CORREIO DOS LEITORES
Este espaço destina-se à reprodução de mensagens enviadas por e-mail ao coordenador da secção relativa à Saúde bem como, as respostas encaminhadas aos leitores pelo coordenador.
Coordenação: Prof. Dr. Joaquim Silva Tavares (Djoca)
Contacto: joaquim.tavares15@gmail.com
De: Inacio Bintchende Olá Didinho, O que acompanho é que o Senhor Djoca é um profissional no seu domínio e também domina muito bem a área. O que proponho, sei que talvez o governo da Guiné nao tem dinheiro para o fazer, é que alguém consiga um financiamento para que o Senhor Djoca visite a Guiné-Bissau, pelo menos uma vez por ano, para dar seminários e formações aos nossos médicos no país. Sei que tudo passa por uma questão de financiamento, mas talvez ele possa encontrar um financiamento nos Estados Unidos para tal. Não só o Djoca, mas também outros compatriotas, noutros paises, podem procurar financiamentos para que os nossos médicos e profissionais nas outras áreas possam compartilhar os seus conhecimentos com os nossos compatriotas profissionais no país, que talvez por falta de dinheiro e meios, não acompanham as novidades nas suas áreas de trabalho. Boas Festas, InácioRESPOSTA DO COORDENADOR From: joaquim
tavares <joaquim.tavares15@gmail.com>
Olá Inácio!
Recebi a tua mensagem através do
Didinho!
É uma ambição de todos nós (eu
incluído) se não vivermos na Guiné, pelo menos visitarmos o nosso país
periodicamente para trocarmos experiências com os nossos colegas e
aprendermos uns com os outros; por vezes, noto um "medo",falta de
confiança, receio por parte de colegas em compartilharem experiências
(esta mentalidade parece que está enraizada nos filhos da nossa terra,
mas com o tempo, com muito trabalho de sítios e instituições como o
Contributo,
penso que as coisas vão mudar para melhor).
Estarei para sempre endividado com a
minha terra que me viu nascer e me educou até à minha partida para novos
horizontes e farei tudo para pagar esta dívida.
É uma grande ideia e vamos trabalhar
para concretizá-la (como disseste, é possível obter financiamento para
este tipo de iniciativas).
Geralmente pagam-me para fazer conferências e palestras aqui nos States mas para a minha terra, farei tudo gratuitamente: não há melhor pagamento do que proporcionar às nossas crianças, jovens e adultos o melhor e dar-lhes a oportunidade de sorrir quando encaram o futuro...
Um abraço e Feliz Natal!
Djoca! |
De:
Paulo César On Dec 20, 2007 5:00 AM, paulo cesar cesar wrote: Señor Djoca.
Perdone mi impertinencia en este tema, lejos de mi área profesional, pero creo que el tema no tiene ninguna gravedad sino la importancia que la situación socioeconómica guineense exige. Por su currículo es innegable que usted es un Médico experimentado, y por su labor altruista de cara al público en el espacio donde tiene su brillante columna es igualmente notable sus ganas de echar un cable a sus hermanos olvidados por Dios y por el Diablo en Guinea. Usted plantea el tema de la salud desde un punto de vista de un país desarrollado donde no faltan medicinas para curar cualquier enfermedad. Así que permita-me opinar, dentro de mis limitaciones, sobre el tema que usted sabiamente decidió abrir. Teniendo en cuenta que la industria farmacéutica es de las más rentables del mundo y base de mantenimiento económico de elevada importancia para muchos países desarrollados, estamos hablando de algo (fármacos) dispendioso para el bolsillo del pueblo guineense que todos conocemos el rendimiento percápita. El llamado genérico seria una solución para la gente y sabe usted mejor que nadie que las medicinas no funcionan por marcas sino por la composición química. Resulta que los genéricos son creados laboratorios gubernamentales, para consumo interno y como forma de combatir los precios prohibitivos que las marcas privadas como Pfiser, Bayer, MSD y tantos otros practican, haciendo un marketing agresivo en el que regalan viajes y sabe Dios más el qué a los Médicos para que receten sus productos. Sabe usted bien como yo que muchísimos medicamentos son extraídos de las plantas que se encuentran en abundancia en los suelos de