A SAÚDE DOS GUINEENSES NA GUINÉ E NA DIÁSPORA
Prof. Joaquim Silva Tavares (Djoca)
03.04.2009
Editorial de Abril
Editorial de Abril
Tempos incertos para a situação política no país, que para mim, representam duas coisas: outra vez a Saúde e a Educação escondidas nas traseiras; infelizmente, depois de 36 anos ainda insistimos em enveredar pelo mesmo caminho; Caros amigos/amigas do Contributo: O Didinho lançou o desafio tempos atrás: tempo de criar uma conta bancária para depositar algo das nossas poupanças e planear comprar materiais escolares para as nossas crianças (o ano lectivo de 2009/2010 aproxima-se) e alguns materiais para os hospitais.
Na semana passada, fui dar uma palestra ao hospital da Base Aérea (Nellis Airforce Base - já não ia lá desde 2003/2004, altura em que lá trabalhei nas Unidades de Cuidados Intensivos); Uma Lieutenant da Força Aérea foi-nos buscar à porta e ao entrar na sala de conferências, fiquei um pouco intimidado ao ver todos os médicos/enfermeiros fardados, com vários níveis de chefia militar; mas, logo de seguida, fiquei à vontade, porque todos estavam lá para aprender e não para intimidar ninguém!!! A vantagem do poder militar, quando provido de um certo nível de educação, é saber que deve seguir as mesmas regras e obedecer às autoridades civis, colaborar com a sociedade civil para fazer avançar um País.
Infelizmente, devido a agendas pessoais, ganância, cobiça, os nossos políticos manipulam os militares para conseguirem os seus objectivos; mas, no fim, quem tem as armas são os militares, que com um nível de educação abaixo do aceitável, quando se sentem encurralados, usam a forca bruta, até que um outro oportunista consiga controlá-los e o ciclo se retoma….
Há um ano atrás, planeava ir à Guiné, para cumprir com os rituais tradicionais ligados às mortes dos meus antepassados; essa visita estava prevista para Setembro de 2009; Desde há 3 semanas, tenho recebido telefonemas, emails de amigos e familiares a dissuadirem-me desse plano e cada vez mais estou convencido de que tenho que lhes dar razão; ninguém é imune aos actos de barbaridade cometidos contra membros da sociedade civil (ex: Silvestre, Pedro, Fadul); o que me surpreende (talvez não) é a conivência dos nossos líderes que preferiram optar pelo silêncio passivo e olhar para o outro lado…
Digam-me que não é verdade; prefiro pensar que é um pesadelo: não! Nenhum médico esteve envolvido no esquartejamento do ex presidente; o juramento de Hipócrates, as regras de Deontologia médica são universais e se é verdade que um médico participou na barbaridade, a este ser nunca seria permitido praticar medicina: o bisturi ou a catana (se necessária), quando nas mãos de um médico, são usados para salvar vidas, não para tirar a vida ou ajustar contas com pacientes/moribundos, seja ele quem for. Ia pôr a vida de um familiar ou amigo meu nas mãos deste bárbaro? NÃO; Espero que sejam só histórias e que não tenha sido alguém pertencente à classe médica, o autor desse acto inqualificável.
Estive a falar na semana passada com um antigo colega meu, Antonio Pedro (Brice), que agora reside em Cabo Verde e falamos de quão inteligentes são os filhos da Guiné, sempre se salientando nos vários ramos da vida, destacando-se em várias áreas, o que nos deixa a todos orgulhosos, mas também abordamos o tema de quanto mudou a Guiné e a forma de ser dos Guineenses: tornamo-nos num País de Sanguinários, Bárbaros, Selvagens e fonte das criaturas mais cruéis que a África tem produzido nos últimos 50 anos! Quando Vamos Parar de nos Dizimar e optar pelo caminho do Saber, da Educação?
Também abordei o mesmo tema com o Iano (craque Ianito va a Paris) em França; o Jaime Delgado (sempre no interior: agora em Vale de Cambra; na Guiné, era Farim ou Mansoa), o Abelha, na Guiné. Sem abordar estes temas, foi com alegria que falei (depois de mais de 25 anos) com o João Sá (médio extraordinário do Sporting de Bissau) e o Maio (guarda-redes), radicados em França.
Quando é que as nossas crianças voltarão a SONHAR?!
Desculpem o desabafo! Mas como disse tempos atrás: A nossa geração falhou! Devemos tentar criar condições para que a gerações vindouras não falhem.
Quanto à entrevista do Didinho: Regressar, todos queremos regressar de uma forma ou doutra; como mencionei semanas atrás, um regresso definitivo, cada vez se está tornando numa quimera: mas, 1 ano tem 12 meses e somos muitos médicos no exterior: uma rotação de 1 a 3 meses para trabalhar ajudar nos hospitais, no ensino etc., pode-se arranjar; mas, é preciso abertura e vontade política dos nossos dirigentes para se fazer um plano de acção; Podem estar seguros: não estamos interessados em tirar o “tacho” a ninguém; acreditem-me: monetariamente, só temos a perder, mas há ESSA SATISFAÇÃO ÍNTIMA DE AJUDAR A NOSSA TERRA; SATISFAÇÃO QUE NÃO TEM COMPARAÇÃO COM NENHUM OUTRO SENTIMENTO.
Este mês, vou tentar apresentar 2 casos clínicos e finalmente responder ao Muma sobre o óleo de Palma (I didn’t forget you, Muma, mas há tantas opiniões diametralmente opostas sobre este assunto, que tem-me sido difícil chegar a uma conclusão; no fim, talvez decida enviar-te os vários artigos para poderes tirar as tuas conclusões).
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VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!
Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO