EU, NAZARÉ DE PINA VIEIRA...


 

 

 Nazaré de Pina Vieira

07.12.2012

Nazaré de Pina VieiraCaras/os amigas/os, compatriotas.
Venho por este meio manifestar a minha indignação, revolta e perca gradual de esperança na Justiça no Território Nacional da Guiné-Bissau. Sou uma simples cidadã Guineense na Diáspora, vivo em França desde o levantamento militar de 1998, altura em que Eu e os meus três filhos menores, fomos obrigados a sair do nosso País por causa da guerra que todos sabemos, que infelizmente travou e destruiu muita coisa boa, que até hoje ninguém das autoridades políticas, parou para pelo menos fazer um levantamento dos estragos ou dirigir uma simples palavra de consolo às suas vítimas, com palavras de motivação para aqueles que viram todo o seu trabalho e o esforço de anos, vandalizados e destruído por ódio ou simples vontade de estragar o que é dos outros e conseguido com muito trabalho.

Eu, Nazaré de Pina Vieira, toda a Guiné-Bissau sabe que sempre trabalhei, fui muito activa no meu país, com projectos pessoais e participação em causas públicas, desenvolvi actividades como empresária nas áreas de Educação e Cultura, ramo Comercial e ultimamente, em 1998, com um projecto na área de apoio médico e consultas, Criei uma Clínica Médica e já com a data marcada para sua inauguração, não chegou a realizar-se porque deu-se o inicio da guerra que parou o País e não só, separou famílias, destruiu com bombas muita coisa, entre eles a minha Clínica, e pronta a abrir ao público. Factos que as populações podem confirmar, afinal foi em Bissau que tudo se passou, vimos o meu esforço de trabalho ser destruído em minutos ou dias consecutivos por causa da guerra.

Venho aqui falar-vos de uma situação triste e difícil do ponto de vista material e psicológico, que tem afectado a minha vida familiar em França juntamente com os meus filhos.

Quase quatro anos passados dos assassinatos do então Presidente da Republica da Guiné-Bissau, João Bernardo Vieira, e do chefe de Estado Maior Tagma Naway, já Eu carregava sobre os ombros a responsabilidade maternal do projecto vida e de educação dos nossos três filhos em França.

O Presidente Nino Vieira, que abruptamente ceifaram a vida horas depois do seu amigo e camarada da luta Tagma Naway, num crime hediondo que o mundo inteiro viu e acompanhou, todos nós (familiares e amigos) temos aguardado por justiça, aguardamos uma palavra de quem de direito neste processo, mas que ainda até hoje, não se disse absolutamente nada, o Estado, o governo anterior e os partidos políticos de oposição, nada se fez até hoje, tanto ao nível da Justiça, como da responsabilidade política e moral do Estado da Guiné-Bissau, como pessoa de bem, nada se fez em relação aos filhos do homem que mataram em pleno mandato do mais alto cargo da magistratura da Nação.

Nada de concreto se moveu no sentido de uma resolução deste problema.

As pessoas que deveriam falar aqui perderam a fala, tudo permanece no segredo dos “deuses” e duma possível corrupção à volta deste processo de Justiça de si ausente, sem responsabilidades apuradas, pensão de sangue que os filhos têm direito mas que ninguém sabe dizer nada sobre o assunto, como também sobre o expectante julgamento em segredo de justiça, parecendo que muito se tem falado e pouco se tem feito, ninguém diz nada, o que faz pensar que estamos num beco sem saída.

Mas a verdade é como o azeite, vem ao de cima quando menos se espera, pelos vistos este processo não está assim tão “parado” como pensávamos, afinal há gente que beneficia com tudo isto, afinal a pensão de sangue dos meus três filhos, tem vindo a ser levantado indevidamente e desviados para fins criminosos (roubo), com o consentimento de alguém, com esquemas orquestrados por gente dentro do aparelho de Estado ou de “governos”, tudo isto desde a primeira hora e após a morte do pai dos meus filhos, CREDO!

Custa a acreditar que ASSASSINARAM NINO VIEIRA, AGORA QUEREM “ASSASSINAR” parte da sua carne com esta privação à distância, os filhos do Presidente deixados à minha guarda como Mãe biológica e afectiva, filhos do único Homem com quem vivi maritalmente na Guiné-Bissau, e os nossos filhos serão sempre amados com eterno orgulho de uma Mãe pelos filhos, um projecto de família que fundamos os dois. Hoje parte dela está ausente, na falta do Pai deste lar, recordado com muita saudade e tristeza, hoje sou Eu a única responsável por esta tarefa de criar os nossos filhos e lutar por eles. Certeza absoluta que a sorte e esperança, guardam o melhor para nós todos, com a felicidade e muito amor entre nós, nesta luta diária para sobreviver a tudo e todos, resistir aos que roubam o pão da boca destas crianças, criminosos à solta, que continuam a esvaziar o recheio humano das nossas vidas, por ganância pessoal, invejas, maldades e obsessão por se encherem indevidamente do que pertence aos outros, gente esta que veio do mal, que passa a vida a roubar o que é dos outros, porque nunca fizeram outra coisa, gente mal formada e sem carácter, dignidade ou moral para dar uma palavra ao Povo, gente em quem não se pode confiar.

