CABE AO POVO GUINEENSE A ACÇÃO DA MUDANÇA!

 

Por: Fernando Casimiro (Didinho)

17.12.2006

Não tenhamos medo de fazer uma nova revolução na Guiné-Bissau. Não uma revolução com armas de fogo, mas a revolução da consciência cívica, a revolução de mentalidades, que dará ao nosso povo o direito à liberdade do saber, do conhecimento e quiçá, do pensamento e da acção! É urgente libertar o povo guineense do obscurantismo! É urgente fazer ver aos guineenses que o medo de mudar ontem é a razão dos males de hoje e o medo de mudar hoje será a razão dos males de amanhã... Fernando Casimiro (Didinho)

Fernando Casimiro (Didinho)Não me cansarei de repetir as mesmas questões ou de reabilitar reflexões do passado recente, a cada passo desta marcha irreversível rumo à mudança urgente e incontestavelmente necessária para a Guiné-Bissau e a favor dos guineenses, sempre que a situação o justifique.

De uma acalentada esperança num futuro promissor aquando dos preparativos para as eleições presidenciais de 2005 e antes do surgimento do mundialmente consagrado ditador Nino Vieira, o país viu-se de repente envolvido numa das maiores disputas de âmbito político e social, que pôs em causa o relacionamento fraterno entre guineenses, dividindo-os.

As eleições presidenciais que em condições normais não deveriam permitir as candidaturas de Nino Vieira e de Kumba Yalá serviram interesses pessoais e não os interesses da Guiné-Bissau e dos guineenses!

Um ano após o retorno à cadeira do poder, o general ditador continua igual a si próprio, como se muitos, tal como eu, não tivessem alertado para esta eventualidade, sem ser necessário nenhum exercício de futurologia.

Um ano após o retorno à cadeira do poder, o general ditador conseguiu reestruturar a sua máquina de controlo do sistema de tal forma que, hoje julga-se mais forte do que nunca!

O Povo guineense foi consentindo, acreditando, como sempre, nas movimentações e estratégias dos políticos, que afinal, na sua maioria, são politiqueiros e servidores de regimes, que ora se viram para um lado, ora para o outro, sempre no interesse dos seus umbigos, esquecendo-se do dever assumido em servir causas nacionais.

Mas porque se julga forte o general ditador, desprezando, como sempre fez, o povo guineense?

Nino Vieira jogou forte na divisão dos guineenses! Cabral utilizou a força das populações através da unidade para conseguir fazer uma luta que nos conduzisse à independência. Nino utilizou a fraqueza das populações através da divisão para conseguir a sua independência e o poder sobre a Guiné-Bissau e os guineenses.

Há quem diga que Nino depende de Tagme Na Waie, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, mas Nino sabe melhor do que ninguém que não pode sobreviver à custa dessa dependência e, por isso, ter os seus homens de mão, fiéis de sempre, que não é o caso de Tagme Na Waie, estrategicamente posicionados, ainda que encobertos, por conveniência, para o que der e vier.

É preciso que o povo guineense volte a estar unido para mostrar a Nino Vieira, aos seus seguidores e à comunidade internacional, que o povo é o verdadeiro dono do poder: dá e retira a confiança aos políticos!

Se disseram que foi o povo guineense a eleger Nino Vieira, continuo a não acreditar, então está na hora desse mesmo povo dispensar os serviços de Nino Vieira e toda a sua equipa de seguidores!

O povo guineense tem que sair à rua e mostrar que é o único dono do poder na Guiné-Bissau!

As forças de defesa e segurança devem servir os interesses da República e o povo guineense é sinónimo de República da Guiné-Bissau, portanto, não devem actuar contra o povo guineense do qual também fazem parte!

É preciso que o povo acorde, que o povo desperte, que o povo se liberte das pressões a que tem sido submetido.

É preciso recuperar a dignidade para a Guiné-Bissau!

Nas últimas semanas foram várias as vozes de políticos que responsabilizaram Nino Vieira por toda a situação de desgraça e de instabilidade que se vive na Guiné-Bissau!

Discursos claríssimos do que todos sabemos de há muito tempo, só que uns apoiaram de uma ou da outra forma o retorno do general ditador à cadeira do poder e hoje estão arrependidos, o povo guineense saberá perdoar esse arrependimento, tenho a certeza, e outros continuaram sempre fiéis na defesa das suas convicções de que Nino Vieira iria, uma vez mais, prejudicar o país.

O tempo encarregou-se de dar razão aos que sempre acreditaram que um ditador nunca muda!

Do discurso demagogo sobre a reconciliação nacional através de uma campanha de propaganda sobre um eventual encontro de guineenses previsto para 2006 nada se viu, afinal, como pode alguém que fomenta a divisão entre os guineenses servir de conciliador dos guineenses?

Como pode alguém que se manifesta favorável à impunidade, ao propor amnistias, por conveniência, ser o primeiro magistrado da nação?

Como pode Nino Vieira falar de Justiça na Guiné-Bissau se ele próprio nunca assumiu as várias responsabilizações e acusações que pendem sobre ele?

Porque será que nunca se ouviu a expressão VERDADE, da boca de Nino Vieira?

De crise em crise temos visto a tensão social aumentar no país.

Temos assistido a situações de desrespeito para com o povo guineense.

Temos assistido ao fenómeno da desgovernação, da corrupção, de intimidações, de perseguições e até de mortes de cidadãos nacionais por espancamento. Quem não se lembra do assassinato de Fernando Varela Casimiro (Nando Casimiro) a 23 de Abril deste ano, na sua residência em Bissau?

Nando Casimiro foi assassinado por razões sobejamente conhecidas. Até hoje o que se fez para descobrir e punir os autores morais e materiais dessa monstruosidade?

O povo guineense ficou em silêncio, não exigiu a verdade e a justiça pelo assassinato de mais um filho seu, tal como  de outros que foram assassinados no passado.

Os criminosos, esses, ganharam mais alento, julgando-se certos nas suas opções demoníacas e mentalizados de que novamente o seu reino, o da ditadura, voltou a emergir, ganhando, na Guiné-Bissau o espaço de outrora.

Se o povo guineense saísse à rua e exigisse responsabilidades a quem de direito pelos crimes cometidos no país, talvez o Dr. Silvestre Alves não fosse vítima de uma tentativa de assassinato esta semana, simplesmente por expressar a sua opinião e a do seu partido em relação à situação actual do país!

O povo guineense não é um povo violento, no entanto, não deve permitir que alguns dos seus filhos usem a violência gratuita, em defesa de interesses pessoais, para matar outros guineenses que lutam com as suas ideias, com as suas opiniões para que a Guiné-Bissau mude para melhor!

Se não há segurança no país e o primeiro magistrado da nação não se preocupa com a vida dos seus concidadãos, entende-se isso como que uma conivência com o crime, que aliás, não deixa dúvidas de ser organizado, orquestrado e executado por agentes do poder!

O povo guineense não deve permitir isso!

Cabe ao povo guineense lutar pela sua liberdade, pois ela, a liberdade, não faz parte dos pacotes de ajudas da comunidade internacional!

Vamos continuar a trabalhar!

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Guiné: «Renovadores» acusam PR ser «responsável» crise

O Partido da Renovação Social (PRS, segunda maior força política da Guiné-Bissau) acusou hoje o Presidente guineense de ser «o responsável número um» pela crise política e «de todos os males que aconteceram» no país.

A acusação veio do primeiro vice-presidente dos «renovadores», Ibrahima Sory Djaló, e surge como resposta às críticas feitas sexta-feira por João Berna rdo «Nino» Vieira, que acusou o líder do PRS, Kumba Ialá, actualmente fora do país, de «prejudicar a Guiné-Bissau».

Numa entrevista à Rádio Bombolom FM, privada, Sory Djaló, escolhido por Kumba Ialá para seu «número dois» após a vitória no III Congresso do partido, a 12 deste mês, considerou «Nino» Vieira como o «factor de instabilidade número um».

«O factor número um da instabilidade na Guiné-Bissau é o general João Bernardo 'Nino' Vieira, actual Presidente da República. Governou-nos durante 18 a nos e nada vimos de concreto. Nada. Apenas a desgraça», afirmou Sory Djaló, que se candidatou à liderança do PRS mas, à última hora, desistiu a favor de Kumba Ialá.

«Voltou (à Guiné-Bissau, após um exílio de seis anos em Portugal), fez um ano de mandato, não fez nada e nem vimos sinais de querer fazer algo. Ele não pode responsabilizar ninguém na Guiné-Bissau é o responsável número um pela situação e de todos os males que aconteceram» no país, acrescentou.

Diário Digital / Lusa

26-11-2006 18:05:00

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A Resistência da Guiné-Bissau (RGB- Movimento Bafatá) exigiu ontem ao Chefe de Estado e do governo para promover a remodelação governamental para salvar o país da crise em que se encontra mergulhada neste momento.

