventuais diferenças, incluindo as de opinião. A riqueza identitária de um povo consubstancia-se no respeito por essas diferenças, geradoras exponenciais de mais-valias na sua construção. O desenvolvimento de um país não é compatível com discussões estéreis, tais como, quem pertence a que identidade cultural específica e tribal. Somos todos Papeis, Bijagós, Mancanhas, Felupes, Mandingas, Balantas, Fulas, Brancos, Mestiços (que são na verdade a maioria do nosso POVO…), etc. Quem não é mestiço na GUINÉ? Poucos, muito poucos! Os cruzamentos são uma evidência, porque, atentando-nos no excelente artigo do meu caríssimo amigo Lamarana, diria que somos todos corajosos, valentes e dedicados à nossa Pátria, porque somos todos GUINEENSES e pertencentes, transversalmente, a todas as etnias. Sem querer plagiar ninguém, também sou mestiço, resultante de um cruzamento: minha mãe (filha de um Fula de Badora, crescido em Bissorã, com uma Balanta de Biambé) e meu pai (filho de Mandingas, de Piriã).

As ameaças e insultos ao nosso irmão DIDINHO, ontem, deixaram-me consternado e triste, porque ainda continuo a não acreditar que o seu autor possa ser guineense, porque a nossa educação familiar e académica não se compadecem com uma linguagem tão enferma de mediocridade e de baixo índole!!! Segura e, garantidamente, o nosso padrão de guinendade não é compatível com semelhante linguagem! Quem quer debater ideias, deve apresentar-se, identificando-se, corajosamente, caso contrário ao refugiar-se no anonimato para insultar, quem quer que seja, é sinónimo de cobardia! Queria dizer a esse indivíduo, que é mais fácil apertar o gatilho de uma arma do que concebê-la, na medida em que a sua construção é uma tarefa investigacional, que envolve muitos cientistas e uma árdua tarefa colectiva de muitos anos!

A nossa tarefa não é apertar o gatilho, nem matar ninguém, mas sim construir o nosso bem-estar colectivo, baseado numa aprendizagem séria e profunda, para que estejamos à altura de conceber e desenvolver os instrumentos que mais falta nos fazem, na actualidade, para a estabilização do nosso grande património colectivo e nacional, que é sem dúvida: GUINÉ-BISSAU.

Ao DIDINHO, a minha total solidariedade e votos de que não se deixe abater por este lamentável episódio e linguagem imprópria que pertence ao outro mundo, que não é o nosso, e que continue a TRABALHAR, que é coisa que ele faz e sabe fazer como ninguém, há muitos anos, para a edificação e promoção da imagem da nossa GUINÉ-BISSAU.


 

[1] - Psicólogo, Mestre e Doutorando pela Universidade de Coimbra (Portugal)

 


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