CASOS CLÍNICOS - VÁRIOS
J.TAVARES, MD, FCCP, FAASM
27.05.2008
Casos Clínicos:
A- RELACIONADOS COM MÉDICOS/FAMILIARES DE MÉDICOS
1- Um indivíduo de 42 anos de idade, cardiologista de profissão, com história de asma, vinha-se queixando durante 7 dias, de dores no quadrante superior esquerdo do abdómen, obstipação e alguma náusea.
Como bom cardiologista que é, pediu a uma técnica para lhe fazer um electrocardiograma que foi normal; começou a tomar Ibuprofen, com ligeiro alívio dos sintomas; passados 7 dias, a esposa (médica de família) nota-lhe uma certa palidez, febre e debilidade.
Foi levado ao serviço de emergência.
Na altura, eu estava a preparar-me para ir jogar futebol (soccer) com os internos e recebi uma chamada de um outro colega: ”vamos precisar de ti para continuar a tratar este meu amigo, que tudo indica, tem colecistite aguda: tinha dor na palpação do quadrante superior direito do abdómen, febre e leucocitosis (wbc=22000); o TAC do abdómen (ver figura) confirmou o diagnóstico e o colega foi levado à sala de operações para extracção da vesícula, que revelou uma colecistite gangrenosa (ver figura).
Cholecystitis
Vesícula
Quando cheguei ao hospital, o doente já estava no pós-operatório (pacu), extubado, mas a saturação do oxigénio era só 82% (com 100% suplemento de oxigénio através da máscara); na altura, dei ordens para pôr o doente em BIPAP (12/5), com melhoria da saturação.
A radiografia torácica mostrou pneumonia no pulmão esquerdo, que não estava presente antes da cirurgia (provavelmente aspirou o conteúdo gástrico durante a fase de indução de anestesia). Ver radiografias.
Radiografia antes da cirurgia
Radiografia depois da cirurgia
Fazendo tratamento com antibióticos recomendados pelo especialista de doenças infecciosas, fluidos e BIPAP, a situação clínica melhorou e teve alta 5 dias depois.
a) O pior médico é aquele que tenta autotratar-se.
b) Não é fácil tratar um médico (neste caso, ele estava sempre a interferir com o tratamento: porque não aumentas os fluidos? Porque não mudas de antibióticos, etc. e, pior ainda: a mulher é médica, a sogra é anestesiologista, o irmão é cardiologista e eram mais de 15 médicos amigos dele, todos a quererem meter a colher na sopa); mas felizmente, tudo correu bem.
B- DR. HANNA’S WIFE
Como habitual aos sábados (2 ou 3 sábados/mês), levanto-me às 4 da manha para ir correr (jogging), depois vou ao hospital para ver os doentes e geralmente tento acabar as minhas rondas às 11 da manhã (é sempre um dia especial para mim, porque vou com o meu filho ao Denny’s ou Ihop tomar o pequeno almoço e conversamos sobre tudo. É sempre especial para mim...).
Nesse sábado, cheguei ao hospital às 6 da manha e enquanto estava a ver um doente, uma dessas enfermeiras do turno da noite que nunca param de falar, como habitualmente, começou a desbobinar, mas chamou-me a atenção o nome de Hanna e esposa: o Dr. Hanna (um cirurgião originário das Bahamas, na minha opinião, o melhor que temos aqui na cidade e que sempre consulta o sector saúde do CONTRIBUTO para rever radiografias e TAC’s) voltou a casa na noite anterior e achou que a mulher estava a agir de uma forma estranha: um momento a chorar, noutro momento a rir e tinha um andar desequilibrado e certa anisocoria. De imediato levou-a ao serviço de emergência e o TAC à cabeça revelou um tumor (2x3cm); na opinião do neurocirurgião de emergência, muito provavelmente se tratava de um glioblastoma e aconselhou o Dr. Hanna a contactar um dos melhores centros do mundo, com um dos melhores especialistas a lidar com este tipo de tumor; imediatamente ela foi levada de helicóptero ao centro de cuidados intensivos neurocirúrgicos na UCLA, fizeram-lhe a biopsia e agora está em tratamento.
Votos de melhoras para a tua esposa; espero ver-te em breve.
C- Uma residente, agora já no penúltimo mês do internato complementar de medicina interna foi encontrada inconsciente no parque de estacionamento do hospital, perto do seu carro. Finalmente, conseguiram despertá-la, mas estava quadriplégica (tetraplégica); aparentemente, como houve um temporal muito forte na noite anterior (ventos a mais de 120km/h) um objecto pesado embateu-lhe na coluna cervical-c3-c4).
