SÓ PONDO OS INTERESSES DA GUINÉ-BISSAU ACIMA DOS INTERESSES PESSOAIS SE PODERÁ EVITAR UM "SUICÍDIO COLECTIVO"

 

 

Fernando Casimiro (Didinho)

didinho@sapo.pt

03.03.2009

Caros compatriotas;

Prezados amigos da Guiné-Bissau;

O que de mais valioso importa salvaguardar neste momento deveras crítico para a Guiné-Bissau, é a UNIDADE NACIONAL!

Sejamos, ao menos por um dia, honestos cada um consigo próprio;

Sejamos capazes, pelo menos no dia de hoje, de parar para reflectir, colocando questões a nós próprios na tentativa de encontrar respostas para essas questões;

Sejamos capazes de perder o medo, por um dia que seja, para exprimir o que nos vai na alma.

 

Se nos libertarmos do medo, ainda que por um dia, conseguiremos obter respostas para a maioria das questões que colocamos a nós próprios e isso ajudar-nos-á a perder o medo nos dias seguintes, o que fará com que passemos todos a trabalhar pelo interesse nacional, tomando a verdade como a essência da mente sã, que por sua vez é a arquitecta dos projectos da Paz, da Estabilidade e do Desenvolvimento, valores de que a Guiné-Bissau carece.

 

Valores colectivos que só se conseguem obter quando um povo decide ser participativo nos problemas de interesse comum, normalmente geridos por instituições reunidas nas estruturas da República.

 

A cidadania impõe-nos direitos e deveres para com a República.

No entanto, na Guiné-Bissau, a maioria do nosso povo ainda acredita que a indiferença, o silêncio e o medo de dizer o que se pensa, é a melhor solução para a Paz, a Estabilidade e o Desenvolvimento.

Continuamos a ser exímios representantes da hipocrisia e do cinismo, ao ponto de não conseguirmos perspectivar o futuro, nós que hoje geramos filhos de um amanhã que não temos o cuidado, de hoje preparar, para os nossos filhos e netos...

 

Paremos e pensemos nos males que por acção consciente ou inconsciente, por conveniência ou conivência, por omissão ou destruição de provas, temos causado à Guiné-Bissau, impedindo que a verdade nos guie e possibilite a sustentação dos direitos e deveres de todos, enquanto cidadãos, no pilar e alicerce principal de qualquer Estado, que é a Justiça.

 

A Guiné-Bissau tem sido palco de constantes ajustes de conta entre os seus filhos. O exercício do poder desde sempre foi mal interpretado porquanto explorado no sentido da defesa do interesse pessoal, ao invés do interesse nacional.

O poder, que deveria ser encarado como um reconhecimento do povo pelos seus filhos, eleitos para o representar e dirigir, cedo foi (re)definido, passando a ser um mecanismo de repressão, de divisão e exploração do nosso povo.

 

A Guiné-Bissau tem sido vista como um país de violência ao longo dos anos, quando o povo guineense é na verdade, e por incrível que pareça, dos povos mais pacíficos que há neste planeta...

 

Como explicar ou argumentar esta contrariedade?

 

Simples!

 

Vejamos que de todos os actos violentos registados na Guiné-Bissau no pós-independência, nenhum foi fruto de qualquer revolta ou manifestação popular!

 

Vejamos e sejamos capazes de reconhecer que todos os actos violentos, entre golpes de Estado e assassinatos, foram orquestrados e realizados por pessoas afectas ao poder, quer seja político, quer seja militar.

 

O povo guineense tem sido vítima dos seus piores filhos, a quem no entanto, sempre deu o benefício da dúvida, precisamente porque o povo guineense é o típico povo de brandos costumes.

 

Mas há que mudar esta mentalidade, porque hoje, mesmo que não tenhamos a coragem de dizer a verdade, a nossa verdade que seja, sobre o que vemos, sabemos e pensamos do país, os sinais do tempo acabam eles próprios por nos apresentar a verdade dos factos, que sabíamos existirem, mas aos quais fomos indiferentes, coniventes, cúmplices directos ou indirectos, em certa medida.

 

A Guiné-Bissau tem sido destruída ao longo dos anos, na sua estrutura mais importante, a humana, que diz respeito à sua própria identidade como Nação e tomando como referência o seu povo.

Hoje, estamos à mercê da demagogia dos políticos e militares que continuam a olhar para os seus umbigos e os dos seus familiares.

Hoje, estamos à mercê de um fenómeno cruel, o narcotráfico que, verdade seja dita e assumida, foi o motivo dos ajustes de contas que culminaram em actos bárbaros, quer num, quer noutro caso.

Sejamos honestos, sejamos patriotas e tenhamos a coragem de assumir que quer o General Nino Vieira, quer o General Tagme Na Waie, apesar da consideração pelas suas participações na luta de libertação nacional e, por conseguinte, obreiros da nossa independência, diria que, há muitos anos que se transformaram em inimigos do nosso povo e da terra que também era deles!

