Bem Hajam os ‘Gumbeístas’!!!
Em homenagem aos artistas guineenses: as lições do México e doutros países afrontados pela droga.
Por: João Carlos Gomes*
26 de Dezembro de 2007
Cuntum Stanu Dianti, No Penssa Cuma I Bandé
(Expressão do Crioulo para, neste contexto, ‘sem saber o que nos espera’)
1. Antes de introduzir algumas estatísticas simples, mas de uma importância extrema para a Guiné-Bissau de hoje, basta lembrar o seguinte: num país de políticos e governos comprometidos, os seguidores do ‘Pai da Música Moderna da Guiné-Bissau’, José Carlos Schwarz, representam o único sector que, apesar de todos os problemas que o país tem vindo a enfrentar desde a sua independência, continua a evoluir, literalmente, a um ‘ritmo’ imbatível.
2. Para quem alguma vez duvidou da importância dos artistas em qualquer sociedade, aqui vai um desafio: quando foi a última vez que você ligou para uma estacão de rádio para dedicar os discursos de qualquer político; gravou-os e, mandou de presente, para a sua pessoa favorita, ou; os guardou, para escutar e, ajudar a relaxar - vezes sem conta - no seu carro, no seu quarto ou, no seu chuveiro? Esse é um privilegio reservado exclusivamente à musica. Agora, ‘escute’, a ver se também gosta:
3. Que o diabo seja, ao mesmo tempo: cego, surdo, mudo, paralítico e, sem ninguém para o assistir!!! Mas, imaginem a Guiné-Bissau, perder num só ano: Adriano ‘Atchutchi’ Gomes, Justino Delgado, Rui Sangara, Dulce Neves, Sidónio Pais, Manecas Costa, Netos Di Gumbé, Eneida Marta, Buca Pussic, Tino Trimo; Iva Cu Ichi, e; Tony Dudu, entre outros. Por causa da ineficácia do governo, será este o futuro reservado à Guiné-Bissau? No México, não têm que imaginar este cenário cruel. Já é uma realidade.
4. Só em 2007, crimes relacionados com o tráfico de droga custaram a vida a mais de mil pessoas neste país da América Latina, entre elas, cerca de uma dezena dos seus melhores artistas. O conhecido cançonetista Sérgio Gomez, assassinado no primeiro fim de semana de Dezembro e, cujo corpo torturado foi encontrado à beira de uma das estradas do país, foi uma das vítimas mais recentes. Tinha acabado de dar o seu último espectáculo.
5. A atraente cantora Zayda Pena, de apenas 28 anos de idade, foi baleada, em público, mas conseguiu chegar - viva – ao banco de socorros. Foi numa cama do hospital, sob cuidados intensivos, que os presumíveis traficantes de droga a foram encontrar para lhe desferirem o golpe fatal.
6. Porque é que tais estatísticas são importantes para um país como a Guiné-Bissau?
Para além das suas valiosas contribuições através da produção e difusão dos valores culturais nascidos do ‘Gumbé’, pelo mundo fora, há muitas mais razões, que fazem com que a classe artística guineense mereça o respeito e uma homenagem particular de todos. Normalmente, quando a escória da droga faz a sua entrada no mercado, nas outras partes do mundo, por razoes várias, incluindo as pressões sociais associadas com o seu estilo de vida ‘cool’, é típico ver os membros da classe artística converterem-se no primeiro segmento da sociedade a sucumbir às tentações, tornando-se nas primeiras casualidades.
7. No entanto, diga o que se disser dos artistas, volvidos mais de dois anos após a invasão do ‘pó branco’, pode-se afirmar com toda a firmeza que, esse não é o caso na Guiné-Bissau, onde, até agora, não há qualquer indicação de que qualquer dos principais artistas nacionais tenha esquecido que, é sua responsabilidade e privilégio primordial, constituir-se exemplo para a vasta e, extremamente vulnerável camada juvenil ou; que qualquer deles tenha manchado a sua imagem, consumindo estupefacientes. E isso é de louvar!
8. Segundo um estudo levado a cabo pela Royal United Service Institute, a Inglaterra é um país que se vê obrigado a desmobilizar, todos os anos, mais de seiscentos soldados das suas forças armadas, por razões que têm a ver com o alto consumo de droga, sobretudo a cocaína. Conforme recentemente sublinhado pela BBC de Londres, este número que representa mais de um batalhão, é muito superior ao total das baixas anuais sofridas pelo exército britânico, por exemplo, como consequência do seu envolvimento militar no Afeganistão. Em termos estatísticos, este é um aumento para cifras, quatro vezes superior, do número de soldados britânicos que normalmente são desmobilizados por outras razões (que nada têm a ver com o consumo de droga).
9. Se é que há necessidade de o recordar, é preciso não esquecer que, foi um estado falhado – o Afeganistão – tornado num dos principais pontos mundiais de produção e exportação de droga, nomeadamente a heroína e o ópio, que viria a ser ocupado pelos Talibãs, onde a Alcaida pôde criar as condições ideais para o planeamento e a execução de um dos ataques mais espectaculares da história recente: o ‘Onze de Setembro de 2001’, vulgarmente conhecido por ‘Nine Eleven’.
10. Incidentalmente, enquanto que a esmagadora maioria de milhares de vidas inocentes cobardemente ceifadas no World Trade Center, em Nova Iorque; no Pentágono e na Pensilvânia, eram cidadãos dos Estados Unidos, menos conhecido à volta do mundo, é o facto de que, nestes ataques, contaram-se também vítimas pertencentes a dezenas de outras nacionalidades, incluindo de vários paises africanos. Entretanto, ainda hoje, volvidos mais de seis anos, após tais ataques e, apesar dos enormes esforços e meios disponibilizados pela comunidade internacional, a droga continua a ser o principal desafio económico, político e social, com que o governo de um Afeganistão fragilizado e enfraquecido, se vê confrontado.
*Escritor/Jornalista
Nova Iorque
VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!
Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO