Adulai Indjai
tokatchur02@hotmail.com
05.05.2010
O
espectáculo cíclico da violação da ordem jurídica e constitucional, os focos da
discórdia e do ódio que se vive no centro do poder público afecta a vida do povo
e da Guiné-Bissau. Servir o povo não fácil, mas trair o povo é um crime
imperdoável aos olhos da lei e do mundo em geral.
Não pretendemos
“repor a verdade”, nem tão pouco, fazer o papel de “advogado do diabo”.
Mas, o momento é crucial, devemos alinhar-nos todos e falar a uma só voz,
para fazermos face a esta guerra declarada entre o povo da Guiné-Bissau e os
narcotraficantes. Para tal, é imperativo a formação de uma opinião pública
forte ao nível nacional e internacional a favor de uma solução deste mal que
pretende apossar-se do nosso país. É preciso que o problema seja bem
conhecido, interpretando adequadamente, a realidade é desastrosa para o
futuro do nosso país e da África Ocidental em geral.
Nesta nossa
modesta contribuição, tentaremos levar a nossa ideia ao centro dos debates
que ocorrem nos últimos tempos sobre a Guiné-Bissau, apoiando-se na imprensa
mundial, analistas, cronistas em geral, defendendo que se está a cometer um
grande erro de leitura em relação a problemática do narcotráfico na
Guiné-Bissau, ao considerá-la como narco-estado.
A
Guiné-Bissau não é um estado narcotraficante
Nós somos vítimas
de narcotraficantes, alegadamente em total cumplicidade com os detentores do
poder público e os militares.
O estado não se
resume a certos indivíduos sem escrúpulos que procuram enriquecer a todo
custo. O povo é o elemento natural do estado, podemos
defini-lo como conjunto de indivíduos que através da ordem jurídica se une
para construir um Estado e que participam no processo político, jurídico e
legislativo. Será que o nosso povo é narcotraficante? A Guiné-Bissau terra
mãe vive do narcotráfico?
Daqui resulta a
importância de esclarecer a má interpretação, e afirmar peremptoriamente que
o nosso país não é a única vítima do comércio dos produtos narcóticos, e a
guerra contra este comércio público é condenado pelos governos do mundo
inteiro. Mas dá a economia de alguns estados do mundo bilhões de dólares por
ano.
Droga, a moeda
de troca no mercado mundial
O narcotráfico
envolve mais de 300 mil milhões de dólares por ano, duas vezes o orçamento
de toda a comunidade europeia. A droga é considerada hoje em dia a segunda
actividade económica, a seguir ao petróleo, a mais rentável. Diga então como
podemos combater o narcotráfico? O dinheiro do comércio dos narcóticos é bem
engendrado nos grandes bancos mundiais, assim como nas bolsas do mundo onde
é considerado como economia subterrânea. Podemos considerar a Guiné-Bissau
como sendo um estado narcotraficante? Achamos que não.
O traficante de
droga mais procurado do mundo, o mexicano Joaquín Guzmán, figurava na lista
dos homens mais ricos do mundo, segundo a revista norte-americana Forbes de
2009, com uma fortuna estimada a mil milhões de dólares. É estranho?
As dificuldades
em fazer face ao narcotráfico, não são problemas unicamente da Guiné-Bissau.
São universais. Nos anos 80 o presidente norte-americano Ronald Reagan
desenhou como prioridade das prioridades da sua governação o combate ao
narcotráfico.
Os serviços
federais da administração da época desencadearam uma guerra sem tréguas ao
comércio de narcóticos e descobriram um aumento significativo de fundos nos
bancos da Florida, ligados ao narcotráfico. Começaram o processo da
apreensão desses fundos, mas a missão foi interrompida e suspensa por ordem
da Casa Branca sem qualquer explicação. Segredo do estado do moderno.
O tráfico de
droga salvou a economia mundial
Segundo o
escritório das nações unidas contra o trafico de droga e Crime (UNODC), que
é a agência da ONU encarregada de coordenar as actividades internacionais de
fiscalização de estupefacientes. O seu director, António Maria Costa
declarou recentemente que 352 mil milhões de dólares provenientes do tráfico
de droga foram branqueados pelas instituições financeiras mundiais. Isso
permitiu salvar certos bancos da falência. Podemos estar chocados com todos
estes factos reais, mas é fruto de um grande trabalho de investigação e de
pesquisa com o único intuito de ajudar o nosso pais a sair desta crise de
cabeça erguida.
Não quero, nem
tão pouco, elogiar ou encorajar quem quer que seja a continuar a traficar
com o intuito de ajudar a engordar a economia do estado, objectivamos, pura
e simplesmente, subsidiar uma análise mais aprofundada do assunto a partir
dos fundamentos expostos sobre a nossa capacidade de combater este fenómeno,
sabendo que não possuímos os meios humanos e materiais para tal. Sobretudo
no contexto actual do nosso pais, que se encontra no caminho do
desenvolvimento cultural, social, político-económico e conjuntural
extremamente difícil. A ineficiência do poder publico, a instabilidade
politica, o costume de bajular, complica completamente o esforço de certas
figuras honestas da nossa praça publica na luta pelo desenvolvimento.
