GUINÉ-BISSAU – GUERRA OU PAZ, EIS A QUESTÃO.

 

 

Filomeno Pina  *

filompina@hotmail.com

19.05.2012

Neste momento, parece que caminhamos num processo galopante para a guerra. Esta realidade, no entanto, parece inconsciente em muitos de nós neste momento, enquanto se radicalizam posições ou ideias pessoais. Um comportamento egocêntrico que tem circulado sobre si próprio, ambas as partes não saem do seu todo absoluto e, determinadas a que os outros se curvem perante as suas ideias. Daí que não trazem nas suas reflexões a totalidade do Povo Guineense, implícitas nas suas preocupações enquanto negoceiam. Temos aqui um ideal colectivo que está para além do eleitorado nas urnas, há que lembrar que a abstenção, por exemplo, foi superior ao que qualquer partido arrecadou na primeira volta. Os que se abstiveram convém não esquecer que continuam fazendo parte do Povo, também são cidadãos Guineenses, aquele que não foi votar não deixa de merecer direito a opinar sobre esta situação de crise política e militar na Guiné-Bissau. De certeza que a esmagadora maioria de nós quer a Paz e está disposta a lutar por ela.

Devemos reconsiderar as nossas posições já tomadas pela causa humana. O Guineense aqui nesta matéria é um todo e não várias partes separadas. Não confundir os partidos políticos onde cada um é militante ou simpatizante, votando no seu candidato colocado em primeiro ou no último lugar que seja. Afinal temos que pensar num todo e não apenas nas ideias de um só partido político, porque esta questão ultrapassou a lógica dos números em relação às urnas, isto é, porque todos querem a paz, julgamos nós ou não?

Temos que adiar este confronto perigoso e fazer de conta que somos “Padyda dy dúz mama” (uma opção pelo instinto maternal/maternagem), e ultrapassar a crise.

É bom lembrar que não haverá vencedores nisto tudo. Vencidos sairemos, a maior parte de nós, num País pequeno, em que “todos” nos conhecemos e somos próximos uns dos outros. Palpita-me que muitos de nós não terão ainda feito uma pequena “ginástica” mental em relação a esta possibilidade de desfecho, uma guerra, que ninguém de bom senso pode desejar ou esperar que sairá daqui um vencedor desta batalha, só se for louco ou de outro planeta. Iríamos todos perder física, emocional e psicologicamente, acredite.

E porquê esta clivagem a partir de um bloqueio do imaginário, não permitindo pensar a muitos de nós, que bloqueados ficaram alguns, desde o princípio deste conflito, só pensam na vitória pessoal, não chegam sequer a negociar com a mente aberta e flexível, para muitos destes é porque conhecem mal uma realidade do aparelho de Estado que passo a explicar a partir do País que temos, devemos saber contar com certos obstáculos que nos são crónicos, transferir a sua resolução no tempo e espaço mas sem tirar de “chapa” as medidas a implementar no terreno. Por exemplo, muitos agem como se tratasse de um País com uma democracia estável, quando se trata na realidade de uma democracia débil e “adolescente”, por isso mesmo temos acumulações de impunidades e outras crises internas, do ponto de vista cultural, económico, social e de valores muito mais graves, em meu entender, para se terem em conta e não piorarmos tudo o resto.

Em conceito, todos nós sabemos as linhas com que se cosem, numa democracia institucional, as normas e padrões de comportamento a levar em consideração num Estado de Direito. Como também sabemos, e muito bem, dos perigos que corre um regime político ou um governo que não cumpra com as suas obrigações, não trazendo os trabalhos de casa bem organizados e resolvidos atempadamente, para permitir uma avaliação consequente do aluno, perante o professor (o Povo), que neste caso é quem sentencia com a aprovação ou o seu contrário, o aluno examinado.

Temos um governo com a pasta da justiça, cheio de problemas que já criaram bolor, com impunidades acumuladas sem nenhuma mostra ou preocupação dos representantes desta sede institucional, a reagirem em conformidade com as expectativas populares, o que temos que admitir que é um mau sinal, um pronuncio de morte do Estado de Direito, isto é, quando efectivamente constatamos um défice democrático nas instituições, que deveriam ser transparentes, isentas, ou um espelho que reflectisse a Nação real.

