Chega de oportunismo
O golpe de Estado na Guiné-Bissau (continuo a lidar com o termo) volta a pôr a nu, como aqui há tempos referi, uma das nossas principais carências; o raciocínio político. Ainda que não o queiramos admitir, a Guiné-Bissau tem poucos políticos e muitos oportunistas, ou políticos de ocasião. É inacreditável que: depois de se terem iniciado as pré campanhas eleitorais, os partidos políticos e os seus ditos dirigentes se tenham desdobrado em movimentações face às suas participações no processo eleitoral que se aproximava a passos largos e, que se estivéssemos perante uma convicção séria de que se tinha feito um árduo trabalho de base que viesse a ter resultados positivos nas eleições, se venha pronunciar no próprio dia, a favor de um golpe de Estado, que não só derrubou Kumba Yalá e seu governo, como também feriu a democracia e o povo guineense, num momento crucial para a viragem de mais um capítulo da sua história. Mais uma vez ficou provado que o poder militar por si só, é uma ameaça para a democracia, tanto na Guiné-Bissau como para quase todo o continente africano, mesmo que não se faça uso das armas, como aconteceu recentemente em Bissau. Os nossos mais que vulgarizados dirigentes políticos, que não conseguem desmarcar-se da ganância e da ambição do Poder, aliaram-se aos "salvadores da Pátria", não fossem perder o comboio do poder. Lamentável também que, em defesa da reposição da legalidade se queira alterar vários pontos da Constituição, para se adaptar Veríssimo Seabra como presidente interino, abrindo precedentes de consequências imprevisíveis para o futuro da própria Constituição do país. Este golpe de Estado na Guiné-Bissau, será sempre "uma pedra no sapato" para a Comunidade Internacional, muito particularmente para a União Africana e para as Nações Unidas, que quanto a mim, são dois organismos que há muito precisam de reformas e que carecem de moralidade no verdadeiro sentido de funcionamento como organismos continental (UA) e mundial (ONU). Veríssimo Seabra é presidente interino da Guiné-Bissau, daqui a algum tempo, pode ser que um tal de Melcíades Fernandes, também entenda chegar a sua vez, como pode ser um tal de Zamora Induta, ou Emílio Costa, até chegar ao fim da lista dos ditos 25 oficiais de alta patente que no dia 14 de Setembro viram que afinal a situação da Guiné-Bissau era intolerável e tinha que se derrubar o presidente, para se repor a normalidade Institucional no país. A confiança na seriedade dos artistas envolvidos nesta usurpação do poder infelizmente não existe, nem para os guineenses, nem tão pouco para a Comunidade Internacional, que cada vez mais tem equacionado os verdadeiros destinos das várias ajudas económicas, financeiras e logísticas por exemplo que são encaminhados para a Guiné-Bissau e para o povo guineense mas que, estão à vista nos patrimónios, das altas patentes militares e nas altas figuras do Estado guineense. Mesmo com um governo de transição, teremos outro Estado dentro do mesmo Estado, pois para além de Veríssimo Seabra, já presidente interino, a Guiné-Bissau, terá na sombra, 24 "SUPER MINISTROS", todos altas patentes militares do " grupo dos 25 ". Aos políticos de ocasião que hoje estão com o Comité Militar, não venham daqui a dois meses reclamar que a democracia está de novo ameaçada. Caro Bispo de Bissau, entendo a sua preocupação no sentido da sua participação como personalidade mediática para a aproximação dos guineenses mas, o senhor é um homem de DEUS, um homem de Fé e Convicções profundas, não se envolva demasiado com situações que podem vir a desacreditá-lo, pois o país está entregue à bicharada...Não dê cobertura aos actores do filme em cena, a menos que eles aceitem confessar a si, os seus pecados. Faça-os confessar e talvez fiquemos todos bem daqui em diante, pois dizer a verdade, doa a quem doer, é a mais preciosa das virtudes do ser humano
20-09-2003 18:19
A vida só tem sentido se, para além de nós, outros também puderem viver...
Ler, Reflectir, Transmitir...Esta é a mensagem !
Fernando Casimiro (Didinho )