Em Maio de 2006 escrevi uma carta aberta a Nino Vieira sobre a reconciliação nacional, hoje, volto a recuperar essa carta para ver se há coragem da parte do general para responder às questões nela contidas e, também, para esclarecer algumas pessoas menos informadas sobre questões referentes à Paz e à Reconciliação nacional na Guiné-Bissau.
O general continua a pedir amnistia geral na Guiné-Bissau, pois quer ficar impune das atrocidades cometidas ao longo do seu percurso de estadista...
Didinho
22.07.2007
Carta aberta a Sua Exa. o Senhor General João Bernardo "Nino" Vieira
De: Fernando Casimiro (Didinho)
23.05.2006
Assunto: Reconciliação nacional
1- A VERDADE como alicerce e referência para o debate Nacional
2- Da proclamação da Independência Nacional aos dias de hoje
3- Comissão de Verdade e Reconciliação - Experiências de outros países
1- A VERDADE como alicerce e referência para o Debate Nacional
Sua Exa. Senhor General,
Pela primeira vez achei por bem dirigir-me directa e objectivamente a si, tendo em conta a urgência do Debate Nacional sobre a Reconciliação Nacional que V. Exa. tem suscitado, sendo que prometeu organizar ainda este ano de 2006 uma conferência sobre a matéria.
Esta minha carta aberta é, antes de mais, um convite a V. Exa. e, consequentemente, a todos os guineenses, para uma reflexão sobre o país, no intuito de se criar uma plataforma construtiva para o Debate Nacional tendo a VERDADE como alicerce e referência primeira a considerar.
Pela VERDADE decidi parar para pensar.
Pela VERDADE, decidi questionar-me a mim mesmo sobre o papel que quero e posso desempenhar em prol de um CONTRIBUTO positivo na Reconciliação entre todos os guineenses.
Entre o parar para pensar e as questões que coloquei a mim mesmo, achei que havia e há uma necessidade imperiosa de esclarecimentos para podermo-nos situar no tempo e na História recente da Guiné-Bissau, por forma a sabermos melhor por onde começar.
V. Exa., Senhor General, sabe à partida que lhe sou um acérrimo crítico, porém, devo dizer que lhe guardo respeito, independentemente das interpretações que possa ter em relação ao que tenho escrito sobre o seu estatuto político e suas consequências para a Guiné-Bissau. O simbolismo desse respeito regista-se no facto de nunca ter referenciado a sua família nas questões que coloco à sua pessoa e o carácter das minhas críticas se revestirem única e exclusivamente de revolta perante a forma como V. Exa. se tem comportado ao longo dos anos, dando azo a especulações e suspeições sobre a sua pessoa, sem nada ter feito para esclarecer essas especulações e suspeições.
Como disse no início desta carta, pela VERDADE decidi parar para pensar e essa paragem foi benéfica porque me trouxe a certeza de onde poderei encontrar as respostas para as minhas questões que, naturalmente, serão questões da maioria dos guineenses.
V. Exa., Senhor General é hoje, o promotor da Reconciliação Nacional, como foi em 1980, promotor da Concórdia Nacional.
A minha missão no trabalho de reflexão, sensibilização e debate de ideias junto dos meus irmãos guineenses é uma missão de espírito e objectivo construtivos.
É uma missão que me orienta sempre pelos caminhos da VERDADE, uma missão em que vejo a Paz, a Estabilidade e o Desenvolvimento como consequências da Reflexão, da Sensibilização e do Debate de Ideias.
Excelência, Senhor General,
Como pode constatar, esta carta contém 3 temas.
O tema 2 constitui o "ponto-chave" desta carta.
Antecipadamente peço a V. Exa., Senhor General, o favor de analisar e interpretar este tema de forma "privada", pessoal, sem a interferência de nenhum conselheiro. Depois de estar certo sobre a sua análise e interpretação, deve necessariamente comentar com alguém a que conclusões chegou.
As questões que levanto neste tema, são questões que a sua consciência tem por direito e dever libertar em nome da VERDADE, que tenho designado como alicerce e referência para o Debate Nacional sobre a Reconciliação Nacional.
2- Da proclamação da Independência Nacional aos dias de hoje
Excelência, Senhor General,
Aquando das eleições presidenciais do ano passado e em que o resultado da votação lhe conferiu a vitória para o cargo de Presidente da República da Guiné-Bissau, fui a primeira pessoa a contestar a abrangência do seu estatuto de Presidente da República da Guiné-Bissau como sendo o de Presidente de todos os guineenses.
Uma contestação pessoal e coerente que os desenvolvimentos deste tema irão dar a conhecer e que, pese embora ter tido aproveitamento político, se distancia de qualquer conotação com posteriores contestações fundamentadas com motivos puramente de recusa em aceitar os resultados eleitorais.
Amargos de boca
Por: Fernando Casimiro (Didinho) 28.07.2005
Parafraseando Nino Vieira: "A Guiné-Bissau é um país de traições". O povo guineense desta vez não traiu Nino Vieira, traiu-se a si próprio e às gerações vindouras. O povo guineense mostrou nas urnas o porquê do país estar no estado em que se encontra! O povo guineense, uma vez mais, traiu a pátria mãe. O povo guineense, uma vez mais, optou por continuar a dividir-se, pensando que se está a unir. O povo guineense, uma vez mais, confundiu a Justiça como sendo inimiga da reconciliação. O povo guineense, uma vez mais, pensou que a cabeça serve mais para pôr o chapéu do que para reflectir. O povo guineense, uma vez mais, trocou os seus passos pelos de um caranguejo. O povo guineense, uma vez mais, deu mostras de precisar de acompanhamento, de ser sensibilizado e de ser esclarecido. O povo guineense, uma vez mais, deu mostras de não saber o que realmente quer tanto para o seu presente como para o seu futuro. Nino Vieira nunca foi, não é, nem nunca será meu presidente! |
As presidenciais hipotecaram a Guiné a interesses externos Por: Fernando Casimiro (Didinho) 17.09.2005
É ao presidente eleito, no caso, "Nino" Vieira, que se exige ser presidente de todos os guineenses! É ao presidente eleito que se exige o exemplo máximo de cidadania! A presidência é um cargo, uma função no Estado, remunerado e com múltiplas regalias, sendo por isso exigível com um desempenho cabal conforme o estipulado pela Constituição da República. Ao cidadão comum deve-se "libertar" o julgamento sobre o reconhecimento em alguém por quem votou ou não, para ser presidente do país e, portanto, seu presidente! Quem votou em "Nino" Vieira queria-o como presidente da Guiné-Bissau e quem não votou, é porque não o queria como presidente. Portanto, ainda que o espírito de cidadania incline para uma concertação de posições, neste caso, que passe por uma aceitação e reconhecimento de Nino Vieira como presidente de todos os guineenses, não se pode desconsiderar o sentimento de pessoas que não votando nele queiram manter-se fiéis aos seus ideais, não o reconhecendo como seu presidente. Esta legitimidade aplica-se porquanto a cidadania ser um dever e não uma obrigação ou imposição. João Bernardo Vieira "Nino", eleito presidente da República da Guiné-Bissau na segunda volta das eleições presidenciais, não reúne condições para exercer uma presidência de consenso e, por conseguinte, o seu mandato é antecipadamente sinónimo de adiamento das mudanças estruturais de que a Guiné-Bissau necessita. O país tropeçou uma vez mais ao dar os seus próprios passos na busca de soluções para a tão pretendida reconciliação nacional, cujas fórmulas apresentadas pelos principais interlocutores continuam a defender pessoas em vez do país. A defender a impunidade em vez da Justiça. É num clima de divisão social nunca antes visto que"Nino" Vieira se prepara para a tomada de posse agendada para 1 de Outubro próximo. "Nino" Vieira que já foi presidente da Guiné-Bissau durante 18 anos, sabe que as concertações que fez com outros candidatos para ganhar votos e por assim dizer: a presidência, será o seu primeiro factor de pressão, ou seja: dor de cabeça na definição de directrizes para o seu mandato. Uma das suas apetências que se concretizará com o tempo e após a tomada de posse, será certamente o derrube do governo em funções e a formação de um governo tipo: Unidade Nacional, que será formado por pessoas próximas a ele, tanto da ala fraccionista do PAIGC, como de outros partidos que o ajudaram na sua eleição, destacando-se o PRS através de Kumba Yalá e o PUSD através de Francisco Fadul. Outra das apetências de "Nino" Vieira é o reassumir da liderança do PAIGC, que posteriormente sofreria um reajustamento considerável numa visão de reforço de poder da sua liderança. Em ambas as situações, o favorecimento de posições como cumprimento de promessas na campanha eleitoral, é por si só prejudicial ao critério de rigor e de isenção que se pretende na atribuição de cargos, particularmente públicos, na direcção dos destinos do país. A atribuição de cargos públicos será igualmente um ponto de discórdia e de divisão dos que apoiaram "Nino" Vieira, porquanto cada um ir reivindicar a importância dos votos que angariou para a sua eleição com a atribuição de lugar e privilégio pretendido na estrutura dirigente do Estado. Ora aqui o "bolo" torna-se pequeno para tantas bocas à espera... O futuro governo a ser formado por "Nino" Vieira, será um governo de total submissão ao "Chefe", que por sua vez será um fiel submisso dos interesses de países vizinhos: Senegal e Guiné-Conacri, que apoiaram a sua eleição, em detrimento da afirmação e valorização dos interesses da Guiné-Bissau na região. Tudo isto é previsível se tomarmos em conta que a Guiné-Bissau foi hipotecada com estas eleições presidenciais a interesses externos. Interesses externos que irão permitir que "Nino" Vieira volte a fazer da Guiné-Bissau a sua propriedade, ainda que num contexto político social diferente de há uns anos atrás, pois a mudança de mentalidades é uma realidade presente e a considerar. A divisão entre guineenses como factor real de desestabilização na presente conjuntura da Guiné-Bissau é um rastilho que perigosamente continua exposto. Os guineenses esperam para ver a actuação de "Nino" Vieira, mas fazem-no de forma reservada, pois não esquecem o passado triste de 18 anos da sua anterior presidência. A Guiné-Bissau, o país, já está a perder com a eleição de "Nino" Vieira para o cargo de presidente da República e o tempo encarregar-se-á de o confirmar. |
Hoje, continuo a contestar essa abrangência, continuo a ser um crítico à sua pessoa e governações. Hoje, vou-lhe explicar o porquê, porém, antes das minhas explicações e esclarecimentos, faço questão de recordar a V. Exa. 2 reivindicações suas, importantíssimas, ou melhor dizendo; Vitais, para a busca e o encontro da VERDADE, alicerce e referência para o Debate Nacional sobre a Reconciliação Nacional.
Ambas as reivindicações manifestavam a sua vontade em regressar à Guiné-Bissau para ser julgado e foram feitas durante o período do seu exílio em Portugal, sendo a primeira numa entrevista radiofónica à Rádio Renascença e concedida ao jornalista guineense Hélmer Araújo, numa transmissão feita a 18 de Junho de 2003 e outra numa carta endereçada à Liga Guineense dos Direitos Humanos e recebida pela Liga a 10 de Outubro de 2003.
"Como cidadão, tenho direito ao bom-nome e boa reputação e é óbvio que
ela tem estado a ser posta em causa pelo poder político da Guiné-Bissau e pelos
"media" que reproduzem as acusações sem fundamento que me são feitas, com graves
prejuízos morais para a minha família e para mim próprio".
"Nino" Vieira em carta enviada à Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) a pedir para regressar ao país, onde, afirma, quer ser julgado. |
S. Exa., Senhor General,
Recuando no tempo, recordo-me da entrada triunfal do PAIGC em Bissau. Recordo-me da forma como os guerrilheiros eram idolatrados.
Recordo-me da forma aparentemente cívica e responsável como todo o processo de transição da governação colonial para o PAIGC se procedeu.
Aparentemente, porque na VERDADE assim não foi!
Recordo-me que V. Exa. era das referências em vida a mais solicitada.
Recordo-me que foi o Senhor General quem proclamou solenemente a Independência Nacional em Madina do Boé a 24 de Setembro de 1973, na qualidade de primeiro Presidente da Assembleia Nacional Popular.
As recordações são tantas que gostaria de poder enumerá-las todas, mas umas são mais importantes do que outras para o assunto que me fez dirigir-lhe esta carta.
Das recordações mais importantes e que faço questão de registar, lembro-me de V. Exa. ter desempenhado sempre lugares de relevo na governação do PAIGC até ao primeiro golpe de Estado por si dirigido a 14 de Novembro de 1980 e que depôs o primeiro Presidente do Conselho de Estado da República da Guiné-Bissau, Luís Cabral.
V. Exa. foi Comissário (ministro) das Forças Armadas e posteriormente Comissário Principal (primeiro-ministro), até à data do golpe de Estado.
O Senhor General justificou aos guineenses e ao Mundo que havia necessidade de se acabar com as matanças, prisões arbitrárias, corrupção, nepotismo etc.
O Senhor General fez questão de apresentar provas e, por assim dizer, condenar um regime de que também fazia parte, mas de que se distanciou, ao ilibar-se com o golpe do chamado "Movimento Reajustador de 14 de Novembro".
Os guineenses e o Mundo ficaram incrédulos com as provas apresentadas.
Valas comuns com ossadas de ex. comandos africanos que lutaram do lado português e de outros cidadãos guineenses suspeitos de terem pertencido à PIDE/DGS.
Afinal a passagem de testemunho da administração colonial para o PAIGC não salvaguardara a vida de quem esteve do lado da administração colonial portuguesa.
O PAIGC dava-se a conhecer pelos horrores praticados.
Luís Cabral, Presidente do Conselho de Estado tinha que ser responsabilizado, pois era ele a figura número 1 do aparelho do Estado.
O Senhor General assumiu o Conselho da Revolução até ser designado Presidente da República.
Para além de exibir as provas das valas comuns e de ter acusado Luís Cabral, o que é que o Senhor General fez para justificar o golpe de Estado?
É aqui que começam as minhas inquietações!
1- Se o Senhor General descobriu todo o mal que o regime de Luís Cabral estava a praticar, porque não foi capaz de accionar a Justiça no pós-golpe de Estado
para que o exemplo da impunidade não proporcionasse situações idênticas no futuro?
2- Porque será que deixou partir Luís Cabral para o exílio sem se formalizar uma acusação de crime que permitisse à Justiça criar uma comissão de inquérito que fosse capaz de elaborar um relatório que sustentasse as acusações ao seu regime?
3- Porque será que o Senhor General não fez questão de se inteirar das mágoas das pessoas que perderam os seus familiares e ver como poderiam ser apoiadas essas famílias psicológica e financeiramente para fazerem face aos sofrimentos causados pela barbaridade cometida pelo PAIGC ou ainda, o que essas famílias tinham para dizer de suas justiças em relação a toda a situação?!
4- Porque será que o Senhor General se esqueceu de que a Concórdia Nacional que posteriormente tentou promover também passava pelos familiares das vítimas do regime de Luís Cabral?
Postas estas 4 questões, digo-lhe sinceramente que me decepcionou, eu que hoje confesso, também o tive como referência na minha juventude por tudo quanto ouvi dizer da sua participação na luta de libertação nacional!
Decepcionou-me porque, na minha óptica, o Senhor General foi o impulsionador da impunidade no país, pelos motivos que acima referi.
V. Exa. foi igualmente o impulsionador da solução militar, recurso à força, para a resolução de problemas de foro partidário/governativo no país.
Como lhe disse no início desta carta, a minha missão é uma missão que me orienta sempre pelos caminhos da VERDADE, uma missão em que vejo a Paz, a Estabilidade e o Desenvolvimento como consequências da Reflexão, da Sensibilização e do Debate de Ideias.
As minhas preocupações são legítimas, como são legítimas as reivindicações do Senhor General em relação à defesa do seu bom nome e reputação.
De 14 de Novembro de 1980 a 7 de Junho de 1998, o Senhor General foi dono do poder absoluto na Guiné-Bissau.
Gostaria de lhe facultar alguns registos sobre várias opiniões a seu respeito, por parte de políticos e juristas influentes na Guiné-Bissau e que são testemunhos da vivência do seu regime de 18 anos, catalogado de ditadura.
Referenciar esses registos como testemunhos da memória dos guineenses e não como factor de incentivo à vingança, não se pode levar a mal e aqui volto a dizer que são legítimas as suspeições e especulações, tanto quanto a vontade de V. Exa. em querer ser julgado nas 2 reivindicações que fez em 2003.
Legítimas as suspeições e especulações porquanto, durante o seu regime presidencial, muitos foram os assassinatos e fuzilamentos ocorridos.
Muitos guineenses foram perseguidos, presos e torturados sem terem sido condenados e sem direito a nenhuma defesa.
Fomos todos testemunhos de uma forma ou de outra destes acontecimentos.
Recordo-me do fuzilamento do grupo do chamado "caso 17 de Outubro".
O Mundo pediu clemência, mas não houve resposta do Senhor General, que quando confrontado com a notícia dos fuzilamentos, respondeu simplesmente que estava ausente do país.
V. Exa. regressou ao país e não criou nenhuma comissão para averiguar em que medida seus antigos camaradas de armas tinham sido fuzilados e a mando de quem!
Algumas pessoas da sua relação mais próxima, quer no aspecto profissional, quer pessoal, foram mortas e, da parte do Senhor General não houve esclarecimentos condizentes no sentido de evitar suspeições e especulações.
O Senhor General estava a cultivar a intolerância, a semear o medo, a criar o ódio e a divisão entre os guineenses.
A par disso, as estruturas económicas do país estavam a ser delapidadas, tendo grandes investimentos do país sido reduzidos a simples paredes e terrenos baldios. Estava-se perante crimes de natureza económica numa governação que não tinha contas a apresentar, visto tratar-se de uma governação com poder absoluto.
A corrupção generalizou-se na sociedade guineense, levando a que o Tesouro Público fosse o baú das negociatas do regime.
As suspeições e especulações foram-se acumulando na mente dos guineenses.
Por pressões internacionais, V. Exa. aceitou abrir o país ao multipartidarismo em 1991, um facto digno de registo, pese embora nada se ter alterado na forma como dirigia o país.
Organizou e venceu as primeiras eleições presidenciais no país em 1994 e continuou a sua caminhada até ao levantamento militar de 7 de Junho de 1998 que projectou o país para a guerra civil tendo como consequências a morte de um número indeterminado de pessoas, a destruição de infra-estruturas do país e, igualmente, o seu derrube do cargo de Presidente da República.
Tal como sucedeu no passado em relação a Luís Cabral, os que o derrubaram também fundamentaram a necessidade de o derrubarem tendo como argumento: fuzilamentos, assassinatos, perseguições, prisão e tortura de cidadãos nacionais e estrangeiros.
Tal como quando derrubou Luís Cabral, a Comunicação Social nacional e estrangeira serviu de ponte de comunicação com o Mundo para justificar a acção do seu derrube.
O país assistiu a acusações e denúncias particularmente dirigidas à sua pessoa, pese embora estar em causa todo um regime.
