África Nossa… Mãe África!!!...

 

 

 

 

Por: Filipe Sanhá[1]

 

Filipe Sanhá

 

filipesanha@iol.pt

 

09.11.2008

 

Apesar de muito trabalho que ainda tenho pela frente, para a conclusão dos meus trabalhos académicos, roubando-me, praticamente, todos os fins-de-semana e feriados, porque, cumulativamente, trabalho, no mínimo 7 horas por dia, furtei-me a essa rotina, para manifestar, neste espaço CONTRIBUTO, aqui e agora, a minha contida e fria satisfação pela vitória do ex – Senador Barack Obama. Faço-o por muitos motivos, destacando, de momento, apenas dois:

1 - Os Estados Unidos, como potência a nível económico e tecnológico, teve um passado sombrio, na integração dos negros, inclusive os nascidos e criados no País, como cidadãos de pleno direito. Consultando os manuais especializados, a sua estrutura social e racial diz-nos que os negros só representam cerca de 12%, a par dos latinos/hispânicos. A esmagadora maioria dos cidadãos é de raça branca, cifrando-se em cerca de 71%. Ora, nem todos os negros e latinos votaram no Obama e, mesmo que isso fosse verdade, somando todas as minorias norte-americanas, não perfariam os 53% com que venceu estas eleições. Isso quererá dizer que um número significativo dos seus eleitores era da raça branca. Porquê? Parece-me, com alguma clareza, que é aqui que devemos incluir as variáveis: confiança, reconhecimento, competência, persistência, inteligência e expectativa positiva, etc. … Esta vitória não é contra ninguém, individual ou colectivamente, mas sim uma retoma da dignidade humana à escala planetária, que estes homens e mulheres tinham perdido! Naturalmente, a prova da realidade virá depois, com o desempenho que se espera seja positiva, do novo Presidente Eleito, mas para já a primeira batalha está ganha! É o momento preciso para relembrarmos a “ Mãe dos Direitos Civis”, Rosa Parks, que, na cidade de Montgomery, em Alabama, em 1955, desafiara as “regras da supremacia branca”, sentando-se na parte da frente de um autocarro, exclusiva dos brancos. Também é o momento ideal para recordarmos, com saudade, Martin Luther King, Bayard Rustin e Philip Randolph, que organizaram, em 1963, a célebre Marcha pacífica sobre Washington, reclamando a igualdade de direitos.

2 - A supremacia racial foi e é um grande embuste, independente da sua fonte! Não há raças superiores ou inferiores. O que há, isso sim, pessoas com condições sócio – económicas e culturais deploráveis, diferenciadoras, e determinantes, que, infelizmente, ainda grassam em quase todos os países e Continentes, desta nossa Aldeia que se pretende Global. Para avivar um pouco a memória de alguns, há bem pouco tempo, um senhor que alguns chamam de “ génio”, afirmava perante o ecrã de um canal televisivo, em Portugal, na qualidade de comentador, que Barack não tinha qualquer hipótese de ganhar as primárias, para nomeação na Convenção Democrata. Apostara em Hillary, pessoa que eu estimo e respeito pela sua abertura intelectual e humana, que demonstrara, quando do exercício da função de Primeira-dama, mas perdeu. Esse mesmo Senhor, depois desta vitória, com a consequente nomeação Democrata, para concorrer contra o nomeado do Partido Republicano, desdobrou-se em afirmações que, no mínimo, permitiam uma interpretação racista. Afirmar que era impossível a ocupação da cadeira de poder na Casa Branca pelo actual vencedor, pela sua origem étnica, indiciava alguma falta de rigor nas avaliações que fez. Espantosamente, depois de consumada a vitória, convincente, viria a justificar-se, novamente, nestes últimos dias, de que a vitória de Obama sobre McCain, era uma vitória da “maioria das minorias”, ou seja: dos não brancos e dos brancos liberais descontentes no seio dos democratas!!!. Se estas afirmações caracterizam a genialidade, sinto-me muito bem em ser um comum mortal! As teses sobre a discriminação racial são históricas, por razões, cuja justificação não caberia neste espaço, mas convém, recordar, que há muitos séculos que todos os não brancos, principalmente os negros foram brutalmente discriminados, considerados desprovidos de inteligência. Estas teses e outras, moveram montanhas, nas hostes racistas até década de 60, embora perdure até a actualidade, de forma mais subtil e escamoteada. No início do século XX, no domínio da Psicologia, quando a avaliação do QI (quociente de inteligência) era por si só, um “ valor absoluto”, foram tecidas conjecturas/teses “ científicas”, que professavam a pés juntos a inferioridade intelectual dos negros, estudos levados a cabo, exactamente, nos Estados Unidos. Embora, já nessa altura, houvesse cientistas contestatários desses “resultados encontrados”, pela sua natureza racista e por falta do rigor científico de que enfermavam, eram posições que davam motivos e razões para os defensores da supremacia racial, branca, enfaticamente, regozijassem de satisfação e com maior vigor, porque aqui era a “ ciência ” que a aprovava. O esforço, persistência, sacrifício e inteligência, inestimáveis deste segmento da população norte-americana, veio confirmar que quando se é determinado na prossecução dos nossos objectivos, conjugados com alguma sorte, o sucesso acontece, independentemente, da cor da pele ou origem étnica, permitindo, categoricamente, afirmar: Yes, We can!!! As comoções, traduzidas em lágrimas, em silêncio, do Pastor Jackson, nos vários momentos deste processo eleitoral explicam muita coisa a este respeito!... Temos que acreditar, elevando a nossa auto-estima, sem rodeios, preconceitos e complexos, desvalorizando as expressões de mediocridade, que ainda subsistem em algumas mentes, que encontramos no nosso quotidiano! Como Guineense e Africano, sinto que todos devemos honrar a memória dos tombados, na luta pelos Direitos Civis, principalmente, nos Estados Unidos, porque graças a eles, há, hoje, um Presidente Eleito, negro, para a Casa Branca, sobre quem impende a responsabilidade de governar o País, reequilibrar as relações internacionais e promover o diálogo intercultural, como o país mais poderoso do Mundo, em cuja vitória poucos acreditavam por ser afro-americano.


 

[1] - Mestre pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Coimbra e Doutorando em Gestão de Empresas, pela mesma Universidade.

 

 


ESPAÇO PARA COMENTÁRIOS AOS DIVERSOS ARTIGOS DO NÔ DJUNTA MON -- PARTICIPE!

PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO

www.didinho.org