Num comunicado de imprensa distribuído ontem a imprensa em Bissau RGB – Movimento Bafatá acusou o Presidente da República o General Nino Vieira e o Chefe do governo Aristides Gomes de estarem a promover o analfabetismo no país.

A RGB – Movimento Bafatá foi peremptório assegurar que o Chefe de Estado e do Governo estão arrastar o país para um culto de analfabetismo porquanto há quatro meses que as aulas não funcionam nas escolas públicas.

No mesmo comunicado de imprensa, a RGB Movimento Bafatá responsabilizou ao Chefe de Estado de toda crise política, social e sofrimento que a população atravessa neste momento no país.

Para os dirigentes da RGB – Movimento Bafatá o Chefe de Estado e do governo estão a sustentar a instabilidade permanente no país, porque não querem dialogar com as outras forças políticas para procurar encontrar soluções de tirar o país da crise política e social em que se encontra mergulhado neste momento.

Por: Alfredo Saminaco

Fuente: Agência Bissau

13/12/2006

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O Líder do Movimento Democrático Guineense (MDG) Silvestre Alves considerou que o Presidente da República General Nino Vieira não tem condições morais e políticas para continuara presidir os destinos dos guineenses.

Silvestre Alves afiançou que General Nino Vieira está rodeado de pessoas corruptas que não preocupam com o interesse da Guiné-Bissau.

Nas suas palavras, aquele líder de partido de oposição sem assento parlamentar garantiu que o governo de Aristides Gomes não conseguirá convencer a comunidade internacional que está a fazer um trabalho condigno.

Apontou como o exemplo a ameaça do Banco Mundial (BM) de retirar o seu escritório no país em virtude de má política do governo de Aristides Gomes.

Para o líder MDG chegou momento de General Nino Vieira abdicar das suas funções a favor do Presidente da Assembleia Nacional Popular (ANP) Francisco Benante como a única via para a saída da crise política e social em que o país se encontra mergulhado.

Quanta ameaça do Major Dabo de que a Presidência da República o irá processar, Silvestre Alves garante estar disposto a enfrentar a justiça nacional.

Sem papa na língua, o líder do MDG asseverou que o governo de Aristides Gomes para além da sua ilegalidade toma medidas ilegais, apontando como exemplo a privatização do Hotel 24 de Setembro e de Portos de Bissau. Na sua opinião a privatização que está a ser implementada pelo governo de Aristides Gomes é selvagem.

Por outro lado, denunciou que o governo de Aristides Gomes não conseguiu pagar salário há três meses nem conseguiu combater a corrupção no país.

Acusou o Primeiro-ministro Aristides Gomes de utilizar a primatura para torturar uma das suas primas sem que esta tenha sido culpada ou tenha cometido erros.

Agência Bissau tentou acolher opinião da referida sobrinha que rejeitara prestar declaração alegando que o caso está no segredo da justiça.

Por: Alfredo Saminanco

Fuente: Agência Bissau

09/12/2006

 

 

 

 

Comunicado

 

 

Foi com espanto e indignação que a nossa organização tomou conhecimento da agressão perpetrada ontem na pessoa do cidadão nacional, Sr. Dr. Silvestre Alves, com o objectivo de o assassinar.

 

Num momento em que todos somos chamados a mobilizar os nossos esforços e energias para criar um clima paz, reconciliação e entendimento nacional com base numa sociedade tolerante, justa e livre, a AD não pode deixar de condenar de forma inequívoca procedimentos que visam construir um país a tiro, soco e pontapé.

 

Manifestamos por isso a nossa solidariedade activa para com o Sr..Dr. Silvestre Alves, cientes de que apenas se deve ser intolerante para com a mentira, a violência gratuita e a injustiça.

 

Apelamos aos juízes sérios, competentes e independentes da nossa terra que façam valer a Lei para tranquilidade da nossa sociedade, lembrando que quando os lobos julgam a Justiça uiva.

Feito em Bissau a 15 de Dezembro de 2006

A Direcção da AD

 


Bissau, Guiné-Bissau (PANA) - Diversas organizações de defesa dos direitos humanos bissau-guineenses denunciaram sexta-feira uma alegada agressão perpetrada contra o líder do Movimento Democrático da Guiné-Bissau (MDG, oposição), Silvestre Alves, que teria sido espancado quinta-feira à noite em Bissau por homens fardados ainda não identificados.

