GUINÉ-BISSAU: Entre esperanças e desilusões

1973-2009: 36 anos de orgulho, de esperança e de desilusão

 

 

Por: N´hobsan Pedro Djata *

midanadjata@yahoo.fr

Rabat, 23 de Janeiro de 2009

Nos bairros periféricos de Bissau, é frequente ouvir vozes de tristeza e desolação lamentarem a má situação em que se encontra o país: falta de luz, água e alimentação (a famosa teoria de «um tiro», a habitual refeição diária dos habitantes guineenses é a palavra de ordem.

No século XXI é inadmissível esta situação! O destino de cada país está  nas mãos dos seus filhos, por isso, os responsáveis pela situação em que se encontra a Guiné-Bissau são os seus próprios filhos, inclusive eu.

Às vezes, pergunto-me a mim mesmo: o que é que fiz pela Guiné-Bissau?

Qual é a minha contribuição para o bem-estar deste país? Será que sou um filho digno da Mãe Guiné e (do Filho Bissau)?

O fundador da nacionalidade guineense, Amílcar Lopes Cabral (Abel Djassi) tinha previsto uma boa repartição das tarefas entre os filhos da Guiné: o agricultor devia cultivar a terra, o pedreiro construir casas, o professor, ensinar aqueles que não sabem e formar assim a elite da sociedade guineense.

Entre esperanças e desilusões, os filhos da Mãe-Guiné encontram-se entre o martelo e o prego, sem soluções viáveis para o desenvolvimento, decidiram escolher a desilusão.

A geração dos anos 80 encontra-se sobre a influência da geração passada «Anós ku bai luta» … corrupção, tráfico de influência (costa largo em crioulo), camaradagem etc. … O interesse pessoal prima sobre o interesse colectivo.

É habitual ver na Guiné, os dirigentes a conduzir carros de alta cilindrada (Hummer, Chevrolet, VX, 4X4 etc. …) nas estradas impraticáveis, cheias de buracos; uma certa camada da população (a jet-set da sociedade guineense) viver uma vida imitando as estrelas de Hollywood e do Hip-Hop americano, enquanto uma outra camada da população (a classe desfavorecida - a maioria) a viver do dia-a-dia (bindi mancarra na beku pa um kilo de arrus)…

A Guiné-Bissau e os seus filhos já sofreram pela má governação e pedem perdão ao todo poderoso nas alturas, pelos pecados acumulados desde a independência até hoje, por isso exortam a todos aqueles que nos governam que pensem num futuro melhor, que apliquem as regras da nova prática governativa e desenvolvimento durável (sustentável).

O conformismo é a regra de ouro na Guiné-Bissau e a sagração desta prática fez com que os que tentam distinguir-se pelas suas competências e espírito forte de análise sejam excluídos do grupo, da família (núcleo vital da sociedade guineense) e considerados como pessoas indesejáveis (Persona non grata em latim).

Os nossos governantes para poderem eternamente exercer o monopólio da acção sobre as nossas populações recorrem ao analfabetismo, incumprimento do pagamento de salário, ameaças e perseguições, o que faz com que as nossas populações se preocupem em arranjar comida para sobreviver,  desinteressando-se dos assuntos da coisa pública.

O povo, aniquilado, ameaçado e perseguido constantemente, passa o seu dia-a-dia a reivindicar os seus direitos desconhecidos nas rádios privadas da capital (Bombolom, Pindjiguiti etc. …); o único meio de fazer ouvir a sua voz. Também é necessário salientar que o balanço da governação de um país, dos seus dirigentes, faz-se no fim de cada mandato e não quotidianamente como é o caso na Guiné-Bissau porque depois da campanha eleitoral, o trabalho e a acção continuam.

O povo  encontra-se sob influência de jornalistas sem formação ou mal formados e até dos simples locutores ou animadores das rádios locais.

Resumindo e concluindo, cada guineense é responsável pela situação em que se encontra esta terra por isso, permitam-me reformular a frase célebre dum grande autor: «cada povo tem o governo que merece» mas a Guiné-Bissau e os seus filhos já estão cansados de viver na agonia sem esperanças de ver o dia seguinte e querem deste modo avançar em direcção ao desenvolvimento.

 * Estudante do último ano de Mestrado em Estudos Diplomáticos Aprofundados na Faculdade de Ciências Jurídicas, Económicas e Sociais de Rabat (Marrocos). Diplomado em Gestão Administrativa pelo Ciclo Superior da Escola Nacional de Administração de Rabat

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