REFLEXÕES DE UM NACIONALISTA

IV

A QUESTÃO GUINEENSE

 

 

INTRODUÇÃO

 

 

“É pudi fala tudo kê ku é misti fala, mas eu nunca deixarei de amar a minha terra”.

 

Bintasinho

Amadora, inícios de 2008

 

 

 

 

Fernando Jorge Pereira Teixeira *

teixeira_ferjor@hotmail.com

03 de Abril de 2010

 

Numa das minhas “reflexões” anteriores eu questionava sobre quando começou o nosso “descalabro” como Nação e se o Governo actual, os anteriores e os futuros, quiçá, não serão reféns de um passado e de uma dinâmica que não conseguem controlar ou suster, por serem eles mesmos parte de um “processo” que foi despoletado e que ainda não chegou ao seu término? Um “processo invisível” mas que faz o seu caminho, até que se esgote por si só?

Por definição, parafraseando alguém, um processo é algo que continua; se produtos químicos voláteis se combinarem para e produzirem uma reacção violenta, não podemos deter o processo enquanto os ingredientes não se esgotarem. Dizer “até aqui e nem mais um passo” é ignorar o que esta a ocorrer um processo. E se ignorarmos o que esta a acontecer, não podemos controlar o que esta a acontecer. A única forma segura de evitar que um processo se realize é parar de o alimentar, abafar qualquer reacção violenta que já esteja em curso e desistir da experiencia desastrosa. Mas se a “experiencia desastrosa”, as convulsões do último decénio forem apenas o desenlace lógico e de “uma certa forma” previsível? Se os avanços e recuos que fomos tendo como nação seja apenas o estertor de parto uma nação em fase avançada do seu nascimento? Uma coisa é clara: nunca ninguém conseguiu “controlar” ou “encaminhar” o nosso “processus” nacional. Um “processo” que a primeira vista parece andar per si independentemente de quaisquer análises e definições conhecidas,

 

No seu tempo os Colonialistas não conseguiram impor a sua marca nesta dinâmica que também lhes ultrapassou desde a primeira hora. No fundo eles só controlavam os estragos, correndo de um lado para outro apagando fogos. Organizando defesa e raras vezes ataques. Nunca conseguiram encabeçar um Desígnio, seja ela qual for, para este povo. Também nunca conseguiram interessar o nosso Povo em qualquer Programa (tirando uns escassos anos com o projecto do General Spínola “Por Uma Guiné Melhor”. Mas mesmo esse só foi olhado com alguma atenção pelo nosso povo porque era o único contraponto ao projecto avassalador de Cabral que era a total “Independência”. 

 

As autoridades tradicionais tribais, religiosos ou políticos, também não tinham mão no nosso “Processo” no geral, embora dentro das respectivas tribos, isoladamente, pudessem ter algo a dizer; mas como nenhuma tribo conseguiu ser hegemónico frente ao colonialismo isso foi politicamente irrelevante para o processo. Cabral tentou penetrar no espírito indómito do nosso povo e faze-lo desaguar na construção de uma Nação única e independente, mas a dada altura o processo também lhe escapou das mãos, embora já possuidora de uma dinâmica própria e direccionada, ela continuo ate o momento preconizado por ele, para descarrilar de novo. 

 

João B. Vieira, depois de 18 anos a frente dos destinos deste povo, também não conseguiu dar uma direcção clara ao desenvolvimento nacional rumo a consolidação da Nação. Com a sua saída da cena politica, por fim, deixou um País totalmente desgovernado, descontrolado e sem nenhumas perspectivas. Os outros actores que se assenhoraram do poder logo a seguir também nunca dominaram ou tiveram mínima noção de como controlar e direccionar o nosso “processo” e por conseguinte não fizeram melhor.

 

Só o Povo, esse continua aqui, orgulhosamente procurando a sua identidade e o sentido da sua existência. A procura de finalmente encontrar dentro do seu seio um filho que a semelhança com os heróis de antigamente ame este país e esteja disposto a sacrificar-se por ele. Por isso (correndo o risco de me repetir em outra circunstância), direi que é ele, “O Povo” – no nosso destruído País – é o único património histórico nacional, que me dá bases sólidas sejam elas históricas ou sociológicas que me permitem uma reflexão e entendimento sobre, quem somos e para onde vamos.

 

 

PARTE I

HONORIO PEREIRA BARRETO

OU A GENESE DA “GUINENDADE

 

 Assim como os brasileiros devem as suas actuais fronteiras ao Barão do Rio Branco (José Maria da Silva Paranhos Júnior), os guineenses devem as suas a este (…) Honório Barreto, pois era bem provável que, se não fosse a sua capacidade de liderança, perspicácia e visão, a Guiné-Bissau, que hoje é um país pequeno (…), seria menor ainda.”.

 

Emerson Santiago

                                    

 

Quando o antigo “Alto Volta” mudou o nome para “Burkina Faso”, que significa, “País de Homens Dignos”, talvez isso foi feito para estimular o amor a liberdade do Povo Burkinabe; o que é excelente se servir para aumentar o seu amor-próprio e em consequência o amor pelo seu país. Mas se eu seguisse a mesma ordem de ideias, pediria que a Guiné passe a chamar-se o “País-Dos-Que-Nunca-Aceitaram-A-Dominação. Pois fomos a única parte desta imensa África, que quase até ao fim da primeira metade do século XX, ainda não se tinha vergado a dominação colonial. Continuamos a lutar até os anos quarenta do século passado. Dominar as turbulentas e fascinantes tribos desta terra não foi “pêra doce” para Portugal, como ficou registado nos “Anais da conquista Portuguesa”.

Esta Nação começou na ilha de Bissau com o duro combate dos Régulos Papéis da região que resistiram aos invasores gloriosamente durante mais de 200 anos (do Século XVII até finais de XIX). Esses oito Régulos de Antula, Intim, Cumura, Bandim, Safim, Prábis, Biombo e Bijimita e seus valorosos guerreiros, foram dos primeiros a regar com o seu sangue a terra desta nobre nação. Foram nossos primeiros heróis. E a sua luta nunca parou totalmente, pois até a uma data relativamente recente em termos histórico, a 13 de Maio de 1915, era decretado o estado de sítio na ilha de Bissau para início de nova campanha contra os papéis e ainda outras campanhas contra os papéis coligados com os grumetes. O que viria a originar a queda de Biombo, prisão do respectivo régulo; criação de 4 postos militares: Bor, Safim, Bijimita e Biombo. Nesta altura foi considerada concluída a 'pacificação' e a unificação do enclave da Guiné portuguesa.

Mas apesar de Portugal considerar como “'pacificado' e 'dominado' o território, nos anos posteriores, muitas regiões voltaram a rebelar-se e antigos focos de resistência ressurgiram, como o caso dos Bijagós, entre 1917 e 1925 e dos baiotes e felupes em 1918. Mas esta “unificação” teve o seu “valor” em termos de ser o inicio da consolidação de um “embrião” da nação, embora como sabemos entre 1925 e 1940 de novo prosseguiram as revoltas militares dos papéis de Bissau.

 

Como vêem, este povo lutou tanto que só um Monumento da dimensão do mundo pode homenagear tanto heroísmo. Tamanha dedicação a Mãe-pátria é raro na história de África e do mundo. Os Franceses renderam-se aos Alemães em apenas três semanas. Os Governantes portugueses, esses, abandonaram a sua terra e fugiram para o Brasil, com medo de Napoleão. Não darei mais exemplos, mas abundam por este mundo fora. Cada povo tem a sua dignidade; do nosso Povo eu direi que não tinha apenas dignidade. O nosso Povo era a própria dignidade feito Povo.

 

II

 

“… (Honório Barreto) Era um homem de valor” e (…) “qualquer um de nós… se tivesse vivido naquele momento da história em que ele viveu poderia de igual modo fazer o mesmo.”

 

Amílcar Cabral

 

 

Por ser extremamente difícil encontrar fontes primárias, hoje a maior parte das pessoas - e quase sempre -, analisam o Honório Barreto a partir de relatos feitos por cronistas Portugueses no tempo colonial ou através de fontes Portugueses ligados a um certo período anterior ao nosso tempo. E esses desligaram a homem de qualquer episódio que pudesse demonstrar a sua ligação e amor a sua terra natal, independentemente de Portugal.

Os colonialistas usaram o seu nome, a sua memória, feitos e actos como exemplos para o luso tropicalismo e o patriotismo de africanos em relação a Portugal; Facto que eles queriam apresentar aos olhos do mundo para defender a sua política colonial. Os Portugueses, na verdade, pela importância que tinha Honório Barreto e na falta de um prócer, comparativamente, de tal grandeza, em todas as outras coloniais (maiores e mais importantes até) -, usaram e abusaram do seu legado.

 

Embora eu os posso compreender, pois como diz, e bem, o Brasileiro, Emerson Santiago, “Levando em conta (…), o fato de que nem antes nem depois dele outro nativo em todo Império português conseguiria igualar o seu feito, é de se admirar a conquista deste guineense. A melhor explicação que pode haver para três mandatos (em três épocas diferentes) é que ele era um verdadeiro estadista.”  Ou o simples facto de sabemos hoje que “Quem tiver acesso aos documentos deixado por Barreto (inclusive um livro de sua autoria), reconhecerá nele um grande administrador.”

 

Mas a utilização do seu nome e legado não foi algo sem importância. Foi algo bem pensado e realizado de uma forma tão perfeita que “sem querer fazer história”, o historiador Francês, René Pélissier, quase 150 depois da morte de Honório Barreto, “imagina como seria o xadrez político africano actual se Angola e Moçambique tivessem tido a sorte de ter, um vulto de envergadura de Honório Barreto”, durante o tempo das conquistas coloniais, e chega a conclusão que no mínimo este nosso mundo (não só a África) hoje seria diferente.