Mas não conseguem demonstrar claramente a sua opção principal na prática, que é aquela que todos esperamos, JUSTIÇA IGUAL PARA TODOS, e em sede própria, não na rua. No entanto, também vemos que é precisamente neste aspecto crucial que vem vindo a falhar este "aparelho do Estado" há já alguns anos que contamos crimes sem resolução porque nem se quer chegam à barra dos tribunais, são apenas esquecidos.

Em conceito somos um Estado de direito, mas na prática, tudo indica que "mas pouco", basta rever os acontecimentos na Guiné-Bissau sem descriminar os factos ou personalidades que foram vítimas desta impunidade global. Temos crimes hediondos cometidos no país, assassinatos, abusos de direito, tráfico de influências, corrupção e outros, que em qualquer Estado de Direito que mereça esta distinção política e social, há semelhanças com o nosso País, isto simplesmente nunca acontecia em nenhum estado de Direito que se preze por qualidades desta pedagogia em democracia.

Há uma inconsciência quase total, naquele que se abstrai destas realidades e exigindo justiça num particular aspecto da mesma, sem contudo abranger o global da Nação nesta área. Para uns, deve a justiça ser implacável, para outros, nem sequer os processos chegam a ser constituídos os arguidos. É simplesmente impossível imaginar sequer que estamos a falar de um estado de direito a ombrear com países como Cabo-Verde, Senegal e outros. Temos o País que temos, mas nem pensar igualá-lo a um Estado de Direito. Porque cometemos atropelos primários de muitas formas e feitios, no terreno, só vimos pedir justiça e igualdade de Estados Democráticos, quando a situação não nos é favorável, como agora com esta crise militar e política (para os homens do poder).

De uma vez por todas Guineenses, devemos usar esta crise para lavar o sangue do chão da casa, para limar as arestas e acabar de vez com esta impunidade que tarda no terreno. Levar os criminosos à barra dos Tribunais, doa a quem doer, mas avançar no sentido de se esclarecer tudo, porque só depois um País poderá ressuscitar do ódio, rancor, violência e crime de vingança entre Guineenses. Ninguém tenha dúvida disto que foi aqui dito, acredite se quiser, é preciso fazer Justiça nos Tribunais. É para isso que eles existem, e não para passagem de modelos de fatos e de gravatas dos vários ministros e ministério público, que deixaram tudo na mesma, como se de santos se tratasse, os casos gritantes que esperam pelo dia "D" de Democracia-Real que faça funcionar as várias Instituições de Estado no País que ainda não aconteceu de forma a evidenciar esta preocupação.
Não devemos ter medo dos Tribunais, mas colaborar com a justiça em pleno, por isso, não ao uso do colete à prova de Justiça, NÃO!

Num período muito anterior a este desfecho (golpe militar), prevíamos que algo pudesse inverter uma situação já de si estudada (eleições presidenciais) caso não se tomassem medidas a vários níveis, nomeadamente nas políticas centradas nas instituições: militar; tribunal; e outras não menos importantes. Este aviso subliminar era só para alguns (gente que percebe da real situação da elite no poder na Guiné-Bissau) os observadores atentos, esta noção de que há "pólvora" escondida debaixo do travesseiro.

Percebemos que este nível de perigo, não era o Povo sabedor de tantos e tantos pormenores, não eram conteúdos com transparência suficiente para permitirem uma avaliação factual. Eram só os senhores dirigentes do País que sabiam e “nada”fizeram para prevenir a evolução das revoltas contra a justiça que deixou de ter uma palavra a dizer para alterar a impunidade que se vive na sociedade.

