A SAÚDE DOS GUINEENSES NA GUINÉ E NA DIÁSPORA
Prof. Joaquim Silva Tavares (Djoca)
08.10.2007
Editorial de Outubro
Antes de mais, gostaria de agradecer o site CONTRIBUTO por esta oportunidade que nos dá, a nós médicos guineenses, na Guiné e na Diáspora, de podermos divulgar/publicar artigos que possam ser de interesse na prevenção e tratamento de algumas doenças que afectam as populações da nossa terra.
Até à criação de um site exclusivamente dedicado aos problemas da Saúde dos guineenses na Guiné e na diáspora, aproveitarei a popularidade do site CONTRIBUTO para abordar temas de Saúde e responder a questões vindas de colegas médicos ou de cidadãos guineenses em geral, sobre tópicos exclusivamente médicos e relacionados com a Saúde; perguntas de âmbito político, se me perdoam, estarão fora desta secção.
Antes de abordar temas específicos, é minha obrigação e dever recordar e homenagear os pioneiros (trailblazers) da medicina na Guiné: médicos de origem guineense ou de outras origens que trabalharam na Guiné e abriram o caminho para todos nós.
Estes verdadeiros gigantes da nossa Guiné, formaram-se nos anos sessenta e setenta e tenho que lhes tirar o chapéu!
Com todas as pressões sociais e dificuldades que tiveram que enfrentar, conseguiram ter alma, força e "inner strength" para concluírem os seus cursos. Eles são os verdadeiros heróis da nossa terra, cujos nomes deviam constar nos nossos livros de ciências e de história das escolas primárias e secundárias da Guiné.
Aposto que se perguntarmos a qualquer aluno de uma escola primária ou de um liceu para nomear personagens guineenses de referência, de certeza que nenhuma personagem do campo das Ciências será mencionada, pois a Ciência não tem sido uma área prioritária, sendo mesmo, o que chamamos de enteada, na Guiné.
Na devida altura (por volta da realização do Congresso de médicos guineenses na Guiné e na diáspora, que esperamos vir a ser uma realidade nos próximos dois ou três anos), essas personalidades serão devidamente homenageadas. É o mínimo que podemos fazer, antes que seja muito tarde...
Até lá, vamos tentar falar deles, recolher os seus testemunhos, as suas experiências e conselhos, aproveitando as suas sabedorias para podermos ser ainda melhores do que somos.
Os Doutores Maurício Dias, Honório Sanches, Pedro Cunha, Ciro Andrade, Gardette Correia, Datarama Sacardandó, Celestino Costa e tantos outros que nos inspiraram a ser médicos, fizeram parte das nossas imaginações, foram cavaleiros andantes das nossas memórias de crianças e, directa ou indirectamente, foram responsáveis por termos hoje o título de Dr. antecipando os nossos nomes.
Não, não vos esquecemos, nossos heróis!
Vocês ainda são a FORÇA que nos empurra para irmos mais longe nas nossas carreiras.
Como se diz aqui nos Estados Unidos, para seres bom no que fazes, tens que ser um estudioso do passado da tua profissão e conhecer os que te antecederam; no que me toca, não me considerarei um bom médico até que conheça melhor esses ilustres que nos antecederam e que arriscamos a que a geração futura não venha a saber de suas existências, porque não lhes homenageamos devidamente, seja por egoísmo, egotismo, negligência, etc.
Aproveito para lançar o desafio a quem quer que conheça estes nossos heróis, a enviarem informações, dados, paradeiros e artigos sobre eles, para juntamente com temas que iremos divulgar semanal ou quinzenalmente, falarmos de cada um deles em pormenor.
Outra classe que apesar de nunca ter tido o respeito que merecia e merece na Guiné e que se sacrificou, contribuindo de forma incansável para a prevenção e tratamento de inúmeras doenças na Guiné, é a classe dos enfermeiros, que foi "acoitada", "fustigada" e forçada a exilar-se em Portugal.
Eram os alicerces da nossa Saúde, extremamente competentes, incansáveis e honestos, estes homens e mulheres também merecem ser homenageados, sendo que, na devida altura o faremos!
Quantos de nós eles não trouxeram à luz, preveniram doenças infecto-contagiosas, ajudaram a debelar doenças mentais, etc.?
Aqui nos Estados Unidos, os médicos e enfermeiros costumam tratar-se como parceiros (partners) de Saúde, porque temos muito que aprender uns com os outros e, se não trabalharmos como equipa, os doentes é que sofrem!
Esta mentalidade ainda não está generalizada em Portugal e noutros países lusófonos; por questões de cultura, atitude, educação, etc. Tirem as vossas conclusões!
Falar de (vou omitir muitos nomes, por traição da minha memória, perdoem-me) Humberto Pereira, Teresa Tavares, Tio Manel Silva, Leandro Gomes, Chico Dú, Marcelino Mata, Bebé, Roque, Ema, Geralda, Marta, Santy, Mário Lima, Estanislau Robalo e tantos outros, implica dizer obrigado a todos eles, pela contribuição que deram para a Saúde na Guiné e por terem ajudado a salvar muitas vidas, incluindo de alguns de nós e, também, por dignificarem o nome da nossa terra através da dedicação, inteligência e dignidade no dia-a-dia das suas labutas em Portugal.
Recordo-me de programas de rádio na Guiné, em que enfermeiros (salvo erro era o Santy), fizeram um trabalho brilhante de prevenção de doenças através de conselhos básicos como lavar as mãos, ferver a água, etc.
Este é o tipo de trabalho que se pode fazer com médicos e enfermeiros radicados na Guiné, trabalhando no terreno e, ainda, com médicos e enfermeiros na diáspora, através da rádio e da Internet, podem trabalhar juntos e preservar a saúde das nossas crianças, (para terem oportunidades como qualquer criança no mundo, dito civilizado e não "morrerem" logo à nascença), dos nossos jovens e idosos.
Estou entusiasmado com este Projecto!
Vai-me preencher a agenda (entre as aulas aos internos, estudantes e residentes, as visitas aos doentes, a clínica privada, o laboratório de "Sleep Disorders", as conferências, os estudos e a família, de certeza que vou ter as mãos cheias, vou precisar que os meus dias passem a ter 28 horas), mas nunca virei as costas aos desafios e este é um para a posteridade e, no meu dicionário, ainda estou para encontrar a palavra derrota!
Um abraço a todos!
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