 

Há que ter a honestidade para reconhecer o bem que foi a participação de ambos na luta de libertação nacional, mas também e num percurso mais dilatado e com consequências mais penosas para a Guiné-Bissau e para os guineenses, reconhecer o mal enorme do envolvimento de ambos no fomento da intriga e da divisão do povo guineense, da corrupção, aliciamento directo ou indirecto de pessoas para o narcotráfico, crimes de sangue contra figuras incómodas, intimidações e abusos de poder contra cidadãos nacionais e estrangeiros.

 

Não podemos ficar indiferentes a qualquer morte, ainda mais, quando provocada por qualquer barbárie. Também não devemos diferenciar as barbáries. Ambas as mortes foram actos cruéis e condenáveis na mesma medida.

Se se aplica a designação de assassinato para a morte do General João Bernardo Vieira, há que dar a mesma designação para a morte do General Tagme Na Waie.

Nenhum deles deve ser referenciado como mártir, porquanto, nenhum deles ter sido morto em defesa dos interesses nacionais, mas sim, devido às consequências da guerra aberta que o carregamento de cocaína, retirado das aeronaves apreendidas o ano passado no aeroporto Internacional Osvaldo Vieira em Bissau, provocou entre os grupos de ambos.

 

Tenhamos a coragem de assumir a verdade do que aconteceu, até porque, viu-se que não houve nenhuma tentativa de assalto ao poder!

Mas há que alertar os guineenses e a comunidade internacional para a possibilidade da continuação dos ajustes de contas visando elementos afectos a um e a outro grupo.

 

Há que alertar o povo guineense e a comunidade internacional para a demagogia barata que poderá ser usada para fomentar uma hipotética crise étnica que permita um controlo do poder, até aqui não reivindicado, porque realmente os actos bárbaros da morte de Nino e Tagme foram consequentes do ajuste de contas do negócio do narcotráfico e não derivado de qualquer assalto ao poder.

 

A questão étnica não deve ser usada por ninguém, para dividir e pôr em guerra o nosso povo!

O governo deve continuar a garantir a funcionalidade das estruturas do Estado;

A Assembleia Nacional Popular deve exortar ao cumprimento da Constituição e à reposição da ordem constitucional.

O povo guineense deve aprender as lições de mais um episódio triste sustentado pela ganância e pelo desrespeito com os compromissos de servir o país.

O povo guineense deve tirar ilações do mal que é o narcotráfico e daqui em diante, lutar para expulsar esse mal da nossa terra!

 

Saibamos ter a coragem para chamar as coisas pelos seus nomes e acabar com a hipocrisia e o cinismo que influenciam a cultura do deixa andar e, por assim dizer, da impunidade.

 

O governo da Guiné-Bissau decidiu criar uma comissão de inquérito para averiguar as causas destas mortes. Mas sei que o Governo da Guiné-Bissau sabe, que o que aconteceu foi devido a disputas pela cocaína que foi retirada das duas aeronaves apreendidas o ano passado no aeroporto Internacional Osvaldo Vieira!

Aproveito para exigir ao Senhor Procurador-Geral da República que explique aos guineenses e à Comunidade Internacional como foi possível mandar arquivar o processo das duas aeronaves, argumentando falta de provas.

Pergunto ao Senhor Procurador-Geral da República se realmente quer mais provas do que aquelas que já lhe foram apresentadas e também dadas a conhecer ao então Primeiro-Ministro Carlos Correia e, consequentemente, ao General João Bernardo Vieira, ainda em vida?

A quem deve servir o Procurador-Geral da República senão à própria República?!

 

Guineenses, acreditem na nossa terra, num futuro melhor para os nossos filhos, bastando que doravante cada um faça a sua parte para a Paz, a Estabilidade e o Desenvolvimento da Guiné-Bissau. Mas lembrem-se de que só com uma mente sã, só trilhando bons princípios, conseguiremos mudar positivamente a nossa mentalidade e a nossa forma de agir em relação à Guiné-Bissau.

Para reflexão de todos: A unidade Nacional é a única forma de evitarmos o "suicídio colectivo"!

Um apelo especial às nossas Forças Armadas:

Apelo ao vosso patriotismo e ao compromisso do juramento de servir os interesses da Guiné-Bissau, submetendo-se ao poder político. Não deixem que as conquistas do nosso povo, muitas delas em participações conjuntas povo/Forças Armadas, se percam nas investidas maníacas de elites políticas ou militares!

Tranquilizem o nosso povo e os nossos amigos, garantindo a Paz e a Estabilidade que por sua vez permitirão alcançar o almejado desenvolvimento da Guiné-Bissau!

Quando falamos de militares, obviamente não estamos a referir ao grosso das nossas Forças Armadas, mas sim, a uma elite de militares que indevidamente usa e abusa do prestígio e bom nome das nossas Forças Armadas para servirem os seus interesses mesquinhos!

Valorizamos e orgulhamo-nos das nossas Forças Armadas, que são o garante da soberania nacional e da integridade territorial da Guiné-Bissau.

 

 

Viva as Forças Armadas Revolucionárias do Povo!

 

Viva a Guiné-Bissau!

 

Honra e glória aos mártires da Pátria!

 

Vamos continuar a trabalhar!

 

MINDJERIS DI PANO PRETO - Zé Carlos Schwarz

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