Em tempos logo após ao levantamento militar último na Guiné-Bissau, tomei a decisão de escrever uma carta ao porta voz do comando militar do levantamento de 12 de Abril deste ano e mais tarde ao Presidente de Transição Serifo Nhamadjo, e ultimamente ao Sr. Primeiro ministro de transição, que por incrível que pareça, não obtivemos resposta ou nenhuma indicação no sentido de avançarmos para resolução desta situação. Só tem havido promessas e recados, o que não faz sentido, quando se trata de assuntos com formalidade merecida em conteúdos e contexto de Estado.

Hoje sou obrigada a aturar esta vida sozinha em França, como já disse, nunca vivi com a mão estendida para pedir, não sei fazer isso, toda a gente sabe que fui muito activa no País e ajudando sempre o meu Povo.

A guerra de 1998 destruiu a minha Escola Jean de la Fontaine, um espaço pedagógico que atribuiu quarenta lugares gratuitamente às crianças com dificuldades materiais e financeiras, ou oriundas de famílias carenciadas em Bissau, que também disponibilizava 11 lugares gratuitos aos militares, com a finalidade de aprendizagem de línguas estrangeiras: Francês, Inglês, Espanhol e Árabe.

Nos fins-de-semana tínhamos um curso de línguas dirigido às crianças que quisessem praticar uma língua viva. Foi um grande projecto para o nosso País, e mais, também fui empresária na área comercial (castanha de caju), voluntária e apoiante de instituições de solidariedade social da nossa Terra.

A minha Escola funcionou apenas durante cinco anos, até lá foi um sucesso reconhecido ao nível nacional, até que um dia começou a guerra, esta mesma Escola e uma Clínica de apoio médico em Bissau (que seria inaugurada a oito de Junho de 1998), foram ambos destruídas com bombas. Peço desculpas pela escrita levantar o meu passado, mas quero simplesmente vincar o meu activismo profissional e social ainda no nosso País, e assim, distanciar-me de qualquer modelo parasita que vai aguardando por migalhas, Eu não, trabalho e sempre trabalhei, hoje como viúva, sinto-me com forças para continuar esta luta até ao fim e pelos meus filhos.

Uma carta minha foi enviada ao senhor Primeiro-ministro Dr. Rui de Barros, como também foi contactado o ministro da Presidência da República Dr. Fernando Vaz, que me prometeu resolver esta questão, vejamos, até hoje já escrevi a muita gente do Estado e do governo, no entanto, há uma burocracia invisível há anos a esta data, que não deixa ainda hoje prosseguir nada disto avante, há uma zona minada e activa que não deixa passar informações, seriam estes os criminosos que desde a morte do Nino Vieira têm desviado a pensão de sangue dos meus filhos?

Mas desta vez creio que não vão tapar o sol com a peneira, bem queria Eu lavar esta roupa suja em CASA, não me deixaram, hoje venho publicamente falar disto nos órgãos de informação nacional e no estrangeiro, com profissionais que lutam no seu dia a dia para dar voz ao Povo, que aqui aproveito para agradecer de viva voz, deixando um muito obrigada para todos eles (dentro e fora do País) e do fundo do coração.

No entanto sem respostas oficiais dos representantes do Estado hoje, sem resultado de nenhuma das partes, recebo esta semana um sinal no mínimo pertinente a confirmar o que já eu suspeitava, porque aqui há crime continuado no que concerne a pensão de sangue levantados indevidamente todos os meses em nome dos meus filhos.

Recebi uma mensagem de Bissau que me confirmou que alguém tem recebido desde a morte do pai dos meus filhos, uma quantia mensal de 3.000.000, 00 de fcfa, em nome dos meus três filhos.

Reconheço agora o porquê de Eu ter enviado por cinco vezes a Guiné-Bissau um Advogado Francês e, sem resultado nenhum. De igual modo me foi proposta aqui na Europa a aceitar receber 3.000.00 Euros de uma conta do pai dos meus filhos, o que recusei, aguardando o momento exacto para expor sobre este assunto e saber mais acerca do que os meus filhos teriam o direito.

Quando o Presidente foi assassinado em Bissau, fui contactada aqui em França por três vezes por diplomatas vindos da Líbia, com a finalidade de deixarem muito dinheiro para os meus filhos, pois recusei semelhante oferta milionária, porque na realidade só podia ser dinheiro de sangue do assassinato de Nino Vieira, como ainda penso hoje em dia, era uma forma de nos calar perante o mundo pensaram eles, mas ainda ninguém sabe tudo, pois um dia falarei com mais pormenores sobre este e outros assuntos a volta deste acontecimento.

