A SUBVERSÃO COMO LEGITIMIDADE DEMOCRÁTICA
Por : WANA BLUS
28.09.2007
A palavra subversão tem uma conotação de carácter negativo e usualmente surge ligada à vertente armada, mas também existe a subversão civil, pacífica e que se destina a corroer o Estado, fazendo cair a sua entourage, no nosso caso os lacaios que teimam em fazer-nos crer que este governo ilegítimo e um chefe de Estado ilegítimo representam uma maioria silenciosa, que infelizmente cala e consente este parasitismo à custa de todos.
Mas como é que a subversão pode ser legítima se ela visa minar, sabotar os representantes do Estado? Qual é a legitimidade deste governo e do chefe de Estado?
Na minha modesta opinião, quando o Estado se divorcia das suas obrigações para com o seu povo, violando flagrantemente os Direitos, Liberdades e Garantias estipuladas na magna carta, Constituição, ela pode e deve ser posta em causa .Que povo consegue sobreviver com atrasos salariais de vários meses, enquanto governantes se pavoneiam em carros de milhares de dólares (somos um dos países mais pobres do mundo, mas o nosso parque automóvel mete inveja), desfilam pelas nossas ruas topos de gama.
Quem sobrevive meses a fio sem água, luz , inflação contínua etc.?
Quem sobrevive de barriga vazia, apenas contemplando o luxo à nossa volta e a miséria que nos cerca?
O fazer reviver o Estado de Polícia (pidismo) de triste memória para todos nós, o medo torna-se arma da política estatal, a intimidação, prisões arbitrárias, violação flagrante da liberdade de expressão e outros tantos.
A cultura do "pidismo" que se enraizou na nossa sociedade, recria o medo de um passado não muito longínquo, somos um povo de brandos costumes, que não se manifesta nas ruas mostrando o seu descontentamento mas inversamente “prefere” pegar em armas, de certa forma é obrigado a preferir essa via, pelo elevado grau do "pidismo" que se vive e perseguições a qualquer forma de oposição livre.
Sendo assim, que via nos resta recorrer ? Entre um e outro prefiro a subversão civil em detrimento da armada, como exemplo, posso citar o não pagamento de impostos ou desleixo na função pública para fazer emperrar o aparelho estatal, em suma, a desobediência civil em todos os sentidos. Se o Estado não cumpre, então somos livres de renegar e desligar-nos do nosso compromisso para com o Estado!
Esta preocupação vem ao encontro dos vários relatórios já emanados do sistema das Nações Unidas no que tange ao medo da desestruturação do Estado, do seu colapso e antevendo uma explosão do país.
Preocupa e deveria ser levado a sério por todos os que amam este país. É vergonhoso que o nosso país seja denominado de Narco-Estado.
Cabe-nos a nós, imbuídos de um elevado dever patriótico, pôr fim a esta pouca vergonha que nos assola.
O nosso compromisso com o Estado Guineense, não pode limitar-se a ter um solo pátrio, mas lutar para garantir um futuro “às flores da nossa luta”, que murcham sem vislumbrar um futuro risonho.
Que país é este, quando elementos da esfera estatal são acusados de conluio com o narcotráfico, dirigentes que vivem feitos reis, riqueza meteórica...
As Forças Armadas são acusadas de garantir o livre acesso ao tráfico internacional de drogas.
Lanchas que entram na nossa costa e aviões que aterram, facilitadamente, carregados de toneladas de cocaína! Que país é este irmãos??
Até quando toleraremos isto? Espera-se por uma nova guerra civil??
Devemos ser nós a tomar as rédeas do nosso destino e não esperar pela comunidade internacional, que já nos deu a lição do desinteresse e da impunidade perante a ilegalidade que se vive. Espezinham-se as liberdades, vendettas são realizadas ao estilo far West, até quando?
Reneguemos este Estado, pois não é o almejado por nós. A liberdade custou muito sangue na nossa pátria e até hoje vivemos na penumbra, sim meus caros conterrâneos, a subversão civil é uma arma para mostrar o nosso descontentamento e revolta pelo estado de coisas. Merecemos mais e melhor, são 34 anos de nação livre (?), vivendo de sobressaltos encabeçados por gente de má estirpe que só aprendeu a viver do poder. Vamos gritar BASTA, a subversão civil ou desobediência é a arma dos que não têm arma!
Recusemos esperar pelo descalabro total da nossa terra. Se os nossos ditos governantes reclamam que não têm capacidade de enfrentar a problemática da droga é porque denotam incapacidade para tal e muita falta de vontade que só pode ser justificada pela participação dos mesmos, com lucros do dinheiro do veneno. Já estamos habituados a ver os dirigentes africanos ávidos por lucro fácil, mesmo que para tal signifique penhorar a pátria. Não podemos permitir mais situações destas, urge tomar medidas afincadas. O veneno, droga, vai causar cada dia mais danos à nossa estrutura social. Uns enriquecem, mas o mal que vai causar na sociedade será terrível.
Não esqueçamos as lições do nosso saudoso pai da pátria, AMILCAR CABRAL
"Alguns camaradas, mesmo entre os que estão sentados nesta sala, têm a tendência de procurar comodidade à medida que crescem as suas responsabilidades. Há camaradas que parece que passaram vários anos à espera de responsabilidade para poderem cometer os erros que outros cometeram no seu lugar. Temos que combater isso com coragem, porque a luta é exigência, o nosso Partido é cada dia mais exigente. E aqueles que não entenderem, temos que pô-los de lado, por mais que nos doa o coração. Nós não podemos permitir que à medida que a luta avança, que o nosso povo se sacrifica por causa da nossa luta, que vários camaradas morrem e outros são feridos, ou ficam aleijados, que nós envelhecemos nesta luta, dando toda a nossa vida para a luta, em que tanta gente tem esperança em nós, tanto dentro como fora da nossa terra — não podemos permitir que alguns camaradas militantes ou responsáveis levem uma vida de facilidades e cometam actos que não estão de acordo com a nossa responsabilidade, diante de nós mesmo, diante do nosso povo, diante da África e do mundo.
Muita gente pensa que isto aqui é o quintal do Cabral, que ele é que tem que reparar aquilo que se estragou ou que alguém estragou. Estão enganados. Cada um de nós é que tem que reparar, pegar teso para corrigir, porque senão, não há nada que nos possa salvar, quaisquer que sejam as vitórias que já alcançámos. Por isso mesmo, a nossa luta é como o balaio que separa o arroz limpo do farelo, como uma peneira que peneira a farinha pilada, para separar a farinha fina da farinha de grão grosso ou de outras coisas. A luta une, mas é ela também que separa as pessoas, a luta é que mostra quem é que tem valor e quem é que não presta. Cada camarada deve estar vigilante em relação a si mesmo, porque a luta está a fazer a selecção, a luta está a revelar-nos a todos, está a mostrar quem somos nós. "
"Fazemos força para aqueles que não prestam melhorarem, mas sabemos quem vale e quem não vale, sabemos até quem é capaz de mentir. Há alguns que ainda não conhecemos bem. Os camaradas também me conhecem, conhecem outros dirigentes do Partido que respeitamos muito, porque valem até ao fim, vocês sabem isso bem. Há outros de que alguns têm medo, porque sabem que só valem porque têm a força nas mãos. Alguns de vocês que estão aqui já viram dirigentes do Partido cometer erros graves mas obedecem-lhes ainda porque têm medo deles"
Amilcar Cabral em: "O nosso Partido e a luta devem ser dirigidos pelos melhores filhos do nosso povo
VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!
Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO