A QUEM INTERESSA A IMPORTAÇÃO DE ARROZ?

 

Fernando Casimiro (Didinho)

didinho@sapo.pt

06.02.2010

Fernando Casimiro (Didinho)É inquestionável o aproveitamento das nossas potencialidades na produção do caju, particularmente, na exportação da sua castanha. Estamos todos de acordo quando se diz que a Guiné-Bissau ficaria a ganhar mais ainda, caso conseguisse criar condições, no terreno, para a transformação da castanha do caju, ao invés de exportá-la em bruto.

Estamos todos cientes de que a castanha do caju se tornou no principal produto de exportação da Guiné-Bissau, envolvendo igualmente o grosso das nossas populações camponesas na actividade conhecida como campanha do caju.

Falar de campanha de caju na Guiné-Bissau, é falar de ambiente de trabalho, de esperança em obter alguns rendimentos e ainda que pontualmente, alguma despreocupação financeira para a sobrevivência crónica das famílias guineenses. É estar o país em período de festa!

Muito consideramos os largos milhões de dólares provenientes da exportação da castanha do caju e orgulhosos ficamos em saber que a Guiné-Bissau está no topo dos países exportadores da castanha do caju.

É bom que continuemos a produzir, a exportar e a facturar da castanha do caju, mas... é preciso estarmos cientes de que as exportações da nossa castanha de caju são absorvidas quase na totalidade, por um único país, a Índia. Seria bom começarmos a estudar outros mercados, e que o preço do produto em bruto varia frequentemente para valores descendentes...

Não é propriamente sobre a castanha do caju o meu texto de hoje, nem sou contra as políticas de valorização do nosso caju, no entanto, por ser uma realidade a "desvalorização" de um outro produto nacional, símbolo da nossa própria cultura, o arroz, servi-me da referência ao caju para trazer à comparação os milhões de dólares de receita que a castanha do caju proporciona à Guiné-Bissau, através da exportação, bem como os milhões de dólares que a importação do arroz acarreta à Guiné-Bissau, directa ou indirectamente: quer seja o Governo a importar, quer sejam doações de países amigos.

A Guiné-Bissau, como todos sabemos, tem todas as condições, naturais e humanas, para se tornar auto-suficiente na produção de arroz para consumo interno!

Na Guiné-Bissau, como é do conhecimento geral, a base da alimentação das populações é o arroz!  

Na Guiné-Bissau, sabe-se que as regiões do sul do país costumam produzir e ter excedente de arroz, que no entanto, nunca é escoado para outros pontos do país, por falta de meios de transporte, por falta de máquinas de descasque, por falta de vontade política, por interesses pessoais e empresariais contrários ao consumo do arroz nacional etc. etc.

A Guiné-Bissau tornou-se dependente da importação do arroz, os nossos camponeses que se dedicam ao cultivo do arroz nacional continuam pobres, quando, se houvesse uma política de valorização da produção nacional de arroz, o Governo escusaria de importar arroz, poupando o tesouro público, provavelmente, do dinheiro proveniente dos ganhos com a exportação da castanha do caju. Aí, seriam os nossos camponeses a beneficiar com a venda dos seus produtos, o que faria com que melhorassem as suas condições financeiras e de vida, possibilitando-lhes pequenos investimentos nas suas regiões, de forma a sentirem-se realizados como qualquer outro trabalhador.

Infelizmente, continuamos a importar e, com o aumento demográfico, importaremos cada vez mais.

Em 2008 o mundo viveu uma crise alimentar e o preço do arroz chegou a atingir valores históricos. Para 2010, já há alertas para uma nova subida do preço do arroz no mercado mundial, derivado a vários factores (tal como se pode constatar pelas notícias publicadas nas tabelas que acompanham este texto).

Não sei, mas gostaria de saber quais são os planos do Governo da Guiné-Bissau, no sentido de acompanhar e acautelar a tendência da subida do preço do arroz no mercado internacional.

Não sei, mas gostaria de saber por que razão continuamos a importar arroz, quando temos tudo para sermos auto-suficientes na produção de um bem que é a nossa base alimentar.

Não sei, mas gostaria de saber quais são os planos do Governo para apoiar, incentivar, a produção do arroz nacional, tendo em vista deixar de importar arroz.

Estou inteiramente de acordo com a ONG "TINIGUENA" quando sustenta que: A SOBERANIA ALIMENTAR É O DIREITO DOS POVOS PRODUZIREM O QUE COMEM E COMEREM O QUE PRODUZEM.

Exportar castanha de caju, mas continuar a importar arroz, torna-se ridículo, porque os ganhos da exportação da castanha do caju, serão utilizados pelas camadas mais necessitadas para a aquisição do arroz (base da alimentação) importado, que, obviamente, será sempre mais caro do que o arroz de produção nacional!

Valorizemos a produção do arroz nacional, tendo em conta a melhoria das condições de vida dos nossos camponeses; as crises de produção mundial e o aumento de preços no mercado internacional, mas também, para nos orgulharmos de comer o que produzimos, porque na verdade, podemos produzi-lo!

Infelizmente, há interesses, em forma de "comissões", que alguém ganha quando se trata de exportar a nossa castanha de caju. Infelizmente, também há interesses, em forma de "comissões", que alguém ganha quando se trata de importar arroz.

Num e noutro caso, os nossos agricultores não têm dinheiro para pagar as ditas comissões e se no caso da castanha do caju, aceitam baixar os preços impostos por quem muita das vezes nada tem a ver com todo o processo, mesmo quando o Governo estipula um preço favorável aos produtores,  já no caso das importações de arroz, as "comissões" são negociadas com quem exporta o seu arroz para a Guiné-Bissau.. Coitados dos nossos agricultores...

Exportar castanha de caju e não ter que importar arroz, seria sem margem de dúvida, um grande alívio financeiro e social para a Guiné-Bissau!

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

 

 

 

GUINÉ-BISSAU: TABELA DE EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES

ARROZ

O ARROZ É VIDA

IMAGENS: CALENDÁRIO 2009 e LIVRO "TERA SABI" 2008 - TINIGUENA

COMENTÁRIOS AOS TEXTOS DA SECÇÃO EDITORIAL


Cultivamos e incentivamos o exercício da mente, desafiamos e exigimos a liberdade de expressão, pois é através da manifestação e divulgação do pensamento (ideias e opiniões), que qualquer ser humano começa por ser útil à sociedade! Fernando Casimiro (Didinho)

PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO

www.didinho.org