Os líderes deixaram arrastar uma série de obstáculos por resolver, com um deficit democrático e institucional medonho. Assistimos durante anos, a um comportamento “preguiçoso” e negligente, desta situação de impunidade que teima ser “moda” com décadas de desfile, num tapete vermelho que infelizmente está manchado de sangue. Tudo isto tem “carimbado”, como nódoa, aos olhos do mundo inteiro, este destino fatal para a Guiné-Bissau como Estado de Direito. Um troféu pretendido mas ainda distante, uma miragem a morrer na praia se os homens não mudarem rapidamente de mentalidade e pedagogia de actuações de acordo com os fins e objectivos a atingir.

“Quem com ferros mata, com ferros morre”, ditado popular elucidativo neste contexto de crise que se vive na Guiné-Bissau. Para evitarmos actos cíclicos de vinganças de “ferros” na mão, devemos antecipar esta emoção de revolta nas vítimas do “flagelo” da impunidade, para estes é sentida como uma segunda morte ou um segundo crime, desta vez cometido pelo próprio Estado. Deixa de ser visto como “pessoa de bem” e imparcial, mas sim, como estado-propriedade de um grupo de pessoas.

Tudo porque não se fez um importante trabalho de casa, há erros de palmatória, os ministros da justiça, procuradores do ministério público, têm uma palavra a dizer, a explicar, quais os obstáculos que impediram o avanço de determinados processos, embora mediáticos no meio Guineense, como em vários países amigos, que, expectantes em relação à reacção das autoridades e do governo, nada fizeram. Fizeram sim um silêncio absoluto, a impunidade que se vive em relação a crimes bárbaros até hoje sem sequer terem concluído inquéritos, para constituir arguidos nos processos. Este facto tem o peso que tem, vale o que vale, uma coisa é certa, não conheço outro país no mundo com comportamento semelhante e que ouse defender uma postura de Estado de Direito. Num Estado de Direito, os Tribunais seriam os primeiros a avançar para uma resolução, não tinham que andar a reboque de nenhum outro ministério ou líder, sobretudo o supremo tribunal de justiça, ninguém fez nada, pareciam hipnotizados a dormir em cima do fogo, mas foi-lhes fatal desta vez.

Pergunto: por que falhamos sempre, porquê? Estamos amarrados e só nos soltamos para nos matarmos uns aos outros, só nos soltamos para comermos em casa um dos outros nos funerais, só gritamos para pedir socorro quando já ninguém passa no local do crime a não ser, outro vigilante do mandante do crime. Por que mantemos este comportamento de adorar psicopatas, em vez de os colocar perante os tribunais, para serem julgados e a seguir privados da sua liberdade, dando-lhes a possibilidade de se redimirem, talvez até de mudar de comportamento coisa em que não acredito muito sinceramente. Mas em vez de um comportamento digno dos Tribunais num país democrático, assistimos sim à impotência de um Estado de Direito, dos Tribunais, atolados num pântano que não permite nadar para sair da lama que nos envolve. Por que falhamos sempre? Só a Justiça pode devolver ao Estado da Nação e a sociedade em geral, a sua dignidade, uma justiça para igualdade de circunstâncias e de condições para o Povo Guineense.

Falhamos como na neurose, em que um doente sabe o seu problema, sabe o que tem de fazer para evitar a “crise” e não consegue, por isso é medicado e acompanhado. Aqui, em relação a nós, também sabemos qual é o problema. Ao invés de o enfrentar, contornamo-lo, preferimos não fazer a pega frontal, muitas vezes por cobardia. Mas, temos coragem para engrossar o grupo de corruptos, temos coragem para matar ou ser cúmplices de crimes cometidos na calada da noite, mais, sabemos qual é a “medicação” correcta para problemas de vária ordem e, simplesmente, não tomamos os remédios receitados, quando os tomamos, alteramos a dosagem e desrespeitamos, na essência, as medidas terapêuticas, adoptadas por quem sabe mais.

Se repararem isto é crónico como comportamento desviante, registado ao longo de vários governos pós-independência e até hoje.