 

Construíram monumentos, deram seu nome a praças e ruas tanto em Portugal como em outros pontos do mundo. O seu nome e feitos seriam objecto de um culto exagerado até em certos meios da antiga metrópole. Infelizmente estas atitudes e análises dos ideólogos do Estado Novo são hoje em dia tidas como a única verdade sobre este nosso compatriota.

 

Os colonialistas sempre quiserem “tirar-nos” o nosso Honório Barreto e para provar quanto ele era Português, contavam muitas histórias sobre ele e seus actos, mesmo de cariz particular. Pois como eles não tinham a coragem que este tinha, “apropriavam-se” de todos os seus actos, dizendo que eram “actos de um Português. Um ideólogo colonial da época, que dizia que Honório Barreto era “mais português do que cem portugueses (não sei como tal é possível), conta que ele venceu a “arrogância, a presunção e a força bruta de um comandante Inglês da mesma forma que a astuta lebre, a perdiz e o camaleão vencem e castigam a força bruta do elefante e do Hipopótamo e a estupidez da hiena nos contos tradicionais da África Ocidental” e “do mesmo modo que a etiqueta e a conduta civilizada vencem a turba alcoolizada e brutal.”

 

Para ilustrar este tipo de entendimento e afirmação sobre o Honório Barreto, vou-vos contar uma interessantíssima história para perceberem quão humano e igual a nós era este Guineense. Mas essa mesma história serviu gerações de portugueses para provar quanto português ele era. Esta história, hoje esquecida, teve muita repercussão na literatura portuguesa nos tempos de Honório Barreto e ainda mais depois da sua morte. Teve dezenas de versões, cada um diferente da outra, mas o denominador comum era o facto de que Honório Barreto salvara a honra de Portugal a frente dos Ingleses. Coisa que nenhum Português ainda conseguira fazer em centenas de anos de relacionamento. Este episódio foi contado centenas de vezes e a cada vez de uma maneira diferente. Vou contar uma das versões apenas, pois como já se disse, os pormenores mudam muitíssimo de narrador para narrador:

 

Uma vez um comandante da marinha de guerra inglesa pediu uma audiência ao governador Honório Pereira Barreto, que este aceitou de imediato, atendendo a importância da pessoa e o país que representava; na altura a Inglaterra dominava os mares e era mesmo a maior potência marítima do mundo; alem de que ameaçavam a Guiné tentando nós roubar a nossa ilha de Bolama. Então era do interesse do Governador tratar bem o comandante Inglês. O Honório Barreto, homem educado e fino, vestiu o seu traje de gala com todas as suas condecorações e dragonas, de pé no seu gabinete, ladeado de seus funcionários, aguardava a chegada do oficial Inglês. Como este demorava (e os ingleses geralmente são pontuais) o governador pediu que lhe trouxessem os seus binóculos para observar o porto; então, com espanto, percebeu que o oficial inglês vinha vestido de chambre e calçando chinelas! O nosso Governador, homem de rara inteligência, percebeu logo que o comandante Inglês queria ofender a sua honra e através dele a honra da nação que servia. Pois um oficial da marinha da Sua Majestade, nunca poderia ir a uma audiência (ainda por cima solicitada por ele) com um Governador em trajes de casa quase. Então o nosso compatriota, o “governador negro” da Guiné, rapidamente despiu o seu garboso uniforme, vestiu uma camisa velha e arregaçou as calças e tirando as botas, pediu que lhe trouxessem rapidamente umas chinelas que calçou. E ordenou aos funcionários que entrassem todos no edifício e sozinho saiu do seu gabinete e foi para a varanda a assobiar como se nem soubesse que havia alguma audiência, ou, pior, se sabia, nem ligava.

 O comandante britânico e os imediatos quando chegaram e viram “esse negro” mal vestido, a assobiar, palitando os dentes no patamar de uma escada, ficaram desarmados. Esperavam ser recebidos por ordenanças, oficiais e funcionários que os conduziriam ao gabinete da Sua Excelência o Governador. Mas como não havia ninguém e sem saber com quem falava, o comandante Inglês perguntou pelo governador. Não sei o que Honório Barreto lhe respondeu (pois ele estava sozinho e ninguém ouviu as suas palavras, tirando os Ingleses que nunca mais falaram desse assunto, tamanha vergonha passaram), só sei que quando descobriu que estava na presença do próprio Governador e que a intenção que tinha de insultá-lo, desrespeitando as regras básicas da etiqueta entre oficiais graduados e altos funcionários, não causara nenhum efeito, voltou para o seu barco e foi vestir o uniforme de gala. Mais tarde, apropriadamente trajado, foi recebido com todas as honras devidas a um alto oficial, pelo governador guineense. Assim ele deu uma grande lição aos Ingleses (quem sabe se este episodio não veio a contribuir para que os Ingleses tenham desistido de Bolama?) e também, verdade seja dita, deu muitas lições aos próprios portugueses. Afinal, quem não tem capacidade de humilhar os Ingleses, tem muitos mais para humilhar Portugueses que naquela altura viviam na Guiné e na metrópole.

 

Penso que o que acabei de contar serve para nós dizer da dignidade, inteligência e urbanidade de um uma personalidade impar e não do amor a Portugal. Mas os relatos feitos pelos colonialistas, sobre este pequeno episódio da sua vida (uma manhã apenas) nunca falavam do homem impoluto que não admitia faltas de respeito de ninguém que era, mas apenas do seu “amor” a pátria portuguesa.

 

Estes relatos, e até por ele ser negro e não mulato (“mestiço muito escuro”, “mais escuro que os Felupes”), serviam para provar que os Africanos queriam viver debaixo da bandeira de Portugal. E os relatos dos colonialistas esquecem de dizer que enquanto ele foi vivo os Portugueses não o respeitaram assim. Foi demitido várias vezes das suas funções de Governador, o que não aconteceria se fosse assim tão amigo dos Portugueses. Mas quase cem anos depois da sua morte, ainda utilizaram este vulto da nossa história para defender um multi-racialismo que eles pensavam poderia salvar as suas colónias em África.

 

Esse mito de Honório Barreto Português (“mais português que as abatidas nulidades de uniforme vindas da metrópole”) é uma falácia. Ele não queria ser mais Português que o resto dos Guineenses do seu tempo e nem havia outra coisa para ser como já disse. Mas isso não lhe retira o mérito e que justiça foi feita quando numa justa homenagem fúnebre tenham dito dele: “A falta do único homem que conhecia profundamente a Guiné, que estendia a sua influência para o interior e na costa a grande distância, instruído (…) é uma perda irreparável.”

 

Mas esse mito serviu para o denegrir aos olhos de alguma inteligentsia Guineense revolucionária que depois da Independência apressaram-se a julga-lo a luz dos novos tempos, para o condenar e derrubar a sua estátua e mudar o nome da única praça que tinha o seu nome na Guiné para “praça Ernesto Ché Guevara”. Urge pois, depois de se ter erigido a estatua de Cabral, ir buscar a estátua de Honório Barreto e repô-la na antiga Praça Honório Barreto e renomear de novo essa praça em honra deste nosso herói (sem fazer juízos de valor, há muitas praças para dar o nome do glorioso Ernesto Ché Guevara).

 

Essa inteligentsia esqueceu que mesmo os nossos primeiros heróis não lutaram pela “Guiné” lutaram pelas suas tribos ou melhor pelo seu chão e hoje a união desses chãos deu lugar a um só chão que é a Guine; mas essa união também é fruto da luta de Honório Barreto, pois há muito chão que hoje pisamos que não pisaríamos com o orgulho de ser nosso se não fosse ele.

 

E não é porque os papéis de Bandim – só para dar um exemplo - que em 30 de Abril de 1845 hastearam a bandeira de França em Bandim, “querendo ser Franceses” que podemos hoje entender isso como uma traição. Ou os casos de chefes e régulos de muitas tribos que no Rio Grande de Buba, em Casamanse, Bolama e nos Bijagós, diziam em alto e bom som que eram Portugueses e exigiam bandeira de Portugal. Tempos eram outros e as ameaças também.

 

Acham que o antigo presidente do Senegal, Leopoldo Senghor, que lutou pelos Franceses na Segunda Guerra Mundial e foi preso na Alemanha, num tempo ainda recente, era mais traidor que Honório Barreto? Porque é que os Senegaleses não lhe consideram traidor? Alguns de nós temos vistas curtas e elas encurtam o nosso desenvolvimento como povo.

 

Amílcar Cabral, que também analisa a história deste homem impar, através dessas mesmas fontes Portuguesas, consegue discernir, de certa maneira (embora o critica), a grandeza do Honório Barreto e diz “… era um homem de valor” e que “qualquer um de nós… se tivesse vivido naquele momento da história em que ele viveu poderia de igual modo fazer o mesmo.”

 

 

 

III

 

Honório Barreto não é também o primeiro cantor da identidade guineense em formação, o homem das feitorias, face a cabo Verde e a metrópole?”

 

René Pelissier “in História da Guiné”

 

 

O primeiro homem, o “primeiro Guineense” que pela primeira vez sentiu no seu peito algo, que hoje chamamos “Guinendade”, foi o Governador Honório Pereira Barreto. Mas Honório Barreto que viria a morrer em 26 de Abril de 1859 no Berço da Nação, na Fortaleza de São José de Bissau, apenas o intuía como algo glorioso mas pertencente a posteridade.

Este homem “lúcido e corajoso” (nas palavras de um contemporâneo) já pugnava para a necessidade “ unificar as feitorias da Guiné”. Os Portugueses tinham pouco interesse nisso, pois para eles a questão era outra: apenas explorar o território e tirar o máximo de dividendos.

 

Para este “patriota” a questão era proteger um território, que graças a Deus e também graças a ele, hoje chamamos Pátria. Era um grande politico - um homem que foi diversas vezes Governador e administrador da Guiné - que aos 21 anos de idade já era Provedor da comarca de Cacheu, à qual Casamansa e a sua capital Ziguinchor, pertenciam.

Portanto (não canso de repeti-lo), em seu tempo, a região de Casamansa, que hoje pertence ao Senegal, era parte da nossa Guiné e Honório Barreto fez de tudo, mesmo tudo, para que assim permanecesse. Infelizmente, o sistema ao qual ele estava inserido era “de uma inércia e languidez insuportável, e seus alertas constantes encontraram ouvidos moucos perante as autoridades portuguesas”, que anos depois de sua morte, em 1888, entregariam de mão beijada a nossa Casamansa a França.

 

Neste ponto quero citar um contemporâneo dele que diz: “Quando (…) Honório Barreto, o mais ilustre representante, sabe por seu tio, o comandante de Ziguinchor, que os Franceses vão cortar o acesso dos Ziguinchorenses aos seus mercados de abastecimento (…), o que significava a morte económica da feitoria (..) Perante a apatia do Governador de Cacheu, Honório Barreto, - Que na altura - que voltou a ser simples comerciante privado, vem ao local e, a 11 de Abril de 1844, e em seu nome pessoal e as expensas suas, faz-se comprador de terrenos em Afinhame e Jagubel, depois por procuração, compra em Dezembro de 1844 e Janeiro de 1845, mais oito terrenos ao norte e quatro ao sul do rio Casamansa. (…) São superfícies imprecisas (…) mas Barreto tem o direito de os fortificar e dali hastear a Bandeira. Estando igualmente reservado o monopólio de navegação. Estas concessões (…) têm evidentemente por finalidade antecipar-se aos Franceses pois Barreto em seguida entrega gratuitamente os terrenos ao estado (12 de Maio de 1845) (…).”

 

Fazia estes gestos não para engrandecer Portugal (como pretenderam depois alguns historiadores portugueses e detractores), mas para engrandecer a Guiné, a sua “Pátria intuída”. E essa sua intuição, estava sempre presente, quando ele comprava terras com o seu próprio dinheiro e doava ao “Governo” da Colónia, Mas ele não era nenhum tolo, apenas entendia que “doando” esses terrenos a Portugal poderia dessa forma proteger uma parte desta sua terra e isso lhe bastava.

 

Foi assim que comprou Varela e o “doou a Portugal”, por isso quando forem a Varela descansar, deitar na suas areias brancas e verem como é linda e maravilhosa a nossa terra, lembrem-se é graças a Honório Barreto é que podem estar ali. Numa parte do nosso País.

 

Por causa destas suas atitudes desprendidas, sem nenhum interesse pesssoal (podemos amar Portugal e ter interesse pessoal) que era difícil de entender por gente que estava na Guiné apenas para roubar e enriquecer, que o mesmo escritor Francês que já citei antes, vai procurar entender. Depois de estudar a vida deste homem, debruçar-se sobre os seus desígnios ou intenções verdadeiras debaixo de toda essa história mal contada de amor por Portugal, acaba deixando uma interrogação válida para nós sobre este grande Guineense: “Honório Barreto não é também o primeiro cantor da identidade guineense em formação, o homem das feitorias, face a cabo Verde e a metrópole?”

 

É nessa mesma ordem de ideias (mas numa dinâmica social que já estava em pleno desenvolvimento no seu espírito, quando morreu), que depois de subjugar a revolta dos Grumetes do Cacheu, com reforços vindos de Ziguinchor - que naquela altura era parte integrante dessa sua “Pátria Guineense”, - entende, que eles sendo filhos da mesma Pátria (Guineenses portanto) como àqueles que vieram de Ziguinchor, concede-lhes perdão. E mesmo se antes, em Fevereiro de 1844, reprime a revolta do Povo Manjacos, com o apoio do seu tio Francisco Carvalho Alvarenga, na altura comandante de Ziguinchor, era para cortar de raiz uma rebelião que poderia futuramente perigar os alicerces da futura Nação com que ele sonhava.

 

Para ser, nesse tempo, nessa Guiné de Portugueses ao lado de um Senegal de Franceses, aos vinte e um anos, o primeiro mandatários das duas mais importantes cidades da Guiné (Bissau ainda era uma pequena vila) – Cacheu e Ziguinchor-, a frente de todos os portugueses e cabo-verdianos da Guiné, sendo um negro, (“mais escuro que os Felupes”), era preciso ser um homem de uma capacidade invulgar.  Um homem como este não podia ser, nunca, “baridur de padja”; havia coisas que ele não podia demonstrar ou dizer mas no profundo do seu íntimo o que ele mais amava era a terra que o viu nascer.

 

.”

