REPRESENTANTE ‘PERMANENTE’ DA GUINÉ-BISSAU NAS NAÇÕES UNIDAS: UMA DAS PRINCIPAIS FACES QUE REPRESENTAM TUDO QUANTO HÁ DE ERRADO NA GUINÉ-BISSAU DE HOJE?

 

Embaixador Alfredo Cabral, onde é que estão os cem mil dólares?

 

Como movimento de libertação nacional, o PAIGC sempre conseguiu manter uma representação diplomática condigna nas Nações Unidas.  Como Estado independente - trinta anos mais tarde - a Guiné-Bissau não consegue sequer ter uma embaixada.  O que é que aconteceu?  Saiba como a Guiné-Bissau perdeu através de um despejo vergonhoso as instalações que vinha ocupando continuamente em Nova Iorque desde os tempos da sua Luta Armada de Libertação Nacional

 

Parte III

 

 

Por: João Carlos Gomes *

 

João Carlos Gomes

 

22.06.2007

 

*Escritor/Jornalista

Nova Iorque

 

 

1. Até agora, o Representante Permanente da Guiné-Bissau Junto das Nações Unidas, o Embaixador Alfredo Lopes Cabral, ainda não conseguiu apresentar a documentação necessária para justificar o desvio dos cem mil dólares que lhe foram confiados desde Outubro de 2005,  e que eram destinados a: reabertura da embaixada e, à compra de três veículos de serviço.  O que já está claro é que, sejam quais forem as conclusões finais deste processo, é preciso não esquecer alguns dos factos até aqui enumerados, e que – salvo uma justificação adequada -  nunca permitirão ao Embaixador Alfredo Cabral uma saída airosa desta situação.

 

2. Entretanto, enquanto esperamos pelos justificativos relativos ao desvios de fundos ou, de uma acção oficial por parte das autoridades competentes de Bissau, vamos continuar a analisar os factos à volta das actividades daquele que, segundo os dados que continuam a emergir, representa possivelmente, um dos piores investimentos jamais feitos pela Guiné-Bissau, em matéria de quadros, particularmente, numa das áreas mais sensíveis da governação: a diplomacia. 

 

3. Como movimento de libertação nacional, o Partido Africano Para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), sempre conseguiu manter uma representação condigna num dos melhores e mais cobiçados endereços em Manhattan, Nova Iorque, nas imediações das Nações Unidas.  Sendo esse o caso, como é que é concebível que, como Estado independente e soberano, e, mais de trinta anos após a sua independência, a Guiné-Bissau não possa sequer manter uma representação junto à maior instância diplomática mundial?

 

4. Os dados agora obtidos apontam para uma gestão absolutamente incompetente, senão mesmo intencionalmente malévola - considerando as circunstancias - como uma das principais razoes que levaram à situação injuriosa que culminou com o despejo da embaixada em Nova Iorque.  Os passos dados pelo Embaixador Cabral rumo ao abismo financeiro da Missão diplomática, incluem o facto de que, na altura em que a Guiné-Bissau entrou para o Conselho de Segurança das Nações Unidas para cumprir um mandato rotativo de dois anos (Janeiro de 1996 a Janeiro de 1998), por causa da sua mania de novo-rico, e, claramente sem fundos adequados para justificar os seus maus hábitos, o Embaixador Alfredo Cabral mandou ampliar as instalações da Missão.  No processo, decidiu obter um espaço muito maior do que aquele que vinha albergando a representação guineense e, o qual o pais já não estava a pagar com a regularidade requerida no seu contrato de arrendamento.

 

5. Tendo em conta as circunstancias, torna-se difícil entender as razões que levaram a uma decisão que, já se sabia de antemão, iria resultar, de imediato, na quase duplicação da dívida existente, não só sem garantias orçamentais futuras para cobrir as despesas adicionais, mas também sem quaisquer necessidades reais que justificassem tal decisão.  De realçar ainda o facto de que, obviamente, para além da renda mensal adicional, o próprio processo de ampliação do espaço também ter os seus custos tanto em material como em mão de obra.  No entanto, o mais ridículo ainda, é o facto de que, desde que a ampliação foi feita, a Embaixada nunca chegou sequer a ter funcionários suficientes para ocupar, numa base regular,  todos os gabinetes criados, muitos dos quais estiveram vazios na maior parte do período que precedeu a acção de despejo – 1996 a 2004.  Isto, para um país que precisa de fazer uma gestão extremamente estrita e austera de todos os seus recursos, tanto humanos como financeiros.

