A Pertinência do Projeto Contributo na Edificação Democrática da Guiné-Bissau

 

(Ponto de Vista)

 

“Não há um caminho fácil para a liberdade”.

 

Nelson Mandela

 

 

 

GUMBÉ - Sidó Pais

 

 

 

Rui Jorge  da Conceição Gomes Semedo

 

rjogos18@yahoo.com.br

 

14.02.2010

 

 

Rui Jorge SemedoDecorridos quase 20 anos da abertura política, em que o nosso país transitou da ditadura para a democracia, ainda são visíveis resistências de instituições do Estado em conceder aos cidadãos direitos constitucionalmente consagrados pelo modelo político em vigor. A negação dos direitos que referimos precisa ser visto não apenas do ponto de vista político, mas, no seu sentido mais amplo do termo que engloba aspectos sociais, econômicos e ambientais exigidos como condições necessárias para o funcionamento racional do modelo.

 

A situação de resistência criada internamente, por um lado, criou dificuldades de participação de cidadãos na construção do bem-estar social comum e, por outro, inibiu por meios de violências, possibilidades de contestação ao funcionamento das instituições. Politicamente conseguiu-se sistematicamente ao longo desses 20 anos o controle da oposição pela situação, enquanto que socialmente, se está perante uma sociedade civil e um setor privado (que são instrumentos da mudança quando organizados) numa situação de inoperância e de conformismo assustador.  

  

Essa imobilidade político-social que é manifesta internamente provocou uma imediata resposta da diáspora com o surgimento de diversas iniciativas e organizações sociais, nomeadamente, a Bolanha, a Guineáspora, o Projeto Guiné-Bissau Contributo, e os sites Gumbé.com e Afrowave, ambos com objetivos de procurar mecanismos para dinamizar a realidade na terra natal, e, obviamente, cada um a sua maneira.

 

Foi nesse sentido que emergiu o Projeto Contributo (criado pelo Patriota Fernando Casimiro, Didinho) com a sua forma peculiar de congregar idéias para servir o país seja no sentido de opor às práticas antidemocráticas ou de se congratular com iniciativas que visam melhorias de condições de vida na Guiné. As ações do Projeto muito rapidamente serviram como ponto de encontro e de partilha da diáspora de diferentes pontos, debates de idéias, trocas de experiências e descobertas de talentos são elementos que dinamizam, enriquecem e tornam cada vez mais poderoso o seu raio de ação inovador de cidadania.

 

Frontal, reflexivo e instrutivo nem sempre é visto com bons olhos, uns aplaudem-no por reconhecimento ao seu caráter responsável e corajoso, enquanto outros retalham-no e por vezes, minimizam a nobre atividade desse Projeto, apenas porque seus corruptos interesses estão sendo colocados à luz da verdade.

 

As ações do Projeto Contributo têm que ser observadas para além de interesses político-sociais particulares. Devem ser vistas como compromissos com uma Guiné pela positiva. O Projeto Contributo não é contra ninguém, não é inimigo de ninguém e afirma-se, incondicionalmente solidário aos princípios que norteiam a defesa dos Direitos Humanos.

 

Naturalmente, estar do lado do “Bem” significa fazer oposição ao “Mal”, – conforme diz o nosso grande Sidó Pais tudu kusa tem si par – bem ku mal ku tá anda djuntu – e a defesa do primeiro, infelizmente, ignorado, é sempre a garantia e o sinônimo da paz, segurança, bem-estar, desenvolvimento e respeito pela dignidade humana. Contrariamente, o segundo além de oferecer um “conforto enganador” momentâneo, provoca e dissemina ódios, vingança, destruição e retrocesso. 

 

Ontem e hoje, tanto a “situação” quanto a “oposição” e, mesmo, as diversas classes sociais que compõem a nossa rica sociedade reconhecem o estado de caos a que chegamos e ambas reconhecem azáfama necessidade de um agir diferente e responsável, reconhecem que o país precisa mudar de caminho e também a forma de caminhar, só que, na prática, devido aos interesses pessoais e às ambições desmedidas dos que sucessivamente controlam o poder, ainda não conseguimos desmarcar de forma efetiva para construirmos uma realidade decente.

 

E é justamente para contrapor aos desmandos, corrupção e violência institucional que o Projeto Contributo, na ausência, conforme atrás referimos, de uma oposição partidária forte, de uma sociedade civil consciente do seu papel e de um setor privado dinâmico, vem multiplicando esforços e disseminando princípios da liberdade como fundamento para a construção de um Estado de Direito. Talvez os críticos do Projeto Contributo não tenham noção, à vista desarmada, de contribuições que o mesmo, direta ou indiretamente, tem provocado nas estruturas do poder e, principalmente, nas suas atividades governativas, mas, garantimos-lhes que as ações do mesmo têm sido indispensáveis para frear alguns descaminhos da coisa pública.   

         

Os críticos do Projeto sempre acham que o mesmo é uma arma destruidora da imagem do país, o que não corresponde minimamente à verdade, pois, se neste momento existe uma instituição e/ou site que divulga ações positivas da Guiné é o Projeto Contributo, basta observarmos as contribuições pedagógicas de seus coordenadores: Dra. Filomena Embaló na Literatura e Cultura, Prof. Dr. Joaquim Tavares na Saúde, Prof. Dr. Mamadu Lamarana na Educação, Dr. Filipe Sanhá com as Crianças e Dr. Secuna Baldé no Turismo. Aliás, isso é apenas uma parte, outros links como o de Estudos e Pesquisas que tem sido um suporte para muitos estudantes e pesquisadores nas suas produções acadêmicas, a informação sobre possibilidades de investimento na Guiné e, etc, são contribuições importantes não só para divulgar a Guiné, como também ajudam a transformar as mentalidades dos cidadãos.

 

E agora perguntamos o que de concreto o Projeto tem feito para “obstaculizar o país” como alguns erradamente pensam?

Até então desconhecemos, mas, talvez, alguém vá nos dizer das “Críticas” ao Governo. Se isso viesse a ser a resposta, responderíamos que toda a crítica feita pelo Projeto surge como resposta aos comportamentos criminosos por parte do poder. É necessário perceber o caráter apolítico e apartidário do projeto que sempre se opôs e vai continuar a se opor a todos que pretendem alienar os direitos dos guineenses ao bem-estar político, social e econômico.

 

Será que é ser contra a Guiné denunciar a corrupção pública, a violência institucional com requintes de assassinatos, o abuso de poder, etc?

 

Ser contra a Guiné na verdade é escamotear o direito à justiça, à ordem e à paz, e a isso os integrantes e colaboradores honestos do Projeto não estão dispostos.

 

Como qualquer instituição que congrega seres humanos e, sobretudo, com conhecimentos especiais, a contradição e o consenso são inevitavelmente processos pelos quais se tem que trilhar se, realmente, se quer lutar pelos objetivos propostos.

 

 O Projeto Contributo internamente também tem enfrentado contradições, mas, não o vemos como sinal de destruição, mas de fortalecimento e de progresso. É nesse sentido que, independentemente das divergências de opiniões e posições, nossas contribuições como cidadãos e/ou amigos comprometidos com a causa da Guiné, são extremamente importantes, necessárias e consideradas, no intuito de se reverter a violência em paz, a insegurança em segurança, a corrupção em honestidade, a injustiça em justiça e o subdesenvolvimento em desenvolvimento.

 

O caminho do aprendizado da liberdade é íngreme como alertou-nos Mandela, e precisamos de determinação para fazer a nossa parte como defensores dos Direitos Humanos. 

 

 


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