DAS VERDADES AO FUNDAMENTALISMO DA VERDADE

 

 

Flaviano Mindela dos Santos

 

flavianomindela@hotmail.com

 

22.08.2010

 

Como com alguma surpresa tem acontecido, desde que optei por uma prolongada pausa na publicação dos artigos de opinião, através do meu correio electrónico ou por fala, mais uma pessoa, um jovem estudante em Bissau, acabou de manifestar a sua atendível preocupação em relação ao trivial facto, que desta vez, coincidiu com uns dias de férias. E num raro exercício de sinceridade entre nós os guineenses “civilizados”, fez-me saber que aprendeu muito, e que ainda gostaria de continuar, ao longo da sua esperada e interminável aprendizagem, (palavras do interlocutor) puder contar, com o conteúdo dos meus textos. Louvados sejam os espíritos dos meus antepassados!

Entre lote dos diferentes leitores que me têm contactado, inclusive os de outras nacionalidades, só para distingui-los dos de maioria nacionalidade guineense, contam alguns adultos, certos deles, personalidades com reconhecidas capacidades e competências intelectuais, das quais nutro uma enorme simpatia e admiração, assim como muitos jovens, sobretudo estudantes, ansiosos por encontrar figuras exemplares, como alvo de referência, na nossa famosa sociedade, a suportarem dificuldades óbvias no país e no estrangeiro, mas determinados perante os desafios inerentes à procura de um futuro próspero. E estou agora a contar isto tudo, sem que alguém me tenha perguntado, porque fizeram-me afinal despertar, para o obrigatório reconhecimento, do potencial significado, das nossas responsabilidades, enquanto participantes, no papel de colaborador, ou no papel de comentador, neste espaço de liberdade. Por falar nisso: toda a liberdade sem a sua correspondente medida de responsabilidade, é sinónimo de banalidade, ou coisa parecida com barafunda.

Mas antes de recomeçar a libertar mais, do que me vai na alma, - Sou um homem relativamente livre, a viver numa sociedade relativamente livre! – vou cumprir o dever cívico, de esclarecer aos leitores em geral, dois dos motivos, do meu afastamento temporário.

Para pôr freio nalguma especulação maldosa, além do tipo de actividade da minha empregadora, que me deixa uma margem muito reduzida, para sustentar os vícios favoritos, também estou numa fase de contenção das vontades, para as concentrar na conclusão de um projecto literário.

Se por ventura existirem mil e uma afirmações, capazes de acolher uma larga concordância, entre as várias sensibilidades especializadas na nossa sociedade, ainda que seja só no subconsciente dos seus elementos, numa certeza relativa, garanto que uma delas, será de que este bem organizado espaço cibernético, para cima ou para o baixo, conquistou por mérito próprio, um lugar na agitada evolução histórica dum país, que responde pelo nome de Guiné-Bissau. Aliás, este espaço passou de alguma maneira, a constituir um polivalente instrumento, e ao mesmo tempo, um meio de estudo, para qualquer interessado nos assuntos do nosso país. E mais do que isso, para situarmos no actual contexto da globalização, assumo a asneira de que transformou-se num dos principais, se não mesmo o principal rosto, de toda uma sociedade guineense, perante o imenso resto do mundo. Sendo assim, será uma questão de honra, preservarmos a dignidade de todos os colaboradores e comentadores deste espaço, assim como também, será uma questão de honra, preservarmos a dignidade que é comum à toda sociedade guineense, se abandonarmos de vez, àquelas  polémicas de bolso, que têm causado sérios desgastes, profundos desagrados, e definitivos afastamentos de alguns dos melhores analistas sociais da nossa órbita, (não quero saber das suas ambições e pretensões políticas) até de outros tantos que acediam à página, só para desfrutarem de uma boa leitura.

