A PROPÓSITO DO FALECIMENTO DO EX-PRESIDENTE KUMBA YALÁ: LIÇÕES E ILAÇÕES

 

O Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO nasceu a 10 de Maio de 2003, motivado pela ameaça do “desaparecimento” da Guiné-Bissau como Estado, durante a presidência de Kumba Yalá. Foram muitos os momentos de reflexão e ponderação, por forma a encontrar uma via para dar o meu contributo, como guineense, na tentativa de se inverter a situação. Optei por exteriorizar as minhas reflexões, escrevendo artigos de opinião sobre a Guiné-Bissau, tentando assim, passar mensagens de sensibilização pela causa guineense, não só aos guineenses, mas também ao Mundo.

 

Fernando Casimiro (Didinho)

didinhocasimiro@gmail.com

07.04.2014

Fernando Casimiro (Didinho)Antes de mais, aproveito a oportunidade, para endereçar as minhas sentidas condolências aos familiares do recém falecido Dr. Kumba Yalá, ao povo guineense, que representou enquanto Chefe do Estado da Guiné-Bissau entre 2000 e 2003 e ao Partido da Renovação Social (PRS) do qual foi fundador e Presidente.

O desaparecimento físico do Dr. Kumba Yalá, num momento delicado para a Guiné-Bissau, deveria ser encarado como mais uma oportunidade para os guineenses tirarem ilações das infinitas lições das mais diversas áreas da vida, em comunidade, a nossa comunidade, designada povo guineense.

Estou triste, muito triste, por constatar que, entre nós, guineenses, até depois da morte de alguém, infelizmente, continua a haver espaço para manifestações de ódio e desrespeito pelos mortos.

Vi e ouvi muito do que se tem escrito e dito por estes dias sobre o Dr. Kumba Yalá...

Fui educado no sentido de respeitar os mortos, de desejar-lhes, no geral, a Paz de espírito que não tiveram, certamente, em vida, neste nosso mundo onde todos nós, de uma forma ou de outra, somos pecadores, uns mais expostos do que outros, é certo, mas todos, pecadores!

A um morto não se deve insultar, ou manifestar reacções carregadas de ódio. Quem o faz, demonstra estar espiritualmente doente, e os guineenses precisam, cada vez mais, de orientações, capazes de alimentar, purificar e fortalecer os seus espíritos, positivamente, visando a reconciliação e a harmonia, que carecemos, enquanto um só povo, o guineense!

Se até perante a morte não somos ou não formos capazes de nos perdoar ou respeitar, como podemos transmitir aos nossos filhos, netos e, consequentemente, às gerações vindouras, os testemunhos da ética, dos bons princípios, da paz, da harmonia, em torno do Projecto Nação, que desejamos para a nossa Guiné-Bissau?!

O Dr. Kumba Yalá, a exemplo de todos os ex-Presidentes da República da Guiné-Bissau, fez a sua parte, entre o bem e o mal, não sendo este o momento para uma análise ao seu desempenho enquanto Presidente da República da Guiné-Bissau entre 2000 e 2003 até porque, da minha parte, fiz questão de o criticar em vida, tentando ajudá-lo a melhorar a sua postura, a evoluir com o tempo.

Não foi por obra do acaso que em Maio de 2003 criei o Projecto Guiné-Bissau CONTRIBUTO. Foi sobretudo, graças ao desempenho negativo do Dr. Kumba Yalá, enquanto Presidente da República da Guiné-Bissau.

Normalmente pensamos que só se aprende com o lado positivo, mas está mais do que provado, que aprendemos através das experiências de uns e de outros, enquanto seres humanos com diversas missões no nosso mundo; experiências essas que servem para todo o tipo de aprendizagem comportamental, ao ponto de sabermos distinguir o bem do mal, o positivo do negativo, etc., etc.

No caso concreto da Guiné-Bissau, posso afirmar que, todos os ex-Presidentes da República, através das suas "missões", deram-nos a aprender algo, do essencial sobre a necessidade de nos identificarmos e nos comprometermos com a nossa causa/casa comum, a Guiné-Bissau.

Da missão do Dr. Kumba Yalá, enquanto Presidente da República da Guiné-Bissau entre 2000 e 2003 despertei-me para a necessidade de fazer algo pelo nosso país e pelo nosso povo. O Dr. Kumba Yalá sem saber, estava a contribuir, ainda que pelos seus erros no dirigismo do Estado, para uma nova dinâmica na consciencialização dos seus irmãos guineenses.

O meu despertar accionou a minha criatividade e daí, a cultura da reflexão sobre o país, que culminou na criação do Projecto CONTRIBUTO, que, por sua vez, promoveu e acelerou a sensibilização de muitos guineenses espalhados por todo o mundo para a necessidade de, todos termos uma "obrigação" moral que seja, para com o país e para com os nossos irmãos reféns de diversos atropelos em nome de uma democracia sustentada pela ditadura.

Verdade seja dita, o cidadão político e pensador que hoje sou, devo-o em parte, ao Dr. Kumba Yalá, que me despertou a consciência, através da "missão" que lhe foi reservada, entre 2000 e 2003 na qualidade de Presidente da República da Guiné-Bissau!

Não conheci pessoalmente o Dr. Kumba Yalá, mas fiquei a conhecê-lo politicamente, aquando das primeiras eleições multipartidárias na Guiné-Bissau e tornei-me num seu admirador.

Sentia-o capaz e manifestamente evoluído para o meio no qual estava inserido, mas demasiado "aventureiro" no comprometimento para a visão política e social que tinha da e para a Guiné-Bissau.

Seria essa, uma das razões do seu desgaste e, consequentemente, do seu retrocesso, ou estagnação, enquanto pensador e político?!

Ao longo dos anos, e até há cerca de dois meses, ouvimos sempre o Dr. Kumba Yalá dizer que não tinha adversários à altura...

De facto, a conjuntura que proporcionou a abertura ao multipartidarismo na Guiné-Bissau em 1991, criou demasiadas expectativas em relação a uma nova imagem de mudança de rumo, tal a ansiedade por novos valores e princípios de harmonização social, assentes em ideologias políticas de ruptura com o passado do monopartidarismo e da negação do pluralismo democrático na Guiné-Bissau que tinha no PAIGC toda a representação do Estado.

O Dr. Kumba Yalá, que em Janeiro de 1992 funda o Partido da Renovação Social, o maior partido político criado depois da abertura ao multipartidarismo na Guiné-Bissau, empenhou-se na sua estruturação, conseguindo dotar o partido de mecanismos capazes de o colocarem como uma alternativa ao poder, contrapondo-se ao PAIGC.

Não que não houvesse outros quadros e políticos guineenses com capacidade para criar outros partidos, aliás, foram criados e muitos, desde então, mas do pensar ao agir, não se pode ignorar, ou desmerecer que, à época, o Dr. Kumba Yalá era a figura de maior destaque, pela dinâmica introduzida no cenário político guineense, visando a sustentação de uma verdadeira democracia pluripartidária na Guiné-Bissau, capaz de ajudar a melhorar as condições de vida do povo guineense.

Contra factos, não há argumentos, diz-se, e, verdade seja dita, nenhum outro partido político criado depois da abertura multipartidária teve ou tem a estrutura e o estatuto do PRS fundado por Kumba Yalá, ele que até era do PAIGC.

Lamento profundamente o desaparecimento de um dos mais inconformados políticos guineenses da sua geração, ele que, repito, despertou-me para o compromisso com a nossa Guiné-Bissau!

Descansa em paz Presidente Kumba Yalá!

A Guiné-Bissau é a soma dos interesses de todos os guineenses E NÃO DOS INTERESSES DE UM GRUPO OU DE GRUPOS DE GUINEENSES! Didinho

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

Cultivamos e incentivamos o exercício da mente, desafiamos e exigimos a liberdade de expressão, pois é através da manifestação e divulgação do pensamento (ideias e opiniões), que qualquer ser humano começa por ser útil à sociedade! Didinho

O MEU PARTIDO É A GUINÉ-BISSAU!

 

MAPA DA GUINÉ-BISSAU


VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

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