A PROPÓSITO DE VALORES...

 

Querido Casimiro,
Todas as manhãs, o primeiro contato é com a Guiné. O que acontece na Guiné não serve apenas para  a Guiné.

Li com prazer a troca de cartas entre você e Ramos-Horta, com a frase dele significativa em prol da Guiné: ‘pena que você não tenha um papel na rádio nacional ou na TV para oferecer espaço e oportunidade de informação e debate, sérios, pedagógicos, que informam e formam’. Espero que as autoridades constitucionalmente restauradas, percebam a oportunidade de aproveitar-se de vossa preparação e sabedoria, no renascimento da Guiné.
Saudações cordiais
Matteo Candido

 

Matteo Candido *

matteo.candido@teletu.it

30.05.2014

Caro Didinho,

Na nossa primeira troca de cartas, estava preocupado com o impacto da religião cristã, ou melhor, com o impacto dos missionários europeus sobre as populações africanas. Na minha presença na Guiné como voluntário, eu tive a oportunidade de estar com o povo de Suzana com minha esposa e filhos: conheci os problemas e o estilo de vida das pessoas da aldeia. Em outra ocasião, estive em Bissau para ensinar latim no Seminário Maior da Diocese. E experimentei o impacto local da religião cristã e dos missionários europeus na vida das pessoas e dos futuros sacerdotes africanos.

Concordei com algumas das suas críticas, querido Casimiro,  ao comportamento dos missionários, mesmo considerando que a religião cristã fosse uma minoria no país. Mas eu sou sempre da opinião de que o verdadeiro e genuíno cristianismo continua a ser essencial para o futuro da Guiné. Os estadistas desprovidos de moralidade e ética não podem produzir uma política positiva. No pós-guerra a Itália foi levantada principalmente graças ao verdadeiro estadista cristão Alcide De Gasperi.

Em meus contatos com os missionários na Guiné eu nunca deixo de dizer -quando eu enviar-lhes (à missão de Gabu e de Ingoré e ao diretor da ‘Radio Sol Mansi’) os recursos arrecadados entre os meus patriotas- para eles formarem jovens cristãos na vida política, para a etica entrar na àrea pública numa forma mais elevada do que hoje domina na prática. O que o presidente Rosa fez foi um exemplo. Um só homen -è claro- não pode fazer muito nem por muito tempo, mas se os núcleos de pessoas honestas aumentarem, a mudança acontecerà cedo ou tarde. Et tambèm irão diminuir os jornalistas facciosos e vulgares que arruinam e dificultam a opinâo pública.

Agora que a situação constitucional está de volta - e não era algo óbvio - a Guiné precisa de cidadãos honestos na vida pública. E onde encontrá-los, se não nos jovens, especialmente entre os alunos?

Com relação à vida política imediata, eu acho que não devemos seguir o estilo ocidental. Aqui temos o pensamento e a ação de Amilcar Cabral. Quando Luis Cabral decidiu concentrar-se na industrialização da Guiné - a meu ver- cometeu um erro. Industrialização significa submissão à economia mundial e, consequentemente, escravidão política. Amilcar colocou o futuro da Guiné na economia agrícola. E a agricultura com o artesanato é do que precisa a Guiné. E também a sua conformação étnica. O guinnendade não pode ignorar a multiplicidade das tribos, com as suas tradições e valores particulares. E é neles que só cresce realmente a pessoa humana. Não nos valores abstratos cépticos e disruptivos que os meios de comunicação modernos levam no mundo todo.

Sentia-me triste quando passava em Bissau perto de uma boate vendo os mesmos disparates e a mesma corrupção que acompanha a boate na Europa. Muito mais construtivo o espetáculo das competições periòdicas onde eu assisti  em Suzana, com jovens de diferentes aldeias!

* Pedagogo

 

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