África y Guinea no es excepción. Recuerdo como eran curadas las diarreas, tan frecuentes en el país, que con masticar hojas nuevas de la guayabera tres veces en un día y se mandaba tan incomoda dolencia al trasto o aún, bebiendo medio vaso de limón puro, sujetaba la tripa en seguida. Creo que este tipo de medicina, por supuesto de curandero, eficaz, no es despreciable. Otro recuerdo mío sobre este tema es sobre la varicela. Cuando yo y mis hermanos hemos padecido de esta, la señora Maria, que trabajaba en mi casa y por supuesto nos cuidaba, no tuvo la menor duda en decirle a mi madre algo como "yo les curo, deje conmigo". Lo dijo tan convencida de lo que hablaba que mi madre ni cuestionó lo que iba hacer la señora Maria. Cuando se le preguntó lo que necesitaba ella lo tenia todo, y puso manos a la obra. Una olla grande, bajó al patio de la casa y cortó hojas de la platanera poniéndolas a hervir. Nos duchaba 2 veces al día con dicha mezcla y nos flotaba con las hojas y luego nos encerraba en la habitación amenazándonos que si abriéramos la ventana o nos rascábamos la piel nos daría una buena paliza a cada uno. Ahí nos quedábamos con aire de sufrimiento mirándonos con ganas de meternos las uñas en la piel, pero María entraba al rato para ver como iba todo. Lo cierto es que en pocos días de dicha cuarentena se acabó todo. Somos tres y ninguno se quedó con marca alguna de la varicela. Quién dice la varicela dice la papera, que también nos la curó ella con sus medicinas tradicionales. Para el sarampión por ejemplo, no sabía. Otra cosa que quiero llamar la atención es para los efectos secundarios del quiníno, del que está echa nuestra conocida cloroquina y resoquina que tanto hemos utilizado para el paludismo. Creo haber oído algo de que ya estaban fuera de circulación pero el problema no son estos medicamentos en si sino el propio quinino que provoca la sordera. Yo por ejemplo, fui aconsejado por el otorrino a no tomar agua tónica por haber sido ya demasiado castigado por el quiníno, y que ese componente existe en cierta cantidad en las tónicas y que me podría disminuir a la larga la audición. Aparte de eso me gustaría sugerirle que nos hablara más de medicina preventiva teniendo en cuenta que estamos hablando de un país donde la enfermedad tiene de ser prevenida, combatida con lo que hay, y solo en casos extremos recurrir a las medicinas de laboratorio, por la dificultad de encontrarlas en el país. Un país donde no hay ni luz o agua potable, con amontonamientos de basura enfermizos, aguas paradas, las casas mal acondicionadas etc. Dicho esto, espero que usted me corrija en lo que no esté tan cierto, y si algún provecho se puede sacar a la medicina tradicional, usted está seguramente más habilitado para hablar del tema que yo. Un gran saludo y felicidades para usted y los suyos. RESPOSTA DO COORDENADOR From: joaquim tavares <joaquim.tavares15@gmail.com>Date: Dec 20, 2007 7:55 AM Subject: Re: una pequeña ayuda(?) To: paulo cesar cesar
Olá Paulo César!
Obrigado pela análise crítica deste tema!
Definitivamente necessitamos de mais opiniões como a sua para batalhar o que penso ser o inimigo número 1 das nossas crianças: imunização, medicina preventiva e falta de medicamentos. Em breve falarei destes temas (a minha esperança era que um dos nossos colegas médicos guineenses o fizesse porque estão aí no terreno e penso que estão mais habilitados para o fazer e o tema teria mais credibilidade se fossem eles a discutir o assunto (espero ainda convencer um deles a fazer isso).
Quanto à medicina tradicional, penso saber do que
está a falar: nos 19 anos que vivi na Guiné, não sei quantas vezes tive
contacto com curandeiros que definitivamente podem-nos ensinar muito
sobre como tirar proveito dos poderes das plantas medicinais, sendo que,
muitas das plantas de que tenho conhecimento, e que temos na Guiné
(folhas de eucalipto, banana-sancho
O problema com o preço dos medicamentos é real e não
só para a Guiné: muitos dos meus doentes não possuem meios para comprar
e tenho que lhes dar amostras para poderem sobreviver..não é um problema
só do terceiro mundo; a solução?
Talvez tenhas razão: voltar às raízes, à tradição (mas duma forma mais cientifica, porque por vezes não sabemos a quantidade de ervas de que um doente necessita e muitas vezes, sabemos que há uma margem de erro muito pequena entre uma dose que cura e outra que mata.
Muito obrigado pelas tuas sugestões, bem pensadas e
com fundamentos!
Djoca!
|
De:
Médico guineense
On
Dec 20, 2007 5:31 PM,
Médico guineense
wrote:
Caro Djoca,
Permite-me desde já cumprimentar-te. Aproveito
também para dizer-te que sou o médico guineense com quem debateste o
caso da mulher com colite pseudomembranosa.
Hoje estou 24 horas de Urgência e amanhã passarei o
dia todo na clínica privada, até às 23 horas e no Sábado de manhã viajo
para passar o Natal fora de Portugal, por isso se não conseguir terminar
hoje este mail vou enviá-lo na mesma, até onde conseguir escrever...
Centrando no último caso clínico e comentários que
publicaste hoje, gostaria de começar por discordar com uma passagem onde
dizes que há diferenças no tratamento dos doentes, conforme a classe
social a que pertencem. Aceito essa realidade apenas nos EUA e não na
Europa e muito menos na instituição em que trabalho. Tenho reparado que
nos EUA, mesmo nos vários estudos de diversas áreas médicas, publicadas
até em revistas de referência, há quase sempre um factor negativo em
relação aos negros ou àqueles que eles chamam de hispânicos. Têm quase
sempre maior incidência, ou maior prevalência, ou pior prognóstico, para
uma determinada patologia!!! Inicialmente ainda pensava que, se calhar
era eu que estava susceptível a essas conclusões por ser de raça negra,
mas acabei por concluir que não, quando vi colegas portugueses a
brincarem com essa situação.
Penso que não nos beneficia em nada fazermos
essa divisão dos indivíduos da nossa classe profissional,
em defensores da classe baixa e menosprezadores da classe baixa!!! Todos
nós fizemos o Juramento de Hipócrates que apesar de não ser lei, julgo
ser um útil instrumento de ética e deontologia.
Se me permitires, é minha impressão que neste caso
em particular, poderás ter tido algum envolvimento emocional para lá do
aspecto profissional, por se tratar de uma Africana. Pensando de forma
fria e profissional, tinhas razões de sobra para investir nessa doente.
Nem que seja apenas pelo facto de ser uma jovem de 23 anos de
idade!!! Posso dizer-te que tenho apenas 18 meses de experiência dos
Cuidados Intensivos (12 meses como residente e 6 meses como
especialista) e não tenho dúvidas que escalaria terapêutica até o máximo
possível numa doente dessas.
Indo para o caso clínico em si, gostaria de fazer
umas perguntas e tecer uns comentários:
1. Gostaria de
saber qual foi o tempo que decorreu desde a alta dessa doente no Serviço
de Hematologia até a sua nova admissão e qual foi o motivo de
internamento no serviço de hematologia?
2. Como explicas
uma hiperbilirubinemia dessa dimensão e à custa essencialmente da
fracção directa (ou conjugada?).
3. Chegaram de
ponderar a hipótese desse quadro se tratar de um TRALI
(Transfusion-Related Acute Lung Injury) no contexto de uma doente
poli-transfundida e associada à infecção pulmonar?
É que, segundo o teu relato, a doente iniciou sintomatologia depois da transfusão... Se ponderaram essa hipótese gostaria de saber porque excluíram-na???
O que achei um pouco descabido, foi a hipótese do
Edema Agudo do Pulmão, a não ser que a doente tinha nos seus
antecedentes alguma cardiopatia dilatada, mas nessa idade só se fosse de
etiologia vírica, alcoólica (negada na anamnese) ou iatrogénica
(quimioterápicos que não fez). Apesar da sobrecarga hídrica e de
derivados de sangue a que foi sujeita, julgo que uma doente na idade
dela, sem cardiopatia dilatada e sem insuficiência renal (não relatada
na história), não devíamos colocar a hipótese do Edema Agudo do Pulmão.
Gostaria também de saber, que tensão arterial tinha
a doente antes da administração da Furosemida, porque não acredito que
tenha sido a Furosemida a precipitar a hipotensão, mas sim o próprio
choque séptico.
