ENTRE O PESSOAL E O COLECTIVO: DEFINIR CAUSAS!
Por: Fernando Casimiro (Didinho)
10.02.2008
Cada um de nós deve olhar para a nossa terra, para os nossos irmãos que nada têm, vivendo na miséria e na ignorância, para saber que, nós que temos algo mais do que eles, temos a obrigação e o dever de lutar por eles!
Durante a luta de libertação nacional, vários foram os compatriotas (extensivo aos cabo-verdianos), que numa primeira fase, se decidiram pelo seguimento dos princípios de causa para a libertação da Guiné e de Cabo-Verde.
Se uns sabiam o significado dessa causa, outros houve, que refugiaram-se na argumentação da luta de libertação nacional para, entre outras coisas, fugirem do vazio que suas vidas representavam.
Cabral sabia que era na sensibilização, na informação e formação dos aspirantes ao estatuto de político (que eram poucos, devido ao nível de formação das pessoas em presença) e dos guerrilheiros (muitos, que também, deveriam ser consciencializados politicamente), que passaria o sucesso do percurso libertador.
Ao longo do percurso libertador, várias foram as desistências e passagens para o "outro lado". Várias foram as traições de camaradas que se tinham definido como identificados com a causa libertadora, e também, infiltrações de compatriotas, que, estando do "outro lado", aceitaram fazer a estratégia da infiltração para destruírem a vanguarda libertadora estruturada pelo PAIGC.
Uns saíram e voltaram a entrar, outros saíram e passaram a fazer discursos de ocasião no sentido de desgastar e destruir o movimento libertador e a pessoa do seu líder Amilcar Cabral.
Foram várias "missões impossíveis", até à consumação do assassinato de Amilcar Cabral a 20 de Janeiro de 1973, uma traição que sustenta, exactamente, a tendência destrutiva do interesse pessoal ao invés da tendência construtiva da consciência pessoal ao serviço do interesse colectivo.
Apesar disso, a luta continuou e o grande objectivo, a grande causa definida por Cabral, a independência da Guiné e de Cabo Verde consumou-se, em fases distintas, é certo, mas, mostrando que a vanguarda libertadora estava muito bem estruturada ao ponto de provocar a reviravolta que culminou com o fim do fascismo em Portugal e a abertura de negociações que permitiram a oficialização das independências das restantes ex-colónias, pois na Guiné a independência tinha sido proclamada pelo PAIGC a 24 de Setembro de 1973.
Nos dias de hoje há quem continue a lutar (não com armas de fogo), motivado pelo espírito libertador de Cabral, porquanto, a independência, ter gerado novos rostos e figuras de dominação e repressão, ao invés de possibilitar a liberdade e o bem-estar ao nosso povo e, consequentemente, o desenvolvimento da nossa terra.
Há quem faça hoje da sensibilização, da informação e formação dos guineenses a força positiva para a mudança necessária e urgente que se impõe a nível de mentalidades e atitudes!
Orgulhosamente, faço parte dos "combatentes" inconformados com a situação por que tem passado a Guiné-Bissau!
Felizmente, não precisamos de nos filiar em partidos políticos para definirmos a Guiné-Bissau e os guineenses como causa!
Felizmente, não precisamos de falar a uma só voz para estarmos unidos na defesa da causa comum!
Felizmente, não colocamos o interesse ou a afirmação pessoal acima do interesse e afirmação quer da Guiné, quer dos guineenses no seu todo!
Há, no entanto, os que não se identificam com causas comuns e preferem realçar os seus complexos de superioridade analítica, esquecendo-se de que sensibilizar, informar e formar o nosso povo não se faz com citações filosóficas de pensadores que o nosso povo desconhece, ou de realidades distintas do que temos na nossa terra.
Para escrever sobre os males dos outros, deixem-me escrever primeiro sobre os males da minha terra!
Para escrever sobre ditadores de outros países, deixem-me escrever primeiro sobre os ditadores da Guiné-Bissau!
Para escrever bonito e com base na fantasia, teria optado por ser romancista!
Quando numa luta alguém apresenta cansaço, ou resolve abandonar a causa que o motivou a lutar, deve manter-se coerente com o respeito pelos demais, que não apresentando cansaço ou continuando motivados pela causa definida, merecem ser apoiados ao invés de desmotivados a abandonar a luta por quem decidiu mudar de rumo, ainda que, estando no seu direito de acção!
Hoje, infelizmente, continuamos a ver situações de traição e infiltração nas movimentações típicas de protagonismo nacionalista.
Para os apologistas desse protagonismo impõe-se dizer que o que importa hoje, é o patriotismo, acto que não está ao alcance de todos, porquanto ser um compromisso com o país, com a pátria, e não uma reivindicação burocrática tal como o é o nacionalismo dos nossos dias!
Infelizmente quem trai a sua consciência, acaba por trair o colectivo, pois despe-se de princípios e tudo o que antes da traição lhe impunha reflexão, avaliação e consideração, passa a ser o "faz de conta", o "vale tudo" de um rosto que perde a vergonha e passa a auto-rotular-se com adjectivos de comprometimento, por conveniência, no sentido de se vitimizar.
Infelizmente, hoje, tal como ontem, continua a haver traições e infiltrações nos meios que movimentam a consciência nacional.
Infelizmente, hoje, tal como ontem, continua a haver pessoas que cultivam a tendência destrutiva do interesse pessoal ao invés da tendência construtiva da consciência pessoal ao serviço do interesse colectivo.
Apesar destas constatações, hoje, também posso dizer que, tal como ontem, havemos de continuar a trabalhar até que a Guiné se liberte das amarras que alguns dos seus filhos lhe colocaram!
Aos que querem silenciar as vozes e opiniões a que todos temos direito, sugerindo o iluminismo das suas limitações e abrangências, através da contradição desonesta e falsamente argumentada como debate de ideias e ao serviço de interesses mesquinhos, lanço o seguinte desafio:
Sejam positivos, sejam democráticos, sejam criativos, sejam originais; divulguem a Guiné sem filtragens, abram os vossos espaços de opinião a outros guineenses!
Esforcem-se pela produção de ideias e opiniões que possam ajudar a resolver os problemas da Guiné e dos guineenses, apresentando e discutindo esses problemas e não ocultando-os, ou argumentando, de forma desonesta, que não existem!
Não basta impressionar para convencer. É preciso, de facto, mais do que isso, ou seja; é preciso fazer a diferença!
Mostrem trabalho, definam as causas que defendem!
Garantida e definitivamente, o Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO está ao serviço da Guiné, dos guineenses de bem e de todos os que se interessam pela Guiné-Bissau!
Vamos continuar a trabalhar!
A TER SEMPRE EM CONTA: Objectivos do Milénio
COMENTÁRIOS AOS TEXTOS DA SECÇÃO EDITORIAL VAMOS CONTINUAR A
TRABALHAR!
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