Sabemos que um comportamento gera comportamento, o que significa que aqui, nos vários ciclos de poder que foram passando sucessivamente nos vários governos, há uma mentalidade perversa que persiste no exercício de liderança que se arrasta, que se foi mantendo ao logo do tempo, em certos indivíduos que permanecem dentro ou fora deste comboio em andamento há trinta e muitos anos, Estes indivíduos têm influência forte na manipulação directa dos governos, fazem chantagens e ameaças ocultas que comprometem a liberdade de acção daqueles que, até sabendo fazer bem as coisas, preferem passar por “bestas”, fingir não saber, para não serem despedidos, empurrados para a margem ou até, sacrificados definitivamente pelo poder corrupto reinante.

Devo acrescentar que o conceito de meritocracia na sociedade Guineense ainda não se pratica, na maior parte das nomeações para cargos públicos. O que deixa antever, a existência de abuso de direito, cometidos sem obstáculos a estes comportamentos de nomeações arbitrárias sem concurso, sem objectividade, sem reconhecimento de currículo vitae ou comprovativos de história de vida, com sinal mais na profissão exercida até ao momento em que passa a chefiar ou exercer a sua liderança sobre outros. Assistimos somente, que os cães ladram e a caravana passa, às vezes nem se vêm a passar, já só verificamos que alguém foi colocado, sabendo quem é, por apelido, etnia, simpatia, laços de parentesco, talvez por aspecto físico sensual ou outro, sabe Deus, afinal quem quer que seja, passa a ser o felizardo escolhido para se comprometer com o “chefe” e o seu aparelho de mover influências.

Estes dois pontos de vista, são apenas umas das muitas explicações, do porquê falharmos sempre, há mais…

Temos que nos saber respeitar uns aos outros, entre Guineense tudo isto parece estar em vias de extinção, entre nós juntos, parecendo que nos sabemos só matar uns aos outros. Quando estamos com outros que não um Guineense, não morre ninguém, parece que não nos toleramos, mantemos uma inveja primária na interacção, sobretudo nas lutas pelo poder, toleramos mais os outros a mandarem em nós e, talvez inconscientemente, uma tolerância, por não ser Guineense, será?.

É triste esta realidade doentia que paira sobre alguns líderes, que lutam pelo poder sem olhar a meios. Pois, o “quero posso e mando”, nunca trouxe resultados duradoiros, há que mudar de mentalidade e de técnicas humanas de relacionamento neste contexto, optar pela igualdade de direito e meritocracia na nossa sociedade. Só assim podemos ir acabando aos poucos com esta intolerância invejosa em relação aos que sabem mais e estão mais bem preparados para o exercício de um cargo público ou privado. Com esta objectividade na selecção, desfazemos dúvidas em relação  às competências na especialidade do cargo, essenciais em qualquer profissão.

Posto isto, neste conflito político/militar assistimos a um avanço inconsciente para uma situação de guerra civil. Se não pararmos para repensar posições anteriormente tomadas, e reconhecendo os erros, reflectirmos “descolados” de compromissos assumidos anteriormente, com entidades empresariais estrangeiras (porque estes “lobos” não querem apenas perder os negócios já “assinados”, para alguns não importa que morra gente nossa. Para esses senhores do dinheiro, vale o lucro, somente o lucro, isso já sabemos) que afinal, fazem pressão nas conversações até aqui levadas a cabo. Nestas “negociações” muito se tem dito, mas se avaliarmos bem, apercebemo-nos ao mesmo tempo do que vem de uma “cabeça estranha” implantada num corpo que não condiz, o rabo com as calças, ou o cu com o dono. Temos vários sinais desconhecido entre nós, é uma questão de pensarmos melhor certas posições de apoios e a que preço, depois repensar os seus contornos em relação à Guiné-Bissau.

Hoje, só se ouve falar em tolerância “zero”, mas em várias passagens da vida da Nação Guineense, uma delas a Justiça social, lutar por justiça social é criar condições para que não haja vítimas fáceis de injustiças, hoje sou eu, amanhã serás tu, por isso a justiça tem que ser cega, justa e segura dos seus actos, deve passar a fazer parte também desta medida de “tolerância zero”. Vamos todos criar condições para que a justiça funcione e seja célere, não podemos pactuar com impunidades e depois vir à rua exigir justiça pessoal ou para um grupinho, quando temos o “rabo” trilhado. Não, vamos todos colaborar com a justiça, porque uma sociedade transparente é uma sociedade livre e progressista.

