A MOBILIDADE, UM
FENÓMENO HUMANO
Migração, Emigração e Imigração
Eduardo Monteiro
eemonteiro@hotmail.com
29.09.2010
Ainda
no processo de hominização, falando de australopitecos, Zijantropo e aos
sapiens in sapiens, a mobilidade foi sempre uma constante, desde o período
pré-histórico ao pré-clássico, clássico e por aí fora. O homem sempre se
movimentou à procura de melhor forma de sobreviver entre as densas
florestas, savanas e o litoral.
A mobilidade do
homem data da sua própria história, por isso, hoje, podemos dizer,
migração/ões é igual à história da humanidade enquadrada no tempo e no
espaço, falando cronologicamente.
Ontem, hoje e
amanhã, as razões da mobilidade humana ou migratória foram, são e serão
sempre à procura de melhores condições vida, apesar das diferentes
explicações e distintas formas de leitura; a razão é simplesmente viver
melhor, se possível em liberdade, porque esta foi sempre a essência humana.
A Soberania e as
Fronteiras que marcaram os primórdios da história, são produtos das
movimentações humanas, que, acabaram por criar fronteiras, transformando-as
em Reinos Impérios, Estados etc.
Seria exaustivo
fazer uma história das migrações e seria também levar o leitor à exaustão e
não é essa a intenção.
O
DESASTRE HISTÓRICO NO CONTINENTE AFRICANO
É óbvio, que,
não se pode falar da mobilidade humana em África e de África, na nossa
perspectiva, olvidar do Século XV e XVI dos marcos que a época histórica
produziu em África, o que nos leva imperativamente enquanto africanos, a ter
sempre presente qualquer que seja a geração e a não sermos indiferentes a
esta ignóbil época. O tráfico humano, transformado no comércio de Escravos
(animais humanos) o que leva qualquer africano digno de reter a memória de
um passado histórico mais negro do nosso Continente.
COMÉRCIO
DE ESCRAVOS, A OCUPAÇÃO COLONIAL
A colonização,
um sistema, conceito, pressupostos, filosofia, ideologia, o plano
estratégico de ocupar, dominar, evangelizar, islamizar, implantar e, se
necessário, dividir para consolidar a dominação. Daí resultaram as regras
que alavancaram o colonialismo.
Como
consequência deste desastre histórico, Importa reavivar as nossas memórias,
que, resulta deste comércio de escravos, hoje espalhados pelo Mundo, cerca
de 350.000.000 dos seus descendentes pelos continentes: Americano de Norte e
Sul, a Europa, a Ásia e outros,
(Só o Brasil tem
cerca de 108.000.000 de população negra, a maior depois da Nigéria com
157.000.000).
Ainda hoje, a
África e os africanos continuam à espera de um pedido formal de desculpas
pelas Nações Unidas.
Muito
recentemente, assistimos o Primeiro-ministro da Austrália a apresentar o
Pedido Formal e Público de Perdão aos Aborígenes.
Há cerca de duas
semanas, a ex-ministra da cultura do Mali, no encontro dos estudiosos
africanos, africanistas e os da Península Ibérica, realizado no ISCTE, dizia
e muito bem, que os africanos não são pobres, mas sim, empobrecidos,
continuamos a ser o continente mais virgem e com maiores reservas de
recursos do planeta, nos mais diversificados sectores, inclusive hoje com
quadros elites consideráveis dentro e fora do mesmo, com todas as
potencialidades.
Isto deve
constituir um imperativo para uma profunda reflexão das gerações jovens,
repito nova geração com grandes responsabilidades no futuro dos nossos
países. Importa realçar que, é de suma importância ter em linha de conta
pressupostos, paradigmas exemplares e referenciadas para que tenham a noção
inequívoca da governância e boa governação, da democracia, projectando uma
nova visão estratégica orientado intra-guiné e internacionalmente
contextualizado neste século da multilateralidade e interculturalidade, com
os conceitos e práticas contemporâneos desprendidos de valores atrozes e
obsoletos, enquanto cultura, nos mais simples actos e comportamentos do
dia-a-dia.
