ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 28 DE JUNHO - QUEM SERÁ O MESSIAS PROMETIDO?
Bubacar Turé *
03.06.2009
Não obstante o estado de ruína, estagnação e abandono com que se encontra o Palácio dos Heróis Nacionais, a corrida para o seu próximo inquilino parece que será a mais renhida de sempre na história multipartidária Guineense. São treze candidatos para as eleições presidenciais marcadas para o próximo dia 28 de Junho.
Numa democracia pluralista, a conquista e o exercício do poder político são feitos através do sufrágio universal livre e transparente. Significa que, todos os aqueles que se sentem portadores de uma determinada bagagem política e técnica ou mesmo um projecto político que possa ser útil para o arranque de um determinado país rumo ao desenvolvimento sustentado, têm por esta via, caminho aberto para pôr em prova as suas ideias e convicções. Contudo, existem determinados requisitos prévios logicamente aceitáveis mas não legais, que devem merecer a consideração de qualquer pretenso candidato com um mínimo de sensatez político. Exemplificativamente são eles, a honestidade intelectual, a autoavaliação, capital político razoável, definição clara das convicções e objectivos etc.
Não pretendo fazer uma dissertação sobre o perfil para o cargo de Presidente da República, cuja definição cabe exclusivamente ao legislador constitucional, mas a verdade é que, o cargo da magistratura suprema do país não pode ser banalizado ao ponto de ser cobiçado por pessoas sem um mínimo de escrúpulo, cujas verdadeiras intenções, são duvidosas e inquietantes. Esta corrida desenfreada para a sucessão do falecido General Nino Vieira, vítima de um sistema que ele próprio criou e sustentou, só revela a dimensão da ambição desmedida do homem político Guineense que, pelos vistos, continua a não aprender com as lições do passado.
Quais as motivações que estariam por detrás deste tanto interesse no envenenado cadeirão presidencial? Fazendo uma leitura do passado político e profissional de alguns candidatos, facilmente se conclui que uns se candidataram porque acreditam possuir mais-valias para o país, utilizando as suas influências se forem eleitos, para pacificar os espíritos dos Guineenses, promover o diálogo político e a reconciliação, rumo ao progresso. Outros, entraram no jogo para ganhar uma certa notoriedade, que possa servir como elemento importante para tirar dividendos políticos nos outros embates eleitorais, como tem sido o modus operandis de alguns aventureiros políticos nesta nossa Guiné. Há também os que se candidataram para desviar as atenções da opinião pública sobre os seus verdadeiros problemas pessoais assim como do país em geral, para depois vitimizarem-se das consequências das suas próprias acções solitárias. Outros, ainda, candidataram-se, para com o capote de candidato presidencial que lhes atribui certas imunidades, lançar mensagens que ilustrarão sentimentos de ódio e de vingança. Enfim, a lista dos presumíveis motivos estranhos à essência da função, é extensa, cabendo ao cidadão eleitor, fazer leituras, estar atento e tirar as devidas ilações.
Outrossim, convém fazer uma pequena análise sobre os três potenciais vencedores, as suas virtudes e percursos políticos, sem qualquer intenção de ofender quem quer que seja. Começando pelo Malam Bacai Sanha, este candidato tem a vantagem de ser um pacifista natural, que sempre se opôs à violência como forma de resolução de conflitos, e, possui uma base política própria (insuficiente) dissociável do seu partido. Contudo, após a sua derrota nas últimas eleições presidenciais, refugiou-se em Dakar para, segundo os seus apoiantes, evitar perturbar o então regime no poder. Ora, esta atitude, só pode ser compreendida como um acto de cobardia política, porque não teve a ousadia de enfrentar e denunciar os atropelos do seu então adversário Nino Vieira.
Em relação ao candidato Henrique Pereira Rosa, ele é, na minha modesta opinião, uma das reservas morais que o país possui, um homem de paz, culto e recto. Infelizmente, não soube gerir as suas boas virtudes. Depois do fim do seu mandato presidencial, nunca trabalhou para granjear um capital político necessário, capaz de sustentar nos dias de hoje, a sua ambição presidencial. Remeteu-se num silêncio profundo, ausentando em várias acções cívicas de repúdios das organizações da sociedade civil, em que era convidado.