5-DEZ-98 Francisco Fadul, novo primeiro-ministro da Guiné-Bissau «Nino Vieira devia ser julgado» SEIS meses depois do início da guerra, a Guiné-Bissau tem um novo primeiro-ministro. Francisco Fadul, de 44 anos, foi o nome acordado entre as delegações da Junta Militar e do Presidente da República. Irá chefiar um gabinete de «unidade nacional», cujos contornos foram definidos no acordo de Abuja, rubricado a 1 de Novembro. A escolha de Fadul surpreendeu os observadores e dá bem a ideia da relação de forças existente. Principal assessor civil da Junta Militar e amigo pessoal de Ansumane Mané, Fadul terá sido um nome imposto pelos rebeldes. Militante do PAIGC durante 21 anos, foi assessor de Nino durante quatro anos, antes de entrar em ruptura com o regime, de que é um crítico frontal. Nascido em Mansoa, filho de pai libanês e de mãe guineense, estudou direito em Lisboa e Coimbra, mas não concluiu o curso. A entrevista foi concedida na Guiné, antes de ter sido indigitado para chefe do Governo - era, apenas, o mais influente assessor da Junta e autor da maior parte dos seus textos programáticos. EXPRESSO - O levantamento militar deu lugar a um levantamento nacional. Quais as razões? FRANCISCO FADUL - A justeza do levantamento era tal que a identificação das populações não tardou. E digo justeza porque, em termos constitucionais, compete às Forças Armadas (FA) a defesa da independência, da soberania e da integridade do território, e da ordem pública. EXP. - Mas essa questão só se colocou a partir da intervenção militar do Senegal e da Guiné-Conacri. F.F. - Antes mesmo já teria havido motivações suficientes para que as FA assumissem esse papel. O levantamento militar não deve ser entendido como um golpe de força, de subversão da ordem constitucional, de desagrado da cúpula das FA. O levantamento produz-se em resposta a duas tentativas de homicídio de Ansumane Mané. EXP. - Isso está absolutamente comprovado? F.F. - Perfeitamente. Só depois se produziu o que hoje se chama o levantamento de 7 de Junho, como medida de autodefesa legítima contra um acto a todos os títulos criminoso. EXP. - Em tudo isto, há uma questão de fundo: a utilização de um golpe de força contra um poder legítimo e eleito democraticamente. F.F. - O Presidente Nino Vieira, que devia ser o garante da Constituição, é o seu primeiro e maior violador. É o que acontece, por exemplo, com o artigo 59º, que diz que a nossa democracia assenta na separação dos poderes. E com o artigo 65º, que diz que o exercício da função de Presidente é incompatível com qualquer outra função pública ou privada. Ele não poderia continuar a ser, entre outras coisas, presidente do PAIGC. Nino Vieira tem todos os poderes dos órgãos de soberania nas mãos, continua a ser o chefe único que tinha sido durante o tempo do partido-Estado. EXP. - Estamos perante um caso de concentração e abuso de poderes. Nino é um ditador? F.F. - Sim, sim. Quando o poder está concentrado, daí ao abuso de poder, daí à tirania, ao despotismo, à ditadura, é uma questão de passos, de interesses e de oportunidade. Todos nós não erraremos muito se culparmos o senhor Nino Vieira de assassínios, de espancamentos, de calúnias, de difamações e indignificação de dirigentes. EXP. - Acha que ele deve ser julgado por essas práticas? F.F. - Acho que sim. Como exemplo de imparcialidade do Estado. Nino Vieira entende que está acima da lei, que não está ao alcance da lei. As leis foram feitas para os homens - e ele não é homem, é semi-Deus. Talvez até se considere Deus, quem sabe... EXP. - Você esteve ao seu serviço... F.F. - Efectivamente estive quatro anos ao serviço pessoal, directo, dele, enquanto assessor jurídico e social. Assumo as minhas responsabilidades. Já o vinha apoiando muito antes do 14 de Novembro de 1980, como a personalidade que poderia ajudar a resolver os problemas da sociedade. EXP. - Está arrependido? F.F. - Francamente estou. Porque o Nino Vieira permitiu-me que o conhecesse bem. Logo no dia 15 de Novembro escrevi-lhe uma carta de encorajamento, felicitando-o, mas pedindo que governasse democraticamente, porque o nosso povo é humilde e trabalhador, desejoso de emancipação, de dignificação. Dizia-lhe que, caso não o fizesse, alguém com menos pergaminhos do que ele viria a ser chefe de Estado. EXP. - É o que está a acontecer? F.F. - Ainda não, porque a comunidade internacional tem estado a suavizar a escalada política na Guiné-Bissau. Por isso é que, no dizer de um amigo meu, Nino Vieira saiu da Guiné no dia 29 de Outubro como exilado e voltou de Abuja como Presidente... Há exemplos na História do uso da força revolucionária, legitimada pelos interesses e aspirações do povo e da sociedade, para erradicar um outro tipo de força - força ilegítima, violenta, reaccionária (no sentido de contrária ao movimento da história, à vontade popular e aos anseios da sociedade). Quero com isto dizer - e assumo - que, mesmo perante um derrube militar de Nino Vieira, eu estaria a dizer: graças a Deus fez-se justiça. Ainda que pela força, mas uma força legitimada. E não nos esqueçamos que ele chegou ao poder pela força. EXP. - A melhor solução seria a sua renúncia? F.F. - Seria uma solução digna. Pela primeira vez, Nino Vieira se apaziguaria com a história. Seria um acto de consciência, de ombridade. EXP. - O futuro da Guiné passa pelo afastamento de Nino? F.F. - Ele é o factor número um de desestabilização, de inimizade entre irmãos guineenses. Ele entende o Estado como um instrumento pessoal - e não como um instrumento da sociedade e dos cidadãos. Ele entende que é «o dono do chão», o dono do país. Seria muito bom que ele renunciasse. EXP. - A essa luz, o derrube de Luís Cabral foi um desastre... F.F. - Acho que sim. Até aí, houve descalabros, morticínios, abusos no tocante aos direitos humanos, mas nessa época o Estado funcionava. É certo que com uma filosofia especial: era um Estado «libertador», ainda um pouco guerrilheiro. Mas quando Nino Vieira assumiu o poder, havia paz. Prometeu a paz e a concórdia. Só que fez da concórdia nacional a concórdia do cavalo e do cavaleiro - sendo ele o cavaleiro e a sociedade o cavalo... EXP. - Luís Cabral tem algum lugar no futuro da Guiné? F.F. - É um cidadão da Guiné, um combatente da liberdade da pátria. Quem o pode impedir de assumir cabalmente os seus direitos? Se ele entendesse voltar para a Guiné hoje, eu seria capaz de ir esperá-lo ao aeroporto, para lhe dar as boas-vindas. EXP. - Ele poderia candidatar-se a Presidente? F.F. - Eu gostaria de ver na Guiné um chefe de Estado parecido em certos aspectos com Luís Cabral. Ele não roubou o Estado, não foi corrupto e na sua presidência nenhum dirigente se atreveu a ser corrupto. Gostaria não só de o ver voltar como de se candidatar à Presidência. EXP. - Apoiaria? F.F. - Não teria dúvidas, se as outras candidaturas não me sugerissem a necessidade imperiosa de votar noutra personalidade. EXP. - Não concordou muito com o acordo de Abuja. F.F. - Há razões objectivas que me levam a discordar. Limitou-se a aflorar algumas questões de ordem militar, enquanto deixa em silêncio as questões fundamentais de ordem política, institucional e social, que foram as causas mediatas do levantamento. EXP. - O acordo foi uma derrota política da Junta? F.F. - Não diria tanto, porque quando a supremacia militar é da Junta, não haverá derrotas políticas significativas. Retrocedemos alguns pontos no nosso posicionamento político. EXP. - Ansumane Mané tem craveira para ser Presidente? F.F. - O brigadeiro é tão humilde e honesto que já disse por várias vezes que nunca será Presidente. Ele tem repetido que vai deixar as responsabilidades políticas nas mãos dos mais novos, porque já chegou o tempo de ir tratar da família e dos filhos. EXP. - Não há o perigo da Junta se perpetuar no poder? F.F. - Não. A Junta quer levar o país à normalização política, no respeito rigoroso pela Constituição. EXP. - O programa da Junta é o estabelecimento da democracia? F.F. - Absolutamente. Com a completa despartidarização e despolitização das Forças Armadas e de segurança, a abolição da polícia política e a moralização das instituições públicas. EXP. - Não poderá haver uma certa sedução face à experiência militarista da vizinha Gâmbia? F.F. - Penso que não. A sedução não será tanto pela eventual militarização que tenha existido nos primórdios do regime do Presidente Yahya Jammeh (porque ele, depois, sujeitou-se a eleições democráticas) mas pelas realizações que ele conseguiu realizar em quatro anos. É patente o esforço desse homem, que não tem pejo nenhum de dizer a outros chefes de Estado que a razão directa do subdesenvolvimento se situa na incompetência e na corrupção dos dirigentes africanos. EXP. - Vide o caso da Guiné... F.F. - Exactamente. Nino Vieira, que nunca recebeu herança que se conheça, que nunca recorreu a um crédito bancário significativo, hoje é um dos homens mais ricos do mundo. EXP. - Do mundo? F.F. - Sim. E Presidente de um dos países mais pobres do mundo. A sua fortuna está avaliada num montante aproximado ao da dívida externa da Guiné-Bissau. EXP. - Essa acusação é pesada. Dispõe-se a prová-la em tribunal? F.F. - Já escrevi um livro sobre isso, mas ninguém o imprimiu. Se for o caso, garanto que me defenderei. EXP. - Não teme por si e pela sua família? F.F. - Olhe, eu estou a correr riscos desde os 16 anos, quando decidi aderir ao PAIGC. José Pedro Castanheira Copyright 1998 Sojornal. Todos os direitos reservados.
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Tal como sucedeu com Luís Cabral, V. Exa. também teve direito a partir para o exílio em Portugal, sem que alguém tivesse accionado o poder judicial para o processar por todas as acusações de que era alvo.
Tal como sucedeu com Luís Cabral, V. Exa. também beneficiou da impunidade.
Tal como sucedeu com Luís Cabral, ninguém se preocupou em saber o que os familiares das vítimas do seu regime tinham para dizer.
Tal como aconteceu com Luís Cabral, ninguém se lembrou de questionar o pedido de exílio, justificado por razões humanitárias pela comunidade internacional e que punha em causa a existência do Poder Judicial como órgão de soberania consagrado na Constituição da República.
Será que o acto de exercer a Justiça não é por si só uma questão humanitária?
O Senhor General partiu para o exílio, deixou o país mergulhado na miséria, os guineenses divididos e resignados à dor.
Tal como aconteceu com Luís Cabral, os que o derrubaram não foram capazes de fazer algo para justificarem realmente a guerra que envolveu irmãos de parte a parte.
Tal como aconteceu com Luís Cabral, só as provas das valas comuns com ossadas do suposto fuzilamento do grupo " Caso 17 de Outubro" foram apresentadas na pessoa do Procurador Geral da República de então, Amine Saad.
O mesmo Procurador Geral fez diligências no sentido de o Senhor General ser julgado em Portugal, tendo para isso solicitado ao governo português de então, o levantamento do seu estatuto de exilado, o que não conseguiu do governo português.
Excelência, Senhor General, antes de continuar a minha carta, deixo à sua consideração alguns registos do que se disse em relação à sua vontade expressa de regressar à Guiné-Bissau para ser julgado.
