Por: Samuel Reis*

samuel_henrik@hotmail.com

29.01.2009

Ao escrever este texto nunca tive a intenção de ofender ninguém, apenas quis espicaçar o espírito crítico e despertar a sede de verdade que acredito estar presente em todos os leitores. Todas as minhas opiniões podem ser compreendidas e alcançadas com o uso da razão e de um pouco de bom senso, já as informações que aqui publico podem e devem ser confirmadas ou desmentidas por cada leitor individualmente, recorrendo este a todos os meios de pesquisa que estiverem ao seu dispor. A minha intenção é, isso sim, desmistificar uma figura da actualidade que se tornou o objecto de culto de pessoas das mais variadas faixas etárias e origens, portanto compreendo que as minhas palavras possam causar transtorno a alguns. Peço-vos que relembrem o meu direito à liberdade de expressão, direito esse que já tem sido atropelado por muito mal informados fanáticos apoiantes da figura em causa. Peço-vos também que não tentem contra-argumentar sem primeiro se informarem devidamente acerca de tudo o que este texto aborda. Quanto aos leitores mais sensíveis relativamente a passagens com fortes tons de sarcasmo, ironia ou sátira… Lamento imenso, mas devo admitir que de facto não me preocupei minimamente com a gentileza que o desmantelamento de dogmas religiosos requer.

 

Desendeusar Obama

 

 Desculpem-me, prezados optimistas compulsivos, Senhoras e Senhores, leitores de todas as nacionalidades e cores, mas estou, muito sinceramente, cansado de ouvir falar do novo presidente dos Estados Unidos como se de um messias se tratasse. Até já o vi ser repetidas vezes comparado com Amílcar Cabral, algo que me causa imensa dor. Como podem comparar um homem que até agora não deu provas de nada com um combatente que deu a vida pela causa do seu povo e pela humanidade?

  O endeusamento de Obama, para além de ser uma gigantesca ingenuidade e uma alucinação colectiva a uma escala nunca antes vista, pode ter consequências catastróficas. Precisamos de parar e pensar. Devemos libertar-nos do efeito sedativo que todo este show hollywoodesco teve sobre nós, sobre a nossa percepção do mundo e do governo (ainda) imperialista americano. Desliguem-se da comunicação social que tão veemente ataca os africanos e afrodescendentes. Esses media que nos usam para todo o tipo de técnicas de manipulação. Métodos que vão desde criar “arrastões” fantásticos e limpar nomes de polícias assassinos, sujando simultaneamente o de negros assassinados (como no recente caso da execução à queima roupa de um jovem negro de catorze anos na Amadora, brevemente retratado como um acto de justiça pelos “nossos” media) até à constante e permanente criminalização dos bairros “problemáticos” e, consequentemente, da comunidade de africanos e afrodescendentes. Tudo através do bombardeamento das mentes dos telespectadores com relatos sensacionalistas de toda a espécie de crimes cometidos por “minorias étnicas”.

 Façamos como nos aconselhou o grande Amílcar Cabral. Pensemos pelas nossas próprias cabeças!

 Tal como todas as “eleições”, principalmente as dos Estados Unidos da América (um país com uma história repleta de capítulos obscuros, como o presente), estas foram eleições que desde o início estavam totalmente condicionadas. Uma grande parte do mundo ainda pensa que só haviam dois candidatos…

 Mas, first things first (como diriam os nossos American “brothers”). Em primeiro lugar, gostava de desacreditar todos os que consideram a eleição de Obama uma prova de que o racismo institucionalizado acabou, que os media já não são racistas ou que a estrutura da supremacia branca sofreu algum tipo de abalo com estas efemérides. Quando muito, a “eleição” (mais adiante compreenderão as aspas) provocou duas mudanças, uma negativa e uma positiva. A negativa é que invocar o nome de Obama se tornou uma forma de as nações ocidentais aliviarem as suas consciências, desculparem os seus crimes contra os negros e darem continuidade às suas atitudes subliminarmente racistas, para permanecerem negligenciando a origem dos problemas que fustigam África e a diáspora africana, problemas que estão profundamente enraizados no colonialismo ainda em vigor. E a única mudança verdadeiramente positiva de que me apercebo em tudo isto (sem contar que já não verei o Sr. Bush na minha sala de estar com a mesma frequência) talvez seja o impacto que um presidente negro nos Estados Unidos pode ter na mente de um jovem negro habituado a ver os da sua cor reduzidos a palhaços televisivos, soldados, criminosos ou escravos de trabalhos precários. Agora os nossos jovens podem sonhar mais alto, porque um negro é presidente da nação mais poderosa (para bem ou para mal) do planeta.