Num comunicado divulgado em Bissau, a Liga dos Direitos Humanos (LGDH) condena vigorosamente este acto que, sustenta, "foi cometido por agentes a mando de tiranos que persistem em navegar contra a corrente da história relegando a Guiné-Bissau aos seus anos obscuros de terror, dos assassinatos, das perseguições políticas e de outros actos inadmissíveis num Estado de Direito".

A LGDH exige do governo do primeiro-ministro Aristides Gomes a execução de mecanismos apropriados "com vista a identificar e castigar os autores deste acto ignóbil".

Para esta Organização não Governamental (ONG), existe hoje na Guiné-Bissau "um grupo de indivíduos que tentam comprometer os actos democráticos, nomeadamente a liberdade de pensar e a liberdade de expressão com vista a favorecer a deriva totalitária e semear o medo e a insegurança generalizada no país".

Exorta todas as forças vivas da nação a banir "de uma vez por todas, a violência física e verbal como instrumento de resolução de conflitos e a privilegiar o diálogo, a tolerância e o perdão".

Por sua vez, a ONG "Acção para o Desenvolvimento" lançou um vivo apelo aos juízes sérios e competentes a fim de fazer respeitar a lei para a tranquilidade social.

O líder do MDG foi alegadamente espancado por homens fardados quinta-feira por volta das 10H00 (locais e TMG) em Bissau, enquanto descia do seu carro para verificar um farol que não acendia.

"Primeiro fui alvo de uma grande pedra lançada por um dos meus agressores escondido na obscuridão", disse nas antenas de uma rádio local, responsabilizando o Presidente João Bernardo "Nino" Vieira pelo que lhe aconteceu.

Durante uma conferência de imprensa a 1 de Dezembro corrente em Bissau, o opositor político dirigiu duras críticas contra o chefe de Estado bissau-guineense de quem reclama a demissão.

Acusou nomeadamente Nino Vieira "de apenas pensar em viajar, comprar carros de luxo e recuperar os bens que perdeu quando deixou o poder em Maio de 1999".

Sustentou, por outro lado, que o governo de Aristides Gomes, "ilegal e inconstitucional", é "corrupto e não inspira mais confiança tanto no plano nacional como internacional".

Bissau - 16/12/2006

Um ditador nunca muda!

vítimas civis de bombardeamentos ordenados por Nino Vieira durante o conflito militar de 1998/1999 na Guiné-Bissau

 

Por: Fernando Casimiro (Didinho)

29.10.2005

A Guiné-Bissau, pese todo o reconhecimento das ajudas prestadas pela Comunidade Internacional, não pode continuar a servir de cobaia para análises e testes de modelos irrealistas e desajustados de viabilização, tendo como estandarte o princípio de um Estado de Direito na representação global da democracia como sua referência.

É hora de todos, mas todos, quantos têm trilhado o percurso do país mártir que é a Guiné-Bissau, de assumirem as suas responsabilidades, não só apontando os apoios materiais e morais disponibilizados, mas também o falhanço na aprendizagem e quiçá no conhecimento das realidades sociais do país, por forma a que se conseguisse primeiro sensibilizar e formar o Homem guineense na sua integridade de Homem e cidadão com direitos mas também com deveres.

Deve-se ajudar para permitir ultrapassar dificuldades, mas deve-se igualmente localizar e diagnosticar as dificuldades, para que não se eternize a relação ajuda/dificuldade, numa vertente de dependência crónica perigosa e, por isso mesmo, a considerar e a evitar!

Se a Guiné-Bissau chegou ao ponto de se viciar na arte de pedir ajudas para tudo e ficar à espera dessas ajudas sem criar alternativas de caminhar com os seus próprios recursos, este vício foi precisamente alimentado ao longo dos anos pela própria Comunidade Internacional que, sem uma visão de futuro, foi alterando estruturalmente os hábitos de um povo trabalhador e habituado a grandes sacrifícios.

A Guiné-Bissau recebe ajudas há 32 anos, a maior parte dessas ajudas foi para beneficiar uma elite guineense e alguns intermediários estrangeiros ligados aos ditos processos de ajudas.

Consome-se o nome de um país e de um povo na "cobrança" de algo que na verdade pouco lhes tem servido, bastando para isso, ver no terreno quem beneficia com as ajudas internacionais supostamente encaminhadas para servirem o país e o povo guineense.

