Análises...(1)
Sou optimista por natureza, acredito que se pode recomeçar sempre do nada, caso seja essa a questão, mas o pessimismo também é um estado de espírito, tão natural quanto o optimismo e, em ambos os casos, o realismo duma análise inteligente e não emotiva é o factor que melhor nos encaminha para a aceitação ou negação das situações...Pensa-se com a cabeça e sente-se com o coração. Duas semanas depois do golpe de Estado na Guiné-Bissau, voltamos a cometer os mesmos erros do passado. Continuamos a ser um povo passivo, submisso e amante da boleia, mesmo que o condutor seja o diabo.
Somos um povo que continua a bater palmas e a rir-se, sem saber porquê, com espectáculos de quem nos tem feito passar pelas piores desgraças e humilhações de que há memória. Continuamos a ser um povo que, apesar de um passado brilhante de luta armada pela independência, tem medo de quem exerce a força e, por conseguinte, detém o poder, eternizando fantasmas há muito esconjurados...Como em duas outras situações de golpe de Estado, quase tudo e todos, repito, quase tudo e todos congratularam-se com o acontecimento do passado dia 14 de Setembro, quase tudo e todos acharam que o acontecimento era um mal menor e ao fim de 14 dias de preparação de vários cozinhados, serviu-se a refeição: Assinou-se a Carta de Transição, foi criado o Conselho Nacional de Transição, foram empossados o Presidente da República e o Primeiro-Ministro, interinos, enfim, fez-se luz para estrangeiro ver...E, depois de tudo o que se disse e se mantém do Veríssimo Seabra, ainda continuamos entusiastas da sua boa vontade e seriedade para ajudar a resolver os problemas do país...! Porque será que o Conselho Nacional de Transição tem necessariamente na sua constituição 56 personalidades, sendo 25 delas altas patentes militares, os tais que derrubaram Kumba Yalá, tendo logo o Comité Militar 25 votos em caso de discussão e aprovação de qualquer assunto da competência do Conselho Nacional de Transição..? Desde quando um grupo militar pode impor ao país o Presidente da Republica interino, bem como o Primeiro Ministro, tendo justificado o golpe de Estado com a reposição da legalidade...? Porque será que depois da realização das eleições legislativas, (espero para ver...) o grupo dos "25" ainda continua no activo como Conselho de Estado..?! O lugar dos militares não é nos quartéis...?! Como pode o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, que constitucionalmente é proposto pelo Governo e nomeado pelo Presidente da República, por força das negociatas da carta nacional de transição, fiscalizar e aconselhar tanto o governo, como o Presidente da República...?! Ou será que Veríssimo Seabra vai abdicar do cargo de Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas? Aos partidos políticos, que assinaram a carta de transição e que apresentaram 2 discursos...ou seja, assinaram em nome da estabilidade, mas delegam toda a responsabilidade ao Comité Militar, porque impôs os nomes tanto do Presidente da República, como do Primeiro-Ministro, devo dizer que prestaram um mau serviço ao país. Ou concordam e assinam, ou não concordam e não assinam. O país não está em guerra, a estabilidade, seja ela qual for, política, económica, ou social, só se ganha criando um clima de confiança e dando garantias de transparência entre os vários mecanismos que a ela dizem respeito. Na política os ideais são sagrados, ou seremos eternamente traidores de consciência...
30-09-2003 00:00
A vida só tem sentido se, para além de nós, outros também puderem viver...
Ler, Reflectir, Transmitir...Esta é a mensagem !
Fernando Casimiro (didinho )