Alta de preços ameaça mercado mundial de arroz
Escrito por AIM Quarta, 18 Novembro 2009Vários analistas advertem que o preço de arroz poderá duplicar num futuro breve no mercado internacional devido a seca registada na Índia, associada aos ciclones que atingiram as Filipinas que, em ambos países, destruíram milhares de hectares desta cultura.
Aliás, um relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), publicado a 10 de Novembro corrente, refere que a produção mundial de arroz vai cair de 459 milhões de toneladas registadas na campanha agrícola 2008-09 para 448,6 milhões de toneladas na presente campanha agrícola, o que corresponde a uma queda de 2,3 por cento devido a ocorrência de ciclones e secas que destruíram culturas na Índia e Filipinas, deslizamento de terras, cheias e terramotos ocorridos no Japão, Nepal, Paquistão e Taiwan.
Enquanto isso, a demanda vai aumentar para 451,3 milhões de toneladas, contra 446 milhões de toneladas no ano anterior, o que se traduz num incremento de 1,2 por cento, segundo a FAO. Actualmente, a Índia é o maior importador mundial de arroz, enquanto que as Filipinas consta da lista dos maiores exportadores do mundo.
Esta posição também é partilhada por Sarunyu Jeamsinkul, director-geral adjunto da Ásia Golden Rice Ltd. na Tailândia, o maior exportador de arroz do mundo, afirmando que o preço de arroz poderá duplicar, para atingir mais de 1.000 dólares norte-americanos por tonelada devido ao fenómeno “El Nino”, caracterizado por secas, que vai reduzir a produção, enquanto que paralelamente as Filipinas e Índia vão aumentar consideravelmente as suas importações. Contudo, Rex Estoperez, porta-voz da Autoridade Nacional de Alimentos das Filipinas, o preço de arroz não deverá disparar antes de Março.
Por isso, a Autoridade Nacional de Alimentos das Filipinas anunciou que, na semana passada, fez uma encomenda recorde para a aquisição de 600.000 toneladas de arroz, tendo na Segunda-feira, da semana corrente, colocado uma segunda encomenda para a mesma quantidade, uma medida que visa garantir o fornecimento de arroz antes da subida de preços no mercado internacional. Jeremy Zwinger, presidente da “The Rice Trader”, uma companhia de correctores e de consultoria na região de Chico, no Estado de Califórnia, EUA, também acredita que a disponibilidade de arroz no mundo será muito mais exígua em 2010, comparativamente ao ano passado.
Esta situação é preocupante, pois a escalada de preços de alimentos poderá desencadear tumultos nos países em desenvolvimento. “A situação de oferta-demanda será muito complicada com a entrada da Índia no mercado”, disse Mamadou Ciss, corrector de arroz desde 1984 e director executivo da Herms Investments Pte Ltd. em Singapura. Segundo Mamadou Ciss, tudo indica que o actual preço de referência de exportação de arroz da Tailândia deverá subir pelo menos 20 por cento, para atingir 650 a 700 dólares a tonelada nos próximos três a cinco meses.
“O mercado poderá mesmo aproximar-se de 2.000 dólares a tonelada nos meados de 2010”, disse Ciss. Enquanto isso, o preço de arroz da Tailândia poderá disparar e aproximar-se dos 1.038 dólares a tonelada, o mesmo registado no ano passado, segundo uma sondagem realizada na semana passada junto dos 10 maiores importadores, exportadores e analistas no Vietname, Tailândia, Índia, Singapura e Paquistão.
A sondagem apurou que as projecções dos inquiridos apontam para um preço médio entre 600 a 700 dólares a tonelada, contra os actuais 542 dólares a tonelada. Na Bolsa de Chicago (CBOT), a maior do mundo e mais conhecida pelos seus contratos de futuros de cereais, os preços de arroz dispararam cerca de 35 por cento, comparativamente a cotação mais baixa registada a 16 de Março do corrente ano, quando o preço era de 11,195 dólares por cada 100 libras. Na Segunda-feira, a cotação do arroz para entrega em Janeiro subiu 1,5 por cento, para atingir 15.08 dólares por cada 100 libras na Bolsa de Chicago.
A Índia, o segundo país mais populoso do mundo, poderá tornar-se num importador líquido, pela primeira vez nas últimas duas décadas, devido a fraca precipitação de monções que teve um impacto negativo na produção de arroz nacional. Segundo a Organização das Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), as projecções apontam para uma redução na produção nacional de 15 por cento para atingir 84 milhões de toneladas na presente campanha de comercialização agrícola, iniciada a 1 de Outubro último. Por outro lado, Concepcion Calpe, economista sénior na FAO, refere que o consumo de arroz na Índia será de 89 milhões de toneladas, o que se traduz num défice de cerca de cinco milhões de toneladas.
Para mitigar a crise que se avizinha, as Filipinas estão a acelerar as suas importações para o ano de 2010 depois de dois ciclones terem destruído cerca de 1,3 milhões de toneladas de arroz. Por isso, na Segunda-feira, Romeo Jimenez, director da Autoridade Nacional de Alimentos das Filipinas, disse que o seu país tenciona adquirir pelo menos 1,45 milhões de toneladas até Dezembro do corrente ano, incluindo as duas aquisições recordes já programadas perfazendo um total de 1,2 milhões de toneladas.
Em Março de 2008, os preços de alimentos a nível mundial dispararam 57 por cento comparativamente ao ano anterior, segundo as Nações Unidas. Esta situação esteve na origem dos tumultos que culminaram com a morte de pelo menos 40 pessoas nos Camarões e sete pessoas no Haiti. Na ocasião, a FAO também reportou a eclosão de uma onda de violência associada com o custo de alimentos no Burkina-Faso, Egipto, Indonésia, Costa do Marfim, Mauritânia, Moçambique e Senegal.
De acordo com Dwight Roberts, presidente das Associação dos Produtores de Arroz dos EUA, com sede em Houston, a produção de arroz nos EUA também sofreu um défice na sua principal área de produção no delta do Rio Mississipi, enquanto que a seca inviabilizou a plantação de arroz na região do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), uma organização regional que integra a Argentina, o Brasil, o Paraguai e o Uruguai. “Não é preciso ser um génio para ver que estamos realmente numa situação muito apertada”, disse Roberts.
Mercado de trigo apresenta um cenário diferente
Contrariamente ao caso do arroz, os mercados futuros de trigo registaram um aumento de 7,5 por cento no corrente ano na Bolsa de Chicago, como resultado de uma produção mundial acima da média. O mesmo sucede com o milho que, a 13 de Novembro, não registava uma grande alteração, pelo facto de os farmeiros dos EUA, o maior produtor mundial de milho, terem registado a sua segunda maior safra de todos os tempos. A potencial perda de produção de arroz poderá ser em parte compensada com a produção recorde de trigo, que poderá ser usada pelas populações como substituto.