Guiné-Bissau: mais uma vez a subtração e divisão superam a adição


 

Alberto Luís Quematcha

quematcha@gmail.com

06.05.2014

Alberto Luís QuematchaAs fissuras de sentimento tribal e racial são, neste momento, enérgicas no nosso país. O ódio étnico e racial está a ser incitado cada dia por alguns filhos da nossa terra e por alguns exóticos com o objectivo de nos dividir. O tribalismo está a ser incitado duma forma desenfreada e com intenções malignas.  

Na semana passada o meu sobrinho foi agredido, na estrada de Biombo quando ia ajudar o seu amigo nos trabalhos de cobertura duma casa. Tudo aconteceu no carro “7 place”. Um senhor da etnia papel estava a insultar a etnia balanta, e o meu sobrinho o interpelou dizendo que não era bom insultar toda uma etnia. Este senhor perguntou ao meu sobrinho se era um balanta, o meu sobrinho respondeu que sim. O referido homem se levantou e deu um estalo no meu sobrinho e disse, “agora que perderam eleições nós vamos esmagar-vos”. Um dos passageiros protestou dizendo que não era justo o que o outro estava a fazer e tentou apaziguar os ânimos.

Atitudes como a daquela pessoa que agrediu o meu sobrinho, a de insultar a etnia balanta, verificam-se nos transportes urbanos (toca-tocas) da cidade de Bissau, nos diferentes lugares de frequência pública e nos espaços virtuais (ex: facebook).

Nos últimos tempos circulam mensagens nos telemóveis apelando sentimentos tribalistas e atitudes de violência em relação a etnia balanta. Esta realidade acontece também nas instituições laborais, instituições de ensino, etc. A discriminação de natureza tribal é visível. As atitudes de exclusão são evidentes.

Infelizmente este fenómeno não é novo, é muito antigo na Guiné-Bissau, só que nunca lhe foi dada a atenção que merece, analisado com franqueza e dado o tratamento que merece. Temos esquivado sempre de lado fingindo que o tribalismo não existe.

Gostaria de apelar as autoridades no sentido de prestarem atenção ao fenómeno de instrumentalização étnica e racial no país. Penso que o tema de tribalismo deve merecer um debate ao mais alto nível do Estado da Guiné-Bissau (ex: na ANP). Um debate franco sem hipocrisia.

Durante a luta de libertação eram os manjacos que não colaboravam para o sucesso da guerrilha. Foram perseguidos fuzilados, etc. Já nos primeiros anos da independência eram os cabo-verdianos (os burmedjus) que constituíam a ameaça da nossa unidade. A partir dos anos oitenta a esta parte são os balantas que constituem o problema. Este facto leva-me a pensar sobre qual será o próximo bode expiatório na Guiné-Bissau.

Estas atitudes são mais de divisão e subtração do que as de adição. Mas o que mais interessa, neste momento, aos guineenses é ver convergir toda Guiné-Bissau de uma forma sincera sem sonsice, construir uma unidade verdadeira na nossa diversidade.  

As posturas que fomentam divisões racial e tribal traem, de forma hipócrita, os propósitos do grande povo da Guiné-Bissau que são: UNIDADE E PROGRESSO.  

O povo da Guiné-Bissau, como qualquer povo do mundo, teve no passado e continua a ter os seus sonhos. Ontem o grande sonho deste povo era de tomar as rédeas do seu destino.

Para a libertação do jugo colonial o povo lutou, enfrentou muitos sacrifícios, muitos dos seus filhos tombaram, porque acreditava no seu sonho de ser livre um dia. O povo acreditou que era possível libertar-se. Hoje anda com os seus próprios pés. Sente-se honrado com a sua conquista, com a sua determinação. Escreveu uma bela história brilhante. Uma história de lutas, trabalho duro, dedicação e sacrifícios que faz dele um grande povo.

O que o nosso povo fez no passado, nas condições em que o tinha feito, foi mais difícil em relação a aquilo que tem de fazer agora, que é unir-se.

A união é uma conformidade de esforços. Ela tem como pré-condições a verdade e boa intenção em relação ao próximo. Se ela não for assente nestes princípios basilares a sua durabilidade será uma ilusão. E por sua vez a união é a base de tudo o que podemos desejar como: paz, desenvolvimento, bem-estar, etc.

Acredito que o povo guineense pode unir. Basta mudar a atitude! É capital descobrir que a camuflagem da verdade é a origem de muitos conflitos. O fingimento de não ver a verdade e de tentar transformar a mentira em verdade podem perigar o relacionamento entre nós e malograr o sonho deste povo, adiar tudo para um tempo incerto.

Se cada um de nós acreditar que o futuro pode ser melhor, acreditar na sua capacidade de tratar o seu próximo do mesmo modo que gostaria que fosse tratado, a mudança seria uma realidade no curto prazo.

É imperativo lutar contra as nossas tendências para o mal, temos que ter a capacidade de nos colocar no lugar do outro e experimentar os efeitos malignos de estigmatização, hipocrisias e de acções abomináveis.

Sejamos instrumentos da adição do que da divisão e subtração no seio deste povo. Façamos das nossas diferenças as nossas riquezas. Qualquer que seja etnia, raça constitui uma riqueza para a Guiné-Bissau e para o mundo.   Deixemos de fomentar o tribalismo e racismo! Já basta desta cultura libidinosa!

As minhas mantenhas para todos aqueles que lutam pela verdade e unidade dos Guineenses!

Alberto Luís Quematcha

 

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