CHORA, CHORA MÃE GUINÉ...

 

 

Mindjeris di pano preto - Zé Carlos Schwarz

 

 

Por: Fernando Casimiro (Didinho)

didinho@sapo.pt

07.06.2009

Fernando Casimiro (Didinho)Hoje acordei vendo a Mãe Guiné a chorar...levantei-me, liguei o computador e fui-me lavar.

De volta ao computador vi o correio e dei uma vista de olhos às notícias, saindo de seguida para o meu treino matinal, retomado há 1 semana, depois de um interregno de alguns meses por motivos vários.

Sempre a ouvir rádio durante o treino, fui acompanhando algumas informações sobre a situação na Guiné-Bissau. A dado momento, uma música , Século XXI do meu amigo Fernando Carvalho passa na RDP África e lá me pus a cantar, aliviando um pouco a dor que me tem acompanhado por estes dias.

De volta a casa e após todas as formalidades que se me impunham, decidi sair de novo, para descomprimir e procurar algo que me motivasse a escrever sobre a Guiné que hoje vi chorar quando acordei.

Depois de muito passear e pensar, comecei por me interessar pelas árvores de um jardim próximo à minha casa.

Foi aí que captei uma imagem, numa árvore, que me transmitiu todo o simbolismo da Guiné que vi chorar quando hoje acordei...

A árvore, uma entre muitas, já lá está há muitos anos, passei milhares de vezes por ela ao longo dos 21 anos que resido em Alverca, mas só hoje algo me fez chegar ao pé dela e só hoje pude constatar que, tal como a Guiné, tal como eu, ela também chora...

Tinha acabado de encontrar  motivação para escrever, através da imagem de um olho em lágrimas no tronco de uma árvore...

Há precisamente 11 anos, 07 de Junho de 1998, a Guiné entrava numa guerra entre os seus filhos, que duraria 11 meses, saldando-se em milhares de mortos e muita destruição...

A senda das mortes e da destruição ainda persistem nos dias de hoje; Junho confirma-se como um mês fatídico para a Guiné-Bissau e para os guineenses...

Vamos continuar a trabalhar!

 

CHORA, CHORA MÃE GUINÉ...

 

Chora, chora Mãe Guiné

lamenta o desentendimento à tua volta

desabafa, chora a perda de todos os teus filhos

dos que se têm digladiado até à morte

dos que morrem naturalmente

dos que morrem por falta de assistência

dos que morrem com fome e à sede

Chora, chora Mãe Guiné

desabafa contra os espíritos satânicos

encarnados nalguns dos teus filhos

tornando-os gananciosos e intolerantes

assassinos de seus próprios irmãos

eles que semeando a morte

certamente e infelizmente

a morte colherão

 

Chora, chora Mãe Guiné

até que todos os teus filhos se entendam

deixem de se matar

convivam com as suas diferenças

voltem a fazer-te sorrir

pois quem hoje chora

amanhã também sorrirá

 

Chora, chora Mãe Guiné

porque nós que também somos teus filhos

 que muito te amamos

que amamos a todos os nossos irmãos

prometemos-te dias melhores

ainda que hoje, apenas possamos consolar-te

chorando contigo

partilhando infinitamente a tua/nossa dor.

Didinho 07.06.2009

 

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