 

 

 

 

PARTE II

HONORIO PEREIRA BARRETO

 E A FUNDAÇÃO DA NAÇÃO

 

I

 

“O bem do meu País é o único alvo a que se dirigem todos os meus esforços e todas as minhas vistas”

 

             Epitáfio na campa de Honório Barreto

 

 

 

O início efectivo desta Nação consolidou-se sob a égide de Honório Pereira Barreto (1813-1859), esse ilustre filho de Cacheu, várias vezes Administrador e Governador da Guine, que lutou toda a sua vida para alargar os limites da nossa Pátria. Um limite que podia ser outro houvesse só mais um homem da envergadura de Honório Pereira Barreto no meio dos Guineenses, pois como dizia M. M. de Barros, em 1882, O domínio Português nesta parte ocidental de África estende-se a 62.000 Km2 (…)” E hoje sabemos que mal chega a 37000 Km2. Uma vergonha.  

 

As crónicas coloniais e outros  dizem que “em 1834, sendo a Guiné reunificada numa única comarca, Ziguinchor pertence ao conselho de Cacheu, cujo  provedor não é outro senão o jovem (21 anos) mestiço, muito escuro, Honório Pereira Barreto (1813-1859), cujo pai é um cabo-verdiano, sargento-mor de Cacheu. Sua mãe Rosa de Carvalho (de) Alvarenga, a poderosa Rosa de Cacheu, é uma Nhanha Comerciante, originaria de Ziguinchor, no Casamança. Educado em Portugal e homem de uma bela inteligência (…)

 

Ele não teve a oportunidade de escolher entre a “Guiné-Bissau” (que não existia) e “Portugal.”No seu tempo não havia uma entidade chamada Guiné e nem havia ainda as fronteiras físicas dessa futura entidade. Havia uma “província de “Cabo Verde e os Rios da Guiné”. Havia a Senegambia portuguesa que é quase obra sua. E ali se ele tivesse que escolher, era entre ser Francês, Inglês ou Português, e não entre ser Português ou Guineense, coisa que também não existia ainda.

 

Mas nas palavras de Cabral sobre ele, é dito o que realmente importa, situar os homens no seu tempo e no seu contexto histórico. Por isso fazer juízos fora de contexto e a partir de uma situação actual e num universo sócio cultural que nada tem a ver com o tempo em que esse homem viveu é errado para não dizer simplesmente disparatado.

 

Não tenho palavras para homenagear Honório Pereira Barreto, lamento não ter capacidades para isso, por isso vou utilizar as palavras que a Câmara Municipal de Beato utilizou para dar o nome deste filho do nosso povo, ao Largo Honório Barreto nesta cidade de Lisboa:

 

Guineense (Cacheu 24/04/1813 – Bissau 26/04/1859; Por iniciativa sua e perante a cobiça dos Ingleses conseguiu, lutando e comprando terrenos, preservar várias parcelas de território que constituem a actual Guiné-Bissau. Graças a este processo é que Bolama se mantém guineense. O mesmo se diga da área de Casamansa. Apesar de nativo, exerceu os mais altos cargos, desde provedor de Cacheu a governador da então colónia. No campo militar cobriu-se de glória ao submeter os Papéis de Bissau em 1853 e os Nagos em 1856 – estes havia 50 anos que impunemente hostilizavam Cacheu. Reformou a administração, desenvolveu a instrução, a saúde, a agricultura e o comércio. Foi promovido a tenente-coronel e galardoado coo o grau de cavaleiro da Torre e Espada. Publicou “Memória sobre o Estado Actual da Senegâmbia Portuguesa, Causa da sua Decadência e Meios de a Fazer Prosperar”, 1843.

 

De Honório P. Barreto, só posso dizer: bendita pátria nossa que nós da tantos filhos para nos orgulharmos e tanta desgraça para nos envergonharmos.

 

Este verdadeiro patriota numa luta desigual e titânica, sem apoio da Coroa Portuguesa, contra os Franceses e Ingleses, pirata e negreiros e toda a sorte de aventureiros que queria arrancar um pedaço desta terra, traçou as fronteiras físicas que actualmente delimitam a nossa Pátria. Com razão - um estudioso Brasileiro, jurista de formação, Emerson Santiago - , disse dele o seguinte: Assim como os brasileiros devem as suas actuais fronteiras ao Barão do Rio Branco (José Maria da Silva Paranhos Júnior), os guineenses devem as suas a este filho de mãe guineense e pai cabo-verdiano, pois era bem provável que, se não fosse a sua capacidade de liderança, perspicácia e visão, a Guiné-Bissau, que hoje é um país pequeno (36.125 km2, cerca de um terço de Portugal, seria menor ainda.”.

Lutou toda a vida, sacrificou a sua vida familiar, muitas vezes teve desaires, desconsiderações e poucas vezes teve glórias e aclamações em vida. a sua vida estava dedicada a preservação deste território que hoje é nossa pátria. Por isso, a mando dele, na sua campa foi escrita:

 “O bem do meu País é o único alvo a que se dirigem todos os meus esforços e todas as minhas vistas.”