A
entrevista do ex-presidente João Bernardo "Nino" Vieira à Rádio
Renascença (de Portugal), retransmitida em Bissau pela RDP-África, está
também a dominar as atenções na Guiné- Bissau. A intenção de "Nino" Vieira de regressar a Bissau, depois de cinco anos de exílio em Portugal - para onde se deslocou após o fim da guerra de 07 de Junho de 1998/99 - com garantias de ter um julgamento justo, é encarada pelos populares com quem a Lusa falou hoje de manhã como "aceitável" e "legítima", porque "esta é a sua terra". Nos cafés e nas ruas da capital, as conversas giram invariavelmente em torno da pretensão do ex-chefe de Estado, embora a preconização de uma "reunificação das Forças Armadas" seja um assunto quase "tabu" que afasta as pessoas do assunto. O jurista Carlos Vamain, questionado pela Lusa sobre a pretensão de regresso de "Nino", defendeu que o ex-presidente, "se o Estado guineense quiser, pode ser julgado em Portugal", isto "à luz dos acordos judiciais existentes entre os dois países". O jurista entende que "esta solução facilita mesmo o preenchimento das condições impostas - um julgamento justo e com acompanhamento de instâncias internacionais - pelo ex-chefe de Estado". "Mas não nos podemos esquecer que, no passado, quando João Bernardo Vieira, na condição de presidente, mandou julgar oposicionistas, não lhes concedeu tais privilégios, não podendo, por isso, fazer exigências agora", disse, adiantando que "isso não significa que a justiça independente não seja um direito de todos os cidadãos". Fonte: Agência Lusa |
Regresso de «Nino» desvia atenções do
essencial para acessório A assumida vontade do ex-presidente guineense João Bernardo "Nino" Vieira de regressar à Guiné-Bissau "pode desviar o centro das atenções do essencial para o acessório", disse hoje à Agência Lusa Hélder Vaz, da Plataforma Unida (PU, oposição). Hélder Vaz, candidato a primeiro ministro pela coligação PU entende que "o problema da Guiné-Bissau é hoje Kumba Ialá - actual presidente da República - e não João Bernardo Vieira". "O país atravessa uma profunda crise económica, social e política, com as eleições em bolandas, sem que se saiba a data da sua realização e, por isso, não pode desviar as atenções do fundamental para uma questão que, sendo relevante, deve ter o seu tempo", adiantou. Vaz defende, todavia, que "depois de cinco ano no exílio - em Portugal, para onde foi depois da guerra de 07 de Julho de 1998/99 - o antigo presidente pode desejar regressar com legitimidade e para ser julgado". "Até porque o país tem necessidade de exorcizar todos os seus fantasmas, incluindo o fantasma `Nino´ Vieira, mas, neste momento, é essencial repor o debate no que é mais importante para a Guiné- Bissau", sublinhou, adiantando que, "mais tarde, será preciso encontrar uma solução para o regresso" de Nino. Em contrapartida, Idrissa Djaló, do Partido de Unidade Nacional (PUN, oposição), entende que "este é o momento ideal para discutir o problema" do regresso de "Nino" Vieira, porque "julgar este homem significa julgar todo um regime e isso pode ser fundamental para a discussão política eleitoral". "Nino" Vieira governou a Guiné-Bissau em regime de partido único desde o golpe de Estado de 1980, depois de derrubar Luís Cabral, até 1994, tendo ganho as primeiras eleições "livres" realizadas no país. Foi derrubado em 1999, depois de um conflito de 11 meses, iniciado a 07 de Junho de 1998. "É bem vindo para ser julgado no seu país, porque o governo tem a obrigação de criar condições para a aplicação da justiça com rigor a todos os cidadãos sem excepção. Enquanto problema pendente, já deveria estar resolvido há muito tempo e em nada colide com o essencial em discussão no âmbito das eleições que se avizinham", disse Idrissa Djaló. O eventual regresso do ex-presidente guineense está, entretanto, no centro das atenções do país político, com muitos populares a apoiarem inequivocamente a vinda de "Nino".. Depois da entrevista concedida à estação portuguesa Rádio Renascença e retransmitida em Bissau pela RDP-África, "Nino" Vieira saltou do "esquecimento" para a boca do povo com consequências, em ambiente eleitoral, ainda dificilmente mensuráveis. Fonte: Agência Lusa |
O ex-presidente da Guiné-Bissau João Bernardo "Nino" Vieira enviou uma
carta à Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) a pedir para
regressar ao país, onde, afirma, quer ser julgado, informou hoje o líder
da organização. Em declarações à Agência Lusa, Luís Manuel Cabral sublinhou que a carta foi-lhe enviada "recentemente" e que, nela, "Nino" Vieira afirma a sua disponibilidade para ser julgado na Guiné-Bissau. "Nino" Vieira presidiu a Guiné-Bissau a partir de 14 de Novembro de 1980, depois de liderar um golpe de Estado que destituiu o regime de Luís Cabral, até 7 de Maio de 1999, altura em que foi também derrubado após 11 meses de conflito político-militar. A carta, explicou Luís Manuel Cabral, foi recebida pela Liga a 10 de Outubro de 2003, mas acabou por ser "metida na gaveta", dado que o momento político da altura, "não era consentâneo com a divulgação" do pedido de "Nino" Vieira. "Acabávamos de sair de um golpe de Estado (três semanas e meia antes), não havia poder judicial nem um governo. Por isso, em concertação com as autoridades da transição, resolveu-se congelar a carta até à existência de um governo legítimo e de um poder judicial independente", explicou. Na missiva, a que a Agência Lusa teve acesso, "Nino" Vieira diz estar disposto a ser julgado em Bissau "ou por qualquer outra instância judicial da UEMOA (União Económica e Monetária Oeste- Africana), CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) ou da UA (União Africana)". Como contrapartida, o antigo chefe de Estado guineense, actualmente exilado em Vila Nova de Gaia, junto ao Porto, norte de Portugal, pede que lhe sejam "dadas garantias de um julgamento imparcial, não submetido a quaisquer pressões políticas". "Como cidadão, tenho direito ao bom-nome e boa reputação e é óbvio que ela tem estado a ser posta em causa pelo poder político da Guiné-Bissau e pelos "media" que reproduzem as acusações sem fundamento que me são feitas, com graves prejuízos morais para a minha família e para mim próprio", escreve "Nino" Vieira na carta. "No meu entender, só há uma maneira de limpar o meu nome e destruir a falsa reputação de criminoso que tem sido atribuída: é ser julgado publicamente pelos meus actos como homem e como governante", acrescenta o antigo presidente guineense. No missiva, "Nino" Vieira lembra que, em 1999 (7 de Maio), renunciou ao cargo de Presidente da República "em condições por todos conhecidas", tendo o poder político de então tomado o compromisso de respeitar os seus direitos de cidadão e de Combatente da Liberdade da Pátria. "Apesar desse compromisso, o poder político não se coibiu em, reiteradamente, produzir acusações falsas e sem provas a meu respeito, tendo inclusivamente retirado os passaportes à minha família e a mim próprio", sublinha o ex-chefe de Estado guineense. O antigo presidente realçou que o poder político de então, garantido pelo na altura primeiro-ministro do Gverno de Unidade Nacional, Francisco Fadul, lhe ter confiscado os seus bens e os da família da mulher, Isabel Romano Vieira, "sem sequer ter em conta o recurso às instituições judiciais". "Para cúmulo, o então Procurador-Geral da República (PGR), Amine Saad, actual líder do partido União para a Mudança (UM), permitiu-se lançar contra a minha pessoa gravíssimas acusações que iam do tráfico de armas, à corrupção e ao múltiplo assassinato. Acusações essas feitas sem provas e completamente falsas", acrescenta. "Na altura, o governo português (então liderado por António Guterres), de acordo com a lei, recusou-se a levar em conta as acusações então proferidas pelo Procurador-Geral Amine Saad, já que estas não tinham a menor prova", frisa "Nino" Vieira. A carta, de apenas uma página e dirigida a Luís Manuel Cabral, termina com "Nino" Vieira a solicitar os "bons ofícios" do presidente da Liga, de forma a que possa "ter alguma paz e respeito" pelos seus direitos de homem e de cidadão da Guiné-Bissau que afirma ser e que continuará a ser. Em declarações à Lusa, Luís Manuel Cabral sublinhou que a carta foi já por si entregue ao Ministério Público, ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ) e ao próprio governo, lembrando que cabe agora às autoridades judiciais resolver a questão. "Nino" Vieira é um cidadão como outro qualquer e a Liga tem por obrigação defender todos os cidadãos da Guiné-Bissau", afirmou Luís Manuel Cabral, acrescentando que a missiva foi também entregue aos embaixadores em Bissau de Portugal, França e Brasil. "Recebemos a carta numa altura em que o país estava numa situação conturbada e não a podíamos divulgar. Depois fizemos uma reunião da direcção nacional, em que entendemos por bem haver a necessidade de a divulgar. É uma carta de um cidadão nacional que já foi presidente da República, sublinhou Luís Manuel Cabral. Segundo o presidente da Liga, "Nino" Vieira "está a pedir" que seja julgado no país, razão pela qual "cabe ao poder judicial ver o que vai ou pode fazer". "Nino" Vieira diz na sua carta que houve acusações falsas contra a sua pessoa, o que põe em causa o seu bom nome, reputação e dignidade como homem. Pediu que a Liga intervenha, como organização credível que é e de carácter humanitária", acrescentou. Para Luís Manuel Cabral, é "óbvio" que a embaixada portuguesa em Bissau teria de receber uma cópia da missiva, pois Portugal, disse, "é a porta da Guiné-Bissau para a comunidade internacional". "Reconhecemos o papel que Portugal teve durante a crise de 07 de Junho (de 1998) e agora na fase de normalização do país. Mas também porque pertencemos a CPLP", concluiu. Fonte: Agência Lusa |
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Excelência, Senhor General, paralelamente a estes registos, não posso deixar de citar o recado que Kumba Yalá, Presidente da República da Guiné-Bissau à data do seu pedido em regressar e ser julgado lhe enviou a 19 de Junho de 2003:
" Nino Vieira só voltará à Guiné-Bissau quando ressuscitar todas as pessoas mortas no caso 17 de Outubro"
Depois da guerra civil de 98/99 e do período de transição cuja presidência esteve a cargo de Malam Bacai Sanhá e a chefia do governo a cargo de Francisco Fadul, foram realizadas eleições presidenciais e legislativas que deram vitórias a Kumba Yalá e ao PRS.
No entanto, o clima político e social continuou a ser um cliché de anteriores regimes.
Foi durante a presidência de Kumba Yalá que o General Ansumane Mané foi morto em condições até hoje não esclarecidas.
Alguns militares e civis foram presos arbitrariamente, torturados e mortos.
A sustentação do poder a qualquer preço, reforçou a promiscuidade com o poder militar, fazendo com que as Forças Armadas se tornassem num foco de instabilidade permanente no país.
Kumba Yalá contornou inclusivamente um outro órgão de soberania, o poder judicial, para melhor se orientar nas suas estratégias e decisões.
Crimes de natureza económica lesivos aos interesses nacionais foram uma constante.
Uma vez mais, o facto de não se prestar contas a ninguém foi crucial na derrapagem do Tesouro Público.
A liberdade de expressão foi duramente penalizada, principalmente no tocante à Comunicação Social.