Ainda, na destrinça entre o edema pulmonar
cardiogénico e ARDS, fizeste menção apenas ao cateter venoso central e a
PVC. Qual é a tua sensibilidade e experiência no uso de cateteres
Swanz-Ganz ou PICCO (Pulsion Intermitent Contour Cardiac Output)? Não
achas que na abordagem inicial desta doente poderiam ser útil?
4. Já noutro
caso clínico, reparei que não fizeste menção à Proteína C reactiva e
limitaste a falar da febre e dos leucócitos. Será que não usam esse
parâmetro como marcador de inflamação/infecção?
5. Quanto à
abordagem na Unidade de Cuidados Intensivos, tenho uns reparos a fazer,
que gostaria de ouvir os teus comentários posteriormente.
a) Na destrinça
entre o edema pulmonar cardiogénico e ARDS, fizeste menção apenas ao
cateter venoso central e a PVC. Qual é a tua sensibilidade e experiência
no uso de cateteres Swanz-Ganz ou PICCO (Pulsion Intermitent Contour
Cardiac Output)? Não achas que na abordagem inicial desta doente
poderiam ser útil?
b) Não percebi
bem a opção que fizeram pelo modo ventilatório inicial (AC 12/tidal
volume: 400/peep = 5/FiO2 = 100%), que na altura já dava para perceber
que a doente estava em choque, seja ele séptico ou cardiogénico.
É minha modesta opinião que o modo assistido numa doente com essa gravidade, é desadequado. É natural que a pressão de plateau fosse alta, já que com esse modo ventilatório, é necessário ter a doente não muito sedada, para conseguir ter trigger respiratório. Por outro lado, quer se tratasse de ARDS ou Edema pulmonar cardiogénico, julgo que seria importante iniciar com um PEEP mais elevado, para manter os alvéolos abertos na inspiração e conseguir dessa forma melhor oxigenação sanguínea.
Queria dar-te os parabéns pelo sucesso que tiveram
no uso do ventilador de alta frequência, no modo oscilatório. Julgo
que antes tentaram o modo ventilatório protector do pulmão e/ou inversão
do I:E e ainda a prone-position.
c) Outro aspecto
que me deixou admirado, é que pareceu-me que incluem o teste de
Cosintropina no protocolo de todos os doentes com choque que admitem na
vossa Unidade. Gostaria de saber quanto tempo demora a terem o resultado
desse teste e se iniciam a corticoterapia de imediato e depois retiram,
de acordo com o resultado do teste, ou se aguardam o resultado e só se
justificar é que iniciam corticoterapia substitutiva?
Esta doente em concreto não necessitou de
corticoesteróides? Se sim, porquê e qual?
d) Desconhecia a
existência da Neosinefrina como vasopressor sistémico!!! Julgo que ainda
não é usado na Europa, mas posso estar a dizer alguma asneira, porque há
um ano que não faço cuidados intensivos.
e) Gostava de
saber quanto tempo após o internamento na UCI, foram isolados os agentes
microbianos mencionados? Porquê da opção da monoterapia na cobertura
inicial dos Gram-negativos, atendendo ao facto de estarmos na presença
de um quadro grave de choque séptico?Sabemos que o Surviving Sépsis
Campaign aconselha o máximo alargamento inicial da cobertura antibiótica
no choque séptico e depois estreitar o espectro após o antibiograma!!!
Não teria sido melhor iniciar logo com um Carbapenem? Mesmo a opção
posterior de adicionar um Aminoglicosídeo, apesar de correcta, é
discutível a associação de mais um nefrotóxico, numa doente com risco de
necrose tubular aguda, pelo choque séptico e, ainda, a fazer Vancomicina
ad initium...
Espero não estar a maçá-lo, mas essas são questões
que me surgiram na leitura desse caso que não queria deixar de comentar.
Felizmente consegui acabar de expor as minhas
dúvidas, após múltiplas interrupções.
Cumprimentos.
RESPOSTA DO COORDENADOR From: joaquim tavares <joaquim.tavares15@gmail.com>Date: Dec 21, 2007 7:23 AM Subject: Re: Anemia Falciforme / Choque séptico To: Médico guineense
Olá colega!
Apraz-me receber notícias tuas outra vez! As perguntas são motivantes, vou de seguida respondê-las!