No concernente a Kumba Ialá, ele é um dos poucos candidatos com uma base política de apoio estável, com maior pendor ao seu grupo étnico. Contudo, ele representa um símbolo da decepção, depois de ter frustrado as legítimas expectativas do povo, que lhe concedeu 72% nas eleições presidenciais de 2000.
Estas eleições presidenciais acontecem numa altura particularmente crucial para a sobrevivência do país enquanto membro do concerto das nações. Depois das barbaridades que se seguiram aos trágicos acontecimentos dos dias 1 e 2 de Março, os Guineenses devem dar sinais claros de seriedade para transformar os actuais constrangimentos e ameaças em oportunidades e forças internas de desenvolvimento. No entanto, este desiderato não pode ser alcançado com panaceias políticas mas sim, com a escolha de uma liderança culta, honesta, capaz de conciliar os diferentes segmentos desta sociedade fracturada pelas lutas intestinas de sobrevivência. É claro que as eleições, por si só, não representam soluções para os problemas anacrónicos que enfrentamos, mas elas constituem um passo importante para reinstalar a confiança da comunidade internacional e dos parceiros do desenvolvimento. Aliás, a verdadeira solução para a crise global com que o país enfrenta, está nas mãos dos Guineenses e passa necessariamente pela revisão de todo um sistema político e militar viciado que, de um lado, tem premiado o obscurantismo, o nepotismo, a corrupção generalizada e os assassinatos de altas figuras públicas do estado. Do outro lado, tem excluído a qualidade, mérito e a competência. Mas uma coisa é certa, acreditar que existe para estas eleições um messias ou um extraterrestre todo-poderoso para salvar a pátria do calvário e da ganância política, é uma falsa expectativa que a breve trecho, será confirmada e testemunhada por todos, enquanto os Guineenses continuarem a apostar nas eleições, como único instrumento para a resolução definitiva dos seus problemas.
Quantas eleições exemplares foram realizadas nesta pátria de Amílcar Cabral? Quantos messias foram proclamados e autoproclamados? Resultados, decepção total. Chegou a hora de nos afastarmos definitivamente das soluções fáceis para os reais e complexos problemas do país, que a meu ver, estão muito longe de se resumir no simples comportamento ou atitude negativa de fulano ou beltrano.
A Guiné tem de adoptar uma estrutura militar democrática e profissionalizada, com equilíbrio étnico no seu seio; tem de adoptar um sistema político que reflecte a realidade sócio-cultural do seu povo, pois só assim, poderemos almejar uma paz duradoira na qual os valores da democracia e do estado de direito permanecerão imutáveis. Chegou a hora de interiorizar e domesticar os obstáculos à paz e bem-estar aos cidadãos e traçar as estratégias e linhas orientadoras profícuas, capazes de colocar nos patamares mais altos onde primam a justiça e a dignidade humana como bens sublimes, onde os revanchismos, os complexos de inferioridade e de superioridade desaparecerão, onde a mentira, o esquizofrenismo e o ódio, serão barrados pela cortina de ferro. Estes desígnios devem ser apostas sérias de todos, ao invés de confiarmos nas soluções insustentáveis que já revelaram de forma inequívoca as suas falências, dentro de uma conjuntura nebulosa e periclitante.
Contudo, nos últimos tempos tem-se notado um enorme esforço por parte da comunidade internacional, para normalizar a actual atmosfera política caracterizada pelo medo e por desconfianças mútuas. A única maneira de compensar esses esforços com vista à estabilização política e económica da Guiné-Bissau é o respeito escrupuloso da legalidade democrática e consequente subordinação das Forças Armadas ao poder político constituído. Com o efeito, todos os intervenientes políticos e sociais devem eleger a concertação e o diálogo político como estratégias para a resolução dos conflitos. O que está em causa, é a modernização ou seja como fazer da Guiné um país desenvolvido e solidário, livre, escutado e responsável no plano internacional. Este é o maior desígnio que deve unir todos os Guineenses.
* Jurista e activista dos direitos humanos
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