Facilitando a implementação da corrupção e o abuso do poder.
O fim da era do Narcotráfico chegou?
Perante o
espectáculo cíclico de abuso de poder, de reiteradas violações da
Constituição, o povo sempre ficou à margem, inofensivo, paciente e sofredor.
A sociedade guineense consentiu a instabilidade política e militar,
aceitando hospedar estes dois fenómenos, sofrendo duma ambivalência
profunda, enquanto certos indivíduos sem escrúpulos que exercem o poder
público, usam e abusam do poder.
A recente
violação da ordem jurídica institucional de que o nosso país foi vítima da
parte de elementos das forças armadas (com a cumplicidade de
narcotraficantes, segundo afirmam algumas vozes em surdina), não terminou em
banho de sangue porque o povo acordou e saiu à rua para mostrar que a
Guiné-Bissau “é terra sagrada”, que é um estado construído com
sangue dos verdadeiros filhos desta terra e não de gente sem escrúpulos.
A acção do povo
foi bem percebida pelos Estados Unidos da América, mas incompreendida pelos
detentores do poder civil e público do nosso país que compactua
completamente com os actos covardes e bárbaros das actuais chefias militares
do nosso país. Há mais de cinco anos que a imprensa mundial considera a
Guiné-Bissau como estado narcotraficante, mas é a primeira vez que um país
ocidental, uma grande potência, acusa abertamente oficiais superiores (neste
caso José Américo Bubo na Tchuto e Ibrahima Papa Camará) de serem cúmplices
e chefes de quadrilhas do narcotráfico na Guiné-Bissau. Estes dois
indivíduos são o Estado da Guiné-Bissau? Não.
O que me choca, é
que as autoridades nacionais não escutam o povo, ignoram completamente a
firmeza e o apoio que o povo está lhe dando neste momento preferindo fazer o
papel de pacificador ao considerar o assunto de “mal entendido entre irmãos
de armas”. Que cinismo. Não há irmãos de armas nas nossas forças armadas, se
podemos ainda considerá-las de forças armadas.
Os nossos
dirigentes não podem dar-se ao luxo de tentar resolver estes problemas com
um simples diálogo, porque o assunto é mais complicado do que parece, mas
não somos o único país implicado nessa guerra. Temos aliados fortes com
capacidades humanas e materiais de alta qualidade, que podem ajudar-nos a
ultrapassar as nossas dificuldades. Um dos aliados são os Estados Unidos da
América que vieram acusar publicamente Bubo Na Tchuto e Papa Camará porque,
certamente, têm elementos probatórios mais que suficientes para suportar as
suas acusações.
Os estados unidos
da América, hoje em dia tem como prioridade combater o narcotráfico na costa
ocidental da África. Porque representa uma ameaça real para a luta contra o
terrorismo.
A hora é de pedir
ajuda a quem pode ajudar. Em meados dos 80 o Panamá era uma das principais
rotas do narcotráfico que contava com a cumplicidade das forças armadas
chefiadas pelo ditador Manuel Noriega. Em 1989, os Estados Unidos da América
desencadearam a operação “Just Cause” (Justa causa) com o objectivo
primordial de capturar o ditador Noriega e transportá-lo aos EUA para ser
julgado. A missão foi um êxito, ditador Noriega foi preso, a cumprir uma
grande pena nas celas americanas.
O desenvolvimento
de uma nação, é realidade interdependente, feito de mãos dadas; os mais
fortes têm a obrigação de dar assistência a um Estado em perigo ou em
enormes dificuldades como o nosso. A prova, é que o nosso governo prepara a
conferência de doadores que terá lugar em Nova Iorque no mês Junho, e, em
Genebra, ainda este ano.
Questionamos
então:
1. Quem fará
confiança a um governo sem autoridade?
2. Quem vai
ajudar um poder público que não sabe fazer respeitar as leis?
3. Como é que se
pode desbloquear fundos para um governo que não pode dar nem a garantia de
estabilidade política?
É complicado,
o povo enquanto co-autor do projecto politico de qualquer estado
de direito e democrático, é a garante das suas próprias conquistas
constitucionais. E as autoridades são depositárias do poder público, da
confiança da sociedade civil, para resolver os problemas e garantir a
almejada paz e estabilidade de que tanto se necessita.
O Presidente da
República, com todo o respeito que devo à sua postura e os esforços para
consolidar a paz e sossego no nosso pais, no meu entender está construindo
um barril de pólvora. Mais dia, menos dia os cúmplices do narcotráfico vão
obrigá-los a agir mais uma vez contra a Constituição da República.
Para que tal não
aconteça, tenha a coragem de demitir António Indjai e os seus cúmplices Bubo
na Tchuto e Papa Câmara e entregue-os a justiça civil para serem julgados
conforme as leis do país. É a única saída possível para ao menos começar a
verdadeira luta contra o narcotráfico. Pode acreditar, não é por acaso que o
ditado diz: “burro velho não aprende língua.”