Delinquentes a que chamamos de Militares“Antedélis”
Edson Incopté 02.04.2010 Os recentes acontecimentos que voltaram a abalar a cidade de Bissau, certamente deixaram todos os Guineenses num grande estado de choque, nem que seja pela surpresa com que aconteceram. Porém, mais do que condenar mais este acto criminoso de meia dúzia de delinquentes que chamamos de Militares, há que reflectir e deixar algumas considerações sobre o que terá conduzido a toda essa barbaridade, que segundo informações o Presidente designou eufemisticamente de disparate. Considero que o que aconteceu, necessita de uma enorme reflexão por parte dos filhos da Guiné-Bissau, nem que seja numa tentativa de virar o jogo e transformar este péssimo momento numa oportunidade única de corrigir o histórico de introduzir analfabetos, sanguinários, mal-formados nas Forças Armadas, um erro que a luta pela independência e a guerra civil de 7 de Junho de 1998 nos obrigou. Na tentativa de compreender como as coisas atingiram as proporções que atingiram, deixo aqui algumas considerações, que provavelmente já terão passado pela cabeça de muitas pessoas, mas que importa expor para que sejam debatidos por todos. Recusa de uma Força Multinacional Presumivelmente algumas pessoas vão considerar que agora é muito fácil estar aqui a dizer: o aviso já tinha sido dado. Mas a verdade é que é um facto! Este assunto foi por diversas vezes abordado em vários órgãos de comunicação social, mas como não podia deixar de ser, os interesses de alguns sobrepuseram-se aos interesses do povo Guineense. Foi mesmo admitido, variadíssimas vezes, pelos órgãos da soberania que os Militares Guineenses não se encontram minimamente preparados para dar o passo que os próprios governantes afirmam querer dar para o desenvolvimento do país. Então porque razão havemos de continuar a não admitir que necessitamos de ajuda efectiva no terreno?! Uma ajuda que pode ser dada por uma Força Multinacional na própria reforma do sector da segurança, onde se tem depositado tanta confiança. Reforma que por si só implica uma serie de riscos para todos os envolvidos, directa ou indirectamente. O equívoco que algumas pessoas têm sistematicamente cometido é confundir uma Força Multinacional com uma Força de Intervenção. Mas na medida em que o nosso país na se encontra em guerra, não necessitamos desta última. No entanto, pelo que temos vindo a assistir ao longo da nossa história, não é difícil chegar à conclusão que necessitamos de uma força estrangeira para trabalhar em conjunto com os nossos Militares por um largo período de tempo. Isto porque não pretendo ser, para já, radical ao ponto de afirmar que a Guiné-Bissau perante a sua dimensão e pelo número de habitantes que a constitui, não necessita de Militares. Cabe agora a todos os que se posicionaram contra o envio de uma Força Multinacional repensarem as suas posições para que este assunto seja debatido duma forma séria e sensata, onde vozes relevantes e profissionais na matéria possam realmente ser ouvidas. Porque se não, hoje foi o Indjai, amanhã será qualquer outro mal-formado. Escolha de António Indjai para Vice-chefe das Forças Armadas Todos estamos recordados das peripécias que conduziram o senhor Zamora Induta e o senhor António Indjai aos cargos que ocupam, este último é mesmo suspeito de ter sido o executante do ex-presidente Nino Vieira. Assim como sabíamos todos que os mesmos não possuíam condições nem qualificações para ocuparem os cargos para que foram nomeados. Mas como é costume dos governantes Guineenses, a troca de favores voltará a hipotecar o futuro dos Guineense. O que aconteceu em Bissau na manhã de 1 de Abril de 2010 tratou-se somente da concretização do velho ditado que diz que quem planta vento, colhe tempestade. Porque tanto o Cadogo, quanto o Zamora Induta conheciam bem a ambição desmedida e o carácter ignóbil do senhor António Indjai. Todavia, cometeram o grande erro de considerar que a escolha de um analfabeto funcional para ocupar o cargo de vice-chefe das Forças Armadas seria benéfica para todos. Na medida em que o mesmo se consideraria satisfeito com o lugar perante as condições que apresenta, condições que numa situação e num país normal, não lhe serviam nem para vestir uma farda militar. A dupla Cadogo-Zamora, por sua vez, teria um pau-mandado para os seus jogos. Pelos vistos subestimaram o ambicioso António Indjai. Impasse do caso Bubo Na Tchuto A chegada de Bubo Na Tchuto à cidade de Bissau no início do ano perturbou muitas pessoas, entre elas a dupla Cadogo-Zamora. E por causa dessa perturbação as coisas não foram conduzidas à base da lei, como manda qualquer democracia. Aliás, (respondendo a algumas pessoas) é essa condução do processo à base da lei que tem sido pedida desde início, jamais foi defendida a impunidade ou algo que se pareça. Exigiu-se respeito pela lei e pelos direitos humanos consagrados na carta das Nações Unidas! Mas infelizmente o processo arrastou-se por demasiado tempo o que originou um impasse sobre o caso. Na minha óptica, toda a perturbação que o regresso do Bubo levantou, deveu-se ao facto do mesmo ter sido “tramado” aquando da sua fuga para a Gâmbia, como forma de limpar caminho para se chegar ao Nino, onde se acabou por chegar. O que significa que com a sua volta, o Bubo iria com certeza querer vingar-se de todos aqueles que lhe tramaram. E acabou por encontrar no analfabetismo, carácter ignóbil e ambição desmedida do senhor António Indjai o caminho perfeito para a sua vingança. Longe de mim querer aqui afirmar a inocência do senhor Bubo Na Tchuto, deixo essa constatação, ou não, para a justiça. Porque certamente se ele se escapa de uma, existem muitas outras de que não escapará. Agora, quer se goste, quer não se goste, a minha opinião é de que culpado ou inocente da acusação de golpe de Estado de que foi alvo, existe muita tramóia por trás de todo o processo que levou Bubo Na Tchuto a fugir para a Gâmbia. Conclusão Concluo estas considerações condenando veementemente este acto inqualificável dos delinquentes a que chamamos de militares e reafirmando a ideia deixada na introdução. Com uma reflexão participativa, analisando as opiniões de profissionais na matéria, podemos virar o jogo e transformar este péssimo momento numa oportunidade única de corrigir um erro histórico. Basta para tal aceitarmos que necessitamos de ajudas efectivas no terreno para conseguirmos fazer a tão falada reforma no sector da defesa. Basta para tal deixarmos de colocar o dinheiro à frente de tudo e perceber que existem coisas que só o dinheiro não resolve. É extremamente importante que se corrijam os erros e se limpe o caminho que se quer percorrer. Caso contrário, o destino vai nos livrando dos n’bai luta e vão crescendo os n’bai 7 de Junho. O povo Guineense já está mais do que farto que meia dúzia de analfabetos, de vez em quando, resolvam usar da arma para atingirem os seus fins obscuros. O povo Guineense já está cansado que alguns delinquentes se considerem donos da Guiné-Bissau, pela simples razão de que possuem armas. O povo Guineense já sofreu demasiado, porque alguns colocam interesses pessoais ou étnicos acima dos interesses nacionais. Fé irmãos, Deus é grande e não dorme! Estamos juntos! VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR! Associação Guiné-Bissau CONTRIBUTO |