ATÉ JÁ!

 

 

Filipe Sanhá *

filipesanha@iol.pt

26.12.2010

Filipe SanháA RGB[1], senão o único, é dos poucos Países que nasceu duas vezes. Em 1973, nas colunas de Boé, os Combatentes da Liberdade da Pátria, içaram, pela primeira vez, o símbolo nacional que iria marcar toda a minha juventude. Pela primeira vez, iríamos saborear aquilo que muitos haviam experienciado, e, alguns, muitos, há séculos. E, pela segunda vez, comemorou-se, em 1974, o içar da mesma bandeira, na capital da então e até aí capital da Província da Guiné Portuguesa. A partir dessa data, os duzentos e poucos assentos das Nações Unidas, gritaram em uníssono: bem - vindo, à Jovem República da Guiné-Bissau. Era mais um País Subsariana que se libertara para passar a fazer parte do grande concerto das Nações Livres. Em 1975, a caminho das minhas vinte e uma primaveras, integrava o quadro administrativo do então Ministério da Educação Nacional, em Lisboa. Ao assistir impotente, todos os dias, a chegada de voos charters das ditas Províncias Ultramarinas, no aeroporto de Portela, do que era frequente apreciador, sentia uma profunda tristeza. Compreendia o receio dos novos viajantes, regressados desses territórios. Não era, seguramente, bom augúrio para nós, dizia, eu. E, agora? Era a pergunta que colocava a mim próprio! A minha /nossa Guiné, estava a ser esvaziada de cérebros e quadros da administração Pública. Eram poucos, mas a sua ausência, iria fazer estremecer a minha /nossa, jovem Nação Libertada. Perguntava-me a mim mesmo, se assim era, o que estaria eu a fazer em Lisboa? O pouco que sabia, seria sempre útil ao jovem País. Alguns, conhecidos e amigos de então, diziam-me que se a minha intenção era regressar à Guiné, era preferível consultar um psiquiatra! Interrompi a minha carreira, fiz as malas e regressei à terra que me viu nascer! Era jovem, solteiro, sem qualquer ambição política. E, tinha a certeza de que não padecia de nenhuma patologia de natureza psicológica / psiquiátrica! Era a Pátria, a nova bandeira, o novo hino, os Combatentes da Libertação, era tudo novo, uma novidade! O que eu passara, na PIDE, em Bissau, quando ainda era estudante, no antigo Lar Masculino da Mocidade Portuguesa (quase todos os testemunhos desse episódio ainda são vivos, e alguns, hoje altas figuras do Estado da RGB), por ter sido acusado / denunciado e apelidado, infundadamente, de “turra”, o pesadelo /sonho desse dia tornara-se realidade. De 1975 a 1982, estive lá, no terreno a trabalhar, no duro, na Escola de Professores Combatentes da Liberdade da Pátria, Máximo Gorki, em Có, depois na Escola Preparatória, 23 de Janeiro, em Bula, na Região de Quinará, e na Escola de Formação de Professores de Bissau. Portanto, durante os 7 anos de prestação de serviço à Pátria, poucas vezes estive em Bissau, cidade linda, acolhedora, que muito aprecio e amo. Mas, como compreendia a minha presença no território, como missão inabalável, era uma alegria para mim, cada vez que o então Ministro da Educação (Comissário de Estado) me chamava, para designar/nomear, para uma determinada função, sempre no domínio de ensino. Ainda hoje, penso que o grande problema da máquina gestionária da nossa Administração Pública, prende-se com a excessiva concentração de quadros na capital. Há, bons, muito bons e até excelentes quadros no terreno, no País. Compreendo, que é na capital que existem as grandes oportunidades de vida e visibilidade, técnica, científica e política. No entanto, continuo a defender a criação de infra - estruturas, associadas a outros estímulos, tais como subsídios de interioridade, além doutros, que poderiam contribuir para atrair quadros de referência que se encontram em Bissau, desempregados e ou subaproveitados, para trabalharem no interior do País. Aos quadros no estrangeiro, é muito complicado para muitos, porque há raízes, consolidadas e patamares de bem – estar que dificulta a decisão. Sou quadro superior, há 23 anos no IEFP, casado, pai de filhos e a mais nova, entrou este ano, aos 17 anos, para 1º ano da Faculdade de Medicina, no Porto, em cujo arredor resido, mais concretamente, na cidade da Maia. Compreendo a responsabilidade que a minha decisão encerra! Mas eu decidi, partirei, brevemente, para a GUINÉ-BISSAU, mais uma vez, aos meus quase 56 anos de idade, para uma modesta e singela participação na edificação da Nação e erradicação da iliteracia, contribuindo para a promoção da igualdade, consubstanciada na orientação, vocacional, formação profissional, formação de quadros, bem como noutras tarefas, na arena de Psicologia. Pois, porque sou Psicólogo, com Cédula Profissional n.º 9622, da Ordem dos Psicólogos Portugueses. A nossa Juventude merece, a Guiné -Bissau merece, os Combatentes da Liberdade da Pátria merecem, em suma a GUINÉ – BISSAU merece. Á laia de despedida, só tenho a dizer, um muito obrigado a todos os que apreciavam os meus artigos sobre as crianças e jovens da GUINE – BISSAU, e, um até já, porque o futuro a Deus pertence. Encontrar-nos-emos, em qualquer cidade da RGB, ou em Portugal, porque os dois países estão separados, por apenas quatro horas e meia, em viagem aérea. Mais uma vez, o meu muito obrigado a todos e, um até já!

Filipe Sanhá


[1] - República da Guiné - Bissau

* Psicólogo, Mestre e Doutorando pela Universidade de Coimbra (Portugal)


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