Devemos estar atentos individualmente, em grupo, em família e na sociedade, uma união desta natureza tem muita força, sabe sempre antecipar o mal, impedir com grandes probabilidades acontecimentos como estes últimos no nosso País. Mas para isso, é preciso a liberdade de opinião/expressão, é preciso que o medo seja erradicado do contexto social, que a tolerância, a liberdade e responsabilidade caminhem de mãos dadas, unidos pela mesma causa e um objectivo comum, o de lutar pela Real Independência da Guiné-Bissau, como País em Democracia plena. Só assim avançamos para o desenvolvimento tão desejado e mais que merecido, para este Povo sofredor.

Hoje vemos alguns dos nossos dirigentes actuarem como se desconhecessem O PAÍS QUE FIZERAM ou melhor, O PAÍS QUE TEMOS. Devem assumir responsabilidades perante a crise que se instalou a partir de factores negativos do funcionamento das instituições, e perpetuados no tempo e espaço que acabaram por criar ódios, revoltas e descrédito nas instituições públicas.

Alguma vez tínhamos que retomar caminhos que dignificassem uma instituição de Estado e Justiça Social, acabarmos de vez com a impunidade, dar um tratamento igual para todos perante a lei e, não um tratamento discriminatório.

Não podemos não tomar em conta o País que temos e, posteriormente, estranharmos semelhante acontecimento crítico, que põe em causa a estabilidade democrática e a constitucionalidade jurídica da Nação.

Por uns pagam os outros e o Zé-povinho é a parte fraca ou frágil. Enquanto uns fazem o “negócios”, outros vêm navios, ao longe sem saber porque vêm e vão sem deixar rasto.

Não podemos meter a cabeça na areia e pensar que temos um Estado de Direito funcional, como mandam a normas num País democrático, pois não o temos, ou seja a Guiné-Bissau de nome é um Estado de Direito por exemplo, na prática sabemos que não é ainda, precisamos tomar consciência disso. Os que hoje se queixam na praça pública de certo que não voltariam a negligenciar esta realidade, no papel que desempenham se voltassem a ocupar cargos públicos.

De certeza absoluta que o Tribunal de Justiça nunca mais será a mesma coisa como até aqui, penso o mesmo de outras instituições públicas, e vamos constatar isso mesmo daqui para o futuro se Deus quiser, sem dúvida.

Não percebendo que não pode haver democracia plena numa convivência do Estado com a desordem e impunidade, é a mesma coisa que partirmos as duas pernas a alguém e a seguir mandá-lo correr.

O que é irracional fazer-se ou pensarmos semelhante, e por causa desta teimosia repetitiva e obsessão milimétrica por uma reposição de “chapa” sem renegociar, podemos estar a caminhar empurrando o Povo para uma guerra total no País, todos uns com os outros, sim porque ela se acontecer não será só entre militares (há quem afirme que já não há a venda catanas no comércio, alguém advinha porquê…) será mais do que uma só guerra, temos uma que é audível e com arrebentamentos e outra, silenciosa à catanada, com paus e pedras, enfim, somos poucos e há no terreno muito ódio, inveja e desejo de vingança acumulados de décadas, isto não pode acontecer, façam o favor de se reconciliar e adiar ou ser tolerantes, é uma ordem da leitura subliminar deste Povo Superior a qualquer um e Mãe de todos nós. Pensa, a Guiné-Bissau está nas suas mãos, cuidado, aquele que tem os seus destinos na ponta do lápis deve redobrar o seu grau de atenção e concentração. Pensa antes de manchar o papel com tinta, pensa antes de maltratar e abusar deste Povo, BASTA!

