A GUINÉ-BISSAU, COM REALISMO! (3)

 

 

Por: Fernando Casimiro (Didinho)

didinho@sapo.pt

13.04.2009

Fernando Casimiro (Didinho)Toda e qualquer afirmação com carácter de denúncia deve ser tida em linha de conta para o apuramento da verdade, independentemente do passado ou do presente do seu autor, seja ele governante, político, militar ou simples cidadão guineense!

Tenho procurado ser imparcial ao longo destes 6 anos do Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO e garanto-vos que assim continuarei. Tal como sempre disse, o meu Partido é a Guiné-Bissau!

Sempre me posicionei contra o regime do falecido general-presidente João Bernardo Vieira, mas nunca desejei a sua morte ou de qualquer outro governante, para que houvesse mudança na Guiné-Bissau. Não devemos pactuar com golpes de Estado, assassinatos e quaisquer desmandos que violem as normas do humanismo e da democracia, até porque nenhum desses atropelos é sinónimo de mudança, num conceito positivo e real do termo.

O que se pretende com estas análises é ajudar a compreender o que está a acontecer na Guiné-Bissau, de forma imparcial, sem tomar partido movido por sentimentalismos vários, mas analisando, usando a mente, que é a força de qualquer raciocínio e não o coração, que é o ponto da sensibilidade, mas que na maior parte das vezes atrofia a mente, impedindo um juízo correcto.

É do conhecimento público que após os acontecimentos de 1 e 2 de Março, houve outros, não de consequências tão dramáticas, mas indicadores de uma extensão da simbologia do uso da razão da força para, intimidando, calar vozes incómodas e, assim, impedir que detalhes importantes sejam dados a conhecer sobre o que se passa na Guiné-Bissau desde então (falarei das extensões no próximo capítulo).

Nenhuma estratégia nova obviamente, nem nada que os guineenses não tivessem experimentado ao longo de 36 anos de independência. Na verdade, a ditadura sempre existiu na Guiné-Bissau, ainda que com flutuações (variações de grau de intensidade).

Após as mortes de Tagme Na Waie e Nino Vieira, o governo de Carlos Gomes Jr. refugiou-se nitidamente no silêncio, num silêncio comprometedor que acabou por indignar os cidadãos perante tamanha insensibilidade para actos tão bárbaros.

Quero recordar a todos que no dia em que Nino Vieira foi morto, a 1ª declaração por parte das nossas Forças Armadas sobre o assunto, foi proferida por José Zamora Induta, à Agência France-Presse:

"O Exército matou o presidente Vieira quando ele tentava fugir da casa dele, atacada por um grupo de militares ligados ao comandante do Estado-Maior, Tagme Na Waie", afirmou o chefe militar de Relações Exteriores, José Zamora Induta.

"Agora, o país vai avançar. Este homem bloqueava tudo neste pequeno país", completou o oficial.

Quer queiramos, quer não, para qualquer investigação séria, estas declarações do actual Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas interino, José Zamora Induta, devem ser tomadas como ponto de partida (elemento-chave), para se apurar a verdade dos factos.

Como soube Zamora Induta que a casa de Nino Vieira foi atacada por um grupo de militares ligados a Tagme Na Waie, assassinado à bomba a 1 de Março?

Como soube Zamora Induta que Nino Vieira tentava a fuga?

Será que Zamora Induta (não) estava no local? (Não) terá sido um dos operacionais?

Porque foi que Zamora Induta disse: "Agora, o país vai avançar. Este homem bloqueava tudo neste pequeno país".

Se não esteve no local; se não foi um dos operacionais, então como soube de imediato o que por lá se passou?

Se soube por relato dos que participaram nessa operação, então, é caso para dizer que Zamora Induta sabe quem são e, por isso, deve denunciá-los!

O governo ouviu essas declarações de Zamora Induta e não se pronunciou!

O Ministério Público tomou conhecimento dessas declarações de Zamora Induta e não se pronunciou!

Com a pressão internacional no sentido de se criar uma comissão de investigação aos 2 crimes, o governo lá se decidiu por uma comissão que engloba igualmente as Forças Armadas, mas, sabe-se agora, depois de mais uma declaração de Zamora Induta, ele que tem falado mais do que o próprio governo, que afinal em vez de uma comissão para a investigação dos 2 crimes, foram criadas 2 comissões:

- Uma, para investigar a morte de Tagme Na Waie, o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas assassinado à bomba a 1 de Março, comissão essa de exclusiva responsabilidade e acção dos militares;

- Outra comissão composta por várias entidades e da qual fazem parte os militares, para investigar o assassinato do Presidente Nino Vieira.