Foi derrubado a 14 de Setembro de 2003, por um golpe de Estado que mais parecia um golpe de teatro e no qual os principais intervenientes eram seus amigos!
O golpe foi justificado como uma necessidade para repor a ordem constitucional.
Não foi criada nenhuma comissão para avaliar o exercício da sua presidência, ficando por isso impune às acusações e suspeições de que era alvo.
Tal como com Luís Cabral, tal como com o Senhor General, o uso da força era uma vez mais aplicado.
Uma vez mais as causas apresentadas para justificar o uso da força não tiveram o efeito prático através da Justiça, pois a impunidade continuou a prevalecer e ninguém foi processado por nada!
Um Comité Militar para a Reposição da Ordem Constitucional e a Democracia assumiu o poder. O General Veríssimo Correia Seabra, líder do golpe, autoproclamou-se Presidente da República.
Pressões internacionais levaram no entanto a que o Comité Militar aceitasse a formação de um governo de transição, bem como a nomeação de um Presidente interino.
Apesar disso, o Comité Militar é que detinha o poder na Guiné-Bissau.
A 6 de Outubro de 2004 uma revolta militar provocou as mortes do General Veríssimo Correia Seabra, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas e do Coronel Domingos Barros.
Nada se fez para que se apurassem responsabilidades sobre o ocorrido.
Uma vez mais a impunidade prevalecia no país, tendo o Secretário Geral das Nações Unidas, Koffi Anan, no seu relatório apresentado ao Conselho de Segurança a 22 de Dezembro de 2004 alertado para o seguinte:" Forças Armadas são obstáculo à paz"
Texto da resolução 1580 (2004) do Conselho de Segurança das Nações Unidas 22.12.2004 Relatório do Secretário GeralKofi Annan: Forças Armadas são obstáculo à pazNa sequencia da revolta militar de 6 de Outubro, existe agora a "percepção fortalecida" de que as forças armadas da Guiné Bissau são "o maior obstáculo à consolidação da paz e democracia" no país, segundo o secretário geral da ONU. Num relatório que foi hoje alvo de análise por parte do Conselho de Segurança, Kofi Annan adverte ainda que o fundo de emergência das Nações Unidas usado para o "funcionamento mínimo" do Estado está esgotado. Os 15 membros do Conselho de Segurança mantiveram "consultas" à porta fechada sobre o relatório de Annan, mas desconhecem-se pormenores das discussões. O mandato da missão da ONU de apoio à construção da paz na Guiné Bissau (UNOGBIS) termina no final do mês, e Annan propôs que o mesmo seja prolongado com um mandato "revisto" tendo em conta "as diversas tarefas que se avizinham e a importância de fortalecer a capacidade dos intervenientes nacionais de confrontar esses desafios". No seu relatório, o secretário geral da ONU faz notar que antes do motim de 6 de Outubro "a situação politica na Guine Bissau mostrava sinais de progresso e promessa", mas, "lamentavelmente", a revolta militar pôs em perigo os sucessos alcançados e "demonstrou a fragilidade do processo de transição e da sociedade como um todo". Depois de recordar os assassinatos de diversos destacados oficiais das forças armadas pelos revoltosos, Annan fez notar que o novo chefe de estado maior das forças armadas, o General Tagme Na Waire, foi proposto pelos revoltosos, pelo que a sua nomeação "foi largamente vista como uma cedência por parte das autoridades civis às pressões dos militares e como um sinal de mais erosão da autoridade do governo constitucional e das suas instituições". O relatório observa ainda que, além de muitos intervenientes políticos e "da sociedade civil" terem expressado as suas dúvidas sobre "a impunidade" dada aos revoltosos, o motim contribuiu também para "aumentar o perigo de polarização da sociedade da Guiné Bissau em linhas étnicas, especialmente tendo em conta a percepção generalizada de que a revolta foi inspirada por elementos Balanta das forças armadas que tencionam assumir controlo das instituções militares". Kofi Annan disse que a situação sócio-económica da Guine permanece em estado "crítico". O Fundo de Emergência de Administração Económica, criado por iniciativa do Conselho Económico e Social da ONU e administrado pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidass e que "tem estado a fornecer financiamento para necessidades sociais criticas e para o funcionamento mínimo do Estado em sectores prioritários, incluindo o pagamento dos salários dos funcionários públicos, esgotou-se e deixará de estar operacional no final do ano". O governo poderá contudo ter acesso a uma segunda prestação de 5,3 milhões de euros, de um pacote de 17,2 milhões de euros acordado com a União Europeia em 2001, desde que haja "um acordo de parâmetros macroeconómicos com o FMI". Para Kofi Annan, a situação de direitos humanos na Guiné Bissau é "preocupante", "especialmente tendo em conta que não foi feita nenhuma investigação oficial" aos assassinatos dos oficiais mortos pelos revoltosos no motim de Outubro. "Como consequência da revolta, os trabalhadores do sector publico (...) estão a tornar-se mais agressivos na defesa dos seus direitos económicos e sociais, o que faz aumentar as tensões existentes", aponta o relatório. Kofi Annan propôs ao Conselho de Segurança que prorrogue o mandato da UNOGBIS, revendo no entanto o seu mandato "para ter em consideração as diversas tarefas que se avizinham e a importância de fortalecer a capacidade dos intervenientes nacionais em confrontar esses desafios". |
O ano de 2005 foi de agitação para a Guiné-Bissau e V. Exa. contribuiu para isso.
Em Abril, ainda com o estatuto de exilado em Portugal regressou à Guiné-Bissau a bordo de um helicóptero militar da Guiné-Conacri, violando o espaço aéreo de um país soberano!
V. Exa. com essa atitude demonstrou ter força e poder para fazer o que bem entendesse.
Chegou pediu perdão e em simultâneo disse que perdoava também a todos que o tinham prejudicado...
Num ápice tornou-se candidato às presidenciais previstas para 19 de Junho.
O Sistema possibilitou a sua candidatura e a memória do passado recente foi abafada e manipulada por várias conveniências no intuito de servir interesses pessoais em detrimento dos interesses nacionais.
O Senhor General que em 2004 fez questão de ser julgado em defesa do seu bom nome nunca mais falou sobre o assunto. Mas será que esse assunto é um assunto que só diz respeito ao Senhor General, ou é antes de mais um assunto de interesse nacional e como tal deve ser esclarecido?
Das presidenciais de 2005 escrevi o suficiente para mostrar os meus pontos de vista sobre a questão.
Hoje mantenho tudo o que escrevi na altura.
V. Exa. foi dado como vencedor das eleições, portanto, foi eleito Presidente da República da Guiné-Bissau. Respeito a vontade popular, pois não tenho argumentos para contrariar os resultados, mas como lhe disse no início desta carta, não o sinto como meu Presidente!
Quando O Senhor General fizer questão de limpar o seu bom nome e reputação em relação às questões que lhe coloquei e às exposições que lhe apresentei, então poderei rever essa definição, isto, numa iniciativa meramente pessoal, pois é ao povo guineense que o Senhor General deve explicações!
O povo guineense quer a Reconciliação Nacional, mas é preciso sabermos onde e como começar. Penso que esta carta é oportuna para o efeito.
Sobre a Reconciliação Nacional quero relembrar-lhe o seu discurso de 20 de Fevereiro de 99.
Guiné-Bissau/governo: paz e reconciliação temas dominantes na posse Bissau, 20 Fev (Lusa) - A reconciliação nacional e a consolidação da paz na Guiné-Bissau foram hoje os temas dominantes dos discursos proferidos na cerimónia de posse do governo de unidade nacional. O presidente Nino Vieira, o primeiro-ministro Francisco Fadul, o secretário executivo da CPLP e o chefe do governo togolês, em representação do presidente do seu país, foram os oradores da cerimónia, enaltecendo os valores da paz e da reconciliação do povo guineense. Nino Vieira, num discurso de 14 páginas, declarou que a tomada de posse do governo de unidade nacional deverá constituir motivo de reflexão sobre todo o conflito, por forma a que haja uma "reconciliação nacional efectiva, justa e duradoura". Considerando que o governo hoje empossado é "um passo determinante para que o processo de reconciliação seja dotado de um instrumento institucional capaz de conduzir a esse objectivo", Nino Vieira fez questão de alertar para o facto de o processo de transição que agora se vai viver ser "duma extrema complexidade". "Devemos neste momento crucial questionar as nossas consciências", disse, acrescentando mais adiante que é absolutamente necessário "evitar os erros, as atitudes de desconfiança e a agressividade que podem adiar ou comprometer a reconstrução do estado e da nação". Por isso, Nino Vieira sublinhou que uma das primeira tarefas prioritárias do governo de Francisco Fadul terá que ser "contribuir para preservar o clima de concórdia e de confiança". Ainda no mesmo espírito, o presidente guineense realçou a importância do cumprimento do acordo de Abuja no que se refere ao desmantelamento do dispositivo militar resultante do confito, chamando particular atenção ao processo de repatriamento das forças senegalesas e da Guiné-Conacri. "Essa operação deverá continuar a processar-se com a dignidade de que são tão altamente merecedores os contigentes desses países irmãos", afirmou Nino Vieira no que pode ser entendido como a delicadeza de que se reveste esta questão. Falando ainda sobre os aspectos prioritários do novo governo, visando a consolidação da paz, o chefe de estado guineense chamou a atenção para a delicadeza de que se reveste igualmente a reunificação das forças armadas nacionais, considerando determinante e incontornável o acantonamento e o desarmamento das forças em presença sob o controle da Ecomog. Numa perspectiva de reconciliação nacional, Nino Vieira falou da "reestruturação do aparelho administrativo e da reanimação do sistema produtivo, sem que tal implique o esquecimento de medidas imediatas de apoio às populações deslocadas". Outra das tarefas apontadas ao novo governo diz respeito à organização das próximas eleições legislativas e presidenciais que, segundo Nino Vieira, deverão ser organizadas com eficácia e transparência e na mais rápida oportunidade. Durante a sua intervenção, o chefe de estado guineense lançou um apelo às forças independentistas de Casamança, em particular àquelas que alegadamente teriam lutado ao lado da Junta Militar, para que "se inspirem na reconciliação guineense e promovam as vias do diálogo como única e justa forma" de solucionar o conflito nesta região senegalesa. "Só com esse espírito é que se poderá viabilizar a urgente e absolutamente necessária saída do território da Guiné-Bissau das forças rebeldes de Casamança", afirmou Nino Vieira, sublinhando que o regresso daquelas forças ao Senegal "deverá, pois, inserir-se num processo de paz e entendimento e não transformar-se numa operação de guerra". Falando sobre a situação na Guiné-Bissau, o primeiro-ministro guineense, Francisco Fadul, afirmou que o país se encontra "gravemente doente" com o tecido social em rotura e a honra, o orgulho e o patriotismo ensonbrados e entristecidos. Francisco Fadul considerou, por esse motivo, a missão do actual governo "tão difícil e delicada quanto gratificante, pois que lhe incumbe promover a restauração da unidde nacional". O primeiro-ministro abordou no seu discurso quatro áreas que considera prioritárias na sua acção governativa, a primeira das quais assenta na cultura da paz, tendo em vista a consolidação da unidade nacional e o reencontro da família guineense. Para o cumprimento desse objectivo, Francisco Fadul defendeu a existência na Guiné-Bissau de um estado de direito democrático e de pluralismo politico-partidário, outra área que constitui prioridade do seu executivo. O relançamento do sector macro-económico, a luta contra a pobreza e a reinserção social são outras áreas assinaladas por Francisco Fadul, que pretende desenvolver acções profundas no regresso dos guineenses deslocados durante a guerra e dos quadros especializados e operadores económicos que igualmente abandonaram o país. O desenvolvimento de uma política externa que salvaguarde os laços de boa vizinhança e cooperação com o Senegal e a Guiné-Conacri foi outra das matérias versadas por Francisco Fadul, que sublinhou a propósito o facto dos povos dos três países nunca terem declarado a guerra. Por último, o primeiro-ministro dirigiu palvaras de agradecimento à comunidade internacional pelo seu contributo "para aproximar e reconciliar as partes guineenses antes em conflito", acrescentando estar ciente de que "o mundo vai orgulhar-se da nossa reconciliação". Nas outras duas intervenções efectuadas, quer a do primeiro-ministro togolês, Kwassi Klutse, em nome do presidente da CEDEAO, Gnassingbe Aeymdema, quer do secretário executivo da CPLP, Marcolino Moco, ouviram-se palavras de apelo à reconciliação dos guineenses e ao termo da guerra como meio de resolução dos conflitos. Kwassi Klutse chamou, a propósito, a atenção para as crises com que se confronta toda a África, salientando a necessidade dos dirigentes africanos meditarem profundamente sobre todo o trabalho que fizeram para garantir o futuro aos jovens. "Os nossos problemas são os conflitos, são as questões fratricidas e a miséria que provocam às nossas populações", disse o chefe do governo togolês, manifestando a sua satisfação pela reconciliação na Guiné-Bissau. Marcolimno Moco, secretário executivo da CPLP, realçou na sua intervenção o empenhamento dos países de língua portuguesa na solução do conflito da Guiné-Bissau, realçando que foi através deles que se conseguiu obter o primeiro cessar-fogo entre as partes beligerantes no país. Lusa/fim
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Aproveito ainda, Senhor General, para lhe fazer referência a mais 3 registos sobre o que a Sociedade Civil e a Igreja católica pensam sobre a Reconciliação Nacional.
