A MULHER Ế O CORAÇÃO DA HUMANIDADE

 

 

 Adão Nhaga

nhaga76@hotmail.com

07.08.2010

ADÂO NHAGANas sociedades africanas a mulher é relegada para o plano de inferioridade e de subordinação, quando se trata do seu relacionamento com o homem. Na Guiné-Bissau estes factos são bem evidentes quase em todas as sociedades étnicas, sobretudo nas estruturas hierarquizadas e, muito mais acentuadamente com a influência do Islão, nas sociedades islamizadas.

O “fanado di  mindjer” (excisão feminina e todas as cerimónias tradicionais associadas) constitui na Guiné-Bissau uma prática tradicional aceite e realizada por diversas etnias, nomeadamente as islamizadas (Fula, Mandinga, Beafada, etc.). À luz dos direitos humanos e de diversas convenções internacionais ratificadas pela Guiné-Bissau, a excisão constitui uma prática nefasta, que deve ser combatida.

Embora o governo e restantes forças políticas tenham perfeita consciência do assunto e tenham assumido compromissos nesse sentido, os esforços desenvolvidos para a erradicação da prática são ainda efémeros. E o assunto tende a ficar à margem das acções políticas legislativas em prol da mulher e criança. Eu estou convicto de que é um assunto sensível que deve ser abordado com cuidado porque à volta dele há vários interesses e  persistem, no entanto, algumas contradições quanto à parceria  e participação da mulher.

 

Ø  primeiro, a mulher à noite dorme na mesma cama ao lado do homem, mas durante o dia já não pode sentar-se junto dele;

Ø  segundo, há cerimónias e reuniões que se realizam e em que a mulher não pode participar. Por exemplo, a mulher manjaca não pode saber nada do fanado (circuncisão) que é sagrado.

Por outro lado, os ritos e os acontecimentos do fanado são acompanhados de toques de “bombolão” que a mulher percebe perfeitamente. Só que ela não deve falar sobre isso, nem com os homens nem com outras mulheres.

 Estas restrições impostas à mulher nas sociedades étnicas são fundamentadas pelos seguintes argumentos:

Ø  a mulher não guarda com a delicadeza e firmeza os segredos.

Ø  a mulher não resiste às tentações e, facilmente, se conquista pelas virtudes e actos que lhes são incompreensíveis e admiráveis,

Às vezes essas argumentações têm a sua motivação. Pois, nas escrituras sagradas (Bíblia), no Génesis foi dito que a mulher foi quem não resistiu às tentações da serpente, que a enganou para que consumisse as frutas da árvore da sabedoria e isto apesar de terem (ela e o homem) sido aconselhados por Deus a não consumirem seja qual fosse a razão.

Contudo, depois de muitos milhares de anos, o ser humano sofreu inúmeras transformações evolutivas, quer na sua estrutura física, quer na sua capacidade intelectual.

Vou pegar na passagem da Bíblia no livro do Génesis: se lermos e reflectirmos bem esta passagem é uma passagem muito bela que nos mostra como o Ser Mulher tem um papel importantíssimo no seio da humanidade.

Reparem que, depois de deixar passar diante do Homem (Adão) todas as outras criaturas para ele escolher uma como sua companheira, Adão disse a Deus: Senhor, eu não encontrei nenhuma que seja Igual a mim. Ele disse que não era Igual e não que era Inferior para ser escrava, nem que era Superior para ser senhora, mas Igual a ele para ser companheira, amiga, irmã. Como é lindo este pedido de Adão a Deus. E o Senhor tirou uma das suas “Costelas” quando ele estava num sono profundo (serenidade de alma e coração) para ser igual a ele, para ser amada, respeitada e ser sua amiga e irmã. Não tirou dos ossos dos pés para ser espezinhada, nem das mãos para ser torturada, nem da cabeça para ser dominado pela mulher mas uma das costelas ao lado do coração.

Por isso, eu acho que a Sagrada Escritura não minimiza o papel da mulher, aliás, pelo contrário, se lermos bem há muitas passagens que mostram como a mulher é importante na seio da humanidade. A mulher é o Coração da Humanidade. Cabe agora a cada uma das mulheres, ser consciente do seu Ser Mulher e procurar desempenhar o seu papel de “mulher, mãe, esposa, amiga e irmã, para que o mundo não faça delas um objecto de negócio e de escravidão.

Portanto, será que é justo manter estas argumentações para justificar a permanente marginalização do sexo feminino? Pois, a infelicidade, as injustiças, as calúnias e as intrigas são características com um sinal mais para o sexo masculino. Isso, se tomarmos em conta os acontecimentos cruelmente marcantes da convivência sócio-cultural em particular e de toda a história da humanidade em geral.

Ultimamente ouvimos muito falar da questão da emancipação da mulher no mundo actual, mas doutro lado também ouvimos falar e vemos na televisão como muitas vezes a mulher deixa-se ser seduzida e considerada como um objecto de negócio pornográfico. Não quero culpabilizar ninguém porque considero como um assunto muito delicado na medida em que há muitas mãos misteriosas que querem tirar proveito disto.
Por isso limito-me a deixar apenas como pontos de reflexão esta minha intervenção.

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