  Contudo, o racismo na América continua intacto, inalterado, mais camuflado do que nunca, agora munido de novos meios para infectar as mentes dos americanos e de novas técnicas para segregar os seus alvos. A evidência disso é que os discursos de Malcolm X continuam a ser tão actuais e oportunos como eram na década de 60. Sugiro, aos leitores com possibilidades económicas, que viajem até Chicago, cidade onde o actual presidente Estados Unidos da América deu o seu vitorioso discurso, aquando da sua vitória nas “eleições”, para verem com os vossos próprios olhos como o apartheid americano funciona no século XXI. Um Chicago para não-brancos pobres, outro Chicago para brancos ricos e algumas felizes excepções… South Side Chicago para uns, North Side Chicago para outros. Vejam com os vossos próprios olhos os ghettos imundos e sufocantes onde a Nova América armazena a sua mão-de-obra escrava e o seu stock de criminosos úteis para atemorizar a nação. Disto não se atreve a falar o Sr. Barack Obama, o novo “líder negro”, o messias dos “afro-americanos” (e aparentemente também de uma estranha ceita de quenianos adoradores de presidentes americanos mestiços) que não prestaram muita atenção às lições que Malcolm X nos deixou. Talvez o Sr. Obama não fale destas coisas, nem dos mais inconvenientes discursos anti-imperialistas de Martin Luther King (como aquele intitulado “Beyond Vietnam”) apenas porque teme a condenação que prontamente se abateria sobre si caso cometesse tal heresia, condenação essa que viria dos verdadeiros responsáveis pela sua presente situação (não, não me refiro à condenação dos eleitores). Enquanto usa e abusa do nome de um revolucionário e líder popular assassinado, servindo-se dele como uma ferramenta política, Obama não expressa nenhuma opinião concreta, à semelhança do que faz em todos os seus discursos. O president prefere usar frases feitas, clichés, americanismo barato, palavras emblemáticas mas vagas e inconclusivas, slogans desprovidos de valor e todo o tipo de retóricas incomprometedoras, porque Obama não é nada, é um mito, uma folha em branco, e é precisamente aí que reside o seu poder persuasivo. A “change” que ele tão energicamente advoga pode ser o que cada um de nós quiser, porque ele nunca a especifica, tornando-se assim o candidato pessoal e imaginário de cada eleitor.

 Em segundo lugar, e agora sim, gostava de esclarecer que, para surpresa de muita gente, eu não votaria nem Obama, nem McCain, nem me absteria do voto, caso fosse um eleitor americano. Não votaria nem em discursos pálidos abrilhantados por uma pele morena (que encobertamente foi a questão principal durante todo o processo) e em “Yes, we can!”, nem num idiota, pura e simplesmente (desculpem-me a brevidade da análise para o Sr. McCain, não vou perder tempo com esse sujeito). Eu votaria em Cynthia Mckinney ou talvez em Ron Paul, é difícil dizê-lo daqui, do outro lado do Atlântico. Faria isto porque ambos se comprometeram a fechar a Federal Reserve System, o coração de um sistema monetário que é o cancro dos Estados Unidos (que por sua vez se tornam o cancro do mundo). Quem não conhece estes dois nomes, é urgente que pesquise por eles na Internet e alargue os horizontes. É ainda possível obter informações sobre mais candidatos e fazer um upgrade a qualquer espectro político bicolor. Em pleno século vinte e um já não faz sentido eleger a vermelho e azul, é como eleger a preto e branco… Não concordam?

 Prosseguindo. Lamento destruir as vossas eleições encantadas, mas No, we can’t. Não, os presidentes não são eleitos devido às suas ideias políticas. Não, a América não é democrática. Não, eu não estou alucinante nem sob o efeito de qualquer tipo de estupefacientes (achei oportuno esclarecer também este último ponto para os mais dogmáticos seguidores das mentiras americanas). Alguém notou naquele 1% que aparecia nas estatísticas da CNN? Aquela pequena fatia no grande holograma que formava um gráfico circular vermelho e azul. Recordam-se? Era aí que estava a “Hope” e a “Change” para a América.

 McCain e Obama foram os únicos com alguma hipótese de “vencer” as “eleições”. Este fenómeno tão comum de ditadura bipartidária deu-se, mais uma vez, não porque eles serem eloquentes, bons candidatos ou representantes dignos do povo americano, mas sim porque Obama e McCain foram os candidatos patrocinados pelos senhores do dinheiro, ou seja, pelos banqueiros e beneficiadores da Federal Reserve System, assim como pelos donos de grandes corporações, magnatas do petróleo, etc. Os outros pequenos partidos ou candidatos independentes, sem o apoio dos verdadeiros governantes da famosa “democracia”, nunca foram sequer falados aqui em Portugal, porque até lá, nos USA, receberam uma equivalente falta de cobertura dos media manipulados e manipuladores. Os meios de comunicação social praticamente só publicitaram Obama e McCain, comentando um outro candidato em raras ocasiões, sempre focando uma característica irrelevante do mesmo, como forma de o rotular e, assim, arruinar a sua campanha. Isto acontece por exemplo com os já referidos candidatos Cynthia Mckinney e Ron Paul, que já foram estereotipados e ridicularizados em incontáveis ocasiões. Tudo foi encenado de maneira a que o mundo julgasse que a única verdadeira escolha se resumia a Obama ou McCain, o preto ou o branco, azul ou vermelho, mudança milagrosa ou continuação da política bushista, paz ou guerra, o bem ou o mal. Contudo, para os cidadãos mundiais mais atentos, está claro que tudo isto não passa de um conto de fadas cheio de técnicas de controlo de massas e manobras de propaganda frequentemente descaradas.

 Obama não é o oposto de Bush (a não ser no seu talento como orador, no seu carisma e na sua cor de pele), em várias ocasiões ele já citou Bush, sem lhe fazer qualquer referência, em relação a questões como uma possível invasão ao Irão (os Estados Unidos não se cansam de invadir países…). E, acima de tudo, Obama não é “anti-guerra”, as provas disso são o facto de que apoiou o financiamento da guerra no Iraque enquanto senador e a postura imperialista que tomou com o seu discurso de tomada de posse. Mas o mundo estava demasiado extasiado para reparar como o “messias” americano proferia frases estranhamente familiares, similares às de Bush em tantas ocasiões passadas, válidas tanto para democratas como para republicanos, ambivalentes, como sempre. Demonstrando a atitude de polícia do mundo, incitando a arrogância ocidental entre palavras como “liberdade”, “democracia”, “justiça” e, no clímax da hipocrisia, “direitos humanos” (palavras chave utilizadas também por todos os presidentes imperialistas do passado). Recorrendo ao medo e à insegurança dos norte-americanos, prometendo mudança sem nunca a especificar, Obama revelou-se perante milhões de espectadores e ninguém foi capaz de gritar “O Rei vai nu!”. É que talvez a maior parte ainda pense que o rei vai realmente vestido. Desiludam-se agora, porque mais tarde será doloroso reconhecer a sua nudez. O mito Obama que os mass media criaram está muito longe do Obama real. É que hoje em dia as campanhas políticas usam o mesmo método das publicitárias: mentir. Hoje em dia as campanhas políticas seguem o mesmo lema que as publicitárias: “parecer é mais importante do que ser”. Hoje em dia o candidato mais popular é o candidato com melhor publicidade.

 Pois bem, detesto ser portador de más notícias, mas o novo presidente está envolvido em casos de fraude e corrupção que lhe valem um lugar no “Top 10” dos políticos mais corruptos dos EUA desde 2007, segundo a fundação “Judicial Watch” (visitem www.judicialwatch.org/judicial-watch-announces-list-washington-s-ten-most-wanted-corrupt-politicians-2007 e http://www.judicialwatch.org/barack-obama). Está tudo documentado.

 Para além de tudo isto, Obama não foi só um membro da controversa Trinity United Church of Christ, a igreja do reverendo Jeremiah Wright, origem de tremendos escândalos dignos dos tablóides sensacionalistas e da imprensa cor-de-rosa. Ele é, ainda hoje, membro do CFR (Council on Foreign Relations), facto muito mais relevante. O CFR é uma organização privada, não partidária, com intenções dúbias e desconhecida pela maior parte dos americanos, assim como pela maior parte dos habitantes de todos os restantes países, devido à insignificante cobertura mediática a que é sujeita. Certamente este relativo anonimato contribui para o poder da organização, que já foi considerada, por quem a investiga, como a maior influenciadora das políticas internacionais americanas (ou imperialistas americanas, prezemos a frontalidade). A organização teve como membros praticamente todos os presidentes norte-americanos desde a época de Eisenhower até Obama (com algumas excepções, como George W. Bush, que contudo sempre esteve rodeado de membros do Council, à semelhança das restantes excepções). Um lobby que reúne tanto poder durante um tão longo período de tempo não será digno de mais atenção da nossa parte…? Cabe a cada um de nós procurar informações sobre esta organização e formar opiniões fundamentadas.

  À medida que o tempo passar a verdadeira face de Barack Obama será revelada, a menos que um conveniente atentado à sua vida transforme o seu nome numa palavra mágica para manipular o povo e garanta que a sua imagem permanecerá imortal, convertida num ícone da cultura pop, vazio, ao nível de Che Guevara, flexível e adequado para qualquer ocasião. Esperemos que isto não aconteça e que os norte-americanos despertem deste sono a tempo de provocar verdadeira mudança e corrigir o erro do presidente Woodrow Wilson, exigindo o encerramento da Federal Reserve System imediatamente.

 Despeço-me, finalmente, com duas citações, a primeira é de Clare Boothe Luce, a segunda de Roberto Rossellini:

 

“A diferença entre um optimista e um pessimista é que o pessimista, normalmente, está mais bem informado.”

 

“Eu não sou um pessimista. Aperceber-me do mal onde ele existe é, na minha opinião, uma forma de optimismo.”

 

* 17 anos de idade, estudante na área de Línguas e Humanidades do 11º ano com aspiração de vir a ser jornalista


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