 Para mim isto chega e basta para provar o seu patriotismo, o amor que ele tinha pela sua “pátria intuída”. Do que conheço da natureza humana, sei que na nossa última morada, só mandamos escrever algo em que acreditamos genuinamente e geralmente aquilo pelo qual vivemos. A “nossa razão” de ter vivido, a satisfação do dever cumprido. A última alegação. O “para sempre”, já dirigida a Deus e a posteridade, pois nesses derradeiros instantes das nossas vidas, os contemporâneos ou os homens em geral e seus assuntos mundanos, já não são importantes. Nesta frase lapidar (salve a redundância), esta sintetizada toda a filosofia de vida deste grande patriota Guineense.

E pela primeira vez na nossa história como povo, encontro a “menção” de Estado e da Nação, na quinta palavra inscrita nessa simples lousa que cobria o túmulo de Honório Barreto: País”. Para ele o “seu País” era a Guiné e nenhum outro, com todo o respeito que lhe mereceu Portugal.

 

Esta Guiné que como é sabido “(…) de 1841-1844 perderá quase metade das «suas» margens, antes de se reduzir as fronteiras que lhe conhecemos”. Só não é maior a nossa terra porque os Portugueses vergonhosamente, sem um pingo de decência, deram de bandeja aos Franceses a nossa Ziguinchor. A nossa mais rica e mais bela região ficou para sempre nas mãos de estrangeiros (Um dia iremos busca-la?).

 

Essa foi a primeira “punhalada pelas costas” que a “Guinendade” teve. Outras viriam, é certo, mas este facto em si, para mim, foi o mais significativo, pois foi aqui que a “Guinendade” perdeu a sua “alma” recém-nascida. Para mim esta perda reveste-se de algo, doloroso, atormentador e intangível. Impossível de mensurar pela sua grandeza. Pois contrariamente ao que muitos pensam, a perda que tivemos, não foi apenas de uma parte do nosso território - facto já em si imperdoável -, foi com este “acto de traição”, que fez Honório Barreto revolver no seu túmulo, que começaram “todos” os nossos problemas como Nação e como Povo.

 

Este é que é o meu ponto; este é o meu acreditar e onde parto para a construção da minha história como ser humano. A nossa história como Povo. Acredito que se  Amílcar Cabral foi o “Militante Nº 1” do nosso povo na grandiosa epopeia da Libertação, Honório Barreto foi o “Guineense Nº1” na transmutação histórica de um conjunto de territórios, raças e comunidades de povos numa identidade física, real e única chamada “Guine”. Alem de que - é necessário dize-lo - se não fosse Honório Barreto, herói ou traidor, provavelmente poderíamos ser hoje apenas mais uma Ziguinchor; mais uma província do Senegal; e não haveria nenhuma Guiné para Cabral Libertar e seus companheiros libertarem. Quando fundou a Nacionalidade Guineense, Amílcar Lopes Cabral, fundou-a sobre estas fronteiras físicas e sociais traçadas por Honório Pereira Barreto. Esta é a verdade do nosso povo.

 

 

Que mais posso dizer ? Apenas que Amílcar Cabral devia, ter feito a luta de libertação da Guine, Cabo-Verde e Ziguinchor. O Partido de Libertação devia ser chamado de PAIGCZ - Partido Africano da Independência da Guine, Cabo-Verde e Ziguinchor. E não se perdia nada, pois Senegal nunca apoiou a nossa Luta de Libertação e nunca nos olhou com respeito merecido. Estes dois expoentes na criação do Estado-Nação da Guiné, Amílcar e Honório, como todos os grandes homens, tiveram suas vitórias e suas derrotas. E por ironia do destino, as suas derrotas - que também foram nossas, colectivamente, como povo -, não aconteceram por causa deles, mas a revelia deles.

 

 

 

 

PARTE III

HONORIO PEREIRA BARRETO

 E A PERDA DE CASAMANSA OU O INICIO DO NOSSO DESCALABRO

 

Em 1642, os portugueses fundam Farim e Ziguinchor, a partir da deslocação de habitantes de Geba, dando início a uma ocupação das margens dos rios Casamança, Cacheu, Geba e Buba, a qual se torna efectiva em 1700, passando então a zona a ser designada por “Rios da Guiné”.

            

TRATADO BREVE DOS RIOS DE GUINÉ

 

A derrota maior de Cabral foi não ter feito de nós verdadeiramente um só povo e uma só nação. Foi o único Guineense que teve de facto, até agora, condições objectivas e a oportunidade para isso. Mas faltou-lhe o tempo para isso. O tempo esse eterno inimigo dos grandes homens. A derrota maior de Honório Barreto foi termos perdido Casamansa e a sua jóia negra, a  Ziguinchor, a mais bonita das nossas cidades.

 

A maior traição feita ao povo da Guiné e a este valoroso “Filho de Cacheu”, Honório Barreto, foi (27 anos depois da sua morte), a Assinatura em Paris da convenção Franco-Portuguesa de delimitação das fronteiras entre a Colónia Portuguesa da Guiné e a África Ocidental Francesa em 1886. Nesse mesmo fatídico ano para nós, a região de Casamansa (com as terras de Honório Barreto) e a cidade de Ziguinchor passou para o controlo da França.