Quanto à
"inexistência" de diferença de tratamentos de doentes na Europa
permite-me discordar: pratiquei em Portugal por 5 anos e tenho falado
com colegas aquando das minhas visitas a Portugal. Definitivamente,
existe diferença e não podemos estar alheios a esta realidade (como
dizia alguém: a verdade muda dependendo de com quem estás a falar).
Um imigrante guineense ou árabe em Portugal recebe o mesmo tipo de atitude e tratamento por parte dos colegas que um português educado, classe média recebe nas urgências? Duvido! Penso que a sua opinião resulta da falta de dados nesta matéria em relação à Europa (não consegui encontrar dados!!) Aqui nos Estados Unidos, devido à pressão por parte da sociedade civil poderosa, somos forçados a fazer estes estudos e os resultados estão publicados em várias revistas médicas... Entrando concretamente nas questões referentes à anemia falciforme temos:
1- Decorreu 4 a
6 semanas entre a admissão ao serviço de hematologia e a readmissão ao
hospital; o motivo da primeira admissão foi a exacerbação das dores de
anemia de celulas falciformes.
2- A
hiperbilirubinemia nesta paciente teve um componente colestático
(inicialmente pensámos que era devida a colecistitis, etc., mas o
sonograma foi negativo: pode haver muitas explicações: sepsis, congestão
hepática, etc.
3- O TRALI foi
considerado, mas a radiografia nao mudou comparado com a admissão (desde
o início foi uma combinação de acute chst syndrome e infecção/ARDS).
4- Quanto ao
diagnóstico de edema pulmonar agudo pela residente de hematologia, de
início "espancamos-lhe bem" por erro de diagnóstico, mas não foi
de todo descabido: doentes com anemia crónica podem ter "high output
cardiac failure" e poderia ser esse o caso.
5- A pressão
arterial antes da furosemida era de 110-120/60: a queda foi uma
combinação da furosemida e a evolução da sepsis.
6- Boa pergunta
quanto ao uso do PVC e não Swan Ganz: em 1997 foi aplicada uma moratória
no uso de SG porque um estudo efectuado na Universidade de Chicago
concluiu que morreram mais pessoas com o SG do que pessoas sem SG (um
argumento deste estudo é que as pessoas com SG estavam mais afectadas
por doenças, por isso morreram; em todo o caso raramente (eu incluído)
utilizamos o SG (só doentes depois de cirurgia cardíaca ou com
hipertensão pulmonar); hoje em dia, os cateteres (como o Edwards) podem
medir a saturação venosa central, que pode fazer uma estimativa do
cardiac output; e linhas arteriais também os podem fazer.
7-
não percebo a tua
pergunta ou penso que necessitamos de rever a literatura da ventilação
(uma das minhas áreas favoritas); em qualquer doente com ARDS, não há
modo preferido de ventilação, desde que o doente tenha suporte total (e
tenha um tidal volume de 4-6ml/kg); para mim, o modo inicial de A/C é o
melhor porque além do doente poder fazer o trigger, ainda recebe suporte
total (penso que está a fazer confusão com o CMV em que o paciente não
pode fazer o trigger) o peep inicial de 5-10 foi escolhido, devido à
hipotensão grave, mas foi aumentado, depois da gasimetria (a pressão
baixou ainda mais, mas tivemos que aumentar a dose dos vasopressores).
Definitivamente no PCV e no APRV usamos o 1:1 e 4:1
ratio e usamos o Prone position com uma cama rotatória especial, sem
resultados.
8- Como parte de
todos os protocolos de severe sepsis /septic shock, todos os doentes com
shock, não respondendo a fluidos e precisando de altas doses de
vasopressores, devem ter o teste da cosintropina: geralmente temos o
resultado do cortisol inicial em menos de 30 minutos (se for menos de
15, começamos a hydrocortisona-50mg Iv q 6 hrs); em 2-3 horas temos o
resultado da cosintropina: se o delta cortisol for menos de 9
continuamos com o tratamento.
A outra opção e dar imediatamente a dexametasone (6-8mg) porque não vai afectar o eixo, não alterando o teste, e esperar pelos resultados finais.
Esta doente recebeu hydrocortisone (é o melhor
esteroide para a pressão porque é um mineralocorticoide)
9- A
neosinefrina é um puro alfa vasoconstritor que é tido geralmente em
terceira ou quarta linha, mas pode ser de primeira linha em doentes com
taquicardia grave. (Falei com colegas europeus que também a usam)
10- Não houve
muito tempo para isolar os agentes (possivelmente adquiridos na admissão
anterior. O SSC de que sou
colaborador activo aqui em Las Vegas definitivamente quer uma cobertura
adequada: geralmente, se a infecção é acima do diafragma, prefiro
cefipima, vancomicina e em alguns casos adicionar aminoglicosido à
cefipima para o dobro de cobertura da pseudomonas (com um bom
farmacêutico a fazer a dosagem -tenho sempre um a fazer rondas, o risco
de nefrotoxicity é baixo..
Espero ter esclarecido algumas dúvidas!
É assim mesmo, com perguntas, eu aprendo, o colega aprende e todos nós que lemos estas linhas aprendemos: como disse, quanto mais se sabe, mais dúvidas se tem!
Colega, tenha um Bom Natal e boas férias .
Djoca!
From: joaquim tavares <joaquim.tavares15@gmail.com> Date: Dec 22, 2007 7:48 PM Subject: Re: Anemia Falciforme / Choque séptico To: Médico guineense
Caro colega!
Deixei uma pergunta por responder:
Em relação a outros indicadores usados no diagnóstico de septicemia: embora não recomendados pelos vários protocolos, por falta de estudos bem efectuados e com p values estatisticamente significantes, ocasionalmente usamos a procalcitonina ou a proteína c; mas, de momento, o ácido láctico é o valor bioquímico universalmente utilizado (claro que há falsos positivos, caso da disfunção hepática).
Boas ferias.
|
De:
Médico guineense 28.11.2007 Estimado Djoca, RESPOSTA DO COORDENADOR
De: joaquim tavares [mailto:joaquim.tavares15@gmail.com]
Estimado Colega! Muito obrigado pela contribuição no espaço Saúde! As perguntas e questões levantadas são muito pertinentes, tendo ficado na dúvida se lhe deveria responder pessoalmente ou através do Espaço Saúde.
1- Em relação à sua opinião no que toca ao incluir discussões Saúde - Politica, também eu, antes de me lançar neste empreendimento, levei meses a "torturar-me" com a delineação do conteúdo do espaço; que há uma imensidão de assuntos políticos afectando a Saúde dos Guineenses a debater, não há dúvidas; mas, para mim, o sítio Contributo tem uma secção extraordinária o "Nô djunta mon" onde esses assuntos podem ser discutidos (eu, na medida do possível, tentarei contribuir também nesse espaço com tópicos Medico-Políticos). O Espaço Saúde, como mencionei no primeiro editorial será dedicado à discussão de casos clínicos e perguntas -respostas (no modelo de algumas revistas científicas mais dedicadas à Educação Médica Contínua);sem dúvidas que com a facilidade de acesso à Internet, muitas perguntas podem ser esclarecidas, mas é precisamente isso que a Comunidade Médica Internacional está a tentar evitar hoje em dia (menos comunicação entre clínicos com troca de impressões e mais refugio na Internet onde por vezes as respostas podem não ser baseadas em validações científicas ou medicina baseada na evidencia (lembro-me bem do meu primeiro ano em Nova Iorque: nos primeiros meses, recusava-me a ir às reuniões para discutir casos clínicos e quando o director do programa me perguntou o porquê, respondi que podia ler os casos nos livros e ir ao computador!! Ele chamou-me ao seu gabinete e depois de uma hora de conversa disse-me: vais aprender, young man, vais aprender: o teus melhores professores serão os teus colegas e alunos...e aprendi. 2- As perguntas clínicas que fez Só provam a minha teoria: temos grandes cabeças que devemos aproveitar... No caso da doente com enfizema, a questão foi: porque usar levofloxacina ou outro antibiótico qualquer? Pelos GUIDELINES (o último lançado este ano) de tratamento de crises de enfizema ou outras doenças pulmonares, se um doente se apresenta com modificação de produção de esputo(claro a amarelo ou verde), maiores dificuldades em respirar, suficiente para ser admitido, além dos habituais broncodilatadores, deve-se comecar um antibiótico para bronchitis aguda ou pneumonia, independentemente de infiltrado pulmonar (a maioria das vezes estes doentes estão também desidratados e a radiografia no primeiro dia não mostra infiltrado e só depois de 48-72 horas, com boa hidratação se começam a formar os infiltrados), para evitar o inevitável sem antibiótico: ventilador! O tipo de antibiótico depende do antibiograma do país e da região: aqui nos Estados Unidos, para qualquer doente vindo da comunidade, o tratamento é uma quinolona (neste caso levofloxacina) ou em alguns casos uma cefalosporina da segunda geração junto com um macrolido (azithromicina). A recomendação de anti-pseudomónico é só para pacientes que estão no hospital por mais de 72 horas e que começam com os sintomas no hospital ou doentes que desenvolvem infiltrados pulmonares depois de estarem num respirador (ventilador) por mais de 48 horas --muito importante para o sucesso terapêutico é evitar multi-resistência fazer estas distinções(CAP-pneumonia da comunidade, HAP-pneumonia do hospital, VAP-pneumonia do ventilador, HCAP-pneumonia dos lares de idosos, etc.). Quanto ao uso do TAC e não de ecografia em primeiro lugar (excelente pergunta): o abdómen estava distendido com muitos gases e se a suspeita era de isquemia ou colitis, a ecografia não ia ajudar muito, ou seja; ia só retardar o diagnóstico; quando se desconfia de abdómen agudo, deve-se ir sempre para o TAC (sei que nalguns países isso não é possível devido ao custo do TAC, mas quando é questão de vida ou morte e o tempo é ouro, não percas tempo... Quanto à diarreia de viajante, tens razão quanto aos efeitos da loperamida: mas como leste é só para 3 dias e esses riscos são mínimos. Muito obrigado pelo teu contributo! Temos homem!!! Cumprimentos Djoca! |
De:
Médico guineense 29.11.2007 Prezado Djoca, Agradeço a pronta resposta ao meu modesto contributo para o Espaço Saúde. Espero que entenda que, apesar de estar muito interessado em participar nesse seu/nosso espaço, infelizmente sou obrigado a fazê-lo no anonimato. Voltando às respostas às minhas questões, devo dizer-lhe que não deve ter percebido algumas perguntas que lhe coloquei, mas que vou reestruturar aqui e espero ser melhor compreendido: 1. A minha primeira questão prende-se com uma interrogação que faço a mim mesmo, se não estaremos a cometer um erro, ao discutir casos clínicos por ex. à moda do New England Journal of Medicine, que é perfeitamente válido na realidade dos países ditos desenvolvidos, mas com o risco de se tornar numa parca contribuição para o nosso país, atendendo aos imensos problemas sociopolíticos que a saúde guineense comporta. Não sou nada contra o debate e a troca de idéias na nossa área de formação. Muito pelo contrário, sempre defendi que um médico que não sabe auscultar raciocínios clínicos de outros colegas é um médico despido de senso clínico. Aceito a sua sugestão para que os debates sobre a política da saúde sejam feitos noutro espaço deste site. Em jeito de desabafo, fiquei revoltado quando soube que no novo Orçamento de Estado do nosso país, o Ministério da Defesa levou a maior fatia! 2. Quanto às questões clínicas é claro que os GUIDELINES da pneumonia adquirida na comunidade (PAC) preconizam na primeira linha da antibioterapia empírica a associação de um beta-lactámico e um macrólido ou em alternativa uma quinolona anti-pneumocócica, como é o caso da Levofloxacina que também tem cobertura para os agentes atípicos como a Legionella. Penso ser consensual, pelo menos na Europa, que a Levofloxacina deve ser guardada para as situações em que há alergias aos primeiros antimicrobianos, nas falências dos antibióticos da primeira linha e nas infecções declaradamente pneumocócicas em que a CIM (concentração inibitória mínima) para a Penicilina seja superior a 4 mg/L. Julguei que optaram pela Levofloxacina na primeira linha do tratamento desse caso em particular, talvez associada a outro antibiótico, pensando na cobertura anti-pseudomónica, porque como sabe, os doentes com alterações estruturais pulmonares (DPOC - bronquítico ou enfisematoso, bronquiectasias), assim como um conjunto de outros factores, são considerados factores modificadores da etiologia da PAC, com propensão para pseudomonas. Nesses doentes, penso que não é de afastar a hipótese de iniciar a antibioterapia com agentes anti-pseudomónicos, pelo menos na pneumonia da comunidade com critérios de gravidade. 3. Quanto à sua resposta sobre a preferência do TAC como exame imagiológico, penso que estamos perfeitamente de acordo e a minha intenção foi justamente sensibilizar para o facto da necessidade de ponderação do custo-beneficio dos dois exames, perante o quadro clínico que temos em mãos... Aceite os meus cumprimentos.
