GuinÉ-Bissau: A Complexidade do eleitorado
Por: José Gama *
26.06.2009
A complexidade com que o eleitorado na Guiné-Bissau se apresenta está a iludir tendências. As mesmas são interpretadas como indicador de favoritismo aos candidatos na campanha eleitoral em curso. Malam Bacai Sanhá foi apresentado como estando em melhor vantagem. Uma sondagem citada por uma Rádio local apresentou Koumba Yalá como o favorito. Uma segunda previsão apresentou Henriques Rosa com uma tendência de 52 % das intenções do eleitorado .
A ilusão com que estão a ser baseadas estas tendências é reflectida no comportamento do eleitorado. No interior do país a campanha de cada candidato está a ser assistida exactamente pelas mesmas pessoas (algumas lotadas por jovens sem idade para votar). Estão a tomar a campanha como uma oportunidade de diversão. No dia que a campanha arrancou, um grupo de apoiantes do falecido candidato Baciro Dabó anunciou apoio a Koumba Yalá. No dia seguinte, o mesmo grupo ou parte deste, foi à sede do PAIGC dar apoio a Malam Bacai Sanhá.
A população guineense é abrangida por um enorme vulto de analfabetismo. Porém, em meios, com poder de percepção, é citado o nome de Henrique Rosa como o candidato de consenso. Entre os três, é o que melhor perfil apresenta e que mais encanta a comunidade internacional. Tem o apoio de uma parte da juventude na capital, com realce para a rapaziada recém licenciada no exterior. É porem, lamentada ou realçada que a juventude no interior que forma a maioria, não é a mesma a que está na zona urbana de Bissau. De acordo com uma acertada estratégia interna, (do desconhecimento ainda do público), a Candidata Zinha Vaz, vai apoiar Henrique Rosa caso sejam arrastados para uma segunda volta eleitoral.
O sentimento identificado no seio da população é de saturação em face à instabilidade que o país apresenta. Pretendem votar para um candidato que se imponha aos militares ou que não seja submisso aos mesmos. A candidatura de Malam Bacai Sanhá, por exemplo, tem vindo a ser prejudicada pelo sentido de submissão que se expõe junto aos militares e pela má imagem que o seu partido tem no momento. A conveniente ligação que passou a ter com o PM Carlos Gomes Jr está a causar-lhe referências negativas.
A quatro de Maio ambos deslocaram-se discretamente à Líbia (viagem de 24 horas) para acerto de envio de material para campanha eleitoral. (60 viaturas e um helicóptero para suporte). Logo após ter sido escolhido candidato oficial pelo seu partido tentou uma aproximação com os militares, a fim de pedir garantias para vitoria nas eleições. O intermediário do contacto foi um major, Tcham Na Man que disponibilizou a sua residência para o referido encontro. Tcham Na Man que é medico do Estado Maior ganhou “respeito” pela coragem demonstrada em esquartejar Nino Vieira, vivo, em retaliação à morte do General Tagme Na Waie de quem era próximo.
A submissão que mostra vir a ter é baseada em antecedentes registados nas eleições de 2005. Um activista Doka Ferreira, observou que quando Bacai Sanhá e Nino Vieira foram questionados sobre a agenda que teriam para as chefias militares, naquele país, o falecido presidente Nino respondeu que caso ganhasse iria se reunir com os mesmos para tomar uma decisão. Para a mesma pergunta, Bacai Sanhá respondeu que não mexeria nas chefias militares. A sua posição foi avaliada como “falta de coragem”.
O terceiro candidato, Kumba Yalá, é temido que caso regresse ao poder venha a exercer a caça às bruxas. Há quem o aponte como fonte dos problemas que a Guiné vive, por ter exercido uma liderança conflituosa a nível das instituições quando foi Presidente da República. A sua campanha está a ser arrastada pelo populismo. Tem forte poder de argumentação em público, ao contrário do seu principal rival Malam Bacai Sanhá, pouco dado à exposição de ideias. Há bem pouco tempo, um grupo de anciãos e curandeiros de Bissau manifestaram-lhe publicamente os seus apoios.
De entre os três, é Kumba que tem um eleitorado fixo junto aos balantas tribo maioritária da qual faz parte. Expõe vontade de alterar as chefias militares com candidatos já identificados para ocupar os respectivos postos. Militares na marinha fazem fé no seu regresso ao poder por entenderem que o mesmo equivale, o regresso ao país do carismático contra-almirante, Américo Bubo Na Tchuto, o antigo chefe da marinha forçado a exilar-se na Gâmbia. “Bubo” era muito próximo a Nino Vieira, que lhe confiava tarefas extras estatais relacionadas com o tráfico de droga. Em Agosto do ano passado, recebeu a missão de Nino para dar tratamento a uma “mercadoria” avaliada em 24 milhões de Euros estacionada num avião no aeroporto de Bissau proveniente da América latina. Por antecipação, os homens do General Tagmé confiscaram a mercadoria e detiveram Bubo Na Tchuto no Estado Maior. Um pacto de cavalheiros, permitiu que a facção de Tagme o colocassem na fronteira com a Gâmbia simulando fuga do mesmo e anunciando que a detenção deveu-se a uma tentativa de Golpe de Estado mas que este havia fugido para o país vizinho. No pacto foi estabelecido que Bubo morreria caso voltasse ao país. Portanto, a provável subida ao poder de Kumba paralela ao afastamento de Zamora Induta (ex subordinado de Bubo Na Tchuto), harmonizará o regresso do mesmo.
As incertezas sobre quem sairá eleito estão a alimentar suspeitas de ocorrência de irregularidades propositadas. Nas zonas de São Vicente e Varela foram detectados cartões eleitorais de pessoas que não foram recenseadas. O acto está a ser atribuído ao PAIGC. Kumba Yalá e Henrique Rosa, por exemplo, opõem-se ao envio de militares estrangeiros para garantia da segurança das urnas. Ambos, de acordo com leitura dos seus discursos, receiam que estas forças possam facilitar a engrenagem de fraude. Joahn Van Hecke, Chefe da missão de observadores da União Europeia diz "não haver segurança na Guiné-Bissau". A falta de segurança é assinalada também com o caso de um diplomata angolano, Jeremias José António, agredido, sábado (17) à porta da discoteca Plack, em Bissau.
* José Gama é representante na África do Sul
do Clube dos angolanos no exterior www.club-k.net
- Formado em Geofísica pela Tuks University em Pretória, com distinção em Física
Moderna
- É finalista do curso de Relações Internacionais pela University of South
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- É articulista do Jornal Angolense e tem comentado para SABC Internacional,
televisão sul africana sobre política externa
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