REPÚBLICA DA GUINÉ-BISSAU ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL CARTA ABERTA A S. Exa. o Sr. Kofi Annan, Secretário Geral das Nações
Unidas |
ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL OSC-GB Resultante de parceria do Conselho Permanente de
Coordenação das Organizações da Sociedade Civil com a Faculdade de Direito de
Bissau, teve lugar nos dias 04 e 5 de Fevereiro de 2005, no anfiteatro Ricardo
Sá Fernandes, em Bissau, um Atelier para a "Criação de um Entendimento Comum no
seio das Organizações da Sociedade Civil sobre o Conceito da Amnistia e sua
Implicação no Processo de Justiça e Reconciliação Nacional".
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"Ouvi o clamor do meu povo"
"Ouvi o clamor do meu povo... Conheço, na verdade,
os seus sofrimentos" (Êx 3,7). São palavras de Deus dirigidas a Moisés,
enquanto o povo de Israel vivia debaixo da tirania do Faraó no Egipto.
Estamos certos de que Deus conhece também, e profundamente, a situação
de sofrimento e de aflição em que o nosso povo guineense ainda se
encontra, embora tenha conquistado a independência há pouco mais de
trinta anos, e estamos confiantes de que Ele ouve as nossas invocações e
atende os nossos pedidos. |
Como lhe disse, o tema 2 é o "ponto-chave" desta carta.
Penso que nenhum guineense pode ficar indiferente às exposições apresentadas.
Penso que nenhum guineense ficará fora do debate nacional sobre a Reconciliação Nacional.
Penso que o Senhor General se inclui nesse lote de guineenses!
3- Comissão Verdade e Reconciliação - Experiências de outros países
África do Sul COMISSÃO PARA A VERDADE E RECONCILIAÇÃO A Comissão para a Verdade e Reconciliação foi criada em 1995 pela Lei da Promoção da Unidade Nacional e da Reconciliação (Lei 34 de 1995), com o propósito de promover a unidade e reconciliação nacionais, num espírito de entendimento, por meio de:
A
Comissão, presidida pelo Arcebispo Desmond Tutu, com sede na Cidade do Cabo,
manteve três filiais, em Joanesburgo, Durban e East London. A sua primeira
reunião realizou-se na Cidade do Cabo, em 16 de Dezembro de 1995, dia em que no
país se comemora o Dia da Reconciliação. Todas as audiências efectuadas pela
Comissão foram públicas, excepto nos casos considerados de interesse da justiça
ou necessitando protecção pessoal, nos quais as audiências se realizaram em
câmara fechada. Para a tomada de decisão pelo Comité para a Amnistia, acerca da ligação de qualquer acto a um objectivo político, foram seis os aspectos com relevância:
Em Junho de 1997, o governo sueco doou 4,5 milhões de randes à CVR com o fim de
ser acelerado o tratamento dos pedidos de amnistia. Entre outras coisas, esta
soma destinava-se a cobrir as despesas incorridas com o pessoal responsável pela
coordenação do apoio e protecção concedidos às vítimas e às suas famílias
durante as audiências para fins de amnistia.
Programa de protecção de testemunhas
EM QUE CONSISTIU A COMISSÃO PARA A VERDADE E RECONCILIAÇÃO?
FINALIDADE E OBJECTIVOS
COMO ERA FORMADA A COMISSÃO PARA A VERDADE E RECONCILIAÇÃO?
A. Comité para as Violações dos Direitos Humanos
Era da competência deste Comité:
Após as vítimas e as testemunhas terem contactado a Comissão, competia ao Comité para as Violações dos Direitos Humanos a recolha e análise das respectivas declarações. Após isto, este Comité solicitava algumas vítimas e testemunhas a prestar um depoimento público onde têm a oportunidade de narrar as suas histórias. Embora nem todas as vítimas e testemunhas fossem convidadas a prestar depoimentos, todas as declarações foram tratadas com o mesmo cuidado e tomadas em consideração no relatório final.
B. Comité para a Amnistia
Este Comité possibilitou audiências públicas, a fim de melhor poder decidir se devia ou não conceder amnistia. Estas audiências destinavam-se geralmente às pessoas que tenham cometido graves violações dos direitos humanos por motivo político.
C. Comité para a Indemnização e Reabilitação
SERVIÇO DE INVESTIGAÇÃO
PREVENÇÃO DE GRAVES VIOLAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS NO FUTURO
PROMOÇÃO DE UMA CULTURA DE DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS
UMA MENSAGEM DO PRESIDENTE DA COMISSÃO
UMA MENSAGEM DO VICE-PRESIDENTE DA COMISSÃO Fonte: Embaixada da República da África do Sul em Portugal |
Revista "MUNDO e MISSÃO" Atualidades no Mundo - Américas
Fonte: http://www.pime.org.br |
Perú Comissão da Verdade quer ouvir a 12 mil pessoas LIMA, Perú, Junho 21, 2002 O Conselho Nacional Evangélico do Peru (CONEP) e a Associação Paz e Esperança organizaram mesa redonda, na quinta-feira, 20, com líderes de igrejas sobre o papel da Comissão da Verdade e Reconciliação (CVR), criada pelo governo para levantar as violações aos direitos humanos ocorridas no país entre 1980 a 2000. Humberto Lay Sun, pastor da Igreja Bíblica Emmanuel e presidente da Fraternidade Internacional de Pastores Cristãos (FIPAC), enfatizou os requisitos para os peruanos alcançarem a reconciliação. Já o presidente do CONEP, pastor Dario López, criticou as igrejas evangélicas por causa do silêncio exercido durante a ditadura do presidente Alberto Fujimori (1992-2000) e pediu mudanças na conduta pública da Igreja. Resultado da permanente deterioração que se traduziu em crise nos últimos 20 anos, o Peru atravessa uma situação muito delicada nos aspectos econômico, social e político, mas sobretudo moral, alertou Lay." Todos nós somos testemunhas e até mesmo sofremos as conseqüências do elevado grau de corrupção e violência que o país sofreu. Os numerosos casos de violação dos direitos humanos deixaram marcas profundas", disse. A igreja evangélica, lamentou, permaneceu à margem da problemática nacional, apesar de Deus lhe falar todo esse tempo. Lembrou que foi o governo de transição do presidente Valentín Paniagua que constituiu a Comissão da Verdade em 2000, ampliada pelo presidente Alejandro Tolego, e que passou a se denominar Comissão da Verdade e Reconciliação. Lay integra a Comissão e garantiu que ela tem mandato para apontar responsabilidades nos casos de violações aos direitos humanos. A Comissão também poderá formular propostas de reparação às vítimas e seus familiares. "Uma coisa terrível que as pessoas sofreram nesses 20 anos foram as humilhações", praticadas tanto pelos militares como pelos insurgentes. "Isso gerou muita dor, destruição, despojo e feridas profundas, que requerem uma forma de restauração se quisermos construir um Peru melhor", declarou. Segundo o pastor, a Comissão também poderá recomendar reformas institucionais, legais, educativas e outras, para eliminar os fatores que causaram situações de violência, e para que não voltem a se repetir. Lay relatou que num importante setor da sociedade peruana existem fortes ressentimentos contra o Estado, porque está profundamente vexada. Nas audiências da Comissão isso fica claro. Explicou, porém, que a Comissão não está reabrindo feridas, porque elas foram abertas ao longo dos anos. Bem por isso, defendeu, a Comissão tem que iniciar o processo que leve à reconciliação. A reconciliação é um imperativo, mas não vem por si só e passa pela verdade, justiça e perdão. "A verdade foi ocultada nesses anos e a grande maioria não conheceu a gravidade dos acontecimentos. Não haverá reconciliação com esquecimento", proclamou. Uma primeira tarefa da Comissão é escutar as pessoas que sofreram abusos. A Comissão estabeleceu como meta ouvir 12 mil testemunhos. "É doloroso e arrebentam o coração somente ouvi-los. Mas a verdade tem que sair à luz para se alcançar a reconciliação", definiu. Já o pastor Dario López lamentou que os evangélicos façam uma péssima leitura da Bíblia quando se trata de assuntos de preocupação social, de apoiar o mais fraco. "Vemos esses assuntos fora das coisas espirituais", disse. Por isso, alguns líderes rechaçaram a idéia de defender os direitos humanos como tarefa das igrejas e dos cristãos. "Não podemos pedir aos cristãos que se comportem como cristãos, mas podemos pedir, sim, aos evangélicos que atuem como cristãos", acrescentou. E prosseguiu: "Como explicar que se chegasse às graves violações dos direitos humanos num país onde 85% da população se dizem católicos e 12% se declaram evangélicos? Como é possível que, com mais de 600 evangélicos assassinados e milhares de desenraizados, não fomos capazes de denunciar o que estava acontecendo?" Se os evangélicos tivessem maior consciência do que a Bíblia ensina sobre o caráter de Deus e da exigência que Ele faz aos que o conhecem ou dizem conhecê-Lo, provavelmente a história teria sido outra, assinalou. Dario López é cético. Ele acha difícil que com as investigações da Comissão se chegue automaticamente à reconciliação, mas entende que o surgimento de uma nova consciência entre os evangélicos venha a modificar a postura pública dessa família religiosa. Além de Lay e López, a mesa redonda, denominada Conversatório em torno da Verdade e Reconciliação: Desafios à Igreja Evangélica, também reuniu o diretor da Associação Paz e Esperança, Alfonso Wieland, e o coordenador da Rede de Apoio à Comissão da Verdade e Reconciliação, Yván Ruiz. Fonte: http://www.alcnoticias.org |
DOCUMENTO -
Colômbia DECLARAÇÃO FINAL Essa Declaração resulta do esforço conjunto da Igreja, organizações do governo, ONGs e sociedade civil em geral, os quais reuniram cerca de 800 participantes. Nos meses anteriores, os "desafios" a que o texto alude se centraram em impasses governamentais de natureza jurídica, social e política. Eles implicam na "aplicação da justiça" além de qualquer "impunidade" justamente na retomada do processo de "desmobilização das Autodefensas Unidas de Colômbia (AUC)", interrompido desde dezembro de 2004. O instrumento concreto visado é um "projeto de lei sobre verdade, justiça e reparação" que deveria conciliar os direitos sociais mais antigos (à terra, por exemplo) com os direitos políticos dos membros das AUC. Outras duas circunstâncias concorreram para o documento: a celebração da Campanha pela Paz na Colômbia promovida pela Cáritas Internacional e a comemoração dos quarenta anos da Constituição Pastoral Gaudium et Spes (do Concílio Vaticano II). Os participantes mais ativos da reflexão foram personalidades como Luis Carlos Restrepo, Alto Comissário para a Paz; Carlos Gaviria, senador da República; Michael Fruhling, da Organização das Nações Unidas (ONU); Angelino Garzón, governador da província do Valle e o vice-presidente da Conferência dos Bispos de Colômbia, Luis Augusto Castro, também membro da Comissão Nacional de Conciliação, além de um bom número de prelados, religiosos, representantes do governo nacional, diplomatas, professores universitários de direitos humanos etc. Em editorial assinado por Alejandro Ângulo e intitulado "Igreja y reconciliación", o Centro de Investigación y Educación Popular (CINEP) comenta a dificuldade de elaborar referências para tais "mecanismos da