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RESPOSTA DO COORDENADOR From: "joaquim tavares" <joaquim.tavares15@gmail.com> To: Médico guineense Subject: Re: contribuição saúde Date: Thu, 29 Nov 2007 07:16:31 -0800 Caro compatriota, Obrigado pelos esclarecimentos! Compreendo a tua agonia sobre os problemas sociopolíticos da nossa terra, porque apesar da distância também passo algumas noites em branco a pensar nos mesmos, mas estou esperançado e vamos fazer os possíveis para que a geracao nascida a partir do ano 2000 não passe pelo mesmo (se tiveres tempo, presta atenção ao editorial do mês de Dezembro, em que abordarei alguns destes assuntos, sem politicas, somente dignidade humana, preocupações de um clínico interessado na saúde física e mental dos nossos médicos, enfermeiros, professores e CRIANÇAS). Quanto às questões clínicas, penso que estamos na mesma onda! Um abraço! Djoca! |
From: dada akige Date: Nov 22, 2007 10:27 AM Subject: os meus comprimentos To: joaquim.tavares15@gmail.com É com imensa alegria e satisfação que endereço esta minha carta a sua excelência o senhor doutor. sou um cidadão guineense residente em Espanha de nome (TAFU) sobrinho de galisa amigo do teu irmão Ká, também meu amigo. Sou seguidor dos teus artigos publicados na Net. Em primeiro lugar quero dar-te um abraço a
propósito do trabalho a que vens realizando sobre Sabemos que a colera já fez bastantes mortes e ainda continua a matar, e é preciso a vossa intervenção o mais rápido possível para travar essa doença. Sublinho a sua ideia de concertar as ideias para fazer uma frente contra as doenças na nossa terra, isso é uma brilhante ideia face ao espírito patriótico. Quero aproveitar esta oportunidade para solicitar a vossa
atenção, sobre a doença (diabetes) que è uma doença nova para a nossa sociedade e
é uma doença que está a atacar (Tafu) |
From: Augusto Lopes Date: Nov 12, 2007 3:06 AM Subject: Thank You To: joaquim.tavares15@gmail.com Mr. Joaquim Tavares; A couple of days ago I came across your profile at the following website: http://www.didinho.org/PROFDRJ Even though I don't really know you in person, after visiting the referred site I was very inspired and encouraged to be focused and never give up. Your account basically gave me one more rule model to whom I can relate in various ways, so I have a new perspective for the future. Therefore, I decided to drop you a line and thank you. I am a Guinean, one from the hopeless generation (children of 80s). By God's providence I got out of our beloved land during the 1998 trouble. Yet I have not accomplished anything, I know now with certainty that it is not impossible. Thank you again; and may God blesses you, Augusto Lopes |
On Nov 11, 2007 4:13
AM, Salvador Garcia Garcia
wrote:
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RESPOSTA DO COORDENADOR From: joaquim tavares <joaquim.tavares15@gmail.com> |
On Nov 7, 2007 5:20 PM, francisco mendes wrote:
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RESPOSTA DO COORDENADOR From: joaquim tavares <joaquim.tavares15@gmail.com> |
On 10/24/07, Mídana
Silva
wrote: Ex.mo Sr. Dr. Djoca
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RESPOSTA DO COORDENADOR From: joaquim tavares <joaquim.tavares15@gmail.com> Olá Midana, Muito obrigado pelo teu email. Folgo em saber que há guineenses que estão lutando no duro para triunfarem no domínio académico. Já estás quase a acabar e desde já te felicito. Espero que continues o teu voo, porque, é verdade, the sky is the limit. Tenho esperança em conhecer-te um dia (talvez na altura do Congresso de Médicos Guineenses, dentro de 2-3 anos, se tudo correr bem) Good luck! Djoca! |
A TER SEMPRE EM CONTA: Objectivos do Milénio
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VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!
Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO