Sandra Cardão
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www.bemestarmenteealma.pt.vg
23.04.2010
Estranha
época esta em que vivemos. O tempo que se vive, especialmente no ocidente, é
o do hedonismo juvenil, do prazer de se ser jovem, se possível quase
eternamente.
Mas como vivem os nossos jovens, muito especialmente os mais pequenotes? É
aterrador verificar como foi possível chegarmos ao ponto de nos
considerarmos homens e mulheres evoluídos, e encontrarmos hoje mesmo:
crianças abandonadas pelos pais porque não há dinheiro para as sustentar (a
história da cada vez mais descarada má distribuição da riqueza).
Encontrarmos crianças a fazer trabalho de gente grande; encontrarmos
crianças-soldado que combatem as guerras dos cobardes de peito inchado;
encontrarmos crianças de volumosas barrigas e de ossos esqueléticos;
encontrarmos crianças pedintes pelas ruas…
Como é possível termos chegado a este estado civilizacional (?), depois da
Revolução Francesa, depois das Declarações sobre os Direitos do Homem e da
Criança?!!
Com tanta gente no mundo ocidental a endinheirar-se, sim, como diz Mia
Couto, não ricos, antes endinheirados… E... E o número gigantesco de
crianças que crescem sem os mais básicos direitos? Que crescem só conhecendo
a fome, a violência, a sobrevivência? Que não têm pais, família, colo, casa,
roupa, escola…
Será que no seu mundo tão sofrido poderíamos compará-las a adultos? Que
território é o delas, porque infância como a teorizamos não é certamente! Se
disséssemos que são “crianças adultas” (estranho conceito), só veríamos
adultos muito infelizes, desesperados, vazios… Será que espelham esses
adultos-adultos?
Estranha época esta em que vivemos...
Mais do que um paradoxo esta é a psicopatologia da sociedade contemporânea:
nós adultos do mundo dito civilizado queremos ser jovens, mas cuidamos mal
dos nossos jovens…
Nós povos do ocidente, ditos mais ricos ou endinheirados, como podemos
continuar na nossa omnipotência, dando o peixe aos mais pobres, tendo os
meios para os ensinar a pescar por eles próprios o seu próprio peixe?!
Salvemos as nossas crianças enquanto elas crescem, para que possam ter a
liberdade e os meios para construir um mundo menos pesado…
*
Sandra Cardão nasceu em Angola, é Licenciada em Psicologia
Clínica, fez estágio na área da Psicogerontologia e tem trabalhado
no âmbito escolar com crianças do Ensino Básico (integração de
minorias, crianças carenciadas). Também é Facilitadora de Grupos de
Jovens para a Promoção do Desenvolvimento Pessoal. É Autora e
Formadora Certificada.
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