“Amparo de mãe”

 

Por: Isabel Maria da Costa (Nety) 

 

 

08.09.2008

 

                                  

        Meus caros compatriotas, meus camaradas, meus amigos, meus confidentes, enfim, meus irmãos!

        É com nostalgia que vos confidencio um lindo e delicioso sonho munido de um enorme simbolismo fraternal do qual não hesitei um segundo que fosse, em partilhar convosco; na expectativa de poder transmitir através de breves palavras as sensações que tive privilégio de vivenciar e convidá-los a embarcar nele para a paz e harmonia entre todos.               

        Outrora perdida, deambulando por terras longínquas, frias e montanhosas. Qual o meu espanto, ouço sussurros penetrantes murmurando: aconchega-te minha filha (em crioulo)! Fecho os olhos, vejo-me numa cúpula envolvente em forma de braços, tão afavelmente acolhedora quanto ternurenta.

        A imagem reflectia um corpo esguio e esbelto, de compleição forte; sua fronte negra e resplandecente reluzia as meninas dos olhos negros envoltos de um manto d´água de fundo branco; O suor da sua pele emanava o aroma da terra molhada, orgulhosamente, exibia a sua carapinha de tonalidade esverdeada imitando o florescer da vegetação no início da época chuvosa, misteriosamente sorridente!...

        Quão formosura de corte “tadju”! Quão inocência!

        «A Ausência tem uma filha que se chama saudade: eu sustento mãe e filha bem contra minha vontade».

        No aconchego do seu regaço onde me ninava, cai-me uma gota gelada que arrepiou-me até a alma porém, tratava-se de um pingo de lágrima que havia escapulido das faces serenas da “Mãe-Guiné”!

        – Oh! Nmá-Guiné, está chorando?!!!  Ela disfarçou-se dizendo:

        – Não nha fidju... i kalur di nha rustu.

        – Mas então, a nossa gente?

        – Ali nôs li... suma kim?

        – Nené da Costa?

        – Ai nha fidju!...  kil bai disná...

        – Que Deus o tenha na santa glória! O Nhaga?

        – I bai tambi... coitadi e duenci ba risu... Ncanha tambi... Éh, Nforontá!...

        – Que assombração! Não me diga que... mas a Ponú e a Camponi?

           Resignada, só abanava a cabeça de tão arrasada e vulnerável ao alcance das lamentações. De repente, solta um suspiro profundo e agonizante:

        – Hummm, Deus!... Essis tudu stá bass di mi né tchon... gossi lágrimas bidá é seku cu mi. Ké kum iara? Má n´pega Deus son...“El” cu sibi!

       Pobre mãe “padidur,” a inconsolável!

     Memórias da minha viagem de sonhos pelas planícies quentes e arenosas da costa ocidental de África concretamente, a Guiné-Bissau.

 

 

 

        A certa altura, o sopro das brisas incumbido, acariciava-me friamente alertando-me para a realidade nublada e montanhosa.   

        Condescendente, oiço-te chamando por mim, meu irmão! Angustiado, chamando-me para reflectir sobre o futuro e o destino da nossa “ amada Guiné”.

        Que atitude tão nobre meu caro irmão?!!!

        Confesso muito feliz e entusiasmada pela sua coragem e não só, como também pelo seu nível intelectual de que é provido. Parabéns!

        “ Dá ao César o que é de César”.

        Que a bênção de Deus e a protecção divina estejam consigo!

        Acredito plenamente que a sua dedicação e a luta que trava no seu dia-a-dia reflectirão numa gloriosa mudança de mentalidades, sobretudo, nos jovens conscientes de suas missões, como também, para os mais cépticos com propósitos de mudar o rumo da nossa nação.

        A sua atitude é de louvar simplesmente porque é motivo de inspiração e faz-me crer, ainda mais, num futuro condigno e próspero. Salientando ainda a sua sagacidade e atenção especial que dedica ao quotidiano guineense, a fim de conhecer e revelar a realidade dos factos adiando assim as perspectivas dos mais fúteis e inescrupulosos, os chamados concupiscentes. Não obstante, racionalizando os princípios básicos da verdade e da transparência nas nossas acções.

        Efectivamente, veículos fundamentais para o desenvolvimento sustentável da nossa cultura sócio-política e económica.

        É com muito orgulho e satisfação que dirijo estas linhas a si e aos demais, fazendo apelo a todos os guineenses, eia! (não são quimeras, confio em vós, mesmo porque, não vejo mal nenhum em fantasiar, sonhar com os pés descalços e firmes).

          – Resgatemos das profundezas das nossas almas os melhores valores ético-morais herdados dos nossos antepassados, doravante, para garantir sucessos às gerações vindouras.

          – Sonhemos, aspiremos e olhemos para o futuro com olhos de ver, com maturidade, baseado na confiança e no respeito mútuo.

          – Unamo-nos e lutemos com todas as nossas forças para o progresso da nossa pátria.

          – Protegê-la-emos das vulnerabilidades e vulgaridades de que é susceptível e vítima.

         – Orgulhemo-nos das nossas raízes pobres mas autênticas, para podermos alcançar a paz, o bem-estar e acima de tudo, a sabedoria”.

        “ A dor da verdade é passageira” isto, até onde a nossa humildade permitir.

         – Escutemos a voz da razão para seguirmos o caminho da verdade.

        Desculpem-me tanto selectivismo ou melhor, o facto de particularizar a (Guiné-Bissau) mas estou convencida de que as grandes transformações devem começar em nossas próprias casas e daí expandi-la para o mundo global através de pequenas conquistas diariamente obtidas em espaços e tempos diferentes onde sempre couberam e caberão os maiores êxitos para o usufruto colectivo.

        Portanto, é legítimo afirmar que uma das verdadeiras premissas para os pequenos e grandes feitos chama-se sacrifício e a ele está associado uma grande força de vontade e a acção conjunta. Para mais, tratando-se da construção de uma sociedade livre e justa para todos que dela quiserem fazer parte, torna-se condicionalmente necessária e peremptórica este simples exercício da prática de boa Fé. Pensem nisso!   

        Conto convosco, pessoal, “ mentú” e até sempre.  

 

                                                                     

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