Tendo recusado este dinheiro, também enviei recados, uma questão pertinente para a pessoa levar ao seu mandante: o porquê de terem assassinado Nino Vieira. Hoje, ambos já não estão entre nós, não querendo mais falar por enquanto, gostaria apenas de deixar um pedido, que significa uma grande preocupação familiar nossa ao Sr. Primeiro-ministro Rui de Barros. Na esperança de ver uma resolução para esta questão, e partindo do princípio que estamos num Estado de Direito, num Pais Soberano, façamos alguma coisa por isto tudo, porque não deve haver dificuldades em descobrir quem levanta ou levantou os dinheiros, porque estes “assinou/assinaram”, há provas com certeza verídicas no interior do seu ministério das finanças, haverá documentos comprovativos, com gente que sabe disto dentro do ministério que o Sr. Dr. chefia, que poderá remeter para si estes factos e provas, é uma questão de agendar com os seus funcionários este ponto de ordem na resolução deste impasse. É hora de agirmos e não de palavras.

Isto não é um favor que nos fazem, é sim, um direito. Sem querer alongar por enquanto, alguém dentro do seu Ministério sabe tão bem disto quanto Eu neste momento, há que denunciar os nomes de pessoas que desviam continuadamente uma pensão de sangue dos meus filhos. Caso contrario terei Eu que publicar nome da pessoa que me pôs ocorrente desta notícia infeliz para nós.

Fui sempre uma mulher trabalhadora na minha vida, até hoje e em França, sou uma cidadã reconhecida na minha terra. Ami i fidjo di Saia di Padja, Neta di Lopé di Curro.

Ami i Guineense di nacionalidade. E'n fia na Deus, e'n preferi Djustiça Divino. N'kata Barri Padja, N'im tão pouco e'n ka têne Rabo di Padja. N'na Tchiga nha Terra a qualquer momento. Ku Deus Fala, Nha Divida, cu nha Pubis i moral, Pabia e'n ka didja nunca separa bá Delis. Nha Deus i Jesus Cristo de Nazaré.

Afinal de contas não só o meu Homem foi assassinado, como também estão a querer “assassinar” os direitos das crianças, dos meus filhos, não acha Sr. Primeiro-ministro?

Que mal fizeram estes meus filhos a estes criminosos de gabinetes ministeriais, pergunto, porque se rouba impunemente esta pensão de sangue? Quero crer que até aqui o poder não pode de forma alguma pertencer aos que apenas só o mal sabem fazer.

Alguém tem de dar um murro na mesa, de uma vez por todas e acabar com a injustiça na Terra.

Até hoje Deus nos tem ajudado, jamais seria possível este contacto a informarem acerca de nomes por trás deste desvio de pensão de sangue dos meus filhos, penso que aconteceu como ajuda divina, porque acredito.

A si Sr. Primeiro-ministro faltam alguns meses de governação para terminar o seu mandato de transição, aproveito esta carta, pedir-lhe numa profissão de Fé, que pense nesse Povo, faça o seu melhor, que entretanto lhe foi confiado por Deus esta tarefa, numa resolução de questões inerentes a nossa sociedade, podendo após a sua retirada ser considerado o Homem do Povo, porque serviu e bem ao Povo que muito precisa de si agora e sempre.

Pois sozinha não poderia ter os meus três filhos. Os mesmos não precisam de ADN (nenhum deles) para se constatar que são verdadeiros Kabi’s na Fantchamna!

Apenas queremos ver os nossos Direitos protegidos.

Falando de órfãos, Sr. Dr. Rui de Barros, gostaria de ver acautelados os direitos de orfandade na Guiné-Bissau, principalmente dos menores, o Estado a responsabilizar pelos actos reflexos nos crimes que deixaram muitas famílias na miséria, até hoje nenhuma palavra de conforto e protecção lhes foi dirigida a partir das instituições e dos seus lideres. Porquê que sabemos matar e não sabemos sequer pedir perdão?

Estes assuntos Sr. Primeiro-ministro, são nossos, de Guineenses, é preciso mudarmos de atitude, evoluir para uma sociedade mais justa e progressista, a partir de pequenos actos e comportamentos positivos, havemos de chegar com sucesso à sociedade que queremos no futuro próximo.

Peço perdão maçar-vos com este assunto meus irmãos, pois há quatro anos que tenho batalhado sozinha nesta Terra que não é nossa e agradecendo o acolhimento prestado até hoje, mesmo assim sabemos das dificuldades da vida do emigrante, estrangeiros, por isso quero ver isto resolvido e quero regressar ao meu País, continuar a valer, trabalhando para o meu Povo se Deus quiser,

Muito obrigada a todos as/os amigas/os e camaradas.

Nazaré de Pina Vieira.

 

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