A nossa
Emigração africana para fora do continente data concretamente do pós 2ª
guerra mundial e depois de 1946. É preciso não confundir com os africanos
que tomaram parte na 2ª guerra mundial. A reconstrução da Europa, flagelada
e completamente destruída na sua vertente material e humana, criou algumas
possibilidades de mobilidade neste sentido. Ou seja propensa à Imigração.
A emigração
guineense, de forma fraca data da década 50, a então Guiné Portuguesa, onde
se faziam pequenas viagens e vaivém. Ora, volvidos 8 anos depois, com as
independências dos países africanos nomeadamente os nossos vizinhos, desde
logo, de forma paulatina conhecemos os fluxos migratórios, digamos mais
concretamente, sazonal, das pessoas que iam sazonalmente cultivar a
Casamança e algures pelo Senegal, regressavam então à província. Como é
óbvio, gradualmente foram conhecendo melhor o país, alguns foram ficando
nestes países: Senegal e Guiné Conacry, mas como expressão estatística não
tinham ainda muita relevância.
A guerra pela
Independência, provocou as mobilidades migratórias para Casamança e
posteriormente para Dakar, concretamente as etnias: manjaca, fulas e de
seguida os balantas e outras, que se dirigiram especificamente para diversos
sectores como mão-de-obra, Ziguinchor, kaolack (Porto de) Dakar e ainda
alguns destes concidadãos, conseguiram mais tarde seguir viagem para França
(década 50, 60 e 70).
A Emigração para
outros países africanos, são números de baixa expressão estatística e sem
relevância para aqui.
Posto Isto, numa
verdadeira abordagem da emigração da Guiné-Bissau, devem ser separados, os
que saíam por razões nacionalistas e os que foram à procura de uma vida
pressupostamente melhor.
Assim, com as
nossas Independências da Guiné e Cabo Verde, os ânimos exaltaram, emergiu o
input de com o poder ter um passaporte, o que significava que como cidadão
podia viajar para o mundo, este input mexeu com as estruturas das
mentalidades e sem desprezar as grandes viagens que se fazia logo no pós
Independência a nível político, os governantes, estudantes, permitiu que os
guineenses de uma forma mais abrangente passassem a perceber au-dela
das nossas fronteiras, o outro mundo, almejado. Proporcionado pela mudança
por estarem em, contactos, conhecimentos, amizades, o que logo produziu,
estigma de aventurar e viver como outros povos vivem no mundo, porque não? O
que considero legitimo.
A década de
80-90 é indubitavelmente a época deliberada da nossa emigração ou seja a
debandada para a emigração, logo os países visados foram Portugal, França,
Senegal, mais tarde Espanha e outros novos horizontes, Canada, Estados
Unidos, Países árabes quase todos, Austrália, Macau e no final da década 90
Angola, Cabo Verde, a Inglaterra etc.
Pois, muitas
vezes há um aproveitamento leviano por parte de alguns dos nossos políticos,
com visão completamente reducionista, escamoteadora, das razões da emigração
como se emigrar é algo fácil, porventura um crime que se comete.
Emigrar é uma
das decisões mais corajosas e dolorosas que tomamos na nossa vida, significa
ter de deixar tudo: a família, amigos, habitat e partir para uma vida
incerta porque nunca temos a certeza do que nos espera.
Esta mesma
emigração guineense volvidos 30 anos, dispersos pelos quadrantes do Mundo,
muitos conseguiram realizar-se com sucesso e outros não, nos países de
acolhimento. São como todos os outros irmãos trabalhadores infelizmente como
dizem (eles di fora) emigrantes, que contribuem com as suas poupanças na
transformação pró-activa, como fontes de remessas, contribuindo para
equilíbrios da nossa balança de pagamento, bem como, as suas intervenções
directas, muitas vezes de forma informal junto das famílias, o que tem
minimizado as possíveis tensões provocadas pelo desemprego, atrasos de
salários e a pobreza absoluta no país, pois, como forma directa de evitar
possíveis conflitos sociais.
Brevemente Parte II
Obs: Falarei só
da nossa emigração, procurarei fazer uma abordagem mais economicista, a
Estatística, o impacto sócio político, como interveniente na balança de
pagamento, (tendo em linha de conta que o maior volume de remessas 63%
chegam ao país de forma informal) no social e empresarial, sobretudo na
vertente do empreendedorismo no país.
Eduardo Monteiro