Uma vez mais, a necessidade de se criar uma base de relação entre as várias correntes de opinião sobre a Guiné-Bissau se torna num imperativo, num desafio aos guineenses e a todos quantos querem realmente ajudar a Guiné-Bissau a ultrapassar as suas dificuldades, tendo como primeiro recurso e solução o capital humano do país, ou seja: os guineenses!

 

 

A 17 de Setembro escrevia eu num artigo intitulado: "As presidenciais hipotecaram a Guiné a interesses externos", o seguinte: "A Guiné-Bissau, o país, já está a perder com a eleição de "Nino" Vieira para o cargo de presidente da República e o tempo encarregar-se-á de o confirmar".

Não foi preciso esperar muito, não foi preciso grandes exercícios de reflexão, bastou -me o argumento de que um ditador nunca muda e o tempo está a confirmá-lo!

Se o povo guineense, através da percentagem maior que votou em Nino Vieira alimentava esperanças e acreditava na mudança pela positiva de uma figura controversa como é Nino Vieira, então está na hora de começar a assumir o realismo de ter entregue os destinos do país a uma referência sinónima da desgraça.

Desde Abril deste ano quando Nino Vieira regressou à Guiné-Bissau que levou com ele os males que semeou no país nos 18 anos da sua anterior presidência.

A demissão de um governo legítimo, tendo como argumento conclusões infundadas e fora do contexto da transparência, da estabilidade e da reconciliação nacional, quer se queira quer não é o culminar de todo um processo que teve origem prática a 6 de Outubro de 2004, numa alegada reivindicação de militares que teve como consequência directa a eliminação do anterior Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, Veríssimo Seabra, entre outras vítimas.

Nino Vieira sabia que Veríssimo Seabra seria sempre contra a sua pretensão de regressar à Guiné-Bissau e por isso, era preciso desobstruir caminho. Foi o que mandou fazer a 6 de Outubro de 2004.

Desde então, foram accionados mecanismos que possibilitassem o seu regresso à Guiné-Bissau e ao poder, numa estratégia com múltiplas opções, alicerçadas numa camuflagem que realmente não passou despercebida de se tratar de um golpe de Estado fora dos contornos habituais.

Todo o envolvimento da cúpula militar no regresso de Nino Vieira a Bissau em Abril deste ano demonstrou que de facto havia submissão ao "Chefe", ou seja: ao rosto principal do caso 6 de Outubro.

O "Chefe" tinha que ser presidente outra vez, mesmo que se tivesse que usar a força, também numa opção estudada.

Felizmente não foi preciso usar a força de armas de fogo, mas usaram-se armas de consciência contra o povo guineense, manipulando-o e dividindo-o acentuadamente.

Nino ganhou as eleições presidenciais e a Guiné-Bissau perdeu a oportunidade de mudança justamente por ter que se retrair e voltar a encaixar-se no modelo ditatorial de um presidente que em 18 anos de poder deixou marcas de desgraça que se perpetuarão na memória dos guineenses.

Com a demissão do governo de Carlos Gomes Jr. para além da crispação parlamentar fomentada pelo próprio presidente da República, se juntarmos as acusações graves do Chefe do Estado- Maior General das Forças Armadas, Tagme Na Waie sobre outras altas patentes militares de estarem a preparar uma rebelião, chegamos à conclusão de que estamos realmente perante uma crise explosiva na Guiné-Bissau.

Uma crise de novo partilhada na sua atribuição tanto aos guineenses como à Comunidade Internacional.

Uma vez mais, chega-se à conclusão de que, o que outros não querem ou não aceitam nos seus países (porque a democracia funciona por categorias) recomendam ou permitem que se viabilize noutros países.

 Em nome da democracia, têm sido feitas imposições inconcebíveis a países e povos que tardam a levantar-se para se afirmarem como donos das suas próprias decisões e destinos.

Uma vez mais a turbulência do momento coloca a Guiné-Bissau e o povo guineense em estado de sítio. Alguém ao menos tem a coragem de assumir responsabilidades neste percurso que põem em causa não só os guineenses mas também a própria Comunidade Internacional?!

Uma vez mais não resisto a citar Amilcar Cabral em Luta do povo, pelo povo, para o povo:

"Nós queremos que tudo quanto conquistarmos nesta luta pertença ao nosso povo e temos que fazer o máximo para criar uma tal organização que mesmo que alguns de nós queiram desviar as conquistas da luta para os seus interesses, o nosso povo não deixe. Isso é muito importante."

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