A GERAÇÃO DO FUTURO QUASE GOLPEADA!
Bacar Queta
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quetaqueta2@yahoo.com.br
Bissau, 04.05.2010
A
nova geração guineense não teve sorte de receber dos mais velhos, como era o
costume da África tradicional, os valores que poder-lhe-iam oferecer condições à
ser uma geração fortalecida de potencial para fabricar mudanças positivas. Pois,
esta carência de valores, fê-la perder neste complexo fenómeno de mundialização
que exige sérias condições para se entregar. Isso mais uma vez, prova de maneira
categórica que o subsistema (o grupo egocêntrico e ilusionista) dos homens da
luta que levou à morte Amílcar Cabral, não só traiu o principal objectivo da
luta para independência nacional, mas também levou a todos os guineenses numa
profunda crise de vida. Se o objectivo da luta fosse simplesmente expulsar os
fascistas colonizadores no nosso território, para depois semear corrupção e
matanças, não teria uma aderência forte que tivesse. A grande resistência que
antecedeu a luta protagonizada pelo PAIGC, parecia mais objectivo e ancorava num
espírito endógeno, preservando não só a terra, “tchon que nô djunta”,
mas o pensamento – crença, cultura e valores – guineense, rejeitou a alienação,
coisa que hoje marca a civilização guineense, muitos se convertem por completo
ao pensamento do norte, deixaram no ar a sua identidade. Que vergonha!
Lendo o escrito de Cabral que explica o conceito de
“CAMARADA”, leva qualquer pessoa sã a duvidar se ainda na verdade
existem Camaradas no Partido? Tenho plena certeza que se existissem
não seriamos um povo com um sistema do ensino desactualizado, saúde limitada
a quem tem dinheiro (na sua grande e esmagadora, furtadures) e nem
haveríamos de ser sempre acordado com tiros. Mas sim, Seriamos, sem dúvida,
um povo feliz e de virtudes reconhecidos internacionalmente como era no
tempo dos verdadeiros Camaradas. Muitos dos combatentes ainda
continuam a ter salário miserável, uma vida de mendigo enquanto os
convertidos combatentes ganham melhor salário.
Desde a independência até hoje o País tem sido governado por
um sistema assistencialista, na base duma constituição “copi-cola”
(constituição importada) que entra em conflito com a nossa realidade. Neste
sistema de vazio, a sociedade castrense se fragmentou em grupos de
insurreições dotadas de poder de decidir quem vai viver ou morrer hoje e
amanhã; o governo perdido na ambição de assegurar o poder para o benefício
pessoal; o sistema judicial infame; então povo refugia numa esperança
incerta, esperando melhores dias. O mais triste é ver aqueles que são vistos
como “intelectuais ou construtores” a se venderem a um preço pobre
para serem ministros, chefes de gabinete de ministros, directores gerais,
pondo os seus saberes para o empobrecimento do País. Há mais de três dezenas
de partidos políticos. Vê-se muito nesses partidos sinais de conseguir o
poder para sustentar as suas ambições pessoais; isso é mais um efeito de
falta de valor.
Apesar de tudo isso, há perfeitas condições para sairmos
nesta treva secular. Precisamos primeiramente de acreditar que o
desenvolvimento só poderia ser construído aqui e pelos próprios guineenses,
não importando do “Norte”, porque a história de colonização já nos prova que
o “Norte” nunca quer ver a paz e o desenvolvimento em África, porque o seu
desenvolvimento depende fundamentalmente das nossas crises social,
económica, politica…
Por outro lado, precisamos de assegurar a nossa identidade
para podermos proteger e fortalecer o nosso pensamento, o africano, porque é
através daí que vamos poder reflectir endogenamente o nosso desenvolvimento
e assim transmitir valores aos outros e integrar com respeito no sistema de
globalização. É claro que estamos excluídos do processo de mundialização,
para ser muito injusto, estamos lá como um simples espectador. Limitando-se
a sermos utilizados como simples instrumento de teatro dos ditos grandes
deste globo.
Há um aspecto também importante que deve ser considerado no
processo de resolução de conflitos: é como habitualmente se inclui o aspecto
étnico nas abordagens de problemas do País. A beleza da cultura guineense é
fundada na base dos diversos grupos étnicos que temos, e devemos ter ou ver
a etnia como um património cultural guineense, um factor de identidade
guineense e de união, mas não de exclusão. Eu gosto muito de brokça
por ser um estilo da cultura guineense, não balanta, e para mim não
é preciso ser balanta para gostar de brokça, mas sim ser
guineense de verdade. Temos que cuidar, se não vamos transformar tudo o que
nos pode unir para ser causa da nossa desunião, seria uma perda imprevisível
para todos nós. Com isso não quero dizer que não há comportamentos nefastos
e nem apoiar atitudes do género, mas sim, saber responsabilizar cada um por
seu acto, sem tomar associa-lo à sua etnia. Os colonialistas já nos separam
pelas fronteiras e incentivam conflitos étnicos. Agora, temos só que nos
reencontrar a nossa origem, cultura e pensamento.
Hoje preocupamos com os comportamentos dos militares,
esquecemos que a reacção dos mesmos é a mera consequência de pensamento e
comportamentos dos políticos de tchon. Certas declarações e
tendências políticas devem ser melhoradas, e o espaço militar deve ser
construído de maneira que possa contribuir para estabilidade e segurança
nacional.
Força
irmão, ainda é possível!
Eu
acredito e você?
VAMOS CONTINUAR A
TRABALHAR!
Associação
Guiné-Bissau
CONTRIBUTO
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www.didinho.org
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