Foi de imediato transportada ao nosso serviço de trauma (UMC- onde, para os que não sabem, faleceu o saudoso Tupac Shakur - rap singer). De imediato, recebeu altas doses de asteróides (o diagnóstico de presunção era Spinal Cord Compression - Compressão Aguda da Medula).
2 Dias depois, já movia mais os membros e felizmente vai poder assistir à graduação.
Lição: Se desconfiarmos de Compressão Aguda da Medula, a medida mais eficaz, além de chamar o neurocirurgião, é dar altas doses de corticoesteróides intravenosamente.
D- SEMPRE A MALDITA COCAÍNA
Uma jovem de raça negra, de 32 anos de idade, com hipertensão (não tomando medicamentos), foi trazida aos serviços de emergência pelo 911 (amr) inconsciente; como quase não respirava, foi entubada.
O TAC da cabeça (ver imagens) mostrou uma hemorragia de 2x3 cm na região pontina/bulbo.
Agora está entubado, num ventilador, esperando pela traqueotomia (porque a localização da hemorragia abrange o centro da respiração).
cocaine-hemorrhage
cocaine-hemorrhage-2
Mais uma vida desperdiçada pela cocaína.
E- UMA OUTRA FACETA DA TUBERCULOSE
Um jovem de 20 anos de idade, a cumprir a sua sentença na penitenciária estatal, começou com dores do peito, tipo dores pleuríticas; isto depois de levantar pesos no pátio da prisão.
Foi trazido pelos guardas prisionais aos serviços de emergência onde a radiografia (ver figuras) mostrou uma efusão pleural massiva. A toracentese foi negativa e fez uma broncoscopia que foi positiva para AFB (TB). Como a efusão era muito grande e não melhorou com a toracentese, causando dispneia, teve que se fazer uma decorticação.
Começou-se o tratamento com 4 agentes antituberculosos.
Efusão 1
Efusão 2
Efusão 3
Sugestão: rever o diagnóstico e tratamento da efusão pleural de origem tuberculosa.
F- VISITANTES/TURISTAS
Um conselho a todos: se vierem de visita aos Estados Unidos, comprem um seguro de saúde, porque nunca se sabe; as despesas podem custar um balúrdio.
Uma senhora de origem escocesa, veio de visita a Las Vegas com o filho; às 11 da noite, começou com dores do peito e dispneia.
De imediato, foi levada ao hospital, e um ECG foi efectuado (ver figura — para colegas, se não sabem o diagnóstico, é melhor mudarem de profissão).
O cardiologista de imediato levou a paciente para o cath lab.
Foi tratada e 3 dias depois está a caminhar com a ajuda da fisioterapeuta.
Electrocardiograma
Por cada dia nos cuidados intensivos, o doente paga: 1500 a 2000 dólares para o hospital, 75 a 300 dólares a cada um dos médicos a tratar do doente, mais 500 a 1500 dólares pela cateterização (imagine um doente sem seguro). Felizmente, esta senhora tinha seguro de saúde.
Sugestão: rever muitos electrocardiogramas (pode salvar muitas vidas).
G- AUTOTRATAMENTO POR PARTE DO DOENTE
Um indivíduo de 45 anos de idade, com o diagnóstico de estenose do esófago, foi trazido ao hospital por causa de terríveis dores do peito.
Segundo a esposa, engasgou-se com um pedaço de carne, que não passava para o estômago e, como habitualmente fazia, resolveu induzir sacar a peça de carne com um “arame” que tinha em casa; desta vez, conseguiu sacar a peça, mas teve um barotrauma (pneumomediastino) causado pela tosse/valsalva.
Ver figuras de esofagograma e TAC.
Esofagograma
Pneumomediastino
Tratamento de qualquer tipo de barotrauma (pneumotorax, pneumomediastino, enfisema subcutâneo ou pneumopericárdio): eliminar a causa, observação (geralmente resolvem-se por si), oxigénio e repouso.
Quando se desconfia de perfuração do esófago, além do TAC, deve-se fazer o esofagograma.
H- NEUROMA ACÚSTICO
Uma senhora de 45 anos, diagnosticada com neuroma acústico há 9 anos atrás, apresentou-se com tinitus, náusea, perda de audição no ouvido direito e dores de cabeça.
TAC e MRI (antes e depois da cirurgia).
Neuroma Acústico - Antes
Neuroma Acústico - Depois
Neuroma Acústico MRI
Sugestão: Rever o diagnóstico e tratamento do neuroma acústico.
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