 

6. Mas, mesmo se se tornou imperativo ampliar tais instalações para acomodar as necessidades inerentes ao período do seu mandato no Conselho de Segurança – o que claramente não parece ter sido o caso -  porque  é que nos seis anos que se seguiram ao fim do mandato da Guiné-Bissau em Janeiro de 1998, o Embaixador Alfredo Cabral não mandou reduzir o espaço adicional que tinha obtido, sabendo que o país não se podia dar ao luxo de o pagar?  Ou, se a intenção do Embaixador era manter o espaço, seja porque razão, porque é  que, por exemplo, à semelhança do que fazem outras embaixadas, incluindo de países muito mais estáveis financeiramente, ele não alugou o espaço excedente, uma medida que podia ter ajudado a angariar fundos e a diminuir assim de maneira substancial as despesas de representação?  O local em questão, é uma das áreas mais procuradas em toda a América do Norte, inclusive, por companhias e organizações das mais competitivas do mundo.

 

7. Esta foi, em parte, a história recente do processo que, no seu conjunto, e, num ‘efeito dominó’, para além de ter contribuído para aumentar sensivelmente a dívida nacional, levou ao despejo do Estado da Guiné-Bissau em Outubro de 2004 de um espaço privilegiado e, de certo modo, histórico que vinha a ocupar desde os anos setenta.    

 

8. Um facto intrigante é que, mesmo depois do despejo, houve muitas outras alternativas que o Embaixador podia ter considerado para solucionar o problema do espaço.  Mas, infelizmente, decidiu pura e simplesmente ignorá-las todas.  Por exemplo, consta que, num acto de solidariedade característico das relações de longa data entre os membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), a dada altura, o Embaixador de Timor-leste convidou o Embaixador Alfredo Cabral a partilhar temporariamente as instalações da sua Missão, enquanto a Guiné-Bissau estava a tentar encontrar uma solução para o seu problema.  Aparentemente, preferindo vagabundear pelos corredores das Nações Unidas, Alfredo Cabral recusou.  Como é que se explica que o Embaixador Cabral possa ter recusado uma tal oferta, quando não tinha alternativas?

 

9. Entretanto, consta igualmente que o Embaixador chegou a afirmar a um dos seus superiores que tinha mesmo chegado a alugar um espaço para a Missão mas que devolveu as chaves porque era muito caro.  O estranho é que, ao que parece, nenhum dos funcionários que trabalham com ele, ou mesmo cidadãos que procuram os serviços da Embaixada, chegaram a ter acesso a tais instalações para confirmar a sua existência.

 

10. Não menos importante é o facto de que, ao que parece, durante o processo de despejo, o Embaixador Alfredo Cabral recusou-se a tomar medidas para proteger o património do Estado, uma acção que, tudo indica, levou à perda de todo o equipamento e mobiliário pertencente à representação diplomática guineense.  Em seguida, abandonou o veículo oficial de propósito.  Tudo isto, aparentemente, porque não queria fazer uso do material, equipamento, mobília e veículos que tinham sido utilizados pelo seu antecessor, por razões que serão discutidas numa das próximas peças.  Diga-se de passagem que esta não foi a primeira vez que o Embaixador Cabral manifesta abertamente o seu desrespeito total, tanto pelo património e pelos símbolos nacionais como também para com os seus concidadãos e, a situação económica e financeira do seu país.  Por agora, digamos apenas que o abandono do material existente faz parte de um esquema bem elaborado que o Embaixador Cabral tem vindo a utilizar ao longo da sua carreira como forma de manipular os seus superiores e obter a transferência de novos fundos para poder esbanjar, sem ter em conta o estado da economia do país que representa, um dos mais pobres do mundo. 

 

11. Mas o mais chocante ainda de todo este processo, é o facto de que, o Embaixador nem sequer se dignou tomar medidas para proteger de maneira condigna a bandeira do PAIGC ou a foto gigante de Amilcar Cabral, materiais históricos de valor inestimável que vinham a adornar a embaixada, desde os tempos mais difíceis da Luta Armada de Libertação Nacional, e que representam o orgulho associado aos inúmeros sacrifícios consentidos pelos Combatentes da Liberdade da Pátria.  O facto do Embaixador não ter demonstrado nenhuma preocupação se estes símbolos iriam ou não parar ao patamar público, juntamente com todo o lixo da cidade de Nova Iorque, é uma atitude, no mínimo, intrigante para quem adoptou, ostenta, e, tanto beneficiou do apelido ‘Cabral’.

 

12. O conjunto de informações até agora obtidas já não deixam dúvida alguma de que, se a representação diplomática da Guiné-Bissau na ONU foi objecto de um processo de despejo pelas autoridades da cidade de Nova Iorque nas circunstancias em que foi, o Embaixador Alfredo Cabral é, sem dúvida, um dos indivíduos mais directamente responsáveis por essa situação vergonhosa e indigna a que a Guiné-Bissau e os seus cidadãos foram sujeitados.  Alfredo Cabral tem todo o direito de decidir tornar-se no ‘Ambassador homeless’ (‘Embaixador Vagabundo’) como é agora conhecido.  O que não tem, é o direito de - com a sua gestão incompetente e irresponsável do património comum - arrastar o nome da Guiné-Bissau para a lama que criou e na qual se meteu.

 

PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO

www.didinho.org