As recentes declarações de Zamora Induta colocam-nos perante um cenário de descrédito total pelas comissões criadas. Será que é da competência do Estado-Maior investigar a morte de Tagme Na Waie, se o próprio Zamora Induta também já foi referenciado para prestar declarações ao Ministério Público, depois das denúncias do Dr. Francisco José Fadul (falarei do Dr. Fadul no próximo capítulo deste trabalho), acusando o Primeiro-Ministro Carlos Gomes Jr. e Zamora Induta, de conluio na morte de Nino Vieira?

Recentemente Zamora Induta afirmou que o Estado-Maior já conhece a equipa que colocou a bomba que vitimou Tagme Na Waie

"Estamos na fase final do processo. Criámos uma equipa de investigação ao nível do Estado-Maior, porque esse assunto aconteceu nas instalações militares. Ao nosso nível, enquanto militares, tivemos esse interesse em saber quem são os autores da bomba que matou o Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas", sublinhou Zamora Induta.

"As pessoas que puseram a bomba aqui já confessaram", acrescentou, sem mais detalhes.

"O outro crime (a morte do Presidente "Nino" Vieira) não nos compete a nós investigar, porque o Governo já criou uma comissão para esse efeito da qual fazemos parte", declarou o CEMGFA interino guineense.

Creio que se deve questionar a legalidade e consequente credibilidade desta comissão, como também, em que condições os alegados culpados confessos, assumiram as suas responsabilidades no acto.

Deve-se questionar se essas pessoas tiveram direito a advogado ;

Deve-se questionar o porquê de essas pessoas não terem sido apresentadas publicamente no dia em que Zamora Induta anunciou oficialmente ser conhecida essa equipa de bombistas. Será que as suas fisionomias apresentam sinais de tortura e há que deixar cicatrizar as marcas para depois se fazer essa apresentação?

Nesta fase delicada por que passa a Guiné-Bissau, não se deve confundir o apelo à calma com a aceitação e consequente legitimação de desmandos.

Não devemos continuar a negar a acção da responsabilização perante actos e pessoas a quem responsabilizar!

Devemos reflectir, analisar e tirar conclusões perante a evidência dos factos. Pensa-se com a cabeça e não com o coração!

Vamos continuar a trabalhar!

A GUINÉ-BISSAU, COM REALISMO! (2) 12.04.2009

A GUINÉ-BISSAU, COM REALISMO! (1) 06.04.2009

Militares matam presidente após assassinato de chefe militar na Guiné Bissau

France Presse
 
02/03/2009
 
BISSAU, Guiné-Bissau (AFP) - Militares de Guiné Bissau mataram nesta segunda-feira o presidente João Bernardo Vieira, poucas horas depois do assassinato do comandante do Estado-Maior das Forças Armadas, o general Tagmeh Na Waieh, em um atentado.

"O Exército matou o presidente Vieira quando ele tentava fugir da casa dele, atacada por um grupo de militares ligados ao comandante do Estado-Maior, Tagmeh Na Waieh", afirmou o chefe militar de Relações Exteriores, José Zamora Induta.

"Agora, o país vai avançar. Este homem bloqueava tudo neste pequeno país", completou o oficial.

O Exército, no entanto, anunciou que respeitará a ordem constitucional e a democracia, segundo oficiais superiores do Estado-Maior das Forças Armadas.

"O Exército, fiel a seu dever, respeitará a ordem constitucional e a democracia", afirma um comunicado.

"O Estado-Maior das Forças Armadas anuncia que o chefe do Estado-Maior, o general Tagmeh Na Waieh, foi vítima de um atentado que o matou. O exército anuncia, por outra parte, a morte do presidente Nino Vieira", afirma o comunicado.

Apesar de todas as provas em contrário, Induta declarou que a morte do presidente não tem relação com a do presidente João Bernardo Vieira.

"Não aceitaremos que as pessoas o interpretem como um golpe de Estado. Não é um golpe de Estado, repito", insistiu o capitão de fragata José Zamora Induta, que também é porta-voz da comissão militar criada na noite de domingo.

"O presidente morreu nas mãos de um grupo de pessoas que não conhecemos. Ignoramos tudo a respeito deste grupo de pessoas ainda não identificadas", acrescentou.

No entanto, foi o mesmo Induta que anunciou mais cedo à AFP a morte do presidente Vieira e acusou o chefe de Estado de ser um dos principais responsáveis pela morte de Tagmeh.

Mas ele declarou que o Exército garantiu ao primeiro-ministro que seguirá fiel aos "princípios democráticos".

"Os militares informam que a situação está sob controle e lançam um pedido à população para quem mantenham a calma", acrescenta.

João Bernardo Vieira (conhecido como "Nino"), de 69 anos, passou praticamente 23 anos à frente de Guiné-Bissau. Foi reeleito para a presidência deste país do oeste da África em 2005, nove anos depois do fim de uma guerra civil (que durou 11 meses) que o expulsara do poder.

O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, o general Tagmeh Na Waieh, morreu no domingo em um atentado com bomba contra o quartel-general do Exército.

O general Waie foi morto na noite de domingo em um atentado cometido contra o quartel-general do exército em Bissau, anunciou à AFP seu chefe de gabinete, o tenente-coronel Bwam Nhamtchio.

"O general estava em seu escritório quando a bomba explodiu. Ele foi gravemente ferido, e não sobreviveu. É uma grande perda para todos nós", declarou, aos prantos, o oficial.

Segundo uma testemunha entrevistada pela AFP, a residência privada do presidente foi saqueada.

"Vimos militares retirando tudo o que havia dentro da residência privada do presidente, seus bens pessoais, seus móveis, tudo", afirmou a testemunha.

Em 23 de novembro, um grupo militar já havia atacado a residência de Vieira, em uma ação que matou dois seguranças.

A União Africana (UA) e a União Europeia (UE), particularmente Portugal, antiga potência colónia de Guiné Bissau, condenaram a morte do presidente.

Um comunicado do ministério das Relações Exteriores de Portugal condena "com veemência" o assassinato de Vieira e convoca uma reunião da Comunidade de Países da Língua Portuguesa (CPLP).

"Portugal lamenta profundamente a morte do presidente 'Nino' Vieira, vítima de um atentado nas últimas horas em Guiné-Bissau", afirma o comunicado.

Antiga potência colonial, Portugal preside atualmente a CPLP, que tem oito países de língua portuguesa: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste.

O presidente da comissão da UA, Jean Ping, também condenou o assassinato de João Bernardo Vieira.

"Fiquei sabendo esta manhã, com profunda consternação, do assassinato do presidente da república de Guiné-Bissau, 'Nino' Vieira. A UA e eu condenamos com firmeza este ato criminoso", declarou à AFP.

"O assassinato é grave por acontecer no momento em que estavam sendo realizados esforços para para consolidar a paz depois das eleições (legislativas) de Novembro de 2008, destinadas a reforçar o processo democrático no país", completou.

O alto representante da UE para a Política Externa, Javier Solana, condenou o assassinato e defendeu a manutenção da ordem constitucional no país.

A Guiné Bissau é um pequeno país do oeste da África, cenário de vários golpes de Estado desde sua independência de Portugal, em 1974.

Fonte: Agence France-Presse.

 

 

Zamora Induta já sabe quem matou general Tagmé Na Waié

08 Abril 2009

O chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas interino da Guiné-Bissau, Zamora Induta, disse hoje que já é conhecida a equipa que colocou a bomba que matou o general Tagmé Na Waié no Estado-Maior, no início de Março.

"Aproveito para vos dizer que nós os militares somos os primeiros interessados em saber quem colocou a bomba no Estado-Maior, felizmente já os conhecemos, conhecemos a equipa que colocou a bomba. Brevemente traremos essa notícia a público", afirmou Zamora Induta aos jornalistas no final de uma audiência com os líderes religiosos do país.

"Estamos na fase final do processo. Criámos uma equipa de investigação ao nível do Estado-Maior, porque esse assunto aconteceu nas instalações militares. Ao nosso nível, enquanto militares, tivemos esse interesse em saber quem são os autores da bomba que matou o Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas", sublinhou Zamora Induta.

"As pessoas que puseram a bomba aqui já confessaram", acrescentou, sem mais detalhes.

"O outro crime (a morte do Presidente "Nino" Vieira) não nos compete a nós investigar, porque o Governo já criou uma comissão para esse efeito da qual fazemos parte", declarou o CEMGFA interino guineense.

O Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, Tagme Na Waié, e o Presidente da República, João Bernardo "Nino" Vieira, foram mortos em Bissau nos passados dias 01 e 02 de Março, respectivamente, com horas de intervalo.

Na sequência dos crimes, foi criada uma comissão de inquérito dirigida pelo procurador-geral da República, para investigar ambos os crimes, e uma outra pelas Forças Armadas dedicada apenas ao atentado que matou o general Tagmé Na Waié, da qual já resultou a detenção de suspeitos, embora não tenha sido revelado o seu número nem identidades.

Fonte: Diário de Notícias

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