justiça, que são as brechas por onde o sistema colombiano faz mais água, (...) [já que] a impunidade atinge níveis superiores à média tolerável para os países funcionarem". Daí a recomendação de "pensar o sistema em crise, mas não lhe atribuir uma completa deterioração nem sucumbir à ilusão de crer que mais barato resulta construir um novo do que reparar os estragos no atual". De algum modo foi identificado com clareza o "enfrentamento entre a tendência tecnológica da justiça, em oposição a sua compreensão política, sublinhando-se como a primeira corresponde ao estilo globalizante neoliberal, capitaneado pelo comércio e as finanças, enquanto a segunda responde ao desejo humanista comprometido com o desenvolvimento das pessoas e da sua convivência pacífica". De um lado, "os que privilegiam o enriquecimento rápido e o consumo suntuoso típicos da acumulação insensata de dinheiro, (...) [onde] a justiça tem que se ocupar de regular os contratos civis, mas não pode ter demasiadas considerações com os civis contratantes". De outro, "os que pensam que o desenvolvimento é um problema de crescimento das pessoas e de ampliar suas possibilidades, a justiça tem que começar por garantir os direitos econômicos, sociais e culturais, ou seja, os direitos humanos. Esse enfrentamento do sistema de direitos é uma das dimensões do conflito social colombiano". Sem dúvida, "metas políticas e econômicas prevalecem dentro de uma racionalidade mortífera", dificuldade básica da reconciliação que não foi ventilada "porque no grupo de trabalho não havia participantes que defendessem esse tipo de racionalidade, apesar destes abundarem na Colômbia claramente". Nesse editorial de CINEP, aqui citado como forma de iluminar a leitura do presente Documento, reconhece-se o surgimento de "algumas propostas interessantes, a partir da bem sabida norma de que a justiça é assunto demasiado importante para ficar só em mãos de advogados. (...) Com efeito, o que se afirma é que o sistema de direitos ou vira assunto de todos os integrantes da sociedade ou não será conseguido". Convocados pela Conferência Episcopal Colombiana, através do Secretariado Nacional de Pastoral Social e da Cáritas Colombiana, ao Terceiro Congresso Nacional de Reconciliação, cujo tema foi "Se queres a paz, trabalha pela justiça", representantes da Igreja Católica, de outras Igrejas, organizações e instituições sociais e membros da comunidade internacional centramos nossa análise, reflexão, leitura na fé e compromissos em torno da justiça como condição indispensável da reconciliação. Partindo da escolha de quatro grandes eixos temáticos (Desafios da aplicação da justiça na Colômbia; Justiça e direitos econômicos, sociais e culturais; Verdade, justiça e reparação e Justiça e direito à Terra), fundamentamos nossa visão acerca destes aspectos da realidade a partir da Palavra de Deus e da Doutrina Social da Igreja, quando afirma:
1. O país vive um demorado processo histórico de crise social e negação dos direitos humanos, tendo degenerado num conflito armado que se degradou através de infrações ao direito internacional humanitário, da incorporação de práticas corruptas nos níveis de administração pública e, no setor privado, com o narcotráfico, o terrorismo e outras ações criminosas. Constatamos que, apesar dos esforços realizados para lograr uma maior afirmação da justiça colombiana, a situação permanece preocupante e se manifesta nos altos índices de impunidade. A realidade social e política supera em muitos casos a normatividade e operatividade da justiça. Observamos igualmente a grande desconfiança e inconformidade de nossa população frente à justiça, como também os elevados níveis de ingovernabilidade e descontrole público percebidos nestas populações. Por conta disso, torna-se complicado o estabelecimento de um marco legal que viabilize o processo em aspectos concretos, a exemplo da desmobilização dos diversos grupos armados. Some-se a isso a dificuldade de uma verdadeira legislação de nossos direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais, sem os quais resulta improvável conformar um processo de paz. É preciso reafirmar as conseqüências perversas de um processo de globalização que prioriza o econômico ao invés do social e os grandes interesses particulares em lugar do bem comum. As entidades financeiras internacionais continuam detendo uma influência determinante sobre as políticas governamentais, em detrimento das políticas nacionais que, logicamente, deveriam levar em conta o investimento social como um aspecto fundamental do desenvolvimento sustentável. A situação do mundo agrário, da propriedade fundiária e do uso adequado da terra e da água nos revela também uma realidade de empobrecimento e iniquidade. Fenômenos como o latifúndio e a concentração da terra em poucas mãos, muitas das vezes por vias violentas, têm gerado o deslocamento forçado dos camponeses para os núcleos urbanos, não sem antes convertê-los seja em reféns e escudos humanos seja em população estigmatizada como supostos cúmplices dos grupos violentos. A fronteira agrária da Colômbia tem sido tomada por grandes extensões de pecuária em razão de médios e mega projetos agro-industriais, os quais produzem, em sua mecânica econômica, a concentração da terra, dos bens de capital e o empobrecimento e virtual desaparição do setor campesino. Unido aos processos de abertura de mercado, com tratados bilaterais e multilaterais de livre comércio, este panorama põe em risco tanto a segurança como a autonomia e a soberania alimentar dos colombianos. 2. Confrontados com esta realidade, consideramos que o país tem que apostar definitivamente no esclarecimento de todos os fatos violentos e repugnantes (massacres, desaparições forçadas, sequestros etc.) que vêm ferindo profundamente famílias e comunidades inteiras, enterrando-as na desesperança. A criação de Comissões de Verdade e a recuperação da memória histórica são fundamentais para a reconciliação dentro de um quadro de justiça restaurativa que implica a reparação. Estamos convencidos que não haverá paz sem justiça social. Por tal motivo nos preocupa a pauperização de nossa população e a exclusão de muitos enquanto sujeitos do Estado. Acompanhamos atentamente os debates ocorridos no Congresso da República sobre projetos de leis como o que trata da Justiça e paz (envolvendo o status político dos grupos armados, o crime político, a figura e o fenômeno do terrorismo) e o que regulamenta a Proteção dos bens e das terras das pessoas deslocadas. Tudo isso deve levar à definição de um marco legal objetivo e viável que conduza à aproximação das partes e à criação de espaços estáveis de diálogo. 3. Os participantes deste Terceiro Congresso Nacional de Reconciliação nos sentimos chamados como Igrejas vivas e como membros da sociedade civil a nos mantermos numa atitude de análise e reflexão sobre estas realidades, discernindo segundo a iluminação do Evangelho, os aportes da Doutrina Social da Igreja e os saberes de nossos povos para a construção de propostas viáveis e concretas que levem à superação integral do conflito que estamos suportando. Diante de algumas propostas formuladas por diversos setores políticos e estatais que buscam estabelecer um enquadramento legal para viabilizar processos de desmobilização de atores armados, devemos ressaltar que as leis não podem amparar a impunidade, ainda que sob a boa intenção de propiciar a paz no país. Achamos necessária a presença, neste processo de reconciliação, de todos os grupos armados, do Estado e da sociedade civil, bem como do acompanhamento e do respaldo da comunidade internacional a todos os esforços para a restauração da justiça social, da paz e da reconciliação. Reiteramos a opção de todos os participantes deste Terceiro Congresso de assumir as soluções do conflito armado pelos caminhos do diálogo, assumindo a via política e mantendo o sentido da esperança na possibilidade que temos os colombianos de praticar os valores humanos, deixando de lado, portanto, as estratégias violentas e armadas. Considerando o papel fundamental da sociedade civil, a convidamos a assumir uma atitude crítica e analítica que a comprometa em sua responsabilidade social, rompa com a indiferença e sinta como própria a reconstrução do país e do Estado Social de Direito. Respaldamos a liberdade de imprensa e fazemos um chamado aos Meios de Comunicação e ao Estado para que permitam um jornalismo responsável, transparente e ético, comprometido com a verdade e a análise real da situação do país. Nos unimos ao sentimento da base social na necessidade de realizar acordos humanitários que ajudem a diminuir a dor das vítimas. Convocamos a classe dirigente nacional a assumir a vontade e a disciplina políticas suficientes e os setores empresariais, operários e camponeses a comprometer a vontade e a disciplinas sociais requeridas para tornar viáveis a construção e a realização de políticas, programas e processos que gerem as transformações estruturais necessárias para a recuperação e colocação em vigor dos direitos integrais como fator condicionante para uma reconciliação com justiça social e a consequente paz sustentável. Neste panorama de inadequada posse e uso da terra, graças à qual muitos camponeses vivem desnutridos e comunidades urbanas e rurais inteiras carecem de água potável, incitamos os congresistas e governantes a implementar uma política agrária que possibilite a reconstrução do setor agrário campesino, o respeito a suas organizações, a recuperação das terras dos pequenos agricultores, a conservação da água e o reconhecimento da terra e da biodiversidade como patrimônios nacionais voltados prioritariamente ao desenvolvimento de condições de vida digna para todos os colombianos, compartilhando solidariamente com o resto do mundo nossos produtos e ecossistemas. Para tanto, faz-se crucial um verdadeiro consenso em torno do que implica a justiça e do como se dá sua aplicabilidade, bem como a recuperação de práticas circunscritas à verdade, ao direito e à depuração dos distintos estamentos públicos e privados a que tenhamos acesso. Finalmente, convidamos todos os colombianos e colombianas a manter a esperança firme e o compromisso solidário pela reconstrução e vigência da justiça das instituções sociais e estatais, a recuperação da qualidade da educação, da saúde e da reforma agrária, a geração de fontes de emprego devidamente remunerados, o combate ao narcotráfico, à corrida armamentista e a toda forma de corrupção pública e privada, enfim, de tudo o que um verdadeiro Estado Social de Direito requer, de modo que todos sejamos gestores do desenvolvimento e da justiça para a paz integral. Fazendo eco aos Papas Paulo VI e João Paulo II, somos conscientes que a justiça, o desenvolvimento e a solidaridade são o novo nome da paz, condições e exigências para a reconciliação entre os colombianos e colombianas.
