A VERDADE TARDA MAS CHEGARÁ
Mamadú
Baldé
msbsay@hotmail.com
22.09.2010
Neste
mês de independência, nesta altura em que a Guiné-Bissau vive de turbulências
silenciosa e de contradição em contradição deparamos dia após dia, apetece-me
escrever sobre a minha terra e ainda bem que existe um lugar em que posso
fazê-lo, nisso independentemente do que pensamos de “Contributo” ou do
seu fundador, sejamos sinceros e humildes em reconhecer que foi inovador a sua
visão ao criar este espaço. Da minha parte os meus obrigados.
Já não escrevo aqui há algum tempo: primeiro
porque tempo não deixa, mas também porque quis conter-me para não dizer
“barbaridades”. As “coisas nossas” continuam a patinar na ignorância e total
desrespeito pelo povo, insultando quem se atreve a pensar nelas com tão básica
fórmula apanágio do pensamento dos nossos governantes.
Creio que qualquer guineense, amigo da
Guiné-Bissau ou simples amante do respeito pelos direitos humanos – não aqueles
escritos pela ONU mas aquele que é direito natural para uma convivência sã e
possível entre seres feito da mesma matéria e de censo comum – as coisas da
Guiné-Bissau, as notícias e, particularmente, sobre envio de tropas para a
Guiné-Bissau causa perplexidade.
Sempre fui defensor de envio de forças de
estabilização para a Guiné-Bissau. Desde á muito tempo que todos sabíamos que
era uma questão inevitável, porque o discurso de “vamos resolver os nossos
problemas internamente” já estava claramente descorado, não tinha
sinceridade nem para convencer quem o proferia. Nós, mas só nós guineenses é que
deixamos as coisas chegaram a este ponto, porque se irmãos da mesma moransa
não resolvem o seu problema alguém de fora fá-lo por eles.
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A questão é
saber quantas mais mortes serão precisos?
-
Quantos golpes
e agitação serão necessários?
Não é preciso informadores próximos dos nossos
governantes e força armada para saber que todos sabem que envio de tropas para a
Guiné-Bissau é uma questão de tempo. É importante que todos os guineenses saibam
que esta é a verdade inconveniente.
Ainda não se sabe ao certo se vamos ter força de
estabilização já. Tudo que se sabe é que a Presidência da República anunciou
abertura do país para pedir tal apoio, mas parece que aquele presidente que
gaba-se de ser legitimo (discurso de posse aos lideres da força armada). Neste
mês da independência em que homens revoltaram contra injustiça e dominação
acabando, muitos, por serem assassinados barbaramente apetece perguntar o que
mudou até hoje?
Sou anti-colonialismo, anti-neocolonialismo e
qualquer outra forma de convivência entre seres humanos que não seja baseado em
respeito mútuo e justiça, onde cada um recebe por aquilo que trabalha. Acabou o
colonialismo mas hoje temos governantes que pensam exclusivamente no seu
proveito próprio, abandonando o povo a sua sorte, se restar algum.
Os problemas da nossa pátria estão a ser
“entesadas” como se se tratassem de peixe. Mas sendo problemas eles vão
apodrecendo e, talvez, venha a ser tarde demais. Um dia será tarde demais para
todos. Não é a força da intervenção que vai resolver os nossos problemas, somos
nós os guineenses é que devemos perguntar o que queremos desta terra
martirizada. Aos guineenses pede-se uma reflexão sobre o que podemos dar a nossa
pátria, acreditando que não se justifica ela encontrar-se no estado em que está.
É preciso que os guineenses não descuram vendo o
seu país ser vendido, em nome da estabilização, digo isso porque entendo que as
movimentações nos bastidores assim indicam e desespero por ver guineenses
congratularem-se com os mesmos governantes, que se não forem assassinos muito
têm para explicar. Indignação faz-me questionar:
-
Para quando
divulgação de relatório que presidente da república já disse ter
conhecimento?
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Para quando
julgamento dos suspeitos de vários crimes na possa dos militares?
Este mês devia afigurar-se como de reflexão
intensa para todos os filhos da Guiné-Bissau. A nacionalidade é, como a
liberdade e muitos outros direitos, que não basta tê-los, é preciso exerce-los.
Neste período conturbado da vida do país é preciso que todos pensamos o nosso
país. Porque só encher a boca para dizer quando nos convém “sou guineense com
orgulho” é uma atitude de profanação de pertença, uma atitude que devemos deixar
com os nossos governantes “na sua maioria prostitutos (não encontro outra
palavra) de pertença”.
Pede-se acção aos guineenses, não interessa onde
nos encontramos, o mundo actual torna possível a eficácia da maior parte das
nossas acções.
VAMOS CONTINUAR A
TRABALHAR!
Associação
Guiné-Bissau
CONTRIBUTO
associacaocontributo@gmail.com
www.didinho.org
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