Os Organismos internacionais já estão numa fase de redundância que ninguém mais parece que pensa, “temos um disco riscado” tocando e resistindo na imposição colocada até aqui e sublinhado como “tolerância Zero”., e agora? Quem é que sabe contar a partir de zero que avance, é preciso um arquitecto com ideias novas, criativas, capaz de atrair como solução aguardada, porque, pelos vistos, a obsessão persiste, mesmo pondo a hipótese de eclodir numa guerra sem limites.

Não se acanhem, se não querem falar ou escrever, então vamos pensar todos até sairmos da crise, dizer não à guerra, só. É meio caminho andado para uma solução pacífica.

Temos uma CEPLP conotada como sendo um pau-mandado com dois pesos e duas medidas (outras vezes em relação à Guiné-Bissau, fingiu que não ouviu, não viu e não falou), desta vez é contra o golpe militar, ontem não, hoje está disposta a fazer finca-pé com os golpistas, que por seu lado parecem resistir até onde, sabe Deus.

A CEDEAO, é mal vista por uma boa parte da população, que se queixa não terem sido respeitadas as aspirações do Povo, nas urnas, daí que se adivinham fortes desconfianças do Povo em relação a esta organização que já está dentro do território, com a sua tropa.

Resta-nos a terceira e última das hipóteses até aqui, estamos numa “rotunda”, na qual parecem circularem todos ao mesmo tempo e nos dois sentidos, numa confusão total, cada um puxando a brasa à sua sardinha.

Por isso, temos novamente a batata quente nas mãos, mais uma oportunidade de voltarmos a ser nós os Guineenses a ter que nos entendermos, quer queiramos quer não, e é “bem feito” para nos habituarmos a conviver sem guerras e assaltos ao poder, esta racionalidade agora é obrigatória. Temos que rediscutir quase tudo no nosso processo de desenvolvimento até aqui, fazer finca-pé numa reposição sem discussão é má pronúncia na presente conjuntura para o País. Ninguém pense que depois viverá saudável com um luto psicológico não fácil de suportar, ninguém é feliz assim, só se for Louco…

O Povo é que decide através dos seus vários representantes legítimos, de outro modo, arrastamos problemas que já são "um gigante" diante dos nossos olhos. É preciso escolher o entendimento entre as partes e, muito rapidamente, não há um nome que pare a revolução, ela arranca de novo e sempre, porque nem o do nosso líder histórico Amílcar Cabral fez parar o comboio, a luta continuou sempre, nada justifica parar o País para uma guerra com proporções imprevisíveis no terreno. Parece que há alguns a avançarem para este abismo inconscientemente, sem fundo à vista.

Esta guerra não será entre militares só, não, se acontecer, espero bem que não, porque seria pior do que qualquer cenário de guerra registado no teatro das operações no tempo colonial, acreditem meus camaradas.

Aqueles que estão nos seus espaços confortáveis e fora do país, deviam lembrar-se que uma guerra nunca foi boa para nenhuma das partes envolvidas, é melhor não abandonarem as suas capacidades de negociação politica e humanas no terreno, porque pode ainda correr muita tinta, até ao último instante de uma negociação, quem sabe...

Devo acrescentar que me arrepiei todo ao escrever isto, muito sinceramente, isto é a figura do diabo no fundo do túnel, que foi aqui descrita, que temos de pedir a Deus que o trave, isto é, se ainda formos a tempo de recuperar consciência necessária, só.

Obviamente que este povo quer e merece PAZ, foi sempre pacífico e lutador de causas justas como reza a história.

Desta vez está dividido e magoado na sua auto-estima. Arrasta-se esta depressão e não terá um bom prognóstico se permanecermos neste impasse, com certeza.

Portanto, uma prevenção primária evitando opções que directa ou indirectamente podem levar a guerra, será o melhor que se pode fazer para o bem-estar de todos nós. Vale sempre a pena apagar uma fagulha debaixo dos pés, do que o mato a arder, vale sempre a pena pensarmos e controlarmos o nosso egoísmo, ganância ou o egocentrismo pessoal nas questões de foro colectivo, como esta crise, pense nisto!

Viva a Guiné-Bissau e um abraço Guineense.

Djarama. Filomeno Pina.

Filomeno Pina

* Psicólogo clínico

 

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