“Dr. Koumba Yalá, a principal carta fora do baralho do Partido da Renovação Social?”
Timóteo Saba Mbunde * 24.12.2012 A abdicação unilateral e voluntária de Dr. Koumba Yalá em relação a liderar o Partido da Renovação Social, PRS, manifestada no seu discurso proferido no último congresso do próprio partido (12/2012), o qual ele mesmo fundou há 20 anos e vinha dirigindo durante todo esse período e tendo sido ele a figura principal e aglutinadora de toda a massa simpatizante e militante desse partido político ao longo da sua história têm suscitado algumas análises e leituras divergentes. Tecendo a minha abordagem analítica sobre esse cenário, resgato alguns dados que são cruciais no meu entender: Primeiro, o PRS para significar o que significa e gozar da dimensão, grandeza de organização política que representa a nível nacional e também no plano internacional a figura carismática de Koumba Yalá foi determinante (se isso é ideal ou não é uma outra discussão, até porque esse tipo de relação de "dependência" não é inédito na história dos partidos políticos inclusive nos países com mais anos de democracia e consequentemente com sociedades mais lúcidas e críticas que a da Guiné-Bissau). Não obstante, uma agremiação político-partidária deve contar mais com sua estrutura, história e liderança orgânica competente como um todo e não de uma figura apenas para se sobressair e alcançar seus objetivos, mas sim para se complementar. Tal relevância de Yalá para o partido é reconhecida e expressa recorrentemente no seio de simpatizantes e militantes do PRS. Agora, há de se admitir que em termos de organização político-administrativa Dr. Koumba deixa muito a desejar, provavelmente que o PRS associado com carisma atípico de Yalá teria sido um partido muito mais forte e mais preparado para as disputas eleitorais caso ele fosse um dirigente partidário que conseguisse promover o funcionamento pleno e substancial dos órgãos do partido plenamente na base estatutária (tarefa nada fácil, vide o caso do PAIGC) evitando desmandos, desacatos político-partidários e crise de liderança consequentemente. Nem sempre apenas o carisma sobrevive às ondas da política, sem uma inteligência de liderança apurada muitas vezes não dá. O governo do PRS e presidente Yalá (2000-2003) pecaram por falta de capacidade e/ou experiência político-administrativa gerando desarranjos político-institucionais cíclicas, má gestão, exonerações deixando a desejar na sua primeira passagem enquanto autoridades políticas máximas da Guiné-Bissau maculando a imagem do Dr. Yalá e culminando com a sua destituição militar em Setembro de 2003. De lá em diante vem se registrando ciclicamente sobressaltos político-militares (sempre foi assim na Guiné-Bissau desde a sua independência episódios desse gênero) em que a sua figura algumas vezes foi associada por algumas opiniões dos bastidores, porém sem comprovações legais. Convém ter sempre em mente que o mesmo Koumba Yalá foi igualmente vítima de golpe de Estado como já supracitei, um fato que corrobora a tese de que os golpes de Estado e as seqüentes adulterações da ordem politíco-institucional na República da Guiné-Bissau é um problema de matriz político-militar estrutural e não de índole partidária e étnica isolada. E nesse último golpe de Estado de 12 de Abril 2012, Dr. Koumba Yalá viu o seu nome veiculado por dirigentes do governo do PAIGC deposto pelos militares e algumas opiniões públicas nacionais e internacionais, nesse último caso com destaque a algumas figuras de autoridades governamentais de Angola como principal articulador político de 12 de Abril (O PAÍS, 2012). No entanto é pertinente salientar que todas essas acusações provem de pessoas pró-regime deposto em 12 de Abril, fato que nega a imparcialidade de tais opiniões, mas qualquer das formas, a imagem política de Dr. Yalá se desgastava na esteira de todo esse cenário. Agora o que seria feito para que a imagem do carismático e líder fundador do PRS fosse resguardada e reprojetada para os próximos embates político-eleitorais na Guiné-Bissau? Por que faço essa questão? Por uma simples razão, o próprio Dr. Koumba Yalá referiu no seu “discurso de despedida” que não estava se abdicando da senda política, mas sim da pretensão em ser dirigente político-partidário: [...] Eu, Koumba Yalá, aproveito esta ocasião soberana que se me oferece para vos declarar