Conferência
Episcopal Colombiana Fonte: http://www.ceas.com.br/cadernos
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COMISSÃO DE ACOLHIMENTO, VERDADE E RECONCILIAÇÃO DE TIMOR LESTE
O que é a Comissão de Acolhimento, Verdade e
Reconciliação?
A Comissão é um mecanismo
nacional independente que assistirá a reconciliação entre timorenses e
procurará encontrar a verdade relativa à violação de direitos humanos
cometidos entre 1974 e 1999. A Comissão foi inicialmente proposta pelo
CNRT. Posteriormente, estabelecida como uma comissão composta por
representantes do CNRT, seis timorenses, ONGs, ACNUR e a divisão de
Direitos Humanos da UNTAET. Esta Comissão deslocou-se à todos os
distritos para auscultar a opinião pública em relação a ideia de criação
da mesma. Depois do Conselho Nacional ter aprovado o
regulamento
que estabelece a Comissão, este mesmo regulamento transformou-se em
Lei em Timor Leste. Quem será responsável pela Comissão?
A Comissão será um órgão
independente composto por 5-7 comissários nacionais, que serão
seleccionados com base nos seus conhecimentos, integridade e engajamento
na defesa dos princípios de direitos humanos. As nomeações públicas serão
recebidas por um painel de selecção, presidido pelo Administrador
Transitório. A Comissão estabelecerá seis escritórios regionais e serão
chefiados pelos respectivos chefes regionais, nomeados através do mesmo
processo . Quando é que iniciará a selecção dos comissários?
O Painel de selecção para
os Comissários foi recentemente estabelecido . O Painel efectuará
consultas logo depois às eleições e seleccionará os melhores candidatos
para a Comissão. A Comissão funcionará durante
dois anos (extensão de seis meses se necessário for) e elaborará um
relatório e recomendações para o Governo. Prevê-se que a Comissão inicie
seus trabalhos no fim de 2001. O que fará a Comissão?
A Comissão exercerá três
funções principais: 1. Procura da verdadeA Comissão investigará a
verdade sobre violação de direitos humanos ocorrida em Timor Leste entre
25 de Abril de 1974 e 25 de Outubro de 1999. A Comissão efectuará
investigações especiais e pesquisas históricas e anotará declarações à
nível nacional. Para permitir a procura da verdade, a Comissão terá
poderes de convocar pessoas para apresentação de provas perante a mesma. 2. Reconciliacao da ComunidadeA Comissão defende o principio
segundo o qual a reconciliação genuína requer justiça e os indivíduos têm
de aceitar a responsabilidade das suas acções. Pessoas que cometeram
crimes menos graves devem contactar a Comissão e solicitar que seus actos
sejam tratados pela Comissão. O Painel de lideres locais, presididos por
Comissários Regionais convocarão reuniões com os perpetradores, vitimas e
membros das comunidades locais. Os crimes serão discutidos, acordos serão
propostos, onde os perpetradores poderão executar trabalhos comunitários
ou reembolsar ou pedir desculpas publicas. Se este processo for concluído
o Tribunal do Distrito emitirá uma ordem para que os crimes abordados não
sejam processados no futuro. 3. Relatorio e RecomendaçãoNo fim deste trabalho a
Comissão elaborará um relatório que será um testemunho histórico
importante em relação a extensão, causas e responsabilidades das violações
de direitos humanos que ocorreram entre 1974-1999. A Comissão emitirá
recomendações em relação à reformas legais e institucionais para
salvaguardar o respeito pelos direitos humanos no futuro e promover a
reconciliação nacional. Que tipos de crimes a Comissão tratará no processo de
reconciliação na comunidade?
A Comissão poderá trabalhar
com crimes menos graves tais como roubos, assaltos menores, incendio de
residências, matancas de animais, destruição ou roubo de produtos
agrícolas no contexto do conflito político de Timor Leste . Como é que a Comissão tratará os crimes graves?
A Comissão não poderá tratar
de crimes graves, tais como assassinatos, violações ou organização da
violência durante o processo de reconciliação comunitário. Contudo, a
Comissão poderá ouvir testemunhas ou anotar declarações de vitimas,
perpetradores e testemunhas em relação à crimes graves através do seu
processo de procura da verdade. Provas sobre os crimes graves que
surgirem no decurso dos trabalhos da Comissão serão remetidas para os
tribunais. Porque razão a Comissão inclui a palavra acolhimento
no seu titulo?
Deve-se ao facto da Comissão
oferecer aos timorenses que regressarem de Timor Ocidental ou continuem
por lá, uma forma nao so ordeira e pacifica mas tambem de serem recebidos
fraternalmente nas suas proprias comunidades. Como actuará a Comissão em relação aos crimes
cometidos pela Indonésia ou por aqueles que permanecem na Indonésia?
Embora a jurisdição da
Comissão seja limitada à Timor Leste, esta pode efectuar audições fora de
Timor Leste. Colherá provas que poderão ser usadas em procedimentos
criminais pela Indonésia ou pela comunidade Internacional. Como será financiada?
A Comissão será fundada de
forma independente por doadores internacionais alguns dos quais já
prometeram o seu apoio. Como posso participar na nomeacao de Comissarios?
Podera participar no processo
de nomeacao discutindo na sua communidade quais sao as melhores pessoas
para desempenhar a funcao de Comissarios Nacionais e Regionais. Estas pessoas devem ser
escolhidas devido:
Os Comissarios Nacionais tem
toda a responsabilidade para exercer as funcoes do mandato da Comissao.
Havera 5 – 7 Comissarios Nacionais, todos timorenses com a possibilidade
de haver um ou dois comissarios internacionais. Pelo menos 30% devem ser
mulheres. No mes de Outubro de 2001, o
Painel de Seleccao composto por 12 homens e mulheres representando o amplo
espectro da sociedade de Timor Leste, efectuara consultas em todos os
distritos para auscultar as propostas de nomeacoes de Comissarios
Nacionais e Regionais. Voce podera indicar pessoas durante tais
consultas. Alternativamente, voce ou a sua organizacao poderao enviar uma
carta a nomear pessoas ao Painel de Seleccao. O Painel de Selecao
consultara tambem representantes de Timor Leste que ainda se encontram em
Timor Ocidental. Comissões Verdade e Reconciliação Comissões Verdade e Reconciliação (CVR) foram criadas em diversos países para resolver casos de transição após situações de violações de direitos humanos em larga escala. “A filosofia que está por detrás da comissão é que em qualquer conflito há demasiada criminalidade para que o sistema normal dos tribunais a possa tratar” diz Patrick Burgess, director do Serviço de Direitos Humanos da UNTAET (Mark Dodd online, jornalista do Sydney Morning Herald, 23-1-01). Outro argumento é que “teoricamente fazer emergir a verdade é mais importante para a cura nacional que pôr pessoas na prisão” (Washington Post, 19-12-99). Priscilla Hayner que analisou 21 CVR e escreveu o livro “Unspeakable Truths: Confronting State Terror and Atrocity”, considera que as CVR não substituem os procedimentos criminais “pelo contrário” afirma “devem contribuir positivamente para a justiça e os julgamentos, em último caso” pelo Tribunal Criminal Internacional (TCI) quando este começar a funcionar. Hayner e algumas organizações que trabalham nessa área consideram que CVR e tribunais podem ser complementares porque se constatou por exemplo que o Tribunal Internacional das NU para a ex Jugoslávia não toca as experiências da grande maioria das vítimas (Richard Goldstone, The American Prospect, 12-3-01).
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