 

As crónicas antigas rezam que (..) A bacia de Cassamance e acima de tudo é, na margem sul do Rio, Ziguinchor (…) a dependência real mais setentrional de Cacheu (…) Fundada em 1643/45 (…). A aldeia é povoada por mestiços luso-africanos, por grumetes, «cristianizados» e por escravos. Não existe um português branco. O chefe da feitoria, comandante (…) veio da grande família mestiça preponderante dos Carvalhos (de) Alvarenga. É esta família (…) quem fornecerá a Guiné o herói modelo que preenche toda a mitologia colonial, o super-paladino Honório Pereira Barreto, micro-imperialista antecipado e defensor de todas as feitorias, contra os Franceses e os Britânicos.”

 

Esta ocupação de território, já feita pelos “Guineenses” (que de colonizados passam a colonizadores) e não apenas pelos Portugueses, que vindos das profundezas da Guiné actual, desafiaram os perigos do sertão bravio, e deram também início a nossa História e levaram a nossa língua crioula e os nossos costumes para as margens do Rio Casamança. Por isso não me conformo com a sua perda (sempre que fui a Ziguinchor visitar a minha gente, sentia dentro de mim que pisava o solo pátrio). A sua gesta maior foi o feito de na margem sul do Rio Casamança fundarem a vila de Ziguinchor em 1645. Essa Ziguinchor - de que segundo os cronistas “o nome deriva da expressão portuguesa "cheguei e choram", porque os nativos pensaram que os vinham escravizar - Hoje esta tragicamente fora da mãe pátria (o seu regresso possivelmente permitiria um novo ordenamento territorial e estruturação física da Nação).

 

Desbravaram e povoaram terras, fundaram cidades para nós, seus filhos e netos, e tudo isso foi dada de mão beijada a outra nação. Hoje essa perda equivaleria a quase metade do nosso território. Como vêem Casamança era nossa (no meu entendimento continua sendo) e foi perdida, ingloriamente, por “nada”. Portugal nunca conseguiu unir Angola e Moçambique. Mas isso hoje só faz parte da História. O importante foi que, como nós contam outra vez, os cronistas e historiadores “(…) Este foi o preço pelo Casamansa, presídio de Ziguinchor e Rio Nuno. As consequências foram distintas para as partes contratantes. De acordo com a ambição francesa, a sua esfera de influência, no interior, ficou acentuada (…)”

 

Por isso, se me permitem, é necessário precisar que a perda de todo este território não aconteceu por acaso, o nosso povo pagou um preço elevado, para que a ambição de Portugal de unir Angola à Moçambique pudesse ser realizada. Pois como sabemos dos relatos de então, “O pensamento português de unir Angola a Moçambique, do Bié ao Zambeze, devia presidir às negociações (…) que se iniciaram em 22 de Outubro de 1885 e acabaram com a assinatura de uma Convenção, a 13 de Maio de 1886. Portugal transigiu face ao Casamansa, mas obteve em troca o reconhecimento de “(...) exercer a sua influência soberana e civilizadora nos territórios que separam as possessões portuguesas de Angola e Moçambique, sob reserva dos direitos anteriormente adquiridos por outras potências (...)”, e de que a França se obrigava, note-se, “(...) pela sua parte, a abster-se ali de qualquer ocupação (...)”.

 

Pois, ao contrário de Honório Barreto “que apenas o intuiu”, hoje “sei” que é com a fundação da cidade de Ziguinchor juntamente com a de Farim por volta de 1642 (cinquenta e quatro anos depois da Fundação de Cacheu), com pioneiros, nascidos em Cacheu e Geba, portanto já naturais da Guiné, é que a nossa futura Nação “começou a estruturar-se”, a se definir, a se preparar geográfica e humanamente para esta que agora herdamos.

 

Esta gente destemida, nossos antepassados, que já fundava cidades no sertão, esta hoje, infelizmente, totalmente esquecida. Os seus corpos jazem nos cemitérios de Casamansa, mas as suas almas permanecem connosco. Foi essa gente que com o seu esforço titânico, a custa de imensos sacrifícios, conseguiram por volta do fim do século XVII, que toda esta ocupação se tornasse definitiva e completa. E a partir dessa altura então toda esta região passou a ser designada por Rios da Guiné. E são estes “Rios da Guiné” o embrião da nossa Pátria hoje conhecida erradamente como a “Guiné-Bissau”. Por isso eu nunca quis chamar a “Guiné” de “Guiné-Bissau”.

 

Obs. Nó próximo artigo falarei dos “Símbolos da Nação e a Emergência da sua mudança” e do “Processo Guineense” e do seu término previsível. E de caminhos novos que devemos trilhar.

 

 * Licenciado em Arquitectura (Rússia 1991). Pós graduado em Urbanismo (ISCTE)

 


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