ÁFRICA, O TRÁGICO DO TRÁFICO
Gustavo Gomes gustavo.gomes69@gmail.com 04.11.2010 Tenho notado opiniões recorrentes que sugerem sejamos complacentes com o tráfico de drogas na Guiné, “alegadamente” porque não produzimos nem consumimos e face deslumbrante “progresso”(?) que representa o incessante desfilar de carros topo de linha e mansões erguidas em Bissau. Sabidamente provenientes de transações com o tráfico de drogas. Por isso, resolvi republicar antigos comentários meus, para dar a conhecer uma opinião discordante.
Sei que a maioria bem conhece a História da África. Mas,
para melhor compreensão de meu ponto de vista, não custa lembrar: Verdade que alguns régulos africanos fizeram firme combate. Mas era inócuo, porque os traficantes de escravos tinham armas de fogo e eles não. Três séculos durou o humanamente deprimente e vergonhoso tráfico de escravos. Como resultado, prosperaram colonos das Américas (mas não os escravos comercializados). Lucraram os reis, comerciantes e armadores das potencias coloniais europeias que traficavam (mas não os povos dessas nações). Ganharam régulos e príncipes “colaboracionistas” africanos, mas perdeu, e muito o povo da África. Tínhamos uma África, de reinos e impérios sumptuosos e relativamente organizados, com cidades de 100 a 150 mil habitantes, sistema de governação, com moedas próprias, com nível intelectual análogo ao Norte da África, sobrevivendo de ordenadas atividades produtivas e de trocas. Com a abrupta intensificação do tráfico esclavagista, o tecido sócio politico administrativo foi sumariamente arrasado. Os que plantavam, os que pescavam, os que criavam gado, etc., foram escravizados. Fome, banditismo, doenças foi o que sobrou como herança ao remanescente povo africano. Pode-se dizer que os régulos da época, não perceberam que poucos lucravam com o negócio e que a ganância os auto-destruiu. Hoje, novamente os detentores do Poder na África (agora de Nações Independentes), seus empresários, seus militares, seus juristas estão tentados pela lucratividade efêmera de um outro tráfico. O tráfico de drogas, ao oferecerem seus territórios como plataformas giratórias entre a America do Sul produtora e mercados consumidores da Europa e América do Norte. Será que terão a clarividência de aprender com o passado? Ou pelo menos aprender com o presente das nações que já enveredaram por esse caminho? Será que mais uma vez os africanos e os guineenses em particular aceitarão ser vitimas a olhar o enriquecimento astronómico de alguns poucos, enquanto internamente, o tráfico de droga alimenta sucessivos golpes de estado, assassinatos, corrupção, instabilidades, crises, e evidente degradação da qualidade de vida que incentiva a diáspora como saída para profissionais, políticos, empreendedores e outros, tão essenciais ao desenvolvimento de um Estado de Direito mas não a um Narco-Estado. Pois para os traficantes é condição imprescindível que os países tenham estruturas frágeis de Estado de Direito e baixa ou nenhuma infra-estrutura. São várias as investigações que provam que parte desses lucros ilícitos têm financiado grupos e atos terroristas. Não vou referenciar a ilicitude do tráfico. Prefiro expor minha convicção pessoal, contrária a quaisquer atividades ou atos que tragam prejuízo à vida humana, seja crime ambiental, de direitos, ou tráfico, independente da riqueza financeira que proporcione a alguns.
Em defesa dos poucos beneficiários dessa efêmera riqueza, não
devemos obscurecer nossa visão nem percepção de que as guerras entre
cartéis, trazem o consequente rastro de sangue e brutalidade.
VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR! Associação Guiné-Bissau CONTRIBUTO |