Filipe Sanhá *

 

filipesanha@iol.pt

 

12.09.2009

 

Filipe Sanhá

Caro irmão Secuna

 

Não te conheço pessoalmente, a não ser através dos artigos que publicamos, com muito empenho e dedicação à causa nacional GUINEENSE. No entanto a ameaça que pende sobre ti, vindo de uma fonte anónima, revela-se de enorme gravidade, não deixando ninguém indiferente! Parece-me vir de uma fonte extra-terrestre! Sinceramente, não acredito que tenha vindo da REPÚBLICA da GUINÉ-BISSAU. As tuas reflexões, é assim que deve ser lida e interpretada, não insultam, nem ferem ninguém de bom senso. Trata-se de uma constatação verificável a olhos nus, a todos os “videntes” das praças de Bissau, quiçá, de toda a REPÚBLICA. Foi um acto contributivo para a conscienciosidade de todos, nacionais e amantes do País, ajudando-nos a ultrapassar o nosso actual estágio de não desenvolvimento. Qualquer amante, cidadão e simpatizante, do nosso PAÍS, concordará contigo. Não atacaste ninguém em particular, nem as instituições públicas, mas tiveste sim um desabafo, que diariamente, muitos dos nossos concidadãos residentes fazem por meios e canais próprios, sempre na expectativa, de proporcionar uma vida e um futuro diferente para o NOSSO POVO. Se te ameaçam a ti e à tua família, de morte à catanada, então serão precisas cerca de um milhão e quinhentas mil catanas, já que o autor afirma ter uma especial para ti. Sejamos sérios, honestos e, intelectualmente sóbrios! Uma pessoa que ameaça desta forma, pública e sem pudor, sem sentido de cidadania, pode acusar alguém de dar uma imagem distorcida e negativa da GUINÉ - BISSAU? Até ver, continuamos a ser um Estado, com um Governo, Parlamento, Presidente, Forças Armadas, Poder Judicial e Policial, a quem competirá identificar o cidadão em causa, porque, ele sim, através de um SITE da dimensão do CONTRIBUTO, visto diariamente, por “milhões” de pessoas em todo o mundo, está a denegrir a nossa imagem no exterior. Não somos nem seremos um Estado que permita grupos terroristas urbanos, porque a GUINÉ – BISSAU não é propriedade privada de ninguém em particular, etnia e/ou, muito menos de grupos isolados, fomentadores da nossa autodestruição. Um forte abraço, irmão, continua a trabalhar, porque o meu artigo: a sombra, a noite e o dia soalheiro, que me deu muito prazer e trabalho, horas adentro, já é 01:27, do dia 12/09/09, em Portugal, evidencia, a par de inúmeras manifestações de solidariedade, o meu estado da alma sobre o assunto.

Filipe Sanhá

 

 

A sombra, a noite e o dia soalheiro!

 

A incerteza é uma variável potenciadora da sabedoria e do conhecimento, proporcionadora da inteligibilidade dos fenómenos que nos rodeiam. Só os inteligentes não têm certezas, porque Interrogam-se, frequentemente, sobre as suas atitudes, opções e decisões. A sombra será irmã, filha ou mãe da noite? Não há certezas nesta lógica sequencial ou noutra qualquer! A sombra, normalmente, tem uma curta duração ao invés da noite e do dia soalheiro, mais longos! Mas, será mesmo assim? E, por ser uma incerteza, requer a nossa reflexão! A ignorância será ela, parente próxima da inteligência? Não seremos todos ignorantes em relação a algo? Parece-me de bom senso gerirmos as nossas incertezas como sendo maturacionais! Todos os conhecimentos são efémeros, porque o que lhes dá vida e conteúdo são as incertezas! Elas, sim, são promotoras da busca sistemática do conhecimento, projectando-o, com recurso a expectativas, assentes em bases hipotéticas testáveis, em confronto com a prova da verificabilidade e confiabilidade. Devemos reconhecer, valorar e estimar a noite, a sombra e o dia soalheiro. A noite e a parte soalheira do dia são retemperadoras para a esmagadora maioria das pessoas, renovando – lhes as necessárias e indispensáveis energias. A sombra, no entanto, acompanha tanto a noite como a parte soalheira do dia! Há pessoas que aproveitam, muito bem esses momentos. Em qualquer local, aldeias, vilas e cidades, encontramos fracções significativas de pessoas, que utilizam um e/ou outro período do dia para renovarem e recarregarem as suas baterias, para as tarefas e desafios que se lhes colocarão no outro período complementar, porque a batalha de desenvolvimento e geração de riqueza, é uma exigência que se coloca de forma consciente / inconsciente aos interpretantes da conscienciosidade da cidadania nacional.

Todavia, a mediação da sombra pode ser aproveitada, para as mudanças expectáveis. A sombra pode desempenhar um papel, assaz, equilibrante. Debaixo de uma mangueira, cajueiro, coqueiro, bicilón e outras árvores frondosas, na companhia de amigos, entes queridos, ou isoladamente, pode constituir um momento único, estruturante, e, quiçá, correctora /desafiadora da nossa personalidade. A sua utilização depende, em larga medida, do uso que se lhe confere, mas também do carácter, temperamento, motivos, e, em suma, da personalidade do beneficiário. Quando se abate de forma descontrolada sobre uma personalidade, sem arquétipos para a interpretar, dando-lhe o devido significado e relevância, poder – se - à mergulhar numa noite muito desestabilizadora, incontrolável, obrigando-nos a uma caminhada circular, só saindo dela com ajuda de outrem. Portanto não devemos temer a noite, o dia soalheiro e, muito menos a sombra porque, naturalmente, são retemperadores, que nos ajudam a renovar as nossas capacidades, conferindo-nos a devida lucidez, necessária, numa caminhada cheia de incertezas, mas com firmeza e determinação.

O medo e a coragem são fenómenos ocasionais, situacionais! Acompanham-nos, sempre, em função do momento e das necessidades intrínsecas e/ou extrínsecas. Uma pessoa pode ser corajosa num determinado contexto e medrosa noutro, com conteúdos diferentes. Portanto o medo e a coragem estão codificados, geneticamente, em todos os seres, mesmo nos poderosos predadores natos, em nome da sobrevivência.

Quem ameaça matar o seu semelhante, permite-nos perguntar-lhe: do que padecerá? Medo ou coragem? Provavelmente, as duas coisas, mas sobretudo reflecte a vivência de uma noite desprovida de sombras equilibrantes, na medida em que a nossa própria imagem pode, por vezes, fazer - nos sombra! Num estado emocional desta natureza seria aconselhável a procura de uma ajuda especializada! Isso sem querer entrar em metáforas psicanalíticas aprofundadas!

Respeitemos, aproveitando as dádivas da sombra, da noite e do dia soalheiro, pelas suas funções terapêuticas, sobretudo, em momentos de acentuadas, persistentes e sistemáticas incertezas.

Continuemos a trabalhar, porque, no CONTRIBUTO é o que sabemos fazer, em prol da pacificação e desenvolvimento do NOSSO PAÍS!

Nha Mantenhas.

* Psicólogo, Mestre e Doutorando pela Universidade de Coimbra (Portugal)


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