Para muitos, será algo escandaloso, para outros deve roçar mesmo uma aberração, mas para mim, a fase de vida que a Guiné-Bissau atravessa neste momento, enquanto país, é comparável a fase da infância, nos humanos. As vicissitudes que estamos a enfrentar, de maneira similar, muitos outros, entre os países hoje com sociedades consideradas das mais avançadas, também conheceram períodos muitíssimos conturbados, durante os seus primeiros anos. E em alguns dos casos, esses períodos duraram até mesmo séculos, nas vidas desses países. É preciso sabermos separar as circunstâncias, aceitarmos essas no conjunto, como factos próprios da nossa realidade, para melhor compreendermos os vários momentos da nossa história. Reclamarmos aos berros por uma vivência plena de florescimento hoje, agora e já, é pura ingenuidade em alguns casos, e teimosa hipocrisia noutros casos. A missão que nos calhou, pela vigorosa determinação dos tempos, só poderá ter a sua digna recompensa, numa sociedade a ser melhorada, de maneira progressiva, na perspectiva de um futuro acolhedor, para os nossos filhos, e os nossos netos. Jamais deixarei de repetir essa convicção! Isso vamos conseguir, com serenidade na ocasião de reconhecimento das nossas debilidades, com união para superarmos essas debilidades, e com o uso da razão, salpicada de humanismo, para uma partilha equitativa das vantagens. Não vamos  conseguir isso nunca, facilitando a violência verbal espontânea, através de acusações inconsequentes, insultos simulados, e calúnias corroídas, como por vezes tem sido pratica neste espaço, o que tenho constatado e lamentado, como pretexto para combatermos o perigo de institucionalização da violência física, reiterada nas lutas pelo poder, numa cumplicidade entranhada, entre os políticos e os militares.

Agora de repente surgiu-me no pensamento, a galopante falta de algum pudor, que no país se deixou instalar, quase de uma forma generalizada, em que as várias antenas radiofónicas, que pelas suas capacidades de numeroso alcance populacional, desempenham um papel hediondo, nesse absurdo, - enquanto os supostos aplicadores das leis, andam de bem com a vida, a distribuírem sorrisos amarelados - servindo para divulgar, mediante um preço acessível aos desgraçados, grandiosas quantidades diárias de acusações, falsidades e calúnias, contribuindo assim, para alimentar e engordar, a nossa adjectivada apetência pela violência.

Porquê que parte da receita, na difusão massificada de violência verbal, deve servir para garantir com prazer o nosso salário, como profissionais da comunicação?!

Porquê que temos de sentir satisfeitos, quando violentamos a integridade moral de alguém?!

Porquê que o nome das famílias, não deve merecer protecção, quando o denunciado tenha actuado só, e provavelmente, em benefício próprio?!

Porquê que a humilhação pública de fulano tal, deve servir para aliviar um pouco das nossas angústias?!

Faz algum sentido, contribuirmos para propagação da violência, e quando essa chegar aos canos das armas, descobrirmos os culpados?!   

Que tal concordarmos que somos todos violentos, por isso constituímos uma sociedade violenta, e juntos procurarmos então eliminar as causas dessa imperfeição, e deixarmos de atribuir o defeito aos outros?!

Voltando ao rigor do fio esticado a partir do título, para dizer que, menos dos quarenta anos, na vida ordinária de qualquer país, compreende elevados custos de amadurecimento, que quase sempre, são de consequências extensíveis, ao longo de uns sucessivos anos… Pois, tinha que ser. A memória do leitor como um guineense, foi portanto buscar o infalível bom exemplo do caso cabo-verdiano. Mas permita-me lembrar-lhe que, Cabo Verde foi feito um território, e está a ser feito um país, enquanto que Guiné-Bissau fez-se um território, e está-se a fazer um país. São daquelas tais justificações do costume? E as elevadas consequências duradouras por ultrapassar? Essas não devem contar?... Está a ver agora, que já é tempo de começarmos a considerar essa realidade comparativa, noutro prisma.

Sejamos realistas, mas com ponderação quanto baste, e pacientes demais.

Com o protagonismo militante de alguns, e com a omissão acanhada de outros, permitimos que este espaço se degenere numa espécie de arena lamacenta, para difamação alheia, onde o louro implica sujar o adversário até esse não aguentar mais e tombar, de seguida, ainda  arrasta-lo através dos cabelos, para um impiedoso assassinato de carácter.

Os grandes homens não se fizeram valentes, pontapeando aos que por infortúnio, tombaram pelo caminho, mas sim, estendendo a mão aos impotentes, durante a caminhada.   

Facto incontornável, é que no decorrer desses anos de sucessivas batalhas no ciberespaço, ganhámos com clareza, na expansão e na expressão, mas também de mesmo modo, por culpa de certos entusiasmos, em doses excessivos, perdemos, e de que maneira, na qualidade e na credibilidade. Não podemos continuar a desperdiçar o precioso capital de respeito conquistado com os bons anos de muita dedicação, algum sacrifício, e salutar coragem de todos, não obstante cada um de nós, mediante as suas capacidades, e mediante as suas disponibilidades. Sem esquecer também os participantes residentes no território nacional, que têm revelado demasiado interesse, apesar das dificuldades que encontram, na providência do acesso aos limitados meios informáticos.

É necessário voltarmos a pensar este autêntico santuário virtual para os fieis internautas, como um lugar de exposição de ideia das pessoas, e não de exposição da pessoa das ideias.

É necessário voltarmos a pensar este espaço, como um lugar de exposição dos diferentes pontos de vista, sobre os nossos emaranhados problemas, oriundos de pessoas com origens diferentes, e de nacionalidades diferentes; oriundos de pessoas com formações culturais diferentes, e com níveis académicos diferentes; oriundos de pessoas com ideologias políticas diferentes, e de ambições políticas diferentes; e numa menção redutora, oriundos de pessoas com interesses económicos diferentes, e de estatutos sociais diferentes.

É necessário voltarmos a pensar este espaço, como um lugar de debates, com base na cidadania participativa, no civismo universal, e na tolerância democrática.

Temos que ser capazes de recolocar a importância outrora conquistada por este espaço, na função que apesar de tudo, ainda continua a desempenhar.

Temos que ser também capazes de voltar a crescer, como elementos íntegros, duma sociedade com conhecidas dificuldades, mas no sentido da democratização, para assim acompanharmos o desenvolvimento deste importante instrumento de poder. E para isso, bastará submetermos todos, com humildade, às simples regras da boa educação.

Falei em importante instrumento de poder, por isso quero também lembrar que, caso não conseguirmos ficar à altura de utilizar essa potente ferramenta com discernimento, como consequências contraproducentes, num curto prazo, podemos ser conduzidos a um total descrédito público.

Chegado aqui… Raios! Peço desculpa. Foi o meu filho de seis anos, que naquelas traquinices próprias da idade, desligou o cabo de alimentação do computador. Mas nada assim de preocupante, porque entretanto, a abençoada evolução tecnológica permitiu o salvamento integral do texto.

Estava eu a dizer que, chegado aqui, na sequência também, duma sentida conversa, com uma das poucas e mais distintas colaboradoras deste espaço, (tantas as saudades) pretendo lançar aqui, na esperança de pelo menos extrair algum sucesso, um forte apelo à todos os outros colegas, sem qualquer excepção, e seja qualquer que fosse o móbil da retirada, para que reconsiderem as suas posições, e pensarem na utilidade das suas bem estudadas opiniões, como enaltecidos contributos que sempre foram, para a mais que urgente mudança de mentalidades, na nossa sociedade. Eu vou fazendo o mesmo, sempre que as circunstâncias assim o permitirem.

Para com esta página, fico a dever uma eterna gratidão. Ao seu criador em primeira instância, aos colaboradores, aos comentadores, e aos simples leitores, que com a fidelidade nas preferências, prestaram uma valiosa contribuição, para a sua ampla popularidade.

Se um dia, por qualquer motivo, esta assembleia virtual desaparecer, sem dúvidas que da sua memória, constará uma fracção significante, do meu percurso, como cidadão auto mobilizado. Até porque no final de todos os ajustes de contas, persistirá sempre, o mais nobre de todos os nossos propósitos, que é o de enfrentarmos em comunhão de esforços, a soma dos obstáculos que teimam surgindo, por vezes, adoptando algumas caras conhecidas, no caminho da nossa locomotiva, rumo ao desenvolvimento sustentado.

Mais do que pregar sem poupar nas palavras, os ensinamentos de Amílcar Lopes Cabral, importa praticar sem poupar nos actos, os ensinamentos de Amílcar Lopes Cabral.

Ups! Acho que acabei por produzir um texto de conteúdo temperado com alguns traços violentos. O leitor não acha? Certeza? Não quer reler tudo? Mas pronto, poderá ser desculpável. Afinal foi no intuito de contribuir para um combate que se pretende pacífico, contra as variadas formas de exteriorização da violência, encerrada na nossa sociedade.

À todos os jovens estudantes guineenses, e em particular, ao Rui Sami, a trabalhar e frequentar uma das escolas de Bissau, os meus votos de acesa esperança, muita saúde, longa vida, coragem e determinação. Que um dia encontrem momentos felizes, debaixo das sombras dos vossos elevados sacrifícios, numa convivência familiar e profissional, onde poderão finalmente suspirar um profundo alívio, e para todo o sempre, orgulharem-se perante os vossos filhos, como elementos feitos, duma sociedade guineense, em franco progresso!

 

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