que me despeço, não da política, mas das disputas de mandatos e de cargos políticos partidários, [...] E também aproveito para vos lembrar que Aristóteles já advertia, na Grécia Antiga, que o homem é um animal político, querendo destacar o pressuposto da vida gregária dos homens, porque o homem sozinho é uma abstração (WWW. GBISSAU.COM, 2012). Fica sim enigmático o futuro político de Koumba Yalá, porém é mais provável vier a ser o candidato do PRS para presidência da Guiné-Bissau nas próximas eleições do que o contrário. O auto-afastamento formal de Dr. Koumba Yalá diante de todo esse quadro pode ser uma estratégia nutrida pelo reconhecimento das partes, partido de Renovação Social de um lado e principalmente o próprio Dr. Koumba Yalá do outro lado, da necessidade de dar uma nova dinâmica ao partido sem a sua liderança resguardando e preservando dessa forma sua imagem política correntemente arranhada e liderança contestada, inclusive por alguns dirigentes desse partido político, no sentido de renovar seu vigor político identificando os erros cometidos no passado, trazendo consigo novas filosofias político-administrativas e organizacionais. Contudo mesmo com sua oficializada abdicação da direção do PRS presume-se que desempenhará o papel de tipo offshore balancing participando das principais decisões do seu partido. Portanto, o partido de Renovação Social não se deixaria desperdiçar por uma ou qualquer razão do seu principal símbolo político-histórico e principal fator de suas conquistas, inclusive o recém eleito presidente do partido Alberto Nambeia foi enfático nos seus elogios e reconhecimentos ao Dr. Koumba Yalá e destacando seu aprendizado político ao lado deste: [...] No seu discurso de vitória, o novo presidente do PRS afirmou que umas das suas prioridades será "unir a família PRS" mas também "unir a família guineense", e teceu vários elogios a Koumba Ialá ( BALDÉ, 2012). Alguém me diria, mas os estatutos do PRS reservam prerrogativas ao presidente do partido, no caso o recém eleito Sr. Nambeia a ser naturalmente o candidato do partido. Pois é, mas ao mesmo tempo é possível que seja um outro membro desde já que assim o queira e seja indigitado pela liderança do partido (o que inclui obviamente a figura do presidente). O também recém-eleito secretário geral desse partido, Florentino Mendes Pereira, indagado pelo jornalista da Rádio França Internacional, RFI sobre a possível candidatura de Dr. Koumba Yalá pelo partido às próximas presidenciais do país, ele não confirma, mas também não desmente essa possibilidade, (RFI, 2012). O principal desafio de Alberto Nambeia será de colmatar as brechas produzidas nos últimos anos por algumas contendas e fricções internas do partido, (BALDÉ, 2012) perseguindo a mais sólida reconciliação catalisando os órgãos e bases do partido no sentido de resgatar a “homogeneização político-ideológica” mais próxima daquela que o caracterizava nos anos 1990 antes da sua ascensão democrática ao poder em 1999. Portanto, “Dr. Koumba Yalá não se trata de uma carta fora do baralho do PRS” e pelo contrário, se não houver eventualmente querelas políticas entre o agora presidente do PRS, os principais órgãos do seu partido com o Dr. Koumba Yalá, fato improvável, mas (querelas são comuns na política) Koumba Yalá deve ser sim o candidato do PRS às próximas eleições presidenciais na Guiné-Bissau. Muito embora não passe de uma conjectura analítica minha, vamos esperar para ver. Timóteo Saba M’bunde, Internacionalista. Referências: BALDÉ M. Alberto Nambeia é o novo presidente do PRS. (2012). Disponível em: <http://www.portugues.rfi.fr/africa/20121215-alberto-nambeia-e-o-novo-presidente-do-partido-renovacao-social>. Acesso em 22 de Dezembro. 2012. O país. Os meandros do Golpe. (2012). Disponível em: <http://www.opais.net/pt/opais/?det=26496&id=1929> Acesso em 22 de Dezembro. 2012. RFI. "Nova dinâmica" do PRS com Alberto Nambeia - Guiné-Bissau - RFI (2012). Disponível em: <http://www.portugues.rfi.fr/africa/20121217-nova-dinamica-do-prs-com-alberto-nambeia>. Acesso em 23 de Dezembro. 2012.WWW. GBissau.com. Discurso: Despedida do Presidente Koumba Yalá no IV Congresso Ordinário do PRS. (2012). Disponível em: <http://www.gbissau.com/?p=3611.>. Acesso em 23 de Dezembro. 2012.COMENTÁRIOS AOS DIVERSOS